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O critério da senciência como base para a pessoalidade

2 UMA CRÍTICA AO PARADIGMA DA EXPERIMENTAÇÃO ANIMAL FUNDADO SOBRE O

2.2 Animais como pessoas

2.2.1 O critério da senciência como base para a pessoalidade

Diante dessa forma de Francione pensar, a qual afirma que a todo ser senciente deve-se atribuir o status moral de pessoa e, portanto, que tal ser deve ser tratado como uma pessoa moral e juridicamente, faz sentido fazer uma importante pergunta: existem boas razões para que essa afirmação seja confiável? O que caracteriza, tradicionalmente, uma pessoa é justamente a autoconsciência, a qual foi negada aos animais ao longo da história e utilizada para dizer que eles não deveriam compor o âmbito da moralidade, já que não possuíam tal peculiaridade. A resposta para esse questionamento é sim, há boas razões para fundamentar a afirmação de que os seres sencientes são pessoas, o que também inclui os animais. Um importante cientista contemporâneo de Harvard, Donald Griffin (1915 – 2003), sustentou com argumentos novos, em seu livro Animal minds, o que já havia sido sinalizado por Charles Darwin (1809 – 1882), cientista fundador da teoria mais difundida e aceita no âmbito científico, devido ao seu grau de confiabilidade e rigor, no que tange ao surgimento e desenvolvimento das espécies, a teoria da evolução.

Para Darwin, a modificação das espécies ocorreu por seleção natural de variações vantajosas, efeitos hereditários de uso e desuso de certas partes e, por fim, ação das condições do meio ambiente (DARWIN, 2010, p. 536). Nesse sentido, não é possível falar em diferenças de tipo entre animais, especificamente entre humanos e outros animais, mas apenas em diferenças de grau, ou quantitativas, o que permite inferir que não se pode negar a nenhum deles a capacidade da consciência e autoconsciência. Há muito tempo, Darwin já afirmava que os animais

são capazes de pensar, de ter reações emocionais como amor, memória, atenção, curiosidade, imitação, razão, etc.

We have seen that the senses and intuitions, the various emotion and faculties, such as love, memory, attention, curiosity, imitation, reason, etc., of which man boasts, may be found in a incipient, or even sometimes in a well-developed condition, in the lower animals (DARWIN, 1874, p. 68).

Ele também destacava que entre as fêmeas de diferentes espécies havia em comum a capacidade de possuir e demonstrar afeição maternal. Além disso, dizia que entre os animais em geral havia a competência de expressar sentimentos de amor uns pelos outros e que muitos animais compartilhavam a capacidade de se compadecerem com a angústia ou perigo de outrem. Em síntese, Darwin já havia percebido que os humanos não tinham razão para achar que mereciam um tratamento diferenciado ou repleto de prerrogativas em razão de sua singularidade de espécie, pois eles, de fato, não têm uma característica que seja apenas sua. Segundo sua concepção, enquanto o homem e todos os outros animais forem considerados criações independentes, não haverá avanço na investigação das possíveis causas da expressão e demais estudos. A compreensão acerca de certas expressões parece apenas ficar completa e satisfatória se for presumido que o homem existiu um dia numa forma inferior e animalesca. A partilha, portanto, de determinadas expressões por espécies diferentes torna-se inteligível se houver a confiança de que tais espécies descendem de um ancestral comum e houve uma evolução gradual (DARWIN, 2000, p. 21-22).

Griffin, na mesma linha de raciocínio, embora, por uma questão de cronologia, com dados de pesquisas mais recentes, fez importantes declarações sobre a consciência nos animais. Para ele, se os animais forem conscientes de algo, seu próprio corpo e suas próprias ações estão dentro do que compõe sua consciência perceptiva. E a ideia é que se for admitido que os animais têm a capacidade da consciência perceptiva, não há razões para lhes negar algum nível de autoconsciência. Isso seria arbitrário, injustificável e, por consequência, indefensável.

