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O CUMPRIMENTO DE SENTENÇA NO PROCESSO CIVIL E O SINCRETISMO

A Lei nº. 11.232/2005 inseriu no processo civil o cumprimento de sentença, que para a maioria dos doutrinadores, trata-se de mera fase do processo de conhecimento45. Para Leite, a partir da vigência da Lei n. 11.232/2005, a sentença não mais deve ser entendida como ato extintivo da atividade jurisdicional, haja vista que o juiz, mesmo após ter prolatado a sentença, continuará praticando, no mesmo processo cognitivo, atos que importem ao cumprimento das obrigações contidas na sentença, não dependendo da instauração de um novo processo de execução. “É o chamado

sincretismo processual, pois num único processo são implementados atos cognitivos e

executivos”.46

Leite47 conclui que:

44

BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm>. Acesso em: 18 abr. 2011.

45

DONIZETTI, Elpídio. Processo de execução: Teoria geral da execução,cumprimento de sentença. 3. ed. atualizada de acordo com as mais recentes decisões dos tribunais, até o enunciado 419 da Súmula do STJ , de 11 de março de 2010. São Paulo: Atlas, 2010. p. 217.

46

LEITE, 2007, p. 876.

47

[...]surgiu, no ordenamento jurídico brasileiro, um novo processo sincrético destinado a realizar as funções cognitivas e executivas na mesma relação jurídica processual, cujo fundamento repousa na nova sistemática instituída pela Lei n. 11.232/2005, que modificou no Título VII (“Do procedimento ordinário”), inserindo o Capítulo X (“Do cumprimento da sentença”) do Código de Processo Civil.

Donizetti48 destaca que anteriormente a Lei 11.232/2005, as obrigações de fazer, não fazer e dar coisa diversa de dinheiro eram cumpridas de imediato, sem a instauração do processo de execução, e com o advento da referida lei, a obrigação de pagar quantia certa passaram a constituir mera fase do processo de conhecimento.

Segundo Donizetti49:

Anteriormente ao regime instituído pela Lei 11.232/2005, somente as obrigações de fazer, não fazer e dar coisa diversa de dinheiro eram cumpridas de imediato, ou seja, efetivadas sem que houvesse necessidade de instauração de processo de execução. Com a alteração promovida por essa lei, tanto a liquidação quanto o cumprimento da sentença que reconhece obrigação de pagar quantia passaram a constituir mera fase do processo de conhecimento.

Com a referida alteração, o adimplemento da obrigação de pagar quantia certa, “será cumprida na mesma relação processual”50, não sendo necessária a criação de um novo processo de execução “para alcançar o bem da vida”.51

Leciona Theodoro Júnior52:

Não há mais a velha actio iudicati para proporcionar a credor a passagem do acertamento da causa à realização forçada da prestação assegurada na sentença. Tudo agora – definição do litígio e execução da obrigação definida – realiza-se num único processo, promovido por única ação. A relação processual unitária cumpre, sem solução de continuidade, as duas funções básicas da jurisdição: o conhecimento e a execução.

No mesmo sentido, Wambier, Almeida e Talamini53:

48

DONIZETTI, 2010, p. 217.

49

DONIZETTI, loc. cit.

50

DONIZETTI, loc. cit.

51

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. 46. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. 2. p. 53.

52

THEODORO JÚNIOR, loc. cit.

53

WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil. 9. ed. São Paulo: Revista Dos Tribunais, 2007. v. 2. p. 281.

A sentença com eficácia condenatória proferida em processo judicial civil, em regra, deixa de ser executada em processo autônomo. Sua execução passa a ocorrer dentro do próprio processo em que ela foi proferida. Na mesma relação processual, passa a haver uma fase de execução, posterior à fase de conhecimento.

A esse propósito, Figueira Júnior54 dispõe:

[...] o processo de conhecimento clássico não compadece, de regra, com as ações sincréticas. Que são justamente aquelas que admitem, simultaneamente, cognição e execução, isto é, à medida que o juiz vai conhecendo e, de acordo com as necessidades delineadas pela relação de direito material apresentada e a tutela perseguida pelo autor, vai também executando (satisfazendo) provisoriamente, fulcrado em juízo de verossimilhança ou probabilidade. Significa dizer que as ações sincréticas não apresentam a dicotomia entre conhecimento e executividade, verificando-se a satisfação perseguida pelo jurisdicionado numa única relação jurídico-processual, onde a decisão interlocutória de mérito (provisória) ou a sentença de procedência do pedido (definitiva) serão auto-exeqüíveis.

A sentença, de acordo com as alterações da Lei nº. 11.232/2005, não mais põe fim ao processo, pois este continuará com a fase executória, conforme previsão do artigo 475–J55 do Código de Processo Civil, ou seja, o processo só terá fim quando o direito do autor for efetivado ou quando este desistir ou abandonar a ação.56

Segundo Theodoro Júnior57, o necessário que o credor requeira o mandado de cumprimento de sentença condenatória.

Theodoro Júnior58 anota:

Embora não dependa a execução de instauração de uma nova ação (actio iudicati), o mandado de cumprimento da sentença condenatória, nos casos de quantia certa, não será expedido sem que o credor o requeira. É que lhe compete preparar a atividade executiva com a competente memória de calculo, com base na qual o devedor realizará o pagamento, e o órgão executivo procederá, à falta de adimplemento, à penhora dos bens a expropriar.

54

FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Comentários à novíssima reforma do CPC Lei 10.444, de 07 de maio de 2002. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 03.

55

BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm>. Acesso em: 18 abr. 2011.

56

MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução. 2. ed. São Paulo: Revista Dos Tribunais, 2008. v. 3. p. 53.

57

THEODORO JÚNIOR, 2011, p. 53.

58

A Lei n°11.232/2005, em busca da celeridade e da razoável duração do processo, trouxe novas perspectivas ao Direito Processual Civil, principalmente, à execução dos títulos judiciais contendo obrigação de pagar de quantia certa, que com o advento da aludida lei, passou a ser mera fase procedimental do processo de conhecimento, e culminou na previsão legal de uma punição pecuniária ao devedor que não cumprir sua obrigação no prazo de cumprimento voluntário. A execução passou a tramitar no mesmo processo em que foi proferida a sentença condenatória.59

Faz-se necessário anotar que o cumprimento de sentença, objeto da presente análise é aquele em sentido estrito e não aquele referente à tutela especifica emanada dos artigos 461 e 461-A do Código de Processo Civil, com redações dadas pela Lei n° 8.952/1994 e Lei n°10.444/2002.

Escreveu Wambier60:

Justifica-se, é bom que se diga, a utilização dessa locução, em razão do fato de o art. 475-I fazer alusão tanto ao cumprimento em sentido estrito, das sentenças dadas com fundamento nos arts. 461 e 461-A, quanto ao cumprimento (isto é, a “execução”) da sentença a que se refere o art. 475-J do CPC.

Tendo em vista que o processo do trabalho se serve subsidiariamente das regras processuais civis, cumpre analisar o alcance das alterações esculpidas no Código de Processo Civil, mais especificamente a aplicabilidade da multa do art. 475-J objeto da presente monografia.

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