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A aplicabilidade da multa do artigo 475-j do código de processo civil no processo do trabalho

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ORLEI CHAGAS DE MORAES

A APLICABILIDADE DA MULTA DO ARTIGO 475-J DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL NO PROCESSO DO TRABALHO

Palhoça 2011

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ORLEI CHAGAS DE MORAES

A APLICABILIDADE DA MULTA DO ARTIGO 475-J DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL NO PROCESSO DO TRABALHO

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientadora: Profª. Martha Lúcia de Abreu Brasil, Esp.

Palhoça 2011

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ORLEI CHAGAS DE MORAES

A APLICABILIDADE DA MULTA DO ARTIGO 475-J DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL NO PROCESSO DO TRABALHO

Esta monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Direito, da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Palhoça, 30 de junho de 2011.

_________________________________

Profª. e orientadora Martha Lúcia de Abreu Brasil, Esp. Universidade do Sul de Santa Catarina

_________________________________

Profº Flávio Nodari, Esp.

Universidade do Sul de Santa Catarina

_________________________________

Profº. Gustavo Gouvea Villar,Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito e que se fizerem necessários, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico e referencial conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Sul de Santa Catarina, a Coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e a Orientadora de todo e qualquer reflexo acerca desta monografia.

Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado do trabalho monográfico.

Palhoça (SC), 10 de junho de 2011.

__________________________________ Orlei Chagas de Moraes

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A minha esposa Andréa e aos meus filhos Sarah e Gabriel, pelo apoio e compreensão nas horas em que estive ausente, pelo carinho e confiança que me fizeram perseverar nesta empreitada. A eles declaro profunda gratidão e meu amor eterno.

(6)

AGRADECIMENTOS

É com profunda gratidão no coração, que finalizo mais esta etapa importante da vida! Gratidão primeiramente a Deus, que em todos os momentos da minha vida, não tem me desamparado.

Agradeço imensamente a minha esposa Andréa, que é o meu porto seguro, meu apoio de todas as horas. Déa, estamos realizando este sonho juntos!

Agradeço aos meus pequeninos, Sarah e Gabriel, que mesmo sem saber, me apoiaram e animaram todas às vezes, em que ao chegar em casa, cansado, me recebiam com sorrisos, beijos e abraços.

Agradeço, também, ao tio Jarbas e a tia Eloi, por toda a ajuda oferecida nos momentos de dificuldade.

Agradeço, a todos os professores que compartilharam o seu conhecimento e foram companheiros nesta jornada, em especial a minha orientadora, professora Martha Brasil.

Por fim, agradeço aos amigos com quem convivi, durante esses seis anos de intensa caminhada juntos.

(7)

Persista em sua tarefa até completá-la, muitos começam mas poucos terminam. Honra, poder, posição e louvor virão com o tempo para quem perseverar. Persista em sua tarefa até completá-la, dedique-se, trabalhe arduamente e sorria, pois da dedicação, do trabalho e do sorriso surgirão, depois de algum tempo as vitórias da vida. (Thomas S. Monson).

(8)

RESUMO

A Lei n.11.232, de 22 de dezembro de 2005 estabeleceu no sistema do Código de Processo Civil, a fase “do cumprimento da sentença” no processo de conhecimento e revogou os dispositivos relativos à execução fundada em títulos executivos judiciais, transformando o processo de execução civil em mera fase do processo de conhecimento. Dentre os dispositivos dessa “nova fase”, de cumprimento de sentença, foi inserido o art. 475-J, que prevê uma multa ao devedor, condenado à obrigação de pagar quantia certa, que não cumprir voluntariamente no prazo de 15 dias com a obrigação constante no título judicial. A referida multa teve por escopo, dar maior efetividade aos princípios fundamentais da razoável duração do processo e da celeridade, inseridos na Carta Magna, pela Emenda Constitucional n.45/2004. O presente estudo monográfico, cujo tema é “A aplicabilidade da multa do artigo 475-J do Código de Processo Civil no Processo do Trabalho”, tem por objetivo analisar a possibilidade de aplicação da multa do artigo 475-J do Código de Processo Civil na execução trabalhista. O método de abordagem utilizado foi o dedutivo, pois a pesquisa iniciou-se com a análise dos princípios aplicáveis à execução trabalhista, da fase de cumprimento de sentença civil e a execução trabalhista, para chegar-se a uma conclusão específica sobre a aplicação da multa do artigo em questão, na execução trabalhista, visando trazer ao processo do trabalho, a aplicação dos princípios constitucionais já mencionados. Como método de procedimento, foi utilizado o monográfico, examinando o tema escolhido,observando os fatores que o influenciaram e analisando seus aspectos para se chegar a uma conclusão especifica sobre o tema. O trabalho foi orientado pela pesquisa bibliográfica, por meio da coleta de dados na doutrina, nas leis, na jurisprudência e nos artigos nacionais. A Consolidação das Leis do Trabalho dispõe, em seu artigo 769, que nos casos de omissão e havendo compatibilidade, será fonte subsidiária o direito processual comum. Portanto, ao verificar que estão presentes os requisitos da omissão e da compatibilidade, estatuídos no artigo 769 da CLT, pelo princípio da subsidiariedade e dos princípios constitucionais

(9)

da celeridade e da razoável duração do processo, é possível a aplicação da multa do artigo 475-J do Código de Processo Civil à execução trabalhista.

Palavras-chave: Multa do art. 475-J do CPC. Cumprimento de sentença. Subsidiariedade. Celeridade. Execução.

(10)

ABSTRACT

The Law n°.11.232 of 22 December 2005, established in the system of the Code of Civil Process, the phase of the “fulfillment of the sentence” within the process of knowledge and repealed the provisions concerning the forced execution, making of the process of civil execution of sentence in a mere stage of knowledge phase. Among the provisions of this "new phase" of execution of sentence, the mentioned Law, inserted the art. 475-J, which carries a fine to the debtor, compelled to the obligation to pay a certain amount, which does not comply voluntarily within 15 days with its obligation contained in the verdict. The referred fine had by scope giving a greater effectiveness to the fundamental principles of the celerity and the reasonable duration of the process, embedded in the Constitution, by the Constitutional Amendment n.45/2004. This monographic study, whose theme is "The applicability of the penalty in Article 475-J of the Code of Civil Procedure in the Labor Procedure", aims to examine the possibility of imposing the fine in Article 475-J of the Code of Civil Procedure among the execution of labor procedure. The method of deductive approach was used, since the search began with the analysis of principles applied to the labor procedure, the stage of execution of civil sentence execution and labor, to arrive at a specific conclusion on the application of fine article in question to the Labor Procedure, aiming to bring to the Labor Procedure , the application of the constitutional principles already mentioned. As a method of procedure was used monograph, examinating the chosen theme and the facts that influence the theme and analysing its aspects to get to a specific conclusion on the theme. The work was guided by literature, by collecting data on the doctrine, laws, case law and national articles. The Consolidation of Labor Laws provides, in article 769, that in case of omission, and having compatibility, the Common Law Process will be the a secondary source through the subsidiarity principle. Therefore, verifying that the requirements are present, that is, that there is the omission in the Labor Laws, and that there's compatibility between the Common Law and the Labor Laws, according to the article 769 of the CLT, by the subsidiarity principle and the constitutional principles of celerity

(11)

and the reasonable duration of the process, it is perfectly possible to apply the fine of article 475-J Code of Civil Procedure to the Labor Execution Process.

Key words: Fine of art. 475 – J of the CPC. Fulfillment of sentence. Subsidiarity. Celerity. Execution.