When an animal consciously perceives the running, climbing, or moth-chasing of another animal, it must also be aware of who is

doing these things. And if the animal is perceptually conscious of its own body, it is difficult to rule out similar recognition that it, itself, is doing the running, climbing, or chasing (GRIFFIN, 1992, p. 248-249 apud FRANCIONE, 2008, p. 142/158).

Para Francione, essa afirmação de Griffin nada mais é do que dizer que ser senciente significa ser do tipo de ser que se reconhece como o ser que está experimentando o sofrimento em relação ao qual tem interesse em não experimentar. E tudo isso pode ser utilizado para entender o porquê de a senciência ser um importante critério segundo o qual se pode assumir ou reconhecer a autoconsciência. A razão advém da total impossibilidade de alguém ser senciente e, ao mesmo tempo, destituído de autoconsciência ou da capacidade de perceber que a experiência que está tendo diz respeito a si próprio. Todos os seres que são sencientes também são, em alguma medida, autoconscientes.

[…] even if we cannot know the precise nature of animal self- awareness, it appears that any being that is aware on a perceptual level must be self-aware and have a continuous mental existence. Donald Griffin has observed that if animals are conscious of anything, “the animal's own body and its own actions must fall within the scope of its perceptual consciousness” (FRANCIONE, 2008, p. 157-158). As razões atreladas que sustentam essa visão de que qualquer ser senciente é, no limite e em alguma medida, autoconsciente, são diversas e nesse momento intenta-se demonstrá-las. Nos termos de Peter Singer (1946), uma pessoa ou um ser autoconsciente não é apenas um indivíduo biológico, mas possui uma vida biográfica, que relaciona passado, presente e futuro, suficiente e necessariamente. Tal entendimento, herdado da tradição filosófica, foi utilizado para destituir vários animais de outras espécies de pessoalidade, já que seriam meros seres com existência biológica. Cientistas como Charles Darwin, Donald Griffin, António Damásio (1944), Marc Bekoff (1972) e Carolyn Ristau (1965) auxiliam Francione a fazer afirmações num sentido divergente. As pesquisas neurobiológicas de Damásio, por exemplo, apresentam uma visão muito interessante segundo a qual existem dois tipos de consciência: a consciência nuclear e a consciência estendida. A nuclear é independente da memória, da linguagem e do raciocínio e se localiza no espaço e no tempo do “aqui” e do “agora”. A estendida requer raciocínio e memória, o que envolve um enriquecimento do sentido de si por meio de detalhes

autobiográficos e da consciência representacional, ainda que sem o uso da linguagem. Para Damásio, vários animais, além dos humanos, têm um sentido de si autobiográfico, não obstante tal consciência exista nos humanos em um nível mais elevado. Embora o reconhecimento da consciência estendida sirva a alguns propósitos importantes, não é ela que define a autoconsciência do indivíduo. Na verdade, basta que um ser tenha a consciência nuclear para que ele seja, na verdade e com certeza, um ser autoconsciente, pois é essa consciência que dota o organismo de um sentido de si com respeito aos eventos e objetos do presente (FRANCIONE, 2013, p. 202).

Em resumo, pode-se dizer que a consciência estendida auxilia de muitas maneiras o entendimento sobre os seres em geral e seus consequentes direitos morais em vários setores da existência. No entanto, quanto à pessoalidade, basta que se saiba sobre a presença da consciência nuclear do sujeito para que ela seja afirmada (e esse é o caso de um incontável número de animais utilizados em vários setores). Dito de outra forma, saber que humanos paradigmáticos representam o ápice da consciência estendida, não implica, de modo algum, em afirmar que os demais seres com consciência estendida ou consciência nuclear não são pessoas. Distintamente, tal afirmação apenas é útil para circunscrever e elaborar acerca dos direitos que são necessários regular na vida de uma pessoa com essa plena atualização da consciência estendida, os quais não se referem, de modo algum, aos direitos básicos. Para se terem direitos básicos são necessárias condições básicas. Direitos de outra dimensão, para evitar a confusão que o termo “secundários” pode gerar, relacionam-se com condições mais complexas do sujeito, i. e., com sua consciência estendida.

