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PERÍODO MECANIZADO (da RIEC ao Controle

2.3.3 O Controle Bibliográfico Universal (CBU), padrões internacionais e o MARC

Ainda na década de 1950, Unesco e FIAB se unem em torno do objetivo comum de facilitar o uso de dados bibliográficos de publicações editadas mundialmente. Colocar um objetivo tão abrangente em prática, exigia esforço amplo e estabelecimento de um programa que funcionasse de forma contínua.

Nesse sentido, a Unesco, com a colaboração da FIAB, resolve promover de um programa mundial para permuta de informações bibliográficas – o Controle Bibliográfico Universal (CBU), cujo intuito era facilitar o uso de dados bibliográficos internacionalmente aceitos, sobre publicações editadas mundialmente. Para tanto foi criado em 1974 um escritório dedicado ao CBU, na British Library, em Londres, com objetivo de informar sobre o sistema e projetos desenvolvidos, informar sobre os padrões bibliográficos adotados, promover a adoção desses padrões, planejar os programas e atividades do CBU, além de publicar normas e recomendações (BARBOSA, 1978).

Conforme explica Barbosa (1978), a existência de um programa como o CBU justifica- se pela mudança de conceito relacionada às novas responsabilidades dos bibliotecários, “[...] não mais considerados como simples guardiães de livros, mas sim como organizadores de todas as fontes de informação em disponibilidade. ” (BARBOSA, 1978, p. 147). O novo conceito confere ao bibliotecário a responsabilidade de prestar informações relevantes sobre qualquer assunto. Esse novo conceito é aplicável também às bibliotecas, que começam a entender suas

coleções numa perspectiva menos estática e mais atuante no que tange ao desenvolvimento econômico, educacional, cultural e técnico-científico dos países.

Entre os padrões internacionais estabelecidos pelo CBU, está o Anglo-American

Cataloging Rules (AACR), publicado em 1967 sob a responsabilidade da ALA, da Library Association da Inglaterra, da Canadian Library Association e da Library of Congress (LC). De

acordo com Barbosa (1978), divergências quanto a redação, ocorridas entre as associações inglesa e americana, resultaram na publicação de dois códigos em língua inglesa, um publicado na Inglaterra e outro nos Estados Unidos.

O AACR foi largamente difundido, sobretudo, depois de sua tradução para outros idiomas. Barbosa (1978) afirma com propriedade, ter sido o AACR, o código de catalogação que mais alcançou amplitude “[...] no que diz respeito à descrição dos tipos de material especializado: microformas, manuscritos, mapas, discos, pinturas, partituras, desenhos etc.” (BARBOSA, 1978, p. 49). Até os dias atuais, o AACR ou o AACR2, segunda edição do código – publicada no Brasil em 2003 (revisão de 2002) – constitui o instrumento básico utilizado pelo catalogador na representação descritiva.

Dentro do programa CBU, Barbosa (1978) registra o surgimento do padrão internacional para livros – o ISBN ou International Standard Book Number – adotado internacionalmente para identificação normalizada de livros, visando o controle dos livros em estoque, o que foi bem aceito pelos editores. O ISBN é formado por um conjunto de dez dígitos, que identificam a ordem nacional, geográfica ou linguística, a editora, o título, além de um dígito verificador, que permite ao computador, comprovar a validade do número, evitando erros de transcrição. Igualmente aceito e adotado internacionalmente é o ISSN – International

Standard Serial Number – que indica o número normalizado para identificar uma publicação

seriada. O ISSN é formado por um conjunto de oito dígitos, dispostos em dois grupos de quatro dígitos separados por um hífen. Ao contrário do ISBN, seus números não oferecem informação codificada, apenas identificam determinada publicação seriada.

Barbosa (1978) menciona ainda os padrões ISBD – International Standard

Bibliographic Description6 – normas criadas por grupos de trabalho constituídos pela FIAB. A ISBD(M) consistia na descrição bibliográfica normalizada para monografias; a ISBD(S) para

6A ISBD é a principal norma de promoção do controle bibliográfico universal, cujo objetivo é permitir que os registros

bibliográficos sejam coerentes e facilitem o seu intercâmbio. Em 2009 a IFLA publicou nova Declaração dos Princípios Internacionais da Catalogação, onde estabelece que os dados bibliográficos de uma descrição devem estar de acordo com uma norma internacional. A ISBD consolidada é a norma em vigor atualmente e engloba conceitos dos Requisitos Funcionais para Registros Bibliográficos (FRBR). (SILVA, 2016).

publicações seriadas e a ISBD(G), encarregada da formulação de outras ISBD especializadas para materiais especiais da biblioteca.

De acordo com Barbosa (1978), na década de 1960 a LC iniciou um projeto que se propunha a converter os dados catalográficos em forma legível por máquina, ou seja, os dados precisavam ser organizados de tal forma que um registro bibliográfico nele contido, pudesse ser identificado pelo computador. Esse projeto tem início em 1966, como resultado da terceira conferência sobre catálogos mecanizados, quando ficou decidido que a LC iniciaria uma experiência de distribuição de fitas magnéticas contendo dados do seu acervo de fichas impressas. Tal experiência recebeu o nome de MARC Pilot Project. De acordo com a autora, o objetivo desse projeto piloto “Foi o de testar os benefícios e problemas da produção centralizada de registros catalográficos legíveis por computador e distribuí-los às bibliotecas usuárias. ” (BARBOSA, 1978, p. 202). Tendo sido efetuado o projeto piloto, foram introduzidas modificações em decorrência da experiência obtida, resultando em um formato mais amplo e normalizado em fita magnética, o que propiciou à LC dar início a implementação e desenvolvimento do sistema MARC.