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LISTA DE SIGLAS

CF/88 – Constituição Federal

CPA – Citação, Penhora e Avaliação CPC – Código de Processo Civil

CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas STF – Supremo Tribunal Federal

TRT – Tribunal Regional do Trabalho TST – Tribunal Superior do Trabalho

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 14

2 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E GERAIS APLICÁVEIS A EXECUÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO ... 17

2.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS ... 18

2.1.1 Princípio da razoável duração do processo ... 18

2.1.2 Princípio do devido processo legal ... 20

2.1.3 Princípio da inafastabilidade da jurisdição ... 21

2.2 PRINCÍPIOS PROCESSUAIS TRABALHISTAS ... 21

2.2.1 Princípio da subsidiariedade ... 21

2.2.2 Princípio da celeridade ... 23

2.2.3 Princípio da oralidade ... 24

2.2.4 Princípio do impulso oficial ... 26

3 O CUMPRIMENTO DE SENTENÇA NO PROCESSO CIVIL E A EXECUÇÃO DO CRÉDITO TRABALHISTA ... 29

3.1 O CUMPRIMENTO DE SENTENÇA NO PROCESSO CIVIL E O SINCRETISMO PROCESSUAL ... 29

3.2 A EXECUÇÃO DO CRÉDITO TRABALHISTA ... 32

3.2.1 Princípios aplicáveis a execução trabalhista ... 35

3.3 LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA ... 42

3.3.1 Natureza jurídica ... 43

3.3.2 Cálculos ... 45

3.3.3 Arbitramento ... 46

3.3.4 Artigos ... 47

3.4 EXECUÇÃO POR QUANTIA CERTA ... 48

4 A APLICABILIDADE DA MULTA DO ARTIGO 475 - J DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL NO PROCESSO DO TRABALHO ... 52

4.1 CONTEÚDOS DO ART. 475-J APLICADOS AO PROCESSO DO TRABALHO ... 52

(14)

4.1.2 Multa ... 54

4.1.2.1 Requisitos para a aplicação da multa do art. 475-J na execução trabalhista ... 55

4.2 A APLICAÇÃO DA MULTA DO ART. 475-J NA EXECUÇÃO TRABALHISTA E A EFETIVIDADE PROCESSUAL ... 60

4.3 A POSIÇÃO DOS TRIBUNAIS ... 62

5 CONCLUSÃO ... 67

(15)

1 INTRODUÇÃO

É sabido que a entrega da prestação jurisdicional na justiça brasileira é naturalmente morosa, e por vezes desencorajadora para aquele que busca através do Poder Judiciário, ver seu direito efetivado. É certamente um dos maiores, senão o maior, dos dissabores experimentados por aqueles que recorrem ao Poder Judiciário. Justamente, com o fito de trazer mais rapidez na prestação jurisdicional e dar cumprimento ao direito fundamental da razoável duração do processo previsto no art. 5°, LXXVII da Constituição Federal, que o legislador tem se preocupado em trazer normas ao ordenamento jurídico que propiciem esta revolução no Judiciário no que tange à morosidade.

A Lei n° 11.232, de 22 de dezembro de 2005, propiciou um grande avanço no processo civil, ao inserir a fase do cumprimento da sentença, trazendo o chamado sincretismo processual no direito civil. Processo sincrético significa a união do processo de conhecimento com o de execução, ou seja, no mesmo processo, haverá a fase do conhecimento, onde o magistrado conhece o direito, e a fase executiva, onde se busca a satisfação do direito reconhecido na fase cognitiva. O processo de execução que, antes era autônomo, tornou-se, com o advento da mencionada Lei, mera fase procedimental, que foi denominada de Cumprimento da Sentença, no processo de conhecimento. Desta forma, com a sentença de procedência, basta que o credor entre com simples requerimento nos autos principais. Assim, proferida a sentença de procedência, a fase do seu cumprimento ocorrerá nos mesmos autos, dispensando nova citação. Ademais, objetivando a celeridade e efetividade, inseriu uma penalidade na nova fase de cumprimento de sentença do processo civil, para o executado que não cumprisse voluntariamente a obrigação de pagar quantia certa, no valor de 10% (dez por cento) sua obrigação no prazo de quinze dias. Tal penalidade veio prevista no artigo 475-J do Código de Processo Civil. O referido artigo objetiva, antes de tudo, dar uma nova feição à execução, buscando uma satisfação rápida do crédito e a consequente prestação jurisdicional efetiva.

(16)

A problemática criada, com o advento da mencionada norma, foi a aplicabilidade da referida multa no âmbito do processo de execução trabalhista.

A Justiça do Trabalho busca a efetividade e a celeridade do processo, considerando a natureza alimentar de suas verbas. Desta forma, a finalidade da multa do artigo 475-J do Código de Processo Civil, de impor maior efetividade e celeridade ao processo, coincide com o ideário da Justiça do Trabalho de dar uma resposta rápida ao credor trabalhista, em decorrência da natureza da sua verba.

A execução trabalhista possui procedimento próprio, com previsão nos artigos 876 a 892 da Consolidação das Leis do Trabalho. No entanto, existem lacunas na lei processual, sendo que a própria CLT prevê a possibilidade de lacunas e, em existindo, aplicam-se às normas lacunosas, a subsidiariedade prevista no artigo 769 da Consolidação das Leis do Trabalho.

Dessa forma, verifica-se a necessidade de se analisar o que já é previsto na legislação trabalhista com relação ao tema, tendo em vista que deve ser respeitado o princípio do devido processo legal previsto na Constituição Federal de 1988.

Ademais, é necessária a constatação da real efetividade que o mencionado dispositivo traz à seara trabalhista, ou se existem outros meios de efetivação da duração razoável do processo, sem que com isto, represente maior onerosidade ao executado.

Nesta monografia utilizou-se o método de abordagem dedutivo, pois a pesquisa partiu de proposições gerais, como o cumprimento de sentença e a execução trabalhista, para chegar a uma conclusão específica sobre a análise da aplicação da multa do artigo 475-J do Código de Processo Civil na Justiça do Trabalho.

O trabalho foi orientado pela pesquisa bibliográfica, por intermédio da coleta de dados em leis, doutrinas, jurisprudências e artigos nacionais. Seu objeto reside na análise da aplicação subsidiária da multa do artigo 475-J do Código de Processo Civil na fase de execução trabalhista, com o fito de propiciar melhor entendimento aos operadores do direito sobre o tema em questão.

A presente monografia foi dividida em três capítulos. No primeiro, serão apresentados os princípios gerais e específicos, aplicáveis ao processo do trabalho, tendo em vista a sua relevância para o tema escolhido.

(17)

No segundo capítulo, será abordado o cumprimento de sentença, traçando um paralelo entre o cumprimento de sentença do processo civil, como processo sincrético, e a execução trabalhista. Será também apresentado o instituto da liquidação de sentença, fase preparatória da execução, bem como a execução por quantia certa.

Por fim, o terceiro capítulo, no qual se analisará a possibilidade de aplicação da multa do artigo 475-J do Código de Processo Civil na Justiça do Trabalho.

Os capítulos estão dispostos em uma sequência lógica, no qual, primeiramente são apresentados os princípios norteadores do processo trabalhista, em seguida, faz-se um paralelo entre o cumprimento de sentença e a execução trabalhista no intuito de demonstrar como a execução cível pode contribuir para o segundo e por fim, a análise da aplicação subsidiária da multa do artigo 475-J do Código de Processo Civil, primando pelo ideário constitucional da razoável duração do processo.

(18)

2 OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS E GERAIS APLICÁVEIS A EXECUÇÃO NO PROCESSO DO TRABALHO

Primeiramente, faz-se necessário buscar uma conceituação do que venha ser um princípio. De forma generalizada, princípio significa origem, início, o ponto de partida.1

Para Mello2, princípio é:

[...] por definição, mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico.