Além desse tipo de pesquisa desenvolvida por Damásio, os demais cientistas citados, como os etologistas cognitivos Bekoff e Ristau, têm publicado uma grande quantidade de resultados científicos ilustrando que animais, inclusive mamíferos, aves e peixes, possuem uma inteligência considerável e uma significativa capacidade de processar informação de maneiras sofisticadas e complexas, o que não autorizaria, sem ônus, que lhes fosse negada a importante condição de pessoalidade. As principais provas de tais afirmações estão nas pesquisas recentes acerca da comunicação. Cada vez mais se comprova que os animais são capazes

de complexos atos de raciocínio e comunicação. Isso foi demasiadamente facilitado pelas pesquisas envolvendo os recursos da alfabetização, linguagem de sinais e voz digitalizada.53 Está sendo reconhecido, cada vez com mais argumentos e pesquisas

comprobatórias, que animais possuem vidas íntimas ricas, seja intelectual, seja emocional ou seja, até mesmo, artística. Isso sem mencionar o cada vez mais descortinado comportamento moral apresentado pelos animais. Frans de Waal (1948) é um importante cientista que realiza pesquisas nessas áreas e apresenta resultados inovadores. Na obra Good natured: the origins of right and wrong in humans and other animals, esse autor afirma que nada mais natural do que encontrar paralelos entre humanos e animais, inclusive no que se refere à moralidade, posto que o cérebro humano é um produto da evolução e possui um sistema nervoso central muito semelhante ao dos outros animais, especialmente mamíferos (WAAL, 1996, p. 218 apud FRANCIONE, 2013, p. 203).

Mesmo os animais que vivem no mundo natural e não foram submetidos a testes etológicos organizados e controlados por cientistas revelaram, durante a observação que foi feita dos seus hábitos, que possuem uma complexa lógica linguística. Os animais submetidos a experimentos que os ensinavam formas de linguagem revelaram que são capazes de fazer uso adequado de muitas palavras, expressões, entonações, etc. Quanto aos animais no ambiente natural, eles revelaram a forma criativa da qual se servem da linguagem para sobreviver e viver. Por exemplo, os símios estudados no Parque Nacional de Tai, na Costa do Marfim, na África, mostraram que possuem uma sintaxe simples. Observando-os, os pesquisadores perceberam que eles tinham seis diferentes formas de chamados, combinados em diferentes sequências de fonemas com prefixos e sufixos, a 53 Algumas pesquisas que valem a pena ser mencionadas, posto que pioneiras, são aquelas que

envolvem Panbanisha, Chantek e Koko. Há maiores informações sobre elas na obra The great ape project. Panbanisha é uma chimpanzé-pigmeia, Chantek é um orangotango e Koko é uma gorila. O que há de comum entre esses três animais é que eles aprenderam línguas humanas e passaram a se comunicar com indivíduos humanos e de sua própria espécie com tais línguas. Chantek e Koko aprenderam versões modificadas da Língua de Sinais Americana e Panbanisha aprendeu três mil palavras do inglês, as quais passou a escrever no piso com giz e a ensinar ao seu filho. Além disso, há em comum o fato de todos eles compreenderem a língua inglesa falada pelos humanos com facilidade. Chantek e Koko se assemelham não só por terem aprendido uma língua sinalizada, mas também por terem desenvolvido, de formas distintas, a capacidade de compor os sinais já conhecidos visando extrapolar a significação dos mesmos no âmbito da comunição, cujo tema não se restringia a desejos alimentares. Ao contrário, em média, apenas 22% da comunicação tocava ao assunto da alimentação. As elaborações diziam (e dizem) respeito aos mais diversos assuntos.

depender da necessidade e contexto do momento. Perceberam que eles juntavam duas sequências para criar uma terceira. Além disso, notaram que eles colocavam certa palavra no início da frase caso fosse uma situação de emergência (CHAO, 2010, p. 62-65). Isso desfaz qualquer dúvida que possa existir quanto à capacidade dos outros primatas de elaborarem chamados logicamente e contribui muito para a pesquisa em questão.

