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O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS IDENTIDADES

No documento guilhermemoreirafernandes (páginas 59-75)

2. IDENTIDADES E SEXUALIDADES: A PERSPECTIVA CONTEMPORÂNEA

2.1 O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE AS IDENTIDADES

Os teóricos contemporâneos que debatem a questão das identidades nos revelam que elas não são naturais, estáticas e nem essenciais. Sabemos que as identidades são mediadas e construídas diariamente por meio de nossas relações pessoais. É com base nessa realidade e nos avanços das teorias sociais e humanas que Stuart Hall (2006) tece considerações sobre o sujeito pós-moderno (ou contemporâneo) e as identidades que ele porta consigo. O teórico distingue três concepções de identidade em três eras: o sujeito do Iluminismo; o sujeito sociológico e o sujeito pós-moderno.

Para Hall (2006), o sujeito do Iluminismo estava baseado no entendimento do ser humano como um indivíduo centrado, unificado, dotado das capacidades de razão, consciência e de ação. Autossuficiente, este indivíduo se conservava contínuo ao longo de sua existência.

O sujeito sociológico, prossegue Hall, refletia a crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de que ele não era autônomo, mas, sim, formado pela relação com outras pessoas, que mediavam para este sujeito noções culturais do mundo em que habitavam. Assim, a identidade era a interação entre o eu e a sociedade: “O sujeito ainda tem um núcleo ou essência interior que é o ‘eu real’, mas esse é formado e modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais ‘exteriores’ e as identidades que esses mundos oferecem” (HALL, 2006, p. 11).

O sujeito pós-moderno de Hall é fragmentado, composto não de uma, mas de várias identidades que podem ser contraditórias e não resolvidas.

Correspondentemente, as identidades, que compunham as paisagens sociais ‘lá fora’ e que asseguravam nossa conformidade subjetiva com as ‘necessidades’ objetivas da cultura, estão entrando em colapso, como resultado de mudanças estruturais e institucionais. O próprio processo de identificação, através do qual nos projetamos em nossas identidades culturais, tornou-se mais provisório, variável e problemático. (HALL, 2006, p. 12).

Nas palavras de Hall, a identidade torna-se uma “celebração móvel”, definida historicamente e não biologicamente. Desta forma, o sujeito irá assumir diferentes identidades

em diferentes momentos: “Dentro de nós há identidades contraditórias, empurrando em diferentes direções, de tal modo que nossas identificações estão sendo continuamente deslocadas [...]. A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia” (HALL, 2006, p. 13).

Kathryn Woodward (2007) concebe a identidade como algo relacional, marcada simbolicamente pela diferença. A autora justifica que se deve analisar a identidade sob a ótica do “circuito da cultura15” e da forma em que a identidade e a diferença se relacionam com o sistema de representação. Para obter uma plena compreensão de um texto ou artefato cultural é necessário analisar os processos de representação, identidade, produção, consumo e regulação – o “circuito da cultura”. Desta forma, não se trata de um processo linear ou sequencial. O sistema de representação está ligado à relação entre cultura e significado, cujo foco se desloca dos sistemas de representação para as identidades produzidas por aqueles sistemas:

A representação inclui as práticas de significação e os sistemas simbólicos por meio dos quais os significados são produzidos, posicionando-nos como sujeito. É por meio dos significados produzidos pelas representações que damos sentido à nossa experiência e àquilo que somos. (...). A representação, compreendida como um processo cultural, estabelece identidades individuais e coletivas e os sistemas simbólicos nos quais ela se baseia fornecem possíveis respostas às questões: Quem eu sou? O que eu poderia ser? Quem eu quero ser? Os discursos e os sistemas de representação constroem os lugares a partir dos quais os indivíduos podem se posicionar e a partir dos quais podem falar. (WOODWARD, 2007, p. 17).

Entendemos a telenovela como um desses lugares explicitados por Woodward. O texto teledramatúrgico é um local privilegiado para o posicionamento de indivíduos a partir de algum personagem ou tema polêmico. Desta forma, os atores e as atrizes, no âmbito da telenovela, são porta-vozes de certa parcela da população que não consegue manifestar seus

15 Segundo nota do tradutor Tomaz Tadeu da Silva, este esquema do circuito da cultura foi elaborado por Paul du

Gay, Stuart Hall, Linda Jones, Hugh Mackay e Keith Negus. Ele está presente na introdução do livro “Identity and difference” de Kathryn Woodward, onde foi retirado o texto que integra a coletânea brasileira organizada e traduzida por Silva.

anseios e angústias senão por meio daqueles personagens. A marginalidade16 de alguns (por exemplo, dos homossexuais) pode ser alçada a um ponto de aceitação social graças à emoção e/ou comicidade e sua empatia com o público espectador.