Segundo Bebber3:

[...] preceitos jurídicos que constituem o fundamento de certa disciplina jurídica, inspirando a criação de normas e orientando na sua interpretação, bem como normatizando situações não previstas legalmente. Dissemos: a)preceitos jurídicos, porque os princípios gerais do direito são idéias, postulados básicos, linhas mestras a serem seguidas tanto na elaboração quanto na aplicação da lei; b) que constituem fundamento de certa disciplina jurídica, porque todo o ramo do direito que se julga autônomo é informado por princípios os quais fundamentam a sua existência; c) inspirando a criação de normas, porque dotam o legislador de subsídios o compor um ato legislativo, de modo que este primeiro seleciona os valores e os princípios a serem consagrados no ordenamento jurídico; d) e orientando na sua interpretação, porque ensejam critérios orientadores sobre o significado e alcance da norma jurídica; e) bem como normatizando situações não previstas legalmente, porque se prestam a integrar o direito nas lacunas da lei.

O estudo dos princípios é fundamental para qualquer ramo do direito para se conhecer quais os alicerces que o sustentam. Na seara trabalhista, não podia ser diferente, deve-se dar atenção especial aos princípios que servirão de base para o sistema processual trabalhista. No entanto, apesar de não haver uma uniformidade nos

1

MARTINS, Sérgio Pinto. Direito processual do trabalho: doutrina e prática forense, modelos de petições, recursos, sentenças e outros. 32. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p.37.

2

MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 8. ed. São Paulo:Malheiros, 1997. p. 573.

3

(19)

princípios elencados pelos doutrinadores, o direito processual do trabalho tem princípios próprios.4

Ao estudar os critérios para importar as regras do processo comum ao processo do trabalho, Delgado5 anota que por ter direito trabalhista especializado, princípios próprios, “a regra nova, se for de Direito Geral (como a propósito, são os do Direito Civil), não interfere na vigência e validade da regra especial, sob pena de se eliminarem da ordem jurídica todos os ramos jurídicos especializados.”

Passar-se-á ao estudo dos princípios aplicáveis ao processo trabalhista. Os princípios abaixo abordados foram selecionados tendo em vista a sua relevância para o desenvolvimento do tema monográfico.

2.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

2.1.1 Princípio da razoável duração do processo

A Emenda Constitucional nº 45/2004 inseriu o princípio da razoável duração do processo dentro das garantias fundamentais, previsto no inciso LXXVIII do art. 5º da Constituição Federal de 1988: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.”6

4

GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito processual do trabalho. 16. ed. rev., ampl., atual. e adaptada. São Paulo: Saraiva, 2007. p.95.

5

DELGADO, Maurício Godinho. Direito do trabalho e processo do trabalho: Critérios para a importação de regras legais civis e processuais civis. Jornal Trabalhista Consulex, Brasília, v. 24, n. 1177, p. 10-11, maio-jun. 2007.

6

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituiçao.htm> Acesso: 15 mar. 2011.

(20)

Ao princípio em comento foi dado status de garantia fundamental, mostrando a preocupação do legislador em garantir a efetividade da entrega da prestação jurisdicional.

Sabe-se que a justiça é naturalmente morosa, e o legislador incluiu na constituição o princípio da razoável duração do processo para dar uma resposta à insatisfação da sociedade.7

Ebling8 comenta:

Os motivos que levaram o legislador a erigir a questão do tempo do processo ao nível de garantia fundamental mostram-nos uma insatisfação da sociedade com a prestação da tutela jurisdicional e o entendimento que a jurisdição não deve ser apenas ser "prestada" pelo Estado como decorrência do direito de ação, mas que a tutela jurisdicional deve ser efetiva, tempestiva e adequada, sendo atribuição do Estado alcançar este objetivo.

Para Scartezzini9 o princípio da duração razoável do processo atende não apenas aos interesses do Estado, mas também da sociedade:

[...] ao estabelecer o texto constitucional que o processo tenha duração razoável, prescreve-se que a justiça deva atender ao interesse público de solução de controvérsias, mediante a atuação jurisdicional, de forma breve, mas pronta a ser eficaz. Atende-se aos interesses do poder e do Estado-sociedade.

Na visão de Oliveira10:

[...] O processo no mundo moderno deve corresponder às exigências de uma sociedade globalizada, onde as coisas acontecem e se desenvolvem com muita rapidez. O Estado moderno tem a obrigação de responder a tais exigências agindo de ofício, sempre que isso se fizer necessário.

7

EBLING, Cláudia Marlise da Silva Alberton. O princípio da razoável duração do processo sob o enfoque da jurisdição, do tempo e do processo. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1031, 28 abr. 2006. Disponível em: <http://jus.uol.com.br/revista/texto/8304>. Acesso em: 25 mar. 2011.

8

EBLING, loc. cit.

9

SCARTEZZINI, Ana Maria Goffi Flaquer. O prazo razoável para a duração dos processos e a responsabilidade do Estado pela demora na outorga da prestação jurisdicional. In: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. et al. (Coord). Reforma do Judiciário: Primeiros ensaios críticos sobre a EC n. 45/2004. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005. p. 43.

10

OLIVEIRA, Francisco Antonio de. Tratado de direito processual do trabalho. São Paulo: LTr, 2008. v.2, p.1.517.

(21)

Vê-se que a prestação jurisdicional deve ser entregue com eficácia e rapidez a fim de satisfazer os anseios do mundo moderno, no entanto, devem-se levar em consideração princípios pátrios, tais como o devido processo legal, princípio que será abordado no próximo item.

2.1.2 Princípio do devido processo legal

O princípio do devido processo legal está previsto de forma explicita na constituição de 1988 ao dispor em seu artigo 5°, inciso LIV que “Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal.” 11

Para Schiavi12: “O devido processo legal consiste no direito que tem o cidadão de ser processado por regras já existentes e que sejam devidamente observadas pelo Judiciário”, ou seja, as partes devem saber de antemão, quais serão as regras do jogo.

Schiavi13 dispõe:

Pelo princípio do devido processo legal, ao cidadão deve ser concedido um conjunto prévio de regras processuais, previstas na lei, a fim de que ele possa postular sua pretensão em juízo e o réu possa apresentar seu direito de defesa, valendo-se de instrumentos processuais previsto em lei, não podendo ser surpreendido pela arbitrariedade do Juiz.

Segundo, Wambier14, o devido processo legal faz parte dos princípios que estão em contexto mais amplo, das garantias previstas na Constituição referentes ao processo, e que somente com preceitos processuais justos, que tragam justiça ao processo, é que se conseguira a concretização de uma sociedade embasada sob a proteção do Direito.

11

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituiçao.htm> Acesso: 15 mar. 2011. 12

SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: LTr, 2011. p.80.

13

Ibid., p. 81.

14

WAMBIER, Luiz Rodrigues. Sentença Civil: Liquidação e Cumprimento. 3. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p. 34.

(22)

2.1.3 Princípio da inafastabilidade da jurisdição

O principio da inafastabilidade de jurisdição, também conhecido como princípio da tutela jurisdicional ou sistema de jurisdição única, está previsto na Constituição da República Federativa do Brasil (CF/88) que determina que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. 15

2.2 PRINCÍPIOS PROCESSUAIS TRABALHISTAS

2.2.1 Princípio da subsidiariedade

O princípio da subsidiariedade esta previsto no processo trabalhista através do artigo 769 da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT)16: “Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo que for incompatível com as normas deste Título.”, segundo o qual se deve aplicar a norma processual comum aos casos em que a Consolidação das Leis trabalhistas for omissa, desde que não sejam desconsideradas outras normas e princípios do processo especializado.

15

SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. 8.ed. São Paulo:Método, 2011. p. 49.

16

BRASIL. Decreto-lei n°. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em:

(23)

A CLT também determina em seu Art. 88917: “Aos trâmites e incidentes do processo da execução são aplicáveis, naquilo que não contravierem ao presente Título, os preceitos que regem o processo dos executivos fiscais para a cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública Federal.”, que no processo de execução são aplicáveis os preceitos que regem o processo dos executivos fiscais.

Dessa forma, deve ser aplicado subsiariamente no processo de execução trabalhista, a Lei n° 6.830, de 22 de setembro de 1980 que trata da cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública.

