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POSIÇÃO ORIGINAL

No documento JUSTIÇA DISTRIBUTIVA: (páginas 66-70)

3 JUSTIÇA DISTRIBUTIVA EM JOHN RAWLS

3.2 POSIÇÃO ORIGINAL

condição política que vai proporcionar ao indivíduo alcançar outros bens dos quais necessita para realizar seu plano racional de vida no interior da sociedade em que está inserido.

Um cidadão livre é aquele que tem acesso a todos os bens. A sociedade deverá reconhecê- lo como um ser humano que vive em sociedade e compartilha do acesso indiscriminado de todos os bens públicos. Obter liberdades básicas como o direito de ir e vir, de pensar e de julgar, de ter um projeto de vida, particip ar da vida pública opinando na melhor forma de empregar o dinheiro arrecadado em impostos, escolher representantes e ser candidato a representar os demais no exercício dos poderes legislativo, executivo e judiciário.

Estas são as condições mínimas que leva m um cidadão a viver com o mínimo de dignidade em uma sociedade democrática. Sem estas prerrogativas garantidas na constituição, a sociedade certamente será injusta e desigual.

A seguir, vamos trabalhar com alguns conceitos de John Rawls, que são fundamentais em seu pensamento no que diz respeito à idealização de uma justiça distributiva. Uma sociedade bem-ordenada e minimamente justa com seus cidadãos, não pode prescindir de conceitos como a posição original, o princípio da diferença, bens primários, a prioridade das liberdades fundamentais e a estrutura básica da sociedade.

A posição original deve ser vista como uma situação hipotética em que as partes contratantes escolhem através de um acordo, sob um véu de ignorância, os princípios da justiça que devem governar a estrutura básica da sociedade. São dois princípios fundamentais e complementares: o primeiro exige igualdade na atribuição dos direitos e dos deveres, ou seja, um igual direito à maior liberdade possível, supondo-se que ela seja compatível com uma liberdade igual para os outros; o segundo estabelece que desigualdades socioeconômicas, de riqueza ou de poder, só são justas se produzirem vantagens para cada um, em particular para os membros mais desfavorecidos da sociedade, e se estiverem vinculadas a posições e a funções abertas a todos.

As partes contratantes representam pessoas racionais e morais, livres e iguais. A estrutura básica da sociedade é um modelo a ser seguido pelas instituições sociais, econômicas e políticas que, bem delineadas, atribuem direitos e deveres aos cidadãos, determinando suas prováveis formas de vida como projetos individuais e o senso de justiça. No corpo das instituições estariam contemplados a constituição política, a economia, o sistema jurídico e as formas de propriedade. Em uma sociedade bem-ordenada, os eventos são regulados por uma concepção política e pública de justiça. Todos os indivíduos aceitam os mesmos princípios de justiça, ou seja, os termos eqüitativos de cooperação social e por conseqüência as suas instituições políticas, sociais e econômicas que seriam por todos os membros reconhecidas como justas.

Supõe-se, desta forma, que exista um amplo consenso de que os princípios da justiça devem ser escolhidos em condições determinadas onde são incorporados os pressupostos aceitos. Pressupostos estes, que deveriam ser naturais e racionais. Daí o objetivo da idéia contratualista, que, tomados em seu conjunto esses pressupostos, estabeleceriam parâmetros adequados para os princípios da justiça que seriam aceitos por todos os participantes. Surge aí a preocupação com o favorecimento ou não em relação às pessoas contratantes. Parece razoável que ninguém passe por estas circunstâncias de ser favorecido ou prejudicado pela sorte natural ou contingências sociais em decorrências da escolha de princípios. Há um amplo consenso para o fato de que seria impossível adaptar princípios para casos individuais.

Inclinações e aspirações particulares ou concepções individuais sobre o bem não podem sob qualquer hipótese, afetar os princípios adotados na posição original. O objetivo é subtrair de um ponto de vista racional, qualquer princípio que possa vir favorecer tendenciosamente indivíduos ou até mesmo grupos de pessoas.

