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Parte II : A decisão do pedido de fiscalização da redução das pensões

2. O direito à pensão na ordem jurídica portuguesa

O direito à pensão, não está expressamente consagrado na CRP, antes decorre do direito à segurança social, o qual está elencado na nossa constituição na categoria dos direitos fundamentais sociais, encontrando consagração expressa, direta e específica no direito á segurança social como exigência da proteção previdencial e também como direito fundamental à segurança económica das pessoas idosas118.

Para GOMES CANOTILHO E VITAL MOREIRA o direito à pensão é um direito subjetivo público, em que “se assegura a todos as condições e pressupostos materiais necessários a uma existência compatível com a dignidade da pessoa humana”, quando, por qualquer motivo, não consigam alcançar essas condições ou pressupostos de forma autónoma119.

Neste seguimento também refere ILIDIO DAS NEVES que o direito à segurança social é um “poder reconhecido pela ordem juridica de exigir do Estado prestações como resposta a situações ou eventualidades traduzidas na interrupção, redução ou cessação dos rendimentos do trabalho, ocorrência de determinados encargos”120, eventos esses que, estão consagrados na

legislação própria.

Este direito está assim inserido no catálogo dos direitos sociais. A concretização deste direito pressupõe deveres do Estado.

Desta forma estamos perantes deveres negativos que consistem em não colocar em causa a consagração e o conteúdo constitucional dos direitos, nomeadamente o quid e o quantum constitucional (questão que abordaremos mais à frente com mais detalhe).

Para além dos deveres negativos também há deveres positivos, com a respetiva concretização jurídico-política através da elaboração da correspondente norma e o seu

117 Cfr.Parte III- Decisão do aresto em causa.

118 Cfr. artigos 63º nº1 e 3 e 72º nº1, ambos da CRP.

119 Cfr. J.J. Gomes CANOTILHO e Vital MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada, Vol I, Coimbra Editora, 2010, págs 811 e

seguintes.

53 conteúdo121.

O legislador deverá respeitar o princípio da igualdade de tratamento, salvaguardando a condição de atribuir este direito especifico na medida da necessidade.

Todavia, na atribuição deste direito temos sempre um obstáculo, designadamente a despesa que a concretização prática do direito implica, concretamente com a atribuição de prestações sociais.

Pese embora a questão da disciplina orçamental esteja presente na questão da atribuição das pensões, não podemos deixar de lado outro direito ligado ao direito à pensão com proteção constitucional, designadamente o direito a uma existência condigna122, que limita de certa forma

as possíveis restrições que possam vir a surgir.

Concluindo, a prestação a que o beneficiário tem direito não está isenta de restrições, sendo que estas deverão assegurar um minimo de existência condigno com a dignidade humana.

Tal como acontece com outros direitos fundamentais, a Constituição prevê a restrição de direitos fundamentais com a condicionante de que será necessária uma justificação suficientemente forte e discutível para exequibilidade dessa mesma restrição sem prejuízo da observância dos preceitos constitucionais aplicáveis123.

Desta forma, o legislador detém alguma liberdade para adotar medidas legislativas que visam a restrição do direito à pensão dada a situação económico-financeira, não obstante essas normas poderem ser alvo de fiscalização por parte do Tribunal Constitucional, órgão que detém a competência para verificar o cumprimento das normas inscritas na Constituição da República Portuguesa.

Outra questão associada à conformação legislativa dos princípios inscritos na Constituição são as posições e situações jurídicas protegidas.

Estando protegidas sob o mesmo direito fundamental, a consistência do direito é diversa no caso daquele se formar durante a vida ativa mas que, ainda não está constituído. Daquele em que o direito à pensão já é reconhecido na esfera jurídica do respectivo titular.

De igual forma, será diferente a solidez do direito à pensão de alguém que, no fim de uma longa carreira contributiva, preenche os requisitos necessários para requerer a pensão, de

121 Cfr. José Casalta NABAIS, O Financiamento da Segurança Social em Portugal in Estudos de Direito Fiscal, Vol II, Almedina, 2008 , pág.

186.

122 Para o Tribunal Constitucional trata-se de um direito que deve ser associado ao principio da dignidade humana e ao desenvolvimento da

personalidade.

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outrem que agora vai iniciar uma actividade profissional e que começa a fazer os respetivos descontos para a segurança social com a legítima expectativa de vir a beneficiar de uma pensão no fim da vida.

Da mesma forma que será diferente a solidez do direito e das expectativas de alguém que já tem a pensão em pagamento e que, por razões de idade ou de saúde, não tem mais condições de retorno ao mercado de trabalho e encontra na pensão a única garantia de realização da autonomia pessoal.

Neste seguimento defende JORGE REIS NOVAIS que “a Constituição não garante, diferentemente de outras, apenas um "direito a um mínimo de segurança social" ou um "direito a um mínimo de segurança económica" das pessoas idosas ou um "direito a um mínimo para uma sobrevivência condigna". Garante, sim, o direito fundamental à segurança social, como um todo, e o direito fundamental das pessoas idosas à segurança económica que proporcione uma autonomia pessoal, também como um todo”124.

Para além da sua duração prolongada, as pensões são ainda particularmente dependentes dessa “reserva do possível”, pelo simples facto da sua inserção no sistema solidário de prestação do contrato geracional.

Ora, num sistema previdencial de repartição, tal como afirma JOÃO CARLOS LOUREIRO “ os beneficiários não podem ignorar os riscos envolvidos, com a possibilidade de alteração dos direitos em formação, não se podendo defender que se reconhece, sem exceções, um “princípio da intangibilidade no que toca ao quantum das pensões”125.

Na valoração jurídico-constitucional deste mesmo direito é necessário ter em conta a relação jurídica subjacente entre o contribuinte e o Estado, sendo que, dessa relação jurídica derivam obrigações para ambas as partes, quer para o contribuinte que efetua as devidas contribuições e quer para o Estado (no caso da reforma por exemplo) que contribui com a contraprestação aquando da saída do contribuinte do mercado laboral126127.

Portanto, encontramos uma valoração da solidez do direito mais consistente no direito constituído (ou chamado adquirido e reconhecido na esfera do titular) daqueles que ainda estão em constituição (os direitos em formação).

124 Idem.

125 Cfr. João Carlos Loureiro, “Adeus ao Estado Social?...”op, cit., págs. 166, 170 e 379.

126 Cfr. artigo 7º nº4 e 5 do DL 187/XII.

127 Nas reformas de 1993, 2002, 2005 e 2007 foram acauteladas as pensões em pagamento. A mesma posição não foi declarada noutras

ordens jurídicas onde não existe um específico direito fundamental à segurança social, o direito à pensão adquirido naquelas circunstâncias é

mesmo considerado protegido, a título principal, pelo direito fundamental da propriedade. É o que acontece na Alemanha127 ou, no plano da

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3. A inconstitucionalidade da redução das pensões declarada no aresto nº