No entanto Schiavi18 explica que, no que tange a lei nº 6.830, não é usual a sua aplicabilidade tendo em vista que o Código de Processo Civil (CPC) traz normas mais eficazes:

Atualmente, na execução trabalhista, há um desprestígio da aplicação da lei nº6.830/80 em razão da maior efetividade do Código de Processo Civil em muitos aspectos. De outro lado, a lei dos executivos fiscais, que disciplina a forma de execução por título executivo extra judicial, não foi idealizada para o credor trabalhista, o qual, na quase totalidade das vezes,executa um título executivo judicial, e, por isso, a sua reduzida utilização na execução trabalhista.

Segundo Nascimento19:

As normas processuais trabalhistas são aplicadas com base num princípio fundamental, o princípio da subsidiariedade. O direito processual comum é aplicável, subsidiariamente, no direito processual do trabalho. Assim, subsidiariedade é a técnica de aplicação de leis que permite levar para o âmbito trabalhista normas do direito comum.

Para a aplicação do princípio em tela, é necessária a presença de duas condições, qual seja a omissão na lei processual trabalhista e a compatibilidade da regra processual comum ao processo do trabalho. Faltando uma dessas condições estaria prejudicada a aplicação subsidiária de normas.20

17

BRASIL. Decreto-lei n°. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em:

24 mar. 2011.

18

SCHIAVI, 2011, p. 874.

19

NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito processual do trabalho. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p.87.

20

(24)

Nascimento21 dispõe:

Em síntese: a regra da subsidiariedade deve ser entendida em consonância com duas ordens de considerações: a primeira, a verificação de omissão da lei processual trabalhista, caso em que se impõe subsidiá-la; a segunda, a indispensabilidade de as regras subsidiárias serem adaptáveis às necessidades do processo trabalhista.

Verifica-se que o princípio da subsidiariedade deve ser usado quando houver omissão ou lacunas na lei trabalhista. Para o presente estudo, será verificado se existe lacunas a ponto de ensejar a aplicação da multa prevista no art. 475-J do CPC e sua real efetividade para contribuir com a celeridade e efetividade da execução trabalhista.

2.2.2 Princípio da celeridade

A Emenda Constitucional nº 45/2004 inseriu ao princípio da celeridade status constitucional, previsto no inciso LXXVIII do art. 5º da Constituição Federal de 1988: “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.”22

O princípio da celeridade não é exclusivo do Direito Processual do Trabalho, no entanto, esta característica se mostra mais acentuada uma vez que o trabalhador busca um crédito de natureza alimentar.23

Neste sentido Almeida24 comenta que “As questões cíveis, normalmente, envolvem problemas patrimoniais, ao passo que as questões trabalhistas trazem sempre em seu bojo o salário, que se constitui no único meio de sobrevivência do trabalhador e de sua família”, com isso, o princípio da celeridade é fundamental no processo do trabalho.

21

NASCIMENTO, 2008, p. 88.

22

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituiçao.htm> Acesso: 09 maio 2011. 23

SCHIAVI, 2011. p. 108.

24

ALMEIDA, Amador Paes de. Curso prático de processo do trabalho. 21. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 89.

(25)

2.2.3 Princípio da oralidade

O princípio da oralidade tem por objetivo trazer maior celeridade ao processo. Pretti25 anota que: “Este princípio determina que os atos processuais trabalhistas buscam, na verdade, acelerar o julgamento da lide.”

Pretti26 explica que “esse princípio é caracterizado sob quatro aspectos que, reunidos, dão substância a esse princípio: prevalência da palavra falada, imediatidade do juiz com o processo e irrecorribilidade das decisões interlocutórias.”

Para Almeida27, o processo do trabalho é eminentemente oral, ou seja, nele prevalece a palavra falada.

Almeida28 aduz:

[...] nada justificaria a demora dos feitos, arrastando-se por anos a fio, como geralmente ocorre com as causas cíveis. Daí a imediação, que se traduz na palavra oral sobre a palavra escrita, na irrecorribilidade das decisões proferidas em processos de alçada das Varas, no impulso ex officio do processo e na concentração dos atos mais relevantes na audiência.

Bebber29definiu o princípio da oralidade da seguinte forma:

Ele se caracteriza pelo predomínio da palavra oral, formando-se em sua inteireza pela conjugação de quatro outros princípios. São eles: a) concentração; e d) princípio da irrecorribilidade em separado das decisões interlocutórias.

O princípio da imediatidade esta previsto no artigo 820 da CLT. De acordo com o princípio em questão o Juiz do Trabalho obriga-se a ter um contato direto com as partes e a sua prova testemunhal, ou qualquer outro meio de prova para termos esclarecimentos na busca da verdade real. O princípio da imediatidade privilegia o julgamento da causa pelo magistrado que presidiu a produção de prova, eis que terá

25

PRETTI, Gleibe (Coord.). Manual de direito processual do trabalho. São Paulo: Ícone, 2010. p. 39.

26

Ibid., p. 39.

27

ALMEIDA, 2011, p.90.

28

ALMEIDA, loc. cit.

29

(26)

maior clareza ao proferir a decisão, já que pode observar se alguma testemunha faltou com a verdade no caso de confronto de testemunhos contrários.30

No mesmo sentido comenta Teixeira Filho31:

Na audiência, ademais, o juiz encontrará condições efetivas de acompanhar a produção de provas, de fiscalizar a atuação das partes quanto a isso [...] Mais do que isso, o juiz poderá – olhos nos olhos – acompanhar e avaliar as reações psicológicas ou emocionais das partes e testemunhas às perguntas efetuadas, verificando se as respondem com segurança ou com hesitação, se tergiversam, se o fazem com serenidade ou com grande nervosismo, etc[...].

O princípio da identidade física do juiz define que o juiz que instruiu o processo, deverá ser o julgador da lide, já que foi quem fez a colheita das provas, estando mais bem preparado, e com melhores condições de analisar os fatos contidos nos autos. O princípio em tela está disposto no artigo 132, caput, do CPC.

Saraiva32 afirma:

O princípio da identidade física do juiz determina que o juiz que colheu a prova(depoimento pessoal das partes, oitiva das testemunhas, esclarecimentos verbais do perito, etc.) é quem deve proferir a sentença.[...] Esse princípio ganha especial relevância uma vez que é na inquirição direta das partes e testemunhas que o juiz consegue firmar o seu convencimento, alcançando a verdade real, esta muitas vezes não reproduzida nas atas de audiência.

O princípio da concentração sugere que em audiência única, são realizados vários atos processuais, por exemplo, a audiência de instrução e julgamento. O objetivo deste princípio é proporcionar maior celeridade ao processo trabalhista, vez que dispensaria novas datas para audiência e novas aberturas de prazo para manifestações.

Almeida33 informa que a concentração se dá em decorrência do princípio da oralidade, e que os atos processuais mais relevantes são realizados na audiência, ao contrario do que ocorre no processo civil.

30

BEBBER, 1997, p.397.

31

TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Curso de direito processual do trabalho. São Paulo: Ltr, 2009. v.1. p.65.

32

SARAIVA, 2011, p. 49.

33

(27)

O princípio da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias está disposto no artigo 893, § 1º, da CLT e tem por objetivo alcançar a sentença de forma mais breve ao impedir recursos procrastinatórios.

A Súmula nº. 214 do Tribunal Superior do Trabalho 34 traz exceções ao princípio da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias:

Na Justiça do Trabalho, nos termos do art. 893, §1º, da CLT, as decisões interlocutórias não ensejam recurso imediato, salvo nas hipóteses de decisão: a) de Tribunal Regional do Trabalho contrária à Súmula ou Orientação Jurisprudencial do Tribunal Superior do Trabalho;

b) suscetível de impugnação mediante recurso para o mesmo Tribunal;

c) que acolhe exceção de incompetência territorial, com a remessa dos autos para o Tribunal Regional distinto daquele a que se vincula o juiz excepcionado consoante o disposto no art. 799, § 2º, da CLT.