Woodward (2007, p. 19) ainda assevera que “os sistemas simbólicos fornecem novas formas de dar sentido à experiência das divisões e desigualdades sociais e aos meios pelos quais alguns grupos são excluídos e estigmatizados”, constituindo-se num jogo no qual as identidades são contestadas e postas na berlinda, dando lugar a novas posições e novas identidades. O que poderia se dizer “igual” é marcado como diferença e necessidade de afirmação. A estas mudanças a autora atribuiu uma possível “crise de identidade”.

A crise de identidades é uma das características da modernidade tardia17 de Anthony Giddens (1991), em que sua centralidade atual só faz sentido quando vista no cenário das transformações globais (e também locais, íntimas etc.) que têm sido definidas como características da vida contemporânea. Desta forma, a crise é explicada pelo conceito de deslocamento de Ernesto Laclau, que argumenta não existir mais uma única força determinante e totalizante, mas múltiplas forças que emergem em diversos momentos distintos:

A complexidade da vida moderna exige que assumamos diferentes identidades, mas essas diferentes identidades podem estar em conflito. Podemos viver, em nossas vidas pessoais, tensões entre nossas diferentes identidades quando aquilo que é exigido por uma identidade interfere com as exigências de uma outra. (WOODWARD, 2007, p. 31-32).

16 Entendemos o indivíduo marginal como aquele que está à margem de duas culturas, uma hegemônica e outra

contra-hegemônica, específica de seu grupo. Dessa forma, as minorias (homossexuais, negros, mulheres, indígenas etc.) são indivíduos marginais.

17 Giddens (1991) rejeita o conceito de “pós-modernidade” ao afirmar que o projeto da “modernidade” ainda não

foi vencido; por isso o conceito de “modernidade tardia”. O teórico aponta três fatores característicos de nossa época: a separação entre tempo e espaço (condição do distanciamento tempo-espaço de escopo indefinido; propicia meios de zoneamento preciso temporal e espacial); o desenvolvimento de mecanismos de desencaixe (retira a atividade social dos contextos localizados, reorganiza as relações sociais através de grandes distâncias tempos-espaciais); e a apropriação reflexiva do conhecimento (produção de conhecimento sistemático sobre a vida social torna-se integrante da reprodução do sistema, deslocando a vida social da fixidez da tradição).

Desta forma, Woodward sugere que as identidades são diversas e cambiantes. Em cada lugar que o indivíduo está uma faceta de sua identidade (ou representação dela) emerge, modificando o comportamento, conforme a ocasião. As tensões identitárias surgem quando há um choque, em que a opção por uma identidade vai de encontro a outra, pois um comportamento parece anular outro. Como forma ilustrativa, tomamos o caso de evangélicos neopentecostais. Para esses fiéis, a Igreja condena práticas como o uso de drogas (lícitas e ilícitas), adultério, aborto e também a prática e vivência da homossexualidade. Logo, o neopentecostal que utiliza drogas ou opta pela liberdade de decidir se vai ou não ter um filho ou simplesmente vive sua homossexualidade, não segue o que se espera da sua identidade religiosa.

Se este exemplo pode ser visto como uma radicalização das ideias de Woodward, basta notar os diferentes comportamentos de uma pessoa no ambiente de trabalho, no doméstico e no de lazer. Enquanto neste caso pode haver ou não um choque de identidades, naquele, contudo, certamente haverá.

Estes diferentes comportamentos recebem o nome de “representação” na obra de Erving Goffman (2009), sob a argumentação de que na sociedade o indivíduo é um ator que representa diversos papéis, de acordo com o momento, o público presente e o cenário em que está. É evidente o uso de elementos da teoria do teatro no texto de Goffman sobre as interações sociais.