Outro exemplo interessante refere-se à semelhança mencionada por Darwin, e já citada no trabalho, entre as mamíferas quanto à capacidade e particularidades da afeição maternal. Virtualmente, todas as fêmeas de mamíferos, de ratos a seres humanos, passam por mudanças fundamentais de comportamento durante e após a gestação. Os estudos revelam que os hormônios da gestação disparam mudanças nas regiões do cérebro relacionadas ao comportamento maternal e também em regiões reguladoras da memória e aprendizado (intelecto de uma forma geral). Em algumas regiões, aumentam o número de neurônios. Já em outras, ocorrem mudanças estruturais. Alguns cientistas sugerem que o desenvolvimento do comportamento maternal tenha sido um dos principais motores da evolução do cérebro dos mamíferos, e todos esses dados mencionados levam à crença de que há um circuito maternal no cérebro dos mamíferos em geral (KINSLEY; LAMBERT, 2010, p. 46-53).

Embora os dados apresentados e outros que existem no mundo da ciência possam ser usados para corroborar a afirmação de Francione de que faz sentido atribuir a todo ser senciente o status moral de pessoa, visto que a senciência está intimamente vinculada à consciência e autoconsciência, Francione não usa tal critério indiscriminadamente para sustentar seu posicionamento. Para ele, ainda que seja possível argumentar em favor da senciência como pressuposto da autoconsciência, em algum nível, nesse contexto tradicional de compreensão, há vários problemas envolvidos em utilizar as semelhanças entre características para estipular determinado valor moral. E em sua obra, ele cita ao menos quatro problemas de usar tais critérios para valorar o status moral dos animais em comparação aos seres humanos.

Ao suplantar a característica da senciência tão somente como equiparador moral básico para atribuição de proteção moral elementar, corre-se um sério risco de

estar imiscuindo-se em questões secundárias que estão apenas a serviço de desequiparar seres para promover a desproteção de alguns. Qualquer critério que se proponha ser fundamental para a proteção basilar no campo da moral não pode ser repleto de detalhes, nuances, peculiaridades, cálculos e comparações. Se o critério da senciência pode ser tomado como um bom critério para a atribuição de proteção moral básica a todos os seres que tenham tal característica, não faz sentido que se possa propor gradação de tal critério ou mudanças dentro do critério, pois todos os seres sencientes precisam ter um valor inerente igual (como já mencionado e defendido) e não um valor comparado ou comparável. Senciência é um critério para que todos os seres que tenham tal característica possam ser protegidos em nível básico. Não tem a possibilidade de um indivíduo ser tomado como mais senciente que outro e, assim, com maior prerrogativa de proteção.

Assim, Francione argumenta da seguinte forma. Basear-se nas semelhanças é ruim e passível de erro por vários motivos. Primeiro, mesmo que se comprovem semelhanças inegáveis entre animais e humanos, os humanos tendem a desprezar tais evidências. Em outras palavras, o comportamento é o seguinte: mesmo que se saiba quão próximo uma determinada espécie é dos humanos, isso não é razão suficiente para que se ponha fim ao uso indiscriminado e cruel dos animais de tal espécie em diversos ramos do mercado.54 Isso acontece o tempo todo e com os

mais diferentes tipos de exemplares.

Segundo, os seres humanos são vagos quanto à característica mais importante que os animais precisam ter para que sejam considerados próximos, semelhantes ou iguais naquilo que é importante para a moralidade. Nunca se define com clareza quão inteligente, articulado, capaz de aprender certos conceitos os animais precisam ser para que possam estar em patamar de igualdade com os humanos. É como se não fosse suficiente os animais possuírem as características que são julgadas importantes para a consideração moral, mas sim é preciso que eles as tenham em um nível obscuro (que muito provavelmente nem mesmo todos os humanos têm). Nesse jogo, os animais nunca ganham, posto que eles podem (e precisam) sempre demonstrar uma competência a mais para que lhes seja