Desta forma, o princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias, tem como exceção as hipóteses trazidas na Súmula nº. 214 do Tribunal Superior do Trabalho (TST).

2.2.4 Princípio do impulso oficial

O princípio do impulso oficial esta previsto no artigo do 26235 CPC que assim dispõe ”O processo civil começa pela iniciativa da parte, mas se desenvolve por impulso oficial.”

Dessa forma, ajuizada a ação, o magistrado “assume o dever de prestar a jurisdição, de acordo com os poderes que o ordenamento jurídico lhe confere”36.

34

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº214. Disponível em:

<http://www.tst.gov.br/jurisprudencia/Livro_Jurisprud/livro_pdf_atual.pdf >. Acesso em: 20 mar. 2011.

35

BRASIL. Decreto-lei n°. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: 24 mar. 2011.

36

LEITE, Carlos Henrique Bezerra Curso de direito processual do trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2007. p. 60.

(28)

No processo do trabalho, o referido princípio vem esculpido no artigo 76537 da CLT ao estabelecer que “os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas.”

Segundo tal princípio, é incumbência da parte levar o fato ao juiz, e a partir daí, o processo se desenvolve por impulso oficial em atos praticados de ofício pelo juiz, tais como a citação do reclamado, a designação de audiência, decisões interlocutórias, etc.

Teixeira Filho38 aduz:

[...] regularmente provocado o exercício da função jurisdicional (retirada, pois, a jurisdição do seu ontológico estado inercial a que nos referimos há pouco), caberá ao juiz impulsionar o procedimento, mandando citar o réu, designando audiência, intimando as partes para esta ou aquela finalidade, ordenando a realização de diligências em geral – tudo isso, com o objetivo de preparar as condições tecnicamente necessárias para o proferimento da sentença de mérito, que constitui o acontecimento mai importante no universo do processo, o seu ponto de culminância e de exaustão, por assim dizer.

No mesmo sentido ensinam Wambier, Almeida e Talamini39:

Uma vez instaurado o processo por iniciativa da parte ou interessado (princípio da inércia), este se desenvolve por iniciativa do juiz, independente de nova manifestação de vontade da parte. O juiz, que representa o Estado (poder jurisdicional do Estado) promove e determina que se promovam atos processuais de forma que o processo siga sua marcha em direção à solução do sistema jurídico para aquela determinada lide.

Segundo Oliveira40, o impulso oficial na prática, terá sucesso se tiver a colaboração das partes, já que a própria lei processual oferece possibilidades procrastinatórias às partes que poderão acelerar ou procrastinar o andamento do processo.

37

BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm>. Acesso em: 18 abr. 2011.

38

TEIXEIRA FILHO, 2009, p.61.

39

WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso

avançado de Processo Civil: teoria geral do processo de conhecimento. 7. ed. São Paulo: RT, 2005. v. 1. p. 74.

40

OLIVEIRA, Francisco Antônio de. Manual de processo do trabalho. 4. ed. São Paulo: LTr, 2011. p.187.

(29)

Oliveira41 comenta:

Deve, pois, o Juiz usar da faculdade que lhe dá a lei e fazer com que os atos processuais se realizem em menor espaço de tempo, agindo de oficio, como verdadeiro diretor do processo. Para isso, deve coibir investidas procrastinatórias das partes[...] Esse princípio garante a continuidade do procedimento e da evolução do processo.Ajuizada a ação, o processo deve seguir rumo ao seu fim que é a entrega da prestação jurisdicional, não podendo ficar ao livre arbítrio das partes.

O princípio do impulso oficial esta previsto também na fase de execução, conforme se verifica da redação do artigo 87842, caput, da CLT.

Os princípios elencados neste trabalho monográfico podem ser aplicados em todas as fases do Direito Processual Trabalhista, com atenção especial na fase de execução, na qual se busca a efetivação do crédito que o trabalhador já faz jus. Por isso, com fulcro no princípio da subsidiariedade, o presente estudo passa a analisar a fase de cumprimento de sentença do Direito Processual Civil, com ênfase na multa do artigo 475–J43 do Código de Processo Civil.

41

OLIVEIRA, 2011, p.187.

42

BRASIL. Decreto-lei n°. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a consolidação das leis do trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/decreto-lei/del5452.htm>. Acesso em: 24 mar. 2011.

43

BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm>. Acesso em: 18 abr. 2011.

(30)

3 O CUMPRIMENTO DE SENTENÇA NO PROCESSO CIVIL E A EXECUÇÃO DO CRÉDITO TRABALHISTA

A análise e compreensão do cumprimento de sentença do processo civil, bem como da execução dos créditos trabalhistas objetos de estudo no presente capítulo, é essencial para explicar o objeto de análise da presente monografia, a saber, a aplicação da multa do art. 475-J44 inserido no CPC com as alterações trazidas pela Lei nº. 11.232/2005, no âmbito da execução de sentença trabalhista.

3.1 O CUMPRIMENTO DE SENTENÇA NO PROCESSO CIVIL E O SINCRETISMO PROCESSUAL

A Lei nº. 11.232/2005 inseriu no processo civil o cumprimento de sentença, que para a maioria dos doutrinadores, trata-se de mera fase do processo de conhecimento45. Para Leite, a partir da vigência da Lei n. 11.232/2005, a sentença não mais deve ser entendida como ato extintivo da atividade jurisdicional, haja vista que o juiz, mesmo após ter prolatado a sentença, continuará praticando, no mesmo processo cognitivo, atos que importem ao cumprimento das obrigações contidas na sentença, não dependendo da instauração de um novo processo de execução. “É o chamado

sincretismo processual, pois num único processo são implementados atos cognitivos e

executivos”.46

Leite47 conclui que:

44

BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm>. Acesso em: 18 abr. 2011.

45

DONIZETTI, Elpídio. Processo de execução: Teoria geral da execução,cumprimento de sentença. 3. ed. atualizada de acordo com as mais recentes decisões dos tribunais, até o enunciado 419 da Súmula do STJ , de 11 de março de 2010. São Paulo: Atlas, 2010. p. 217.

46

LEITE, 2007, p. 876.

47

(31)

[...]surgiu, no ordenamento jurídico brasileiro, um novo processo sincrético destinado a realizar as funções cognitivas e executivas na mesma relação jurídica processual, cujo fundamento repousa na nova sistemática instituída pela Lei n. 11.232/2005, que modificou no Título VII (“Do procedimento ordinário”), inserindo o Capítulo X (“Do cumprimento da sentença”) do Código de Processo Civil.

Donizetti48 destaca que anteriormente a Lei 11.232/2005, as obrigações de fazer, não fazer e dar coisa diversa de dinheiro eram cumpridas de imediato, sem a instauração do processo de execução, e com o advento da referida lei, a obrigação de pagar quantia certa passaram a constituir mera fase do processo de conhecimento.

Segundo Donizetti49:

Anteriormente ao regime instituído pela Lei 11.232/2005, somente as obrigações de fazer, não fazer e dar coisa diversa de dinheiro eram cumpridas de imediato, ou seja, efetivadas sem que houvesse necessidade de instauração de processo de execução. Com a alteração promovida por essa lei, tanto a liquidação quanto o cumprimento da sentença que reconhece obrigação de pagar quantia passaram a constituir mera fase do processo de conhecimento.

Com a referida alteração, o adimplemento da obrigação de pagar quantia certa, “será cumprida na mesma relação processual”50, não sendo necessária a criação de um novo processo de execução “para alcançar o bem da vida”.51

Leciona Theodoro Júnior52:

Não há mais a velha actio iudicati para proporcionar a credor a passagem do acertamento da causa à realização forçada da prestação assegurada na sentença. Tudo agora – definição do litígio e execução da obrigação definida – realiza-se num único processo, promovido por única ação. A relação processual unitária cumpre, sem solução de continuidade, as duas funções básicas da jurisdição: o conhecimento e a execução.