Mesmo filiados a correntes distintas (ela, na perspectiva dos Estudos Culturais e ele, no Interacionismo Simbólico) é possível fazer uma interface nos pensamentos de Woodward e Goffman. As “tensões de identidades” descritas por Woodward (2007) podem ser entendidas nos diversos jogos de representações compostos por Goffman (2009). Para este autor, a representação se refere “a toda atividade de um indivíduo que se passa num período

caracterizado por sua presença contínua diante de um grupo particular de observadores e que tem sobre estes alguma influência” (GOFFMAN, 2009, p. 29). Assim:

Quando um indivíduo desempenha um papel, implicitamente solicita de seus observadores que levem a sério a impressão sustentada perante eles. Pede-lhes para acreditarem que o personagem que veem no momento possui os atributos que aparenta possuir, que o papel que representa terá as consequências implicitamente pretendidas por ele e que, de um modo geral, as coisas são o que parecem ser. Concordando com isso, há o ponto de vista popular de que o indivíduo faz sua representação e dá seu espetáculo “para benefício de outro”. Será conveniente começar o estudo das representações invertendo a questão e examinando a própria crença do indivíduo na impressão de realidade que tenta dar àqueles entre os quais se encontra (GOFFMAN, 2009, p. 25).

Desta forma, as relações sociais primárias são marcadas por representações. Contudo, isso não indica, e nem Goffman sugere, que as pessoas estão sendo falsas ou dissimuladas. O que acontece, na verdade, é que o indivíduo escolhe uma de suas identidades e a representa perante o outro. Entretanto, existem também representações falsas: o mostrar ao outro aquilo que “eu não sou” ou que “eu não quero que saiba que sou”. Esse “outro” marcado nas relações sociais é denominado de público por Goffman. Já o local é o cenário. Desta forma as representações são diversas em diferentes “cenários”: trabalho, escola, Igreja, praia etc. Outro conceito importante na obra de Goffman (2009) e que nos ajuda a entender a representação identitária é a “fachada”. Nas palavras do autor:

Será conveniente denominar de fachada a parte do desempenho do indivíduo que funciona regularmente de forma geral e fixa com o fim de definir a situação para os que observam a representação. Fachada, portanto, é o equipamento expressivo de tipo padronizado intencional ou inconscientemente empregado pelo indivíduo durante sua representação. Para fins preliminares será conveniente distinguir e rotular aquelas que parecem ser as partes padronizadas da fachada. (GOFFMAN, 2009, p. 29).

A fachada contém o cenário e a expressão do ator (indivíduo). O autor denomina as expressões faciais como “fachada pessoal” e divide os estímulos que a formam em “aparência” e “maneira”, de acordo com a função exercida pela informação que se quer passar. A “aparência” incluiu

aqueles estímulos que funcionam no momento para nos revelar o status social do ator. Tais estímulos nos informam também sobre o estado ritual temporário do indivíduo, isto é, se ele está empenhado numa atividade social formal, trabalho ou recreação informal, se está realizado, ou não, uma nova fase no ciclo das estações ou no seu ciclo de vida (GOFFMAN, 2009, p. 31).

Já a “maneira” é composta pelos “estímulos que funcionam no momento para nos informar sobre o papel de interação que o ator espera desempenhar na situação que se aproxima” (GOFFMAN, 2009, p. 31): a “maneira arrogante” (dono da ação) e a “maneira humilde” (passivo da ação). Em outras palavras, a aparência pode ser entendida pelo conjunto formado pela vestimenta do indivíduo (se está de terno [ou vestido longo] pode indicar formalidade; já a bermuda e a camiseta indicam outra situação) e outros elementos como barba, cabelo, maquiagem etc. A “maneira”, por sua vez, além do uso lexical, inclui a postura e a forma como o indivíduo se porta em diferentes momentos.

Ao observar a aparência e a maneira do indivíduo, automaticamente o enquadramos de acordo com os estereótipos que conhecemos. Mesmo na posição de observador inferimos características e comportamentos que julgamos fazer parte do repertório daquele indivíduo, isto é, deduzimos sua identidade. A maneira exagerada ou contida nos ajudará, ou não, nesse enquadramento – o que é perfeitamente aplicado, ao pensarmos em identidades sexuais. Uma travesti será reconhecida pela sua aparência, um homossexual afeminado pelo conjunto de aparência e/ou maneira, enquanto um homossexual normativo somente será identificado após alguma interação, visto que ele não está representando sua homossexualidade. Mas nem por isso poderíamos dizer que ele representa a heterossexualidade. Goffman explica que uma aparência pode se contradizer pela maneira, e vice-versa:

Mas, evidentemente, aparência e maneira podem se contradizer uma à outra, como acontece quando um ator que parece ser de posição mais elevada que sua plateia age de maneira inesperadamente igualitária, íntima ou humilde, ou quando um ator vestido com o traje de uma alta posição se apresenta a um indivíduo de condição ainda mais elevada. (GOFFMAN, 2009, p. 32).

