• Nenhum resultado encontrado

2 CONJUNTO DE ENUNCIADOS PRESCRITIVOS POSITIVADO E DOTADO DE

4.1 O direito positivo como objeto de análise

O objeto deste estudo compreende os enunciados prescritivos constantes da Constituição da República Federativa do Brasil, do Código Tributário Nacional, dos tratados internacionais firmados pelo Brasil, dos decretos legislativos e das decisões judiciais relacionados ao acoplamento do direito internacional tributário ao direito interno com efeitos na seara do direito tributário.

Essa é a linguagem-objeto de nossa análise. A ela voltaremos nossa atenção a fim de enfrentar as questões propostas, descrevendo-a em nível de sobrelinguagem, identificando os critérios objetivos necessários à construção das normas jurídicas dessa seara.

Analisando a Constituição, encontraremos enunciados prescritivos que prevêem que a República Federativa do Brasil é formada pela reunião indissociável dos Estados, Municípios e do Distrito Federal, que ela é a única pessoa dotada de soberania263 e apta a estabelecer relações jurídicas com outros países, devendo

observar finalidades específicas ao firmar tais relações264.

263 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania.

264 Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

I - independência nacional;

II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção;

V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz;

VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;

IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político.

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

A Constituição prevê que a República Federativa do Brasil será representada pela União265, através do Presidente da República que está apto a firmar o tratado, mas que seu ato fica condicionado a posterior referendo do Congresso Nacional266.

Essa competência exclusiva do Congresso de resolver definitivamente quanto à aprovação do texto dos tratados é condição à validade dos tratados quando estes acarretarem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional267, e será exercida através de decreto legislativo.268

A Constituição também prevê que tratados internacionais poderão criar direitos e garantias fundamentais e que suas normas serão equiparadas a emendas constitucionais quando aprovadas em dois turnos, por três quintos de votos dos membros de cada casa do Congresso Nacional.269

Prevê ainda a competência do Supremo Tribunal para decidir em única ou última instância causas em que tiver sido declarada a “inconstitucionalidade” de tratado270, e a competência do Superior Tribunal de Justiça para julgar os casos em

que a decisão recorrida contrariar ou negar vigência a um tratado.271

265 Art. 21 - Compete à União:

I - manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais; 266 Art. 84 - Compete privativamente ao Presidente da República:

VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos; VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;

267 Art. 49 - É da competência exclusiva do Congresso Nacional:

I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;

268 Art. 59 - O processo legislativo compreende a elaboração de: VI - decretos legislativos.

269 § 2.º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

§ 3.º - Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

270 Art. 102 - Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:

III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida:

b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal. 271 Art. 105 - Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

III - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:

Os decretos legislativos permitem identificar a observância do direito fixado pela Constituição, isto é, que os tratados em matéria tributária são firmados pela República Federativa do Brasil, mas sob condição de aprovação de seu texto pelo Congresso Nacional, pois somente após esse ato poderão ratificá-lo, concluindo a produção dos tratados no âmbito internacional e viabilizando a posterior inserção no plano do direito interno.

No Código Tributário Nacional encontraremos enunciados prescritivos destinados a reger o exercício do poder de instituir tributos e estabelecer regras gerais de direito tributário, abrangendo aquelas que especificam que os tratados são meios ou instrumentos hábeis a introduzir normas na seara tributária (art. 96 e 100), bem como sobre sua interpretação e aplicação no âmbito tributário em função de conflito destes com a legislação interna (art. 98).

Nos tratados internacionais verificaremos a existência dos enunciados prescritivos que dispõem sobre sua produção (o que abrange sua compreensão), o procedimento que foi observado para sua enunciação, bem como a regulamentação de suas modificações e extinção com ênfase em relações intersubjetivas relacionadas à tributação.

Por fim, a análise de decisões judiciais abrangerá a interpretação adotada pelo Poder Judiciário diante de litígios envolvendo o acoplamento do direito internacional ao direito interno no âmbito tributário.