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O CRPE e a EA: as origens da Escola de Aplicação

4. A INSTITUIÇÃO PESQUISADA

4.1 O CRPE e a EA: as origens da Escola de Aplicação

A Escola de Aplicação teve suas origens no Centro Regional de Pesquisas Educacionais – São Paulo (CRPE-SP), fundado em junho de 1956, através de um convênio entre o Ministério da Educação e a Reitoria da Universidade de São Paulo.

Segundo Ferreira (2001), o CRPE-SP inseria-se em um projeto do Prof. Anísio Teixeira que “pretendia fazer com que as atividades educacionais alcançassem condições científicas, através da colaboração das ciências sociais”. As práticas educacionais deveriam tornar-se problemas investigados pelas ciências sociais. Participando de uma rede de instituições subordinadas ao Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep), objetivava a realização de pesquisas em todo o Brasil.

Assumindo a direção do Inep em 1952, o Prof. Anísio Teixeira teria, em 1955, enviado ao Ministério da Educação e Cultura a sugestão de criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais e dos Centros Regionais. Ainda segundo Ferreira (2001), “os antecedentes do processo que levaria à criação dessas instituições podem ser encontradas algumas décadas antes”, significando uma nova forma de pensar os problemas educacionais

brasileiros estabelecidos após os anos 20 e a busca da “reconstrução educacional brasileira”.

O Centro Paulista, o primeiro a ser criado, atenderia aos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso e Goiás, tendo como principal meta, tal como o Centro Brasileiro, adaptar a educação à diversidade da população, através de pesquisa das condições culturais; pesquisa das condições escolares por meio de levantamento dos recursos em administração, aparelhamento, professores, métodos e conteúdos de ensino; elaboração de planos, recomendações curriculares, sugestões de livros para a área; treinamento de administradores e especialistas em educação.

Originalmente o CRPE-SP dividiu-se em diferentes seções: Serviços Administrativos, Divisão de Estudos e Pesquisas Educacionais, Divisão de Estudos e Pesquisas Sociais, Serviço de Estatística e uma Biblioteca. No mesmo ano de sua fundação (1956) foi organizada outra divisão chamada de Divisão de Aperfeiçoamento do Magistério (DAM) com o papel de organizar cursos baseados nos estudos e pesquisas realizados, de elaborar projetos destinados à formação e aperfeiçoamento de administradores escolares, especialistas em educação, professores de escola normal e professores em geral.

À DAM cabia ainda organizar e manter escolas experimentais, as quais seriam campos de experimentação para os diversos cursos organizados, com uma educação eficiente adequada ao nível e necessidades dos alunos. Nesse sentido somava ainda a função de experimentar métodos e procedimentos de ensino primário, sendo uma espécie de laboratório para estudos e pesquisas, programas de ensino, preparo de professores, métodos e recursos de educação.

Apesar de ligado ao CBPE, como os demais centros a serem criados, o CRPE não seria dirigido pelo órgão nacional, que deveria apenas coordenar os trabalhos num mesmo plano de trabalho para os diferentes estados.

Todo o processo citado contou com a parceria da Unesco, tanto no envio de especialistas estrangeiros como na oferta de bolsas para pesquisadores brasileiros e outros repasses orçamentários.

Como mencionado anteriormente, o plano de atividades da DAM contava com o projeto de criação de uma Escola Experimental, sobre o qual Ferreira (2001), afirma em sua dissertação de mestrado:

Esse projeto pretendia fazer o planejamento e organização de uma escola primária considerada ideal dentro de um plano filosófico e de educação preestabelecido e, ainda, de acordo com a realidade nacional. O responsável pelo projeto era Jorge Nagle, professor de Educação do Instituto de Educação Padre Anchieta em São Paulo.

A Escola Experimental desempenharia também a função de Escola de Demonstração, sendo, conforme os planos, “laboratório para aplicação de novas técnicas e métodos de ensino”. Alunos dos cursos de formação de professores e outros profissionais da área poderiam utilizar a instituição como campo de observação.

Em 1959 foi autorizado o funcionamento de classes experimentais, sendo implantadas duas turmas com 25 alunos em cada. O plano de trabalho foi elaborado por orientadores com especialização nos Estados Unidos da América e foram selecionados uma professora e um professor, chamados na época de professores primários.

As classes experimentais, desde a criação, tiveram grande repercussão nos meios educacionais e gozaram de grande prestígio junto às famílias das crianças. Em 1960, foi criada mais uma classe de 1º ano.

Para Zaia (2003), uma das razões para a criação do CRPE estava na crença de que faltava ao magistério brasileiro uma formação mais intensa: “[...] estavam desprovidos de preparo pedagógico, tanto para a escola primária quanto para a escola ginasial”.

Anísio Teixeira, diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, afirmava em 1962 que a solução não estava em apenas aumentar o número de professores, mas em transformar as escolas normais, criando um novo tipo de formação para o magistério. Entretanto é importante ressaltar que o projeto era bem mais amplo e complexo; envolvia novos olhares sobre a educação nacional, colocando as pesquisas das ciências sociais a seu serviço e, ao mesmo tempo, tornando-a um salutar objeto para pesquisas da área, considerando a própria educação uma área para pesquisas.

Em anos seguintes, a Divisão de Estudos e Pesquisas Educacionais e a Divisão de Estudos e Pesquisas Sociais fundiram-se, constituindo a Divisão de Estudos e Pesquisas Educacionais e Sociais que, entre outros objetivos, tinha o de promover assistência técnica à educação nacional, colaborando com administrações estaduais nos seus esforços de melhorar e aperfeiçoar a educação.