No mesmo sentido, Wambier, Almeida e Talamini53:

48

DONIZETTI, 2010, p. 217.

49

DONIZETTI, loc. cit.

50

DONIZETTI, loc. cit.

51

THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil – Processo de Execução e Cumprimento de Sentença, Processo Cautelar e Tutela de Urgência. 46. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011. v. 2. p. 53.

52

THEODORO JÚNIOR, loc. cit.

53

WAMBIER, Luiz Rodrigues; ALMEIDA, Flávio Renato Correia de; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil. 9. ed. São Paulo: Revista Dos Tribunais, 2007. v. 2. p. 281.

(32)

A sentença com eficácia condenatória proferida em processo judicial civil, em regra, deixa de ser executada em processo autônomo. Sua execução passa a ocorrer dentro do próprio processo em que ela foi proferida. Na mesma relação processual, passa a haver uma fase de execução, posterior à fase de conhecimento.

A esse propósito, Figueira Júnior54 dispõe:

[...] o processo de conhecimento clássico não compadece, de regra, com as ações sincréticas. Que são justamente aquelas que admitem, simultaneamente, cognição e execução, isto é, à medida que o juiz vai conhecendo e, de acordo com as necessidades delineadas pela relação de direito material apresentada e a tutela perseguida pelo autor, vai também executando (satisfazendo) provisoriamente, fulcrado em juízo de verossimilhança ou probabilidade. Significa dizer que as ações sincréticas não apresentam a dicotomia entre conhecimento e executividade, verificando-se a satisfação perseguida pelo jurisdicionado numa única relação jurídico-processual, onde a decisão interlocutória de mérito (provisória) ou a sentença de procedência do pedido (definitiva) serão auto-exeqüíveis.

A sentença, de acordo com as alterações da Lei nº. 11.232/2005, não mais põe fim ao processo, pois este continuará com a fase executória, conforme previsão do artigo 475–J55 do Código de Processo Civil, ou seja, o processo só terá fim quando o direito do autor for efetivado ou quando este desistir ou abandonar a ação.56

Segundo Theodoro Júnior57, o necessário que o credor requeira o mandado de cumprimento de sentença condenatória.

Theodoro Júnior58 anota:

Embora não dependa a execução de instauração de uma nova ação (actio iudicati), o mandado de cumprimento da sentença condenatória, nos casos de quantia certa, não será expedido sem que o credor o requeira. É que lhe compete preparar a atividade executiva com a competente memória de calculo, com base na qual o devedor realizará o pagamento, e o órgão executivo procederá, à falta de adimplemento, à penhora dos bens a expropriar.

54

FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias. Comentários à novíssima reforma do CPC Lei 10.444, de 07 de maio de 2002. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 03.

55

BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm>. Acesso em: 18 abr. 2011.

56

MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Execução. 2. ed. São Paulo: Revista Dos Tribunais, 2008. v. 3. p. 53.

57

THEODORO JÚNIOR, 2011, p. 53.

58

(33)

A Lei n°11.232/2005, em busca da celeridade e da razoável duração do processo, trouxe novas perspectivas ao Direito Processual Civil, principalmente, à execução dos títulos judiciais contendo obrigação de pagar de quantia certa, que com o advento da aludida lei, passou a ser mera fase procedimental do processo de conhecimento, e culminou na previsão legal de uma punição pecuniária ao devedor que não cumprir sua obrigação no prazo de cumprimento voluntário. A execução passou a tramitar no mesmo processo em que foi proferida a sentença condenatória.59

Faz-se necessário anotar que o cumprimento de sentença, objeto da presente análise é aquele em sentido estrito e não aquele referente à tutela especifica emanada dos artigos 461 e 461-A do Código de Processo Civil, com redações dadas pela Lei n° 8.952/1994 e Lei n°10.444/2002.

Escreveu Wambier60:

Justifica-se, é bom que se diga, a utilização dessa locução, em razão do fato de o art. 475-I fazer alusão tanto ao cumprimento em sentido estrito, das sentenças dadas com fundamento nos arts. 461 e 461-A, quanto ao cumprimento (isto é, a “execução”) da sentença a que se refere o art. 475-J do CPC.

Tendo em vista que o processo do trabalho se serve subsidiariamente das regras processuais civis, cumpre analisar o alcance das alterações esculpidas no Código de Processo Civil, mais especificamente a aplicabilidade da multa do art. 475-J objeto da presente monografia.

3.2 A EXECUÇÃO DO CRÉDITO TRABALHISTA

Embora a execução trabalhista seja considerada uma fase do processo trabalhista, o instituto do cumprimento de sentença não foi adotado por esse ramo do

59

WAMBIER; ALMEIDA; TALAMINI, 2007, p. 281.

60

(34)

direito.61 Passar-se-á a analisar a execução trabalhista, mais especificamente à condenação por quantia certa, com o propósito de comparar o instituto do cumprimento de sentença com a execução trabalhista.

Pinto62 aduz:

Executar é,no sentido comum, realizar, cumprir, levar a efeito. No sentido jurídico, a palavra assume significado mais apurado, embora conservando a idéia básica de que, uma vez nascida, por ajuste entre particulares ou por imposição sentencial do órgão próprio do Estado a obrigação, deve ser cumprida, atingindo-se no último caso, concretamente, o comando da sentença que a reconheceu ou,no primeiro caso o fim para o qual se criou.

No entender de Schiavi63 a execução trabalhista:

[...] consiste num conjunto de atos praticados pela Justiça do Trabalho destinados à satisfação de uma obrigação consagrada num título executivo judicial ou extra judicial, da competência da Justiça do Trabalho, não voluntariamente satisfeita pelo devedor, contra a vontade deste último.

Para Leite64, no processo trabalhista, a obrigação por pagar quantia certa, contida na sentença sempre foi executada nos mesmos autos e perante o mesmo juízo que a proferiu.

O referido jurista defendia a tese que havia no processo do trabalho a existência de um processo autônomo para a execução, no entanto, anota que tal entendimento foi superado e reconhece que o processo autônomo existe apenas para o título executivo extrajudicial, instaurado por meio de uma ação de execução, enquanto que para o título executivo judicial, “não há mais, em principio, um “processo” autônomo de execução e consequentemente, de uma “ação” de execução.”65

Conclui Leite66:

61

GIGLIO; CORRÊA, 2007, p. 524.

62

PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução Trabalhista: Estática – Dinâmica – Prática. 11. ed. São Paulo: LTr, 2006. p. 23. 63 SCHIAVI, 2011, p. 869. 64 LEITE, 2007, p. 863. 65 Ibid., p. 865. 66

(35)

Em suma, o processo de execução autônomo de título judicial foi, no processo civil, substituído pelo ”cumprimento de sentença”, que é uma simples fase procedimental posterior à sentença, sem a necessidade de instauração de um novo “processo” (de execução). Essa substancial alteração do processo civil implica automática modificação do processo do trabalho, no que couber, tendo em vista a existência de lacuna ontológica do sistema da execução de sentença que contém obrigação de pagar previsto na CLT.

Almeida67 adota posicionamento diverso:

A criação da fase de cumprimento da sentença e de execução dentro do processo de conhecimento, no processo civil, não tem reflexos no processo do trabalho, no qual é mantida a distinção entre a atividade de cognição e a de execução, embora nele seja atribuída ao juiz a competência para promover, de ofício, a execução de sentença, o que torna o processo de execução, neste particular, verdadeiro complemento do de conhecimento. No processo do trabalho, o ofício do juiz é cumprido e acaba quando o direito reconhecido na sentença for efetivamente satisfeito. A execução trabalhista se fará na forma estabelecida nos arts. 876 e seguintes da CLT, iniciando-se com a citação do devedor (art. 880), após a liquidação de sentença, se necessário (art. 879 da CLT), mas nela são aplicáveis algumas novas disposições do CPC.