54 Um exemplo emblemático dessa afirmação é o caso dos chimpanzés. Sabe-se que o DNA dos

chimpanzés é 98,5% igual aos dos seres humanos. Porém, isso não tem implicação alguma sobre a forma cruel segundo a qual eles são tratados nos experimentos científicos.

concedido ou reconhecido algum valor moral específico. Por vezes, mesmo quando os animais têm certas características das quais alguns seres humanos são privados, é possível reconhecer valor e proteção aos últimos em detrimento dos primeiros. Fica-se exigindo continuamente dos animais as mesmas características dos seres humanos paradigmáticos, no mesmo grau, expressas das mesmas formas, etc.

Terceiro, a forma como os seres humanos pensam os animais e as características que precisam ter para que suas mentes sejam consideradas semelhantes e, portanto, a consideração moral também, é um raciocínio circular, o que, em filosofia, denomina-se petição de princípio. O que ocorre em relação aos animais é que os humanos escolhem uma característica que possuem como um importante requisito para ser sujeito de consideração moral, depois se analisa os animais e se constata se possuem ou não tal característica, o que implica terem ou não consideração moral. O problema dessa forma de pensar e se relacionar com tais seres está no fato de as escolhas das características serem arbitrárias e tendenciosas. Não se escolhe nunca uma característica que os outros animais possuem com exclusividade, apenas as que os humanos têm e os animais às vezes têm em algum grau.

Finalmente, e muito importante, há o problema da validade da necessidade de se comprovar a presença em animais de característica que os aproxime dos humanos. São fatos muito interessantes e enriquecedores do ponto de vista da ciência ou, nos termos de Kant, do conhecimento teórico. No entanto, nada acrescentam do ponto de vista prático ou moral. Se certo animal em questão é senciente, não importa se ele tem uma ou outra característica específica diversa de um outro animal, de um outro humano, ele precisa ser considerado segundo a característica da senciência tão somente, que é exatamente como se faz no caso humano. Não se fica questionando qual humano é mais inteligente, qual tem melhor vocabulário, qual deles tem mais títulos acadêmicos, qual é melhor nos esportes ou artesanato para lhes prestar consideraçoes morais em nível básico. Todos os humanos são considerados iguais, e é assim que deve ser em relação aos animais, a fim de que não se criem hierarquias desnecessárias e preconceituosas.55

55 Essa é exatamente a ideia que Thomas Nagel (1937) tenta expor em seu artigo intitulado What is it

like to be a bat?. Nesse texto, ele afirma que é irrelevante para a moral saber detalhes sobre como é ser factualmente um morcego, pois, para a filosofia da moral, o que importa é apenas saber se

For whatever characteristic we choose, there will be some humans who will have the characteristic to a lesser degree than some nonhumans and some humans who will not have it at all. The lack of the characteristic may be relevant for some purposes, but is irrelevant to whether we treat a sentient human as a thing all of whose fundamental interests may be ignored if it benefits us to do so (FRANCIONE, 2008, p. 143).

Para esse estudioso, não há nenhuma relação que possa ser defendida, em conformidade com a lógica, entre a falta de certa característica e a possibilidade de tratar os animais como meros recursos. É importante frisar que quando Francione alega não haver importância para a moral o fato de certo ser ter ou não determinadas características, ele está falando exclusivamente sobre a importância para a determinação do status moral do ser. Inúmeras outras características, além da senciência, podem até ser (e são) importantes para a posse, ou não, de determinadas proteções, direitos ou deveres específicos no campo da moral, mas nada interferem no delineamento do status moral de coisa ou de pessoa. Para esse último, a única característica que importa é a senciência. “I have expressed the view that sentience alone is sufficient for full membership in the moral community and that no other cognitive characteristic is required” (FRANCIONE, 2008, p. 130). Se não ocorrer assim, deve-se estar disposto a estender, por uma questão de coerência, toda a desequiparação moral a outros humanos, o que evidentemente não é a intenção dessas propostas argumentativas. Se o critério escolhido não for