Segundo Assumpção e Santos (2015), durante o projeto piloto utilizou-se o MARC I, que resultou no desenvolvimento do MARC II, que passou a ser utilizado a partir de 1969 para a distribuição de registros em língua inglesa. O formato MARC II serviu de base para o surgimento de formatos semelhantes no Canadá, França, Finlândia, Espanha, Itália e em países da América Latina. No Brasil destaca-se o Formato Catalogação Legível por Computador (CALCO), baseado no MARC II e objeto de defesa de mestrado da bibliotecária Alice Príncipe Barbosa, em 1972. Tendo em vista a falta de atualização, o CALCO acabou caindo em desuso.

A importância dos formatos MARC é incontestável. Ela “[...] é claramente notada no intercâmbio de registros bibliográficos com informações de forma padronizada, no planejamento e na implantação da catalogação cooperativa para redução de custos e retrabalhos.” (ASSUMPÇÃO; SANTOS, 2015, p. 58-59). Além disso, sua importância é perceptível na evolução sofrida pelo sistema, que ocorreu à despeito de possíveis falhas e imperfeições.

Assim, na década de 1990, surge a denominação MARC 21, resultante da harmonização dos formatos USIMARC (da LC) e o CAN/MARC (do Canadá). De acordo com Assumpção e Santos (2015), atualmente os formatos MARC 21 compreendem cinco formatos: dados bibliográficos, de autoridade, de coleção, de classificação e para informação comunitária. Um registro MARC 21 envolve três componentes: a estrutura do registro, a designação do conteúdo e os dados de conteúdo. Sobre a evolução do MARC 21, os autores afirmam que

Apesar das normas para a codificação terem sido atualizadas no decorrer dos anos, nota-se que não houve mudanças significativas na codificação, de modo que os registros nos atuais Formatos MARC 21 são, em sua maior parte, codificados quase que da mesma forma com que eram codificados os registros na década de 1960, seja para propósitos de recuperação, por exemplo, via protocolo Z39.50, de importação entre sistemas de gerenciamento de bibliotecas ou de armazenamento em bancos de dados. (ASSUMPÇÃO; SANTOS, 2015, p. 60).

Assumpção e Santos (2015) registram que a partir dos anos 1990 os esforços da LC em utilizar registros MARC codificados de forma mais condizente com as tecnologias se efetivaram com os estudos sobre a utilização da Standard Generalized Markup Language (SGML), uma linguagem de marcação criada para facilitar a produção e compartilhamento de documentos eletrônicos. Segundo Moreno e Bräscher (2007, p. 15), “A SGML é uma linguagem para descrever a estrutura dos documentos, ou qualquer tipo de dado textual, deixando a interpretação dos dados para outros programas. ” Conforme informam Assumpção e Santos (2015) os esforços da LC através de estudos desenvolvidos nesse sentido resultaram na criação do Document Type Definitions (DTD) para a codificação ou marcação de registros no formato MARC utilizando SGML, de forma a especificar os elementos de marcação que podem ocorrer em um determinado documento. De acordo com Moreno e Bräscher (2007), a SGML corresponde à eXtensible Markup Language (XML) quando encampada pela

International Standards Organization (ISO). Percebe-se assim, a importância do uso de

metadados para a descrição.

De acordo com Buckland (2006), metadados ou “dados sobre dados”, tem como propósito original, descrever documentos, esse é o seu papel inicial. Para o autor

Há tipos diferentes de metadados descritivos: técnico (para descrever formato, padrões de codificação, etc.); administrativo (para descrever direitos de propriedade intelectual, condições de acesso, etc.); e conteúdo (temática, escopo, autoria, etc.). Essas descrições caracterizam e explicam os dados. (BUCKLAND, 2006, p. 3, grifo nosso).

O tipo de metadado descritivo de conteúdo se relaciona com a catalogação, pois como o próprio autor enfatiza, quando se pesquisa documentos, principalmente digitais, se está propenso a examinar metadados descritivos para perceber o tipo de documento e como utilizá- lo. O processo “[...] é semelhante à forma com que uma pessoa olha para a capa de um livro para ajudar a avaliar o texto contido nele. ” (BUCKLAND, 2006, p. 4).

De acordo com Buckland (2006), os metadados descritivos devem seguir formas padronizadas de armazenamento e exibição, visando com isso facilitar o seu uso, dar consistência e auxiliar na compreensão. Segundo o autor, toda descrição constitui atividade de linguagem, mesmo quando utiliza uma notação artificial, como é o caso, por exemplo da CDD. Para Buckland (2006, p. 4) “A descrição é sempre e necessariamente de base cultural, pois

descrições são baseadas em conceitos, definições e compreensões que têm desenvolvido em uma comunidade. ”

Para Siqueira e Silva (2011), o metadado foi produzido pelo desenvolvimento histórico das regras bibliográficas e que mantém conexões evolutivas com os códigos ISBD e AACR2; formatos como o MARC e com as novas tecnologias de tratamento da informação como o RDA e o XML.

Enfatiza-se, portanto, a importância do uso dos formatos MARC e dos esforços da LC pelo seu aprimoramento. Entretanto, são encontradas diversas críticas na literatura relacionadas ao uso desses formatos. Muitas delas destacam o fato de os formatos MARC terem sido criados na década de 1960 para produção de fichas catalográficas e um registro MARC 21 da época atual ainda é simular a uma ficha catalográfica em ambiente digital. Assumpção e Santos (2015) mencionam autores que argumentam que o registro MARC foi criado como um reflexo digital das regras de catalogação antigas, mas que não diferem muito das atuais e que o registro MARC moderno seria a “reencarnação” da ficha catalográfica. Muitos autores apontam ser essa característica determinante para as ocorrências de duplicação de dados (COYLE, 2004; GORMAN, 1997; DANSKIN, 2004).