Desta forma, a contradição só vai ser percebida no momento da interação em que o uso da identidade e da diferença é imputado pelo observador. A convivência também é outro fator responsável pela modificação da fachada pessoal do indivíduo. No momento da (primeira) representação o indivíduo escolhe os elementos e sinais que ele julga ser importante para defini-lo ao outro.

Em presença de outros, o indivíduo geralmente incluiu em sua atividade sinais que acentuam e configuram de modo impressionante fatos confirmatórios que, sem isso, poderiam permanecer despercebidos ou obscuros. Pois se a atividade do indivíduo tem de tornar-se significativa para os outros, ele precisa mobilizá-la de modo tal que expresse, durante a interação, o que precisa transmitir. De fato pode-se exigir que o ator não somente expresse suas pretensas qualidades durante a interação, mas também que o faça durante uma fração de segundo na interação. (GOFFMAN, 2009, p. 36-37).

Os sinais emitidos pelo indivíduo fará com que o outro tente “decifrar” seu ser, sua identidade, aquilo que se pretende mostrar em um primeiro momento. Assim como nas relações sociais, esse é um fator importante a ser notado em análises teledramatúrgicas. O primeiro capítulo de uma telenovela, por exemplo, ou a primeira aparição de um personagem é de fundamental importância para percebermos a imagem que o autor quer nos transmitir de seus personagens. Por vezes, o autor nos “engana”, mostrando a real personalidade do personagem apenas no decorrer da trama.

Uma das telenovelas que vamos analisar é “Brilhante” (1981) de Gilberto Braga. O personagem homossexual mais importante dessa trama é Inácio (Dennis Carvalho), que é apresentado ao público no primeiro capítulo e de quem logo formamos uma imagem: alcoólatra, com problemas pessoais, não realizado profissionalmente, culto, apreciador de ópera e música clássica e quer entender a metafísica e o amor. Pela aparência e maneira não podemos concluir que Inácio é homossexual. O primeiro diálogo também não deixa claro, mas indícios nos são mostrados. Já em “O Astro” (1977), de Janete Clair, ao olharmos o personagem Henry (José Luiz Rodi), pela sua aparência e maneira, já deduzimos que ele é

homossexual, porém sua identidade só será confirmada a partir das atitudes e diálogos que Clair criou para o personagem.

Embora não seja o nosso foco de trabalho, algumas vezes a atitude e maneira do personagem revelam, por exemplo, que ele seja homossexual. Contudo, isso é um mero artifício, uma fachada e não a identidade. Acreditamos que um exemplo de fácil recordação seja o personagem Jacques Léclair (Reginaldo Faria na primeira versão da telenovela “Ti-ti- ti18” e Alexandre Borges no remake), pseudônimo artístico de André Spina, um estilista que se faz de efeminado para que os maridos de suas clientes não tenham ciúmes dele.

Inácio, Henry e André (como Jacques) se apresentaram ao público de formas distintas. Escolheram a aparência e a maneira pela qual queriam ser vistos pelo público. Cada um mostrou traços distintos de personalidade e de identidade. Retornando ao texto de Woodward, a pesquisadora aponta que “as identidades são diversas e cambiantes, tanto nos contextos sociais nos quais elas são vividas quanto nos sistemas simbólicos por meio das quais damos sentido a nossas próprias posições” (WOODWARD, 2007, p. 33). De certa forma, o sentido que damos à nossa identidade parte de nossas escolhas e, também, da representação da “fachada” defendida por Goffman.

Woodward preconiza que os “sistemas classificatórios” são os responsáveis pela marcação da identidade e da diferença. A marcação que Woodward se refere são os sistemas simbólicos de representação e as formas de exclusão social: “A identidade, pois, não é o oposto da diferença: a identidade depende da diferença. Nas relações sociais, essas formas de diferença – a simbólica e a social – são estabelecidas, ao menos em parte, por meio de sistemas classificatórios” (WOODWARD, 2007, p. 40).

