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Requisitos para a aplicação da multa do art 475-J na execução trabalhista

4.1 CONTEÚDOS DO ART 475-J APLICADOS AO PROCESSO DO TRABALHO

4.1.2 Multa

4.1.2.1 Requisitos para a aplicação da multa do art 475-J na execução trabalhista

A aplicabilidade desta multa de 10% em caso de não cumprimento voluntário tem sido motivo de divergência doutrinária e jurisprudencial no âmbito trabalhista, sendo este o objeto do presente estudo.

O art. 769155, da CLT determina quais os requisitos indispensáveis à aplicação subsidiaria das normas processuais comum ao processo do trabalho: a omissão do ordenamento processual do trabalho e a compatibilidade do regramento do processo civil em relação ao processo do trabalho.

Menezes ressalta que esses requisitos devem ser simultâneos para a aceitação do princípio da subsidiariedade156:

154

ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Direito Processual do trabalho. 3. ed. rev., atual. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2009. p. 806.

155

BRASIL. Decreto-lei n°. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: 18 maio 2011.

156

MENEZES, Cláudio Armando Couce de. Teoria geral do processo e a execução trabalhista. São Paulo: Ltr, 2003. p. 9-10.

Estes pressupostos reclamados para o manejo do processo comum hão de estar presentes simultaneamente. Não basta, portanto, a mera omissão; a harmonia com as normas, princípios e notas típicas do direito substancial e processual igualmente se faz necessária. Observado fosse esse mandamento que emana do aludido art. 769, da CLT, evitaríamos a transposição mecânica do CPC, que tantos problemas têm causado aos juristas, advogados, juízes e, pior, aos jurisdicionados.

Para Martins, primeiro deve existir a omissão e depois, deve existir a compatibilidade. Pode haver compatibilidade, mas não havendo omissão na CLT, não se aplica as normas do CPC. 157

O art. 889158, da CLT determina que no processo de execução sejam aplicáveis os preceitos que regem o processo dos executivos fiscais. A Lei que disciplina a execução fiscal da fazenda pública é a Lei n° 6.830/1980.

Martins entende que o intérprete primeiramente “irá se socorrer da CLT ou de lei trabalhista nela não inserida. Inexistindo disposição nestas, aplica-se a Lei n° 6.830/1980. Caso esta última norma também não resolva a questão, será observado o CPC (art. 769 da CLT).” 159

A corrente doutrinária que defende a não aplicação da multa na fase da execução trabalhista argumenta que a CLT não é omissa, vez que tem procedimento de execução próprio. E mesmo havendo omissão, o CPC não será o primeiro a quem a execução trabalhista irá se socorrer e sim à lei que regula o processo dos executivos fiscais, conforme disposição do artigo 889 da CLT.

Nesse sentido, Koury160:

A principal objeção à sua aplicação no processo do trabalho refere-se a uma suposta incompatibilidade dos sistemas processuais, da qual decorreria a impossibilidade de utilização subsidiária de normas do processo civil ao processo do trabalho, que conta, no caso, com procedimento específico e regras próprias.

157

MARTINS, Sergio Pinto. Aplicação do artigo 475-J do CPC no processo do trabalho. Revista IOB: Trabalhista e Previdenciária, São Paulo, v. 19, n. 226, p. 7-18, abr. 2008.

158

BRASIL. Decreto-lei n°. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: 18 maio 2011.

159

MARTINS, op. cit., p. 7-18.

160

KOURY, Luiz Ronan Neves. Aplicação da multa de 10% prevista no artigo 475-J do código de processo civil ao processo do trabalho. In.: CHAVES, Luciano Athayde et al. Direito processual do trabalho: reforma e efetividade. São Paulo: LTr, 2007. p.276.

Teixeira Filho161 defende com fervor a não aplicação da multa do art. 475-J do CPC na execução trabalhista. Para o citado doutrinador, não há omissão na norma celetista, e aceitar a adoção supletiva de normas do processo civil, seria o mesmo que alterar a estrutura do procedimento de execução trabalhista.

Neste diapasão, Teixeira Filho162 sustenta:

É importante observar, isto sim, que a adoção supletiva de normas do processo civil não pode acarretar alteração do sistema (procedimento) do processo do trabalho, que é a espinha dorsal deste, pois se sabe que essa adoção só se justifica como providência necessária para atribuir maior eficácia ao sobredito sistema e não, para modificar-lhe a estrutura em que se apoia.

Nota-se que o comando do §1° do art. 832, e do art. 835 ambos da CLT, autorizam o juiz do trabalho a fixar prazo e condições para o cumprimento de sentença. Portanto, existe a possibilidade, ainda que implícita de estabelecer multas coercitivas na fase cognitiva, em decorrência da não observância do prazo estabelecido e das condições determinadas pelo magistrado. “Sendo assim, se o juiz pode aplicar multa de oficio na fase cognitiva, não há motivo para lhe negar tal prerrogativa na fase executória”, não se estaria com isso alterando a estrutura da execução trabalhista.163

Dessa forma, concluem Bramante e Linares164 que a aplicação da multa do art. 475-J do CPC, é aplicável na execução trabalhista, tendo em vista, o princípio da tutela processual mais adequada ao empregado, e da efetividade. Ademais, “recusar a aplicação de tal preceito, traz a conclusão de que o privilegiado direito trabalhista recebe tutela processual inferior a do direito comum.”