A criação da classe experimental ou laboratório foi possível, segundo Zaia (2003), através de convênio firmado com o estado para que o Grupo Escolar Rural Alberto Torres colocasse seus alunos à disposição do CRPE-SP. Ainda segundo a pesquisadora, para a primeira seleção dos alunos, foi estabelecido como critério atender àqueles que apresentavam baixo rendimento escolar e dificuldade de conduta e não tinham a idade mínima para matrícula regular. Com a progressão da escolarização dos alunos, novas classes foram criadas para a instalação dos 2.ºs, 3.ºs e 4.ºs anos.

Em 1961, a direção do CRPE autorizou a autonomia das classes experimentais, tornando-as independentes, o que ocorreu somente no final de 1962, com a inauguração do prédio próprio. A partir desse momento, as classes experimentais deram origem à “Escola de Demonstração”, estendendo a formação básica para seis anos, com a primeira turma de 5.º ano funcionando a partir de 1964 e a de 6.º ano em 1965. Criou-se em consequência a primeira classe ginasial na Escola de Demonstração.

Em 1973, após a criação da Faculdade de Educação, a Escola de Demonstração foi transferida para a FEUSP, da qual uma das primeiras iniciativas foi a formulação do Regimento Interno da Escola, com o qual a Escola de Demonstração passou a ser denominada Escola de Aplicação. A pesquisa nos documentos existentes no Centro de Memória da Escola de Aplicação levou a conclusão que esse foi o seu primeiro regimento. Não tendo encontrado nenhum documento dessa natureza anterior ao ano indicado (1973), isso levou a crer que possivelmente a Escola não havia antes desse um regimento próprio da forma como a legislação atual exige.

Sobre a seleção dos alunos feita entre a origem das classes experimentais e a transformação em Escola de Aplicação, Zaia (2003) indica, em sua dissertação de mestrado, que ela era determinada pela ordem de chegada das solicitações de matrícula. No Regimento Escolar de 1973, é encontrada a informação de que, a partir daquele ano, a seleção seria através de sorteio.

Rosa (2005), ao entrevistar ex-alunos de diferentes épocas, encontrou depoimentos que se referem à prova de seleção para alunos desde o início dos anos 70 e a uma divisão por categorias da forma como existe atualmente, apesar de não haver nenhuma indicação nesse sentido nos regimentos encontrados.

Após 1976, passaram a ser objetivos da Escola:

Proporcionar escolaridade em nível de primeiro grau respeitando o que dispõe os artigos 1.º da Lei Federal n.º 4.024/61 e os artigos 1.º e 17.º da Lei Federal n.º 5.692/71.

Aplicar e avaliar métodos educacionais previstos no plano escolar anual.

Servir de campo de estudos a professores da FEUSP e de estágios a alunos da FEUSP nas condições previstas no plano escolar anual59.

Os objetivos da Escola de Aplicação indicam, além do seu papel de oferecer ensino regular, a finalidade de se constituir como campo de pesquisa para os pesquisadores da instituição mantenedora. Na comparação dos objetivos listados com aqueles apresentados para as classes experimentais, foi detectada a ausência de referências à escola laboratório, ao ensino ideal e à preocupação com as necessidades e condições dos alunos. Não há também referência a objetivos educacionais estabelecidos fora do âmbito da própria instituição, mencionando-se apenas os “métodos educacionais previstos no plano escolar anual”.

Em setembro de 1981, foi levada à Congregação da Faculdade de Educação uma solicitação de instalação do 2.o grau na Escola de Aplicação, por iniciativa principalmente de pais e alunos por meio da Associação Escola e Lar (AEL). O pedido foi aprovado em 1982, quando se formou uma comissão na FEUSP para dar início aos trabalhos que possibilitassem a criação do 2.º grau.

A instalação do 2.o grau foi sendo adiada pela Reitoria sob alegação de não contar com recursos disponíveis, A tramitação do pedido de criação foi permeada por um debate sobre o real papel da Escola de Aplicação e sua inserção na Universidade. Finalmente, em 1985, são instaladas duas classes de 2.º grau60.

Apesar da criação do 2.o grau, permaneceu o debate sobre a Escola de Aplicação, configurando algo que poderia ser chamado de crise de identidade e de papel. Em 1986, a Faculdade de Educação organizou um debate sobre a Escola de Aplicação, promovido pelos docentes da FEUSP, presidido pelo Prof. Dr. José Mário Pires Azanha para discutir “a

59 Gordo, Nívea. Relatório de Atividades da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação. SP, Série Estudos e

Documentos, vol. 18, 1981. p.8 e 9.

60 Muitos dos dados sobre a História da Escola de Aplicação de 1958-1985 foram organizados, apresentados e

concepção da Escola” e, se necessário, propor “uma reformulação total ou parcial dessa concepção” (Zaia, 2003: 34).

A história da Escola de Aplicação aponta para um constante debate sobre o seu papel e os seus objetivos. O quadro do debate apontado no parágrafo anterior se estendeu por vários anos e, na década de 1990, essa situação se intensificou, quando surgiu o movimento chamado “SOS Aplicação”, com o qual os papéis e objetivos da instituição foram postos em debate, agravado por circunstâncias internas que indicavam traços de crise institucional e de profunda instabilidade.

No final do ano de 1995, a Direção da FEUSP decidiu nomear um novo diretor para a Escola de Aplicação com o objetivo aparente de propor possíveis soluções para os sérios problemas vividos pela instituição, sendo nomeado um docente da própria Faculdade de Educação. Até o ano de 1998, a Direção da Escola de Aplicação foi exercida por docentes da FEUSP, designados pela congregação da Faculdade de Educação.

Em 2006, foi aprovado pela Congregação da Faculdade de Educação, devidamente aprovado pelo Conselho Estadual de Educação de São Paulo, o atual Regimento Escolar, que terá algumas de suas características apresentadas nas páginas seguintes.