No entendimento de Teodoro Júnior68:

Atestado da unidade do procedimento trabalhista e do caráter de simples continuidade de que se impregna a fase de execução de sua sentença, pode também ser encontrado nos autos de liquidação de sentença. Como se sabe, pela própria natureza das verbas reclamadas na ação trabalhista, a sentença nesse procedimento quase sempre é ilíquida, ou seja, não fixa desde logo os valores individuais de cada parte, nem a soma da condenação.

Segundo Teixeira Filho69:

A execução trabalhista de acordo com as disposições legais que a estruturam, foi projetada para servir como simples fase subseqüente ao processo de conhecimento, destituída, por isso, de autonomia ontológica (exceto quando calcada em título executivo extrajudicial, como previsto pelo art. 876 da CLT), embora não se lhe possa negar independência finalística.

67

ALMEIDA, Lúcio Rodrigues de. Guia do Processo do Trabalho. São Paulo: LTr, 2006. p. 841.

68

TEODORO JÚNIOR, Humberto. O cumprimento da sentença e a Garantia do Devido Processo Legal: Antecedente histórico da Reforma da Execução de sentença ultimada pela Lei 11.232 de 22.12.2005. 2. ed. Belo Horizonte: Mandamentos, 2006. p. 198.

69

TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Execução no Processo do Trabalho. 8. ed. São Paulo: LTr, 2004. p.105.

(36)

A execução trabalhista, ao poder ser iniciada de oficio pelo magistrado, serve como fase procedimental do processo de conhecimento na busca da satisfação do crédito trabalhista. O Processo de execução na justiça trabalhista é regulado pelos artigos 880 e seguintes da CLT.

3.2.1 Princípios aplicáveis à execução trabalhista

Além dos princípios gerais do processo a execução trabalhista traz no seu bojo princípios próprios que devem servir de norte a toda interpretação do juiz do trabalho. Alguns desses princípios serão analisados nos itens a seguir devido a sua relevância para o presente trabalho monográfico.

3.2.1.1 Princípio da ausência de autonomia da execução trabalhista

Há na doutrina, controvérsias acerca da natureza jurídica da execução trabalhista. Para Saraiva, prevalece o entendimento de que o processo de execução trabalhista guarda diferenças e autonomia em relação ao processo de conhecimento, considerando principalmente a alteração do art. 876, da CLT, que possibilitou que se executassem no processo do trabalho, títulos executivos extrajudiciais. 70

No entender de Oliveira71, mesmo antes do advento da lei 11.232/2005, que trouxe a fase do cumprimento de sentença ao processo civil, a execução trabalhista era simples o desfecho da fase de conhecimento.

A este respeito, Oliveira72 comenta:

70

SARAIVA, 2011, p. 529.

71

OLIVEIRA, Francisco Antonio de. Manual de processo do trabalho. 3. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2005. p. 525.

72

(37)

A fase executória, no processo do trabalho, passando pela liquidação de sentença (cálculos, artigos de liquidação e arbitramento) é simples incidente e as decisões proferidas na liquidação de sentença e em embargos são meramente interlocutórias, possibilitando o juízo da reforma pelo magistrado o qual se inclui também no agravo de petição.

Da mesma forma, Schiavi73:

Na verdade, para os títulos executivos judiciais a execução trabalhista nunca foi, na prática, considerada um processo autônomo, que se inicia por petição inicial e se finaliza com a sentença. Costumeiramente embora a liquidação não seja propriamente um ato de execução, as Varas do Trabalho consideram o início do cumprimento da sentença mediante despacho para o autor apresentar os cálculos de liquidação e, a partir daí, a Vara do Trabalho promove, de ofício, os atos executivos.

Segundo Schiavi74 a execução é simples fase do processo, pelos seguintes argumentos:

a) Simplicidade e celeridade do procedimento;

b) A execução pode se iniciar de ofício (art. 878, da CLT);

c) Não há petição inicial na execução trabalhista por título executivo judicial; d) Princípios constitucionais da duração razoável do processo e efetividade; e) Acesso à justiça e efetividade da jurisdição trabalhista.

Leite75 defendia a existência de um processo autônomo na execução trabalhista. Para tanto, abrigava-se aos seguintes argumentos:

a) o processo trabalhista de conhecimento sempre permitiu historicamente a instauração do dissídio coletivo de greve pelo Presidente do Tribunal (CLT, art. 856), que nada mais é do que uma ação de conhecimento sujeita a um procedimento especial, ou seja, o fato da instauração de ofício de uma demanda não implica automaticamente a inexistência de um processo em que ela (ação) vai se desenvolver;

b) a resistência à autonomia do processo de execução trabalhista ficou superada com o advento da Lei n. 9.958, de 12.1.2000, que deu nova redação ao caput do art. 876 da CLT.76

73

SCHIAVI, 2011, p. 875.

74

SCHIAVI, loc. cit.

75

LEITE,Carlos Henrique Bezerra.Curso de direito processual do trabalho. 8. ed. São Paulo: LTr, 2010. p. 934.

76

(38)

O artigo em comento trouxe para a Justiça do Trabalho a presença de dois títulos executivos extrajudiciais, logo, na Justiça do Trabalho passou-se a admitir a existência de um processo de execução.77

Contudo, Leite passou a adotar posicionamento diverso. No primeiro caso, por ser incompatível com o art. 114, §3°, da CF, segundo o qual, permite apenas a instauração de dissídio coletivo de greve pelo Ministério Público do Trabalho, e não de ofício pelo Presidente de Tribunal Trabalhista. Para o segundo caso, Leite afirma que o segundo argumento “ [...] mostra-se absolutamente superado, uma vez que o problema da autonomia da execução trabalhista (e da civil) deve ser analisado sob duplo enfoque, na medida em que existem duas espécies de títulos executivos distintos”.78

Existe realmente um processo autônomo de execução, no que diz respeito ao título executivo extrajudicial, tendo em vista a sua instauração por meio de uma ação de execução. Contudo, tratando-se de título executivo judicial, não há mais, em princípio, um processo autônomo de execução, e por conseqüência, uma ação de execução.79

Considerando que a prestação jurisdicional é um serviço público, o Judiciário de forma geral, inclusive a Justiça do Trabalho, deve buscar com resolução a operacionalização dos princípios da eficiência e da duração razoável do processo. 80

Nesta seara, Leite81 conclui “Daí a necessidade de reconhecermos a ausência de completude do sistema processual trabalhista, máxime no que concerne ao cumprimento de sentença trabalhista, e adotarmos, no que couber, a sua heterointegração com o sistema processual civil [...]”.

Para Saraiva82, prevalece o entendimento de que o processo de execução trabalhista guarda diferenças e autonomia em relação ao processo de conhecimento, considerando principalmente a alteração do art. 876, da CLT, que possibilitou a execução de títulos executivos extrajudiciais, no processo do trabalho.

77

LEITE, 2010, p. 934

78

LEITE, loc. cit.

79

LEITE, op. cit., p. 935.

80

LEITE, loc. cit.

81

LEITE, loc.cit.

82

(39)

3.2.1.2 Princípio do privilégio do crédito trabalhista

O Direito Civil preocupa-se em assegurar a igualdade jurídica dos contratantes, já no Direito do Trabalho a preocupação é proteger a parte economicamente mais fraca, neste caso, o trabalhador, visando alcançar uma igualdade substancial.83

O princípio do privilégio do crédito trabalhista, previsto no art. 612 do CPC, determina que “Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso universal (art. 751, III), realiza-se a execução no interesse do credor, que adquire, pela penhora, o direito de preferência sobre os bens penhorados.”84

A execução trabalhista visa privilegiar os interesses do credor, neste caso o trabalhador que busca a satisfação do crédito. Desta forma, todos os atos executivos devem se concentrar na satisfação do crédito do credor.85

“Na execução, o presente princípio se destaca em razão da natureza alimentar do crédito trabalhista e da necessidade premente da celeridade do procedimento executivo.” 86

A celeridade deve estar presente inclusive na execução, buscando a efetivação da entrega da prestação jurisdicional, daí a importância do princípio em tela.

