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Processo 3: Processo n.º /15.0PBBJA, no âmbito do qual foi apresentada queixa porquanto

1. Crime de Burla Informática e nas comunicações – evolução legislativa

1.9. Concurso de Crimes

1.9.4. O crime de acesso ilegítimo

A acção típica caracterizadora deste tipo legal assenta naqueles casos em que o agente acede ao sistema informático da vítima à sua revelia e sem o seu conhecimento, através da introdução de um vírus informático, com a finalidade de capturar todos os elementos bancários existentes, nomeadamente dados de cartões de crédito ou de acesso a

homebanking, e ainda todo o tipo de informação que agente pretenda (v.g. dados pessoais).

Consideramos que entre estes crimes existe uma relação de concurso aparente, consumpção pura, uma vez que a concretização do crime de burla informática implica em algumas das suas condutas típicas, supra referidas, aceder ilegitimamente a determinado sistema, pelo que teríamos que considerar o crime de acesso ilegítimo como crime meio, sendo absorvido pelo consagrado no artigo 221.º, n.º 1, do Código Penal26.

2. Prática e Gestão Processual

2.1. A aquisição da notícia do crime e definição do objecto do processo 2.1.1. Generalidades

A aquisição da notícia do crime de Burla informática, à semelhança dos outros crimes, nos termos do artigo 241.º do Código de Processo Penal, pode acontecer de três formas, por conhecimento próprio, por intermédio dos órgãos de polícia criminal ou mediante denúncia. O crime de burla informática na sua forma simples tem natureza semi-pública, por o respectivo procedimento criminal depender de queixa (cfr. artigo 221.º, nº 4, do Código Penal).

Tendo legitimidade para apresentar queixa o ofendido, considerando a lei como tal “o titular dos interesses que a lei especialmente quis proteger com a incriminação” (cfr. artigo 113.º, n.º 1, do Código Penal).

25 Teixeira, Paulo Alexandre Gonçalves, O Fenómeno do Phishing – Enquadramento Jurídico-Penal, Dissertação de

Mestrado, Universidade Autónoma de Lisboa, 2013, pág. 23.

26 Neste sentido acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, datado de 20-09-2006, processo 06P1942, disponível em

www.dgsi.pt.

O CRIME DE ABUSO DE CARTÃO DE GARANTIA E CRÉDITO E O CRIME DE BURLA INFORMÁTICA

6.Crime de burla informática e nas comunicações. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

A noção de queixa tem conteúdo e natureza processual específicos; não constitui, como a denúncia, a simples transmissão do facto com relevância criminal, isto é, não constitui processualmente queixa uma simples declaração de ciência feita acerca de um facto. A queixa exige que o ofendido efectue uma declaração de vontade específica de perseguição criminal pelo facto, e distingue-se nos seus elementos da denúncia, pois na queixa além da declaração de ciência na transmissão da ocorrência de um facto, “exige-se ainda uma manifestação de

vontade de que seja instaurado um processo para averiguação da notícia e procedimento contra o agente responsável.”27

Todavia, não é toda e qualquer pessoa eventualmente afectada pela prática de um crime que pode formular essa manifestação de vontade, ou seja, que pode validamente apresentar queixa contra o autor dos factos, mas somente o ofendido, sendo este, o titular dos interesses que a lei especialmente quis proteger com a incriminação, no que constitui a identificação do critério para definição da legitimidade para o exercício do direito de queixa.

O artigo 113.º, n.º 1, do Código Penal, exige, pois, como condição de legitimidade, e existência de um interesse que a lei quis especialmente proteger com a incriminação, isto é de um interesse específico, particularmente qualificado, que intercede na relação entre o bem jurídico e o sujeito afectado, no caso do crime de burla informática e nas comunicações, será o indivíduo que sofreu o efectivo prejuízo patrimonial com a actuação do agente.

Recebida a notícia do crime, o Ministério Público, e mediante os factos relatados, cumpridos os requisitos de procedibilidade, determina a abertura de inquérito, nos termos do artigo 262.º, n.º 2, do Código de Processo Penal, delimitando, dentro do possível, o objecto do processo perante os factos que lhe são transmitidos, subsumindo os mesmos ao tipo legal que melhor os enquadra.

Tendo em vista “investigar a existência de um crime, determinar os seus agentes e a responsabilidade deles e descobrir e recolher as provas, em ordem à decisão sobre a acusação” – artigo 262.º, n.º 1, do Código de Processo Penal. Razão pela qual todos os actos efectuados durante a fase investigatória deverão terem vista a prolação da melhor decisão de encerramento de inquérito, no menor prazo possível, pelo que qualquer diligência ordenada deverá ter em vista a utilidade para a prova de determinado facto, que se enquadre no âmbito do objecto do processo.

Sendo o Ministério Público o titular da acção penal cabe-lhe a direcção do inquérito, sendo coadjuvado pelos órgãos de polícia criminal, que actuam sobe a sua directa orientação, encontrando-se na sua dependência funcional (artigos 263.º, 53.º, n.º 2, alínea, b), 55.º e 56.º, todos do Código de Processo Penal). Cumpre, em primeira linha ao Ministério Público definir, desde logo, a linha investigatória a seguir no caso em concreto.

A Constituição da República Portuguesa dispõe no seu artigo 202.º, n.º 3, que "no exercício das

suas funções os tribunais têm direito à coadjuvação das outras autoridades".

27 Cfr. SILVA, GERMANO MARQUES DA, Direito Processual Penal Português do Procedimento (marcha do processo),

Universidade Católica Editora, 2015, pág. 57.

O CRIME DE ABUSO DE CARTÃO DE GARANTIA E CRÉDITO E O CRIME DE BURLA INFORMÁTICA

6.Crime de burla informática e nas comunicações. Enquadramento jurídico, prática e gestão processual

Por outro lado, o artigo 9.º, n.º 2, do Código de Processo Penal estabelece: "No exercício da

sua função, os tribunais e demais autoridades judiciárias têm direito a ser coadjuvados por todas as outras autoridades; a colaboração solicitada prefere a qualquer outro serviço",

preceituando o artigo 55.º, n.º 1, do mesmo código, que “compete aos órgãos de polícia

criminal coadjuvar as autoridades judiciárias com vista à realização das finalidades do processo”.

Assim, atentos os poderes de direcção do inquérito atribuídos ao Ministério Público, determinam a imediata comunicação da notícia do crime por parte dos OPC’s (cfr. artigos 243.º, n.º 3, 245.º e 248.º, todos do Código de Processo Penal), recebida tal comunicação caberá ao Ministério Público determinar a abertura do respectivo inquérito caso se mostrem verificados os pressupostos de procedibilidade.

A investigação do crime de burla informática e nas comunicações mostra-se genericamente delegado na Policia Judiciária, atento o disposto no artigo 270.º, n.ºs 1 e 4, do Código de Processo Penal, do Ponto II, n.º 1, da Circular da Procuradoria-Geral da República n.º 6/2002, de 11 de Março e o disposto nos artigos 7.º, n.º 3, alínea l), da Lei n.º 49/2008, de 27 de Agosto, podendo ser delegado noutro OPC nos termos do disposto no artigo 8.º da referida Lei.

2.1.2. As diligências de inquérito