Na mesma trilha, Leite anota: “Assim, considerando que há permissão no texto obreiro para o juiz dispor sobre o prazo e as condições para o cumprimento da sentença, mostra-se perfeitamente aplicável a regra do art. 475-J do CPC, [...]”.165

Na visão de Teixeira Filho, a aplicação do art. 475-J do CPC, na execução trabalhista traz as seguintes implicações166:

161

TEIXEIRA FILHO, 2011, p.338.

162

TEIXEIRA FILHO, loc. cit.

163

BRAMANTE, Ivani Contini; LINARES, Rodrigo Adélio Abrahão. A multa do art.475-J do CPC e o princípio da tutela mais adequada ao empregado. Revista Synthesis – Direito do Trabalho Material e Processual, São Paulo, n. 46, p. 11-13, jan./jun. 2008.

164

BRAMANTE; LINARES, loc. cit.

165

[...] indisfarçável transgressão aos arts.769 e 889 da CLT, que estadeiam a omissão como requisito fundamental para a adoção supletiva de norma do processo comum pelo do trabalho, não se podendo considerar configurado esse pressuposto pelo simples fato, por exemplo, de o CPC haver sido dotado de novas disposições; [...] arbitrária derrogação dos dispositivos da CLT que disciplinam o processo de execução(notadamente, os arts.880 e 884), como se fosse juridicamente possível, lege lata, normas editadas com vistas ao processo civil deitarem por terra expressas disposições da CLT,que, como é obvio, são específicas do processo do trabalho.

É fato que a CLT possui procedimento próprio. No entanto, nada disciplina sobre a aplicação de multa por descumprimento da obrigação na fase de execução, assim como não a proíbe. A Lei dos Executivos Fiscais, aplicada subsidiariamente à fase de execução trabalhista, também não dispõe sobre multa pelo não pagamento da obrigação.

Lúcio de Almeida ao analisar o requisito da omissão, sustenta a aplicabilidade da multa na execução ao dispor que a CLT não trata, nos arts 880 e 883, de qualquer tipo de punição ao executado que deixa de realizar pagamento da obrigação, considerando que a penhora não possui natureza punitiva. Sendo, portanto, o caso de omissão do direito processual trabalhista, a ser suprida pela aplicação subsidiária na fase da execução laboral, do art. 475-J do CPC, “[...] que atende à necessidade, também presente no processo do trabalho, da mais rápida satisfação dos créditos de natureza alimentar, que são, de ordinário, os que resultam da relação de trabalho, em especial da de emprego”.167

Souto Maior defende à subsidiariedade do CPC ao Processo do Trabalho, quando a norma a ser aplicada traz real efetividade processual e melhoria da prestação jurisdicional trabalhista. Segundo o jurista, das duas condições constantes no art. 769 da CLT, extrai-se um princípio, que deve servir de base ao analisar a aplicabilidade da norma do CPC ao processo do trabalho, qual seja “a aplicação de normas do Código de Processo Civil no procedimento trabalhista só se justifica quando for necessária e eficaz para melhorar a efetividade da prestação jurisdicional trabalhista.” 168

166 TEIXEIRA FILHO, 2011, p. 339. 167 ALMEIDA, 2009, p. 806. 168 SOUTO MAIOR, 2006, p. 41-57.

Assim, Souto Maior esclarece169:

[...] O direito processual trabalhista, diante do seu caráter instrumental, está voltado à aplicação de um direito material, o direito do trabalho, que é permeado de questões de ordem pública, que exigem da prestação jurisdicional muito mais que celeridade; exigem que a noção de efetividade seja levada às últimas conseqüências. O processo precisa ser rápido, mas, ao mesmo tempo, eficiente para conferir o que é de cada um por direito, buscando corrigir os abusos e obtenções de vantagens econômicas que se procura com o desrespeito à ordem jurídica.

[...] Ainda nesta linha, de fixar pressupostos teóricos necessários para a análise da questão da subsidiariedade do processo comum ao processo do trabalho, partindo do princípio de que se deve priorizar a melhoria da prestação jurisdicional, é importante, por fim, deixar claro que sendo a inovação do processo civil efetivamente eficaz, não se poderá recusar sua aplicação no processo do trabalho com o argumento de que a CLT não é omissa.

Ao analisar a aplicabilidade da multa prevista no art. 475-J do CPC na execução trabalhista, Martins defende que há omissão neste particular na norma celetista e que não existem incompatibilidades.

Neste sentido Martins170:

A parte do art. 475-J do CPC que impõe multa de 10% na execução é aplicável no processo do trabalho, pois há omissão na CLT. Esta não trata da referida multa. Há compatibilidade com o processo do trabalho, visando receber o crédito trabalhista, que tem natureza alimentar. O objetivo da norma é dar maior celeridade ao andamento do processo para o recebimento da verba devida ao empregado.

O princípio da subsidiariedade pode ser aplicado quando satisfeitos os requisitos do art. 769 da CLT, ou seja, quando há omissão nas Leis trabalhistas, e quando a norma a ser aplicada seja compatível com a lei e os princípios trabalhistas. Assim, a aplicação da multa do artigo 475 – J do Código de Processo Civil preenche os dois requisitos, sendo perfeitamente aplicável na execução trabalhista.

169

SOUTO MAIOR, 2006, p. 41-57.

170

4.2 A APLICAÇÃO DA MULTA DO ART. 475-J NA EXECUÇÃO TRABALHISTA E A

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