A esse propósito, Arantes e Duarte87:

[...] é preciso imprimir celeridade e priorizar a execução, pois só assim se pode dizer completa a entrega da prestação jurisdicional. Não é suficiente a legislação, nem a doutrina abundante ou a iterativa jurisprudência. Não basta o advogado atuante, ou a parte leal aos princípios éticos; é necessário que a própria Justiça do Trabalho e os juízes, como seu agentes, assumam a meta, não como mero exercício de suas funções, mas objetivando superar os obstáculos e enfrentar os desafios da execução.

83

MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Manual de direito e processo do trabalho. 19. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 59

84

BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm>. Acesso em: 06 maio. 2011.

85

SCHIAVI, 2011, p. 869.

86

Ibid., p. 870.

87

ARANTES, Delaíde Alves Miranda; DUARTE, Radson Rangel Ferreira. Execução Trabalhista Célere e Efetiva: Um Sonho Possível. São Paulo: LTr, 2002. p. 32.

(40)

Em contraste ao princípio do privilégio do crédito trabalhista na execução, está outro princípio que merece análise, no presente estudo. Trata-se do princípio da execução pelo modo menos gravoso ao executado, que será estudado no item a seguir.

3.2.1.3 Princípio da execução promovida pelo meio menos gravoso ao executado

O princípio da execução pelo meio menos gravoso ao executado, encontra previsão no art. 620 do CPC, que dispõe: “Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor”.88

O art. 574, do CPC, também determina que “O credor ressarcirá ao devedor os danos que este sofreu, quando a sentença, passada em julgado, declarar inexistente, no todo ou em parte, a obrigação, que deu lugar à execução”.89

Existe uma inversão desse princípio, para proteger o trabalhador, sobre esse assunto, Saraiva90:

Não se deve esquecer, no entanto, que tanto o direito laboral quanto o processo do trabalho são permeados de princípios que objetivam proteger o trabalhador hipossuficiente em geral credor da execução, o qual, muitas vezes encontra-se desempregado e em situação econômica delicada.

Nesse contexto muitos juízes e doutrinadores acabam, no âmbito laboral, invertendo esse princípio, para determinar que a execução trabalhista seja processada pelo modo menos gravoso ao credor (trabalhador hipossuficiente).

No processo do trabalho, busca-se a proteção do trabalhador, sendo a parte mais fraca do processo, e por isso na prática, muitos juízes e doutrinadores, acabam invertendo o princípio em análise para que a execução trabalhista seja processada pelo modo menos gravoso ao credor.91

88

BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869.htm>. Acesso em: 06 maio 2011.

89

BRASIL, loc. cit.

90

SARAIVA, 2011, p. 531.

91

(41)

O princípio previsto no art. 620 do CPC não deve ser aplicado ao Processo do Trabalho, pura e simplesmente porque no Processo Civil, existe o pressuposto de igualdade das partes, não sendo o caso no Processo do Trabalho.92

Neste sentido, Külzer93:

E ao serem executados créditos alimentares, com mais razão para que também nesta fase processual seja observado o princípio da proteção, que favorece o credor (geralmente trabalhador), não podendo assim ser transposta para o Processo do Trabalho, pura e simplesmente, a recomendação do art. 620 do Código de Processo Civil de que a execução se processe pelo modo menos gravoso ao devedor, sem ser considerado que tal regra tem como pressuposto a igualdade das partes na fase do conhecimento, o que não acontece, no entanto no Direito do Trabalho.

No Direito Material do Trabalho o legislador busca proteger o empregado que, em geral, é credor do Processo de Execução. No processo comum é o contrário, ou seja, procura tutelar o devedor, por ser considerada a parte mais fraca na relação de direito material. Daí a inserção do princípio da execução pelo modo menos gravoso ao executado.94

Neste sentido, colaciona-se a ementa do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) 3ª Região95:

EMENTA: AGRAVO DE PETIÇÃO – PENHORA SOBRE CRÉDITO – Constitui princípio informativo do processo de execução trabalhista a satisfação do crédito do empregado; é esta sua razão de existir, pois a execução se realiza no interesse do credor (artigo 612 do CPC). Assim, apenas se não resultar em qualquer prejuízo para o credor judicial trabalhista, é que se poderá admitir que a execução se processe do modo menos gravoso para a reclamada. O que se objetiva é o pagamento do débito reconhecido em juízo, da forma mais rápida e eficiente possível (art. 5º. LXXVIII, CF/88).

Com base nesse voto do Juiz Maurício José Godinho Delgado, a 1ª Turma do TRT-MG considerou viável a penhora de 10% (dez por cento) do faturamento bruto da empresa para garantir crédito do reclamante em execução definitiva.

92

KÜLZER, José Carlos. A contribuição dos princípios para a efetividade do processo de execução na justiça do trabalho no Brasil. São Paulo: LTr, 2008. p.39.

93

KÜLZER, loc. cit.

94

Ibid., p. 40.

95

MINAS GERAIS.Tribunal Regional do Trabalho (3. Região). 1ª turma. Processo nº: (AP) 00257-2006-074-03-40-0. Belo Horizonte, MG, 03 de setembro de 2007. Relator: Maurício José Godinho Delgado Disponível em: <http://as1.trt3.jus.br/consulta/detalheProcesso2.htm?conversationId=1261184>. Acesso em: 19 maio 2011.

(42)

O juiz relator, conclui seu voto com as seguintes palavras96:

Não se olvida que a execução deve se processar da forma menos gravosa ao devedor, consoante dispõe o artigo 620 do CPC. Não obstante, deve-se ressaltar que o processo de execução visa exatamente à satisfação do crédito do exeqüente da forma mais rápida e eficiente possível, em face de sua natureza alimentar. Nesse sentido, o artigo 612 do CPC, ao estabelecer que a execução se realiza no interesse do credor. Apenas se não resultar em qualquer prejuízo para o hipossuficiente é que se poderá admitir o processamento da execução do modo menos gravoso para o devedor.

O entendimento da 2ª turma do TRT-12, é de que na execução definitiva, há prevalência do crédito trabalhista em detrimento do princípio da execução pelo modo menos gravoso97:

EXECUÇÃO DEFINITIVA. PENHORA EM DINHEIRO. Tratando-se de execução definitiva, a penhora deve observar a ordem prevista no art. 655 do CPC. Apenas na hipótese de execução provisória é que a penhora em dinheiro, quando nomeados outros bens à penhora pelo devedor, caracteriza ofensa ao disposto no art. 620 do CPC. Em outras palavras, na execução definitiva há prevalência do direito do credor à satisfação de seus créditos sobre o direito do devedor de que a execução seja feita pelo modo menos gravoso

Assim, percebe-se que na execução trabalhista, o princípio da proteção do exeqüente, tem prevalência sobre o princípio da execução pelo modo menos gravoso ao executado, sem com isso, caracterizar ofensa ao disposto no art. 620 do CPC.

96

MINAS GERAIS.Tribunal Regional do Trabalho (3. Região). 1ª turma. Processo nº: (AP) 00257-2006-074-03-40-0. Belo Horizonte, MG, 03 de setembro de 2007. Relator: Maurício José Godinho Delgado Disponível em: <http://as1.trt3.jus.br/consulta/detalheProcesso2.htm?conversationId=1261184>. Acesso em: 19 maio 2011..

97

SANTA CATARINA. Tribunal Regional do Trabalho. (12. Região). 2ª turma. Processo nº. 00958-2008-032-12-85-8. Relator: Edson Mendes de Oliveira. Florianópolis, SC, 3 de setembro de 2010. Disponível em:

<http://consultas.trt12.gov.br/SAP2/DocumentoListar.do?pidDoc=157240&plocalConexao=sap2&ptipo=PD F>. Acesso em: 19 maio 2011.

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