Fica evidente que em todos os momentos, Rawls utiliza a posição original para melhor justificar sua intuição de uma possível justiça distributiva. Resulta disso, que se um homem soubesse que era rico, ele poderia achar racional defender o princípio de que vários impostos em favor do bem-estar social fossem considerados injustos. Por outro lado, se soubesse que era pobre, teria grande possibilidade de propor o princípio contrário. Ou seja, de que se deveriam taxar as grandes fortunas, por exemplo. Para resolver a questão Rawls sugere a sua tese do véu da ignorância. Seria uma situação na qual todas as pessoas estariam privadas de qualquer tipo de informações que pudessem lhes favorecer. Desta forma, ficariam excluídos conhecimentos que criariam possíveis disparidades entre os homens permitindo que se orientassem por seus preconceitos. Para Rawls:

Parece razoável supor que as partes na posição original são iguais. Isto é, todos têm os mesmos direitos no processo da escolha dos princípios; cada uma pode fazer propostas, apresentar razões para a sua aceitação e assim por diante. Naturalmente a finalidade dessas condições é representar a igualdade entre os seres humanos como pessoas éticas, como criaturas que têm uma concepção do seu próprio bem e que são capazes de ter um senso de justiça. Toma-se como base da igualdade a similaridade nesses dois pontos. Os sistemas de objetivos não são classificados por seu valor; e supõe-se que cada homem tenha a capacidade necessária para entender quaisquer princípios que sejam adotados e agir de acordo com eles. Juntamente com o véu da ignorância, essas condições definem os princípios da justiça como sendo aqueles que pessoas racionais preocupadas em promover seus interesses consensualmente aceitaria m em condições de igualdade nas quais ninguém é consciente de ser favorecido ou desfavorecido por contingências sociais ou naturais50.

As condições dadas para tudo se realizar de forma harmonizada, são as de que sempre devemos levar em conta que para existir a possibilidade de concretização de uma sociedade bem-ordenada será indispensável que todo o sistema seja eqüitativo. O destaque seria a cooperação entre cidadãos livres e iguais, vivenciando sua geração e com o olhar na geração seguinte estabelecendo compromissos atuais que tragam ganhos para todos não prejudicando as gerações futuras. Não é problema se nesta sociedade ocorrem diferentes concepções religiosas, morais ou filosóficas. O objetivo de todos, passa por firmar princípios adequados os quais venham ordenar racionalmente os ganhos de todos os seus participantes.

A posição original nos remete a pensar que a hipótese da igualdade é construída.

Caracteriza-se não como histórica, mas sim, como uma situação hipotética. É mais um

50 RAWLS, John. Uma teoria da justiça. p. 21.

artifício de representação onde as partes envolvidas ficam responsáveis pelos interesses dos cidadãos livres em situação de igualdade. Como um artifício de representação, a posição original significa a deliberação de condições eqüitativas por parte dos representantes, que irão determinar os termos para a cooperação social no interior da estrutura básica da sociedade. As pessoas representadas na posição original são compreendidas como livres e iguais e a sociedade em que vivem é concebida como um sistema eqüitativo de cooperação. São portadoras de personalidade moral, no sentido de justiça, sendo capazes de formar uma concepção de bem e, quando julgarem estar enganadas, de revisar suas concepções com base em argumentos racionais. Para Rawls, o conteúdo da justiça, deve ser encontrado na razão.

Por isto a importância da posição original como um recurso que vai determinar quais serão os princípios ideais de justiça.

Na posição original, tudo se encaminha para um compromisso entre as pessoas envolvidas. Compromisso firmado à luz do que eles consideram como um benefício abrangente e recíproco. A justiça como eqüidade retoma assim, a doutrina do contrato social e adota a variante de uma cooperação social entre as partes envolvidas. Os termos ou acordos eqüitativos da cooperação social são encaminhados como um acordo entre as pessoas envolvidas, ou seja, entre cidadãos livres e iguais, nascidos em uma sociedade em que desfrutam da melhor forma sua vida. Este acordo será válido, se realizado em condições apropriadas. Essas condições devem situar eqüitativamente pessoas livres e iguais com características básicas como, por exemplo, não permitir a algumas maiores vantagens de barganha do que a outras. Também, coisas como ameaça do uso da força, a coerção ou até mesmo o engodo e a fraude devem ser excluídos nesta sociedade.

No documento JUSTIÇA DISTRIBUTIVA: (páginas 66-70)