Ainda de acordo com a autora, o sistema classificatório é responsável por aplicar o princípio da diferença, sendo capaz de dividir uma população em grupos opostos. Esse

18 Telenovela de Cassiano Gabus Mendes apresentada de 05 de agosto de 1985 a 08 de março de 1986 pela Rede

processo vai além do binarismo clássico do homossexual x heterossexual, homem x mulher etc. No próprio movimento homossexual há grupos que reivindicam uma identidade própria. Temos a divisão entre lésbicas, gays, travestis19, transexuais20, transgêneros21, bissexuais e até mesmo os intersexos22 e os queers. Em cada uma dessas divisões outras nascem automaticamente, baseadas em elementos como raça e faixa etária, a aparência e a maneira, entre outros, levando-nos à constatação de que cada cultura (e subcultura) tem suas distintas formas de classificação.

É pela construção de sistemas classificatórios que a cultura nos propicia os meios pelos quais podemos dar sentido ao mundo social e construir significados. Há, entre os membros de uma sociedade, um certo grau de consenso sobre como classificar as coisas a fim de manter uma ordem social. Esses sistemas partilhados de significação são, na verdade, o que se entende por cultura. (WOODWARD, 2007, p. 41).

19A travestilidade pode ser vivenciada de diferentes formas. Ao contrário do que muitos pensam, para ser

um/uma travesti não é necessário fazer uma intervenção “radical” no corpo, com hormônios e silicones, como acredita, entre outros, Jayme (2005, p. 163). Cardozo (2007, p. 245) utiliza o discurso da presidente da ADEH (Associação das Travestis da Grande Florianópolis), Laura Cotroffi, para explicar, de uma forma normativa que “as travestis que se relacionam com mulheres ou com outras travestis são denominadas, conceitualmente, homossexuais, podendo ser chamadas, nesses casos, lésbicas. Quando às travestis que se sentem atraídas por “homens” – aqueles que assumem papel e representação masculinos e geralmente são ativos na relação sexual -, estas são considerados heterossexuais. Travestis que se interessam sexualmente tanto por homens quanto por mulheres e/ou por outras travestis, por sua vez, são categorizadas como bissexuais”. Existem “homens” e “mulheres” travestis. Diferente dos/as transexuais os/as travestis não desejam fazer cirurgia para troca de genitália. Travesti é uma identidade, logo não deve ser confundido com os/as transformistas (se vestem como mulher [ou também como homem] apenas sem situações ritualísticas, como shows, constroem uma “mulher perfeita” [ou, também, um “homem perfeito”]. As Drag-queens aparecem nas mesmas situações dos/das transformistas, porém de forma caricatural e exagerada. Em ambos os casos não se fala em identidade. Sobre transformistas e drag-queens, ver JAYME (2005).

20

Transexuais são indivíduos que possuem uma identidade de gênero diferente do sexo designado no nascimento. É comum passarem por tratamento médico que pode incluir procedimentos cirúrgicos, hormonais e troca de genitália. No campo normativo, poder-se-ia dizer que agem como “heterossexuais”.

21

Transgênero geralmente se refere àquelas pessoas que recusam ou rompem com as normas culturais de aparência ou comportamento masculino e feminino e sua suposta correspondência com a masculinidade ou feminilidade biológica preexistente. (SPARGO, 2006, p. 69).

22 Intersex é um termo de origem médica que foi incorporado pelos ativistas para designar as pessoas que nascem

com corpos que não se encaixam naquilo que entendemos por corpos masculinos ou femininos. É uma definição para explicar a variedade de condições nas quais as pessoas nascem com órgãos reprodutivos e anatomias sexuais que não se encaixam na típica definição de masculino ou feminino. Embora Pino (2007) estabeleça diferenças entre o intersexual e o hermafrodita é comum a utilização de ambos os termos como sinônimo graças à ambiguidade ou indefinição da genitália desses indivíduos. No Brasil, não encontramos ativismo intersex. A sigla utilizada pelo movimento homossexual (LGBT) não os contemplam. No universo da teleficção brasileira, encontramos a personagem Buba (Maria Luísa Mendonça) da telenovela “Renascer” (Benedito Ruy Barbosa, Rede Globo, 20h, 1993). Buba, definida na telenovela como uma peseuda-hermafrodita feminina chegou a se envolver afetivamente com os personagens Zé Venâncio (Taumaturgo Ferreira) e Zé Augusto (Marco Ricca). Sobre os intersex ver PINO (2007). Sobre a telenovela “Renascer” e a personagem Buba, consultar SANTOS

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