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O domínio total do privado-público em Abbott H. Thayer

No documento ALT+R-HOTKEY  (páginas 55-61)

SEGUNDA PARTE

2. Para uma estratégia de defesa à subversão espacial

2.2. O domínio total do privado-público em Abbott H. Thayer

Em 1896, Abbott Handerson Thayer (1849/1921) apresentava ao mundo científico a        designada “Lei de Thayer” (1896)        66 67  . A “Lei de Thayer” (      ​The Law Which Underlies        Protective Coloration  ​), refere-se ao fenómeno da camuflagem, significada pela palavra       

“krypsis” do grego     ​κρύψις ​e que em português significa ocultação. A ocultação está        intimamente ligada ao conceito de vigilância. Neste sentido a vigilância é uma espécie de        olho que vê e que é olhado, com ou sem apoio tecnológico. No entanto, os olhos humanos        diferem dos olhos dos animais e do       ​software   e assim podemos dizer que o que é        visualmente evidente ao olho humano pode desta forma ser transformado visualmente aos        olhos dos animais ou do      ​software​. Pensemos nas vestes de um vigilante caçador        (camuflagem) em comparação com as pelagens de um animal vigiado (cor protectiva) e        com os código HTML de ​Alt+R-hotkey ​como se verifica na seguinte figura: 

   

   

   

                     

Figura 20: Frame do da estrutura de código de ​Alt-R-hotkey. 

 

Os olhos são facilmente iludidos pela tecnologia da camuflagem que opera com a        correspondência das cores e padrões das vestes / pelagens / código HTML com o ambiente        envolvente. Um dueto de dança         ​entre vigilância e ocultação que, quando processadas pelo        cérebro, tornam-se ponto fundamental da “Lei de Thayer”. Abbott compreendeu que o        cérebro, tanto humano como animal, opera a visão tendo em conta os contrastes entre a luz       

66 Em 1896, Thayer publicou uma série de fotografias de animais no jornal da Associação Americana de  Ornithologia Association, The Auk, ​onde pela primeira vez, é publicada a descoberta de Thayer. 

67 M. Stevens and S. Merilata, eds., ​Animal Camouflage​ (UK: Cambridge University Press, 2011) 

e a sombra       68 69e que no Reino Animal as pelagem beneficiam de um esquema inverso de        contraste entre luz / sombra: um simulacro visual. O autor, apresenta-nos “o significado da        parte de baixo branca dos animais” (Thayer, 1896, 26-125), um esquema de cores claras      70        na base e mais escuras na área superior do animal que visualmente o diluem na imagem de        fundo como demonstrada na figura 21.  

     

   

         

Figura 21: Diagrama de camuflagem71 

 

É deste modo que Abbott descobre que o perfil de um animal em ambiente natural é        anulado por um sistema de cores inverso que, combinado com a imobilização no espaço,        apresenta-se ao olhar humano e não-humano sob formas menos sólidas e mais        transparentes. O animal e        ​Alt+R-hotkey  ​devem, todavia, permanecer imóveis. Esta          imobilização (  ​Alt+R-hotkey  não dispõe de um domínio publico www) revela-se        fundamental para a eficácia da cor de padrões móveis ou do código HTML. A cor que        protege enquanto técnica de invisibilidade é empregue como forma de favorecer o        desaparecimento de um sujeito ou de um objeto na totalidade perante o olho, seja humano        ou não-humano. A título de exemplo, referimos a capa da invisibilidade (figura 22),        desenvolvida por investigadores da Universidade de Tóquio e constituída pela tecnologia      72         

68 E.R. Kandel, The Age of Insight​ (NY: Random House, 2012), 267-269. 

69   A este respeito podemos remeter para o trabalho da luz / sombras como técnica das artes visuais (o                                  exemplo-tipo do   Sfumato bastante utilizado no renascimento por Leonardo da Vinci (1452/1519)) que                    permite tornar uma imagem bidimensional numa outra tridimensional. Atualmente nas imagens digitais com                          sombra, em linguagem computacional, designamos de “drop shadows”, por exemplo no                     photoshop​, essa    capacidade de puro simulacro visível. 

70 Tradução livre: “the meaning of the white undersides of animals” (Thayer, 1896, 26-125) 

71 "Animals are colored by Nature as in A, the sky lights them as in B, and the two effects cancel each other,                                            as in C. The result is that their gradation of light-and-shade, by which opaque solid objects manifest                                  themselves to the eye, is effaced at every point, the cancellation being as complete at one point as another, as                                        in C of the diagram, and the spectator seems to see right through the space really occupied by an opaque                                        animal." (Thayer, 1896, 26-125) 

72 Vide Documento original, da conferência internacional​ disponivel em  [​http://projects.tachilab.org/rpt/papers.html​]  

de um metamaterial acinzentado, sobre a qual se projeta a imagem que corresponde ao    73        fundo do sujeito que a veste.  

 

           

Figura 22: ​A capa da invisibilidade 

O Professor Susumu Tachi (n. 1946) refere que o sistema funciona com o posicionamento        de uma câmera que capta a imagem do fundo e a projeta simultaneamente sobre a capa.       

Com o fundo projetado num tecido especial, surge uma imagem da realidade envolvente        que torna invisível um indivíduo ou um objecto perante o olho. O estudo foi desenvolvido        não com a intenção de fazer desaparecer pessoas, mas sim de aumentar a realidade.       

«Normalmente, a realidade virtual cria um mundo gerado por computador sem relação        direta com o ambiente real (...) O que gostaríamos de fazer é colocar as coisas virtuais no        ambiente real.» (como se pretende fazer com       ​Alt+R-hotkey​), indicou Tachi à BBC em        74    2003. Tal invenção poderá ter aplicação científica no campo da medicina e das        intervenções cirúrgicas. As mãos dos cirurgiões podem, a partir de agora, deixar de        constituir uma barreira visual à operação porque o sistema permite ver através de - «O        cirurgião vê o paciente como se fosse transparente e pode ver toda a estrutura do corpo»      75  (BBC, 2003, em linha). Pode ainda ser alvo de aplicação no campo da informática e da        ocultação de padrões informáticos, através da acumulação de informação sobre um objeto,        tornando-o indistinguível do meio ambiente. Por outras palavras, não são apenas os        animais que dispõem de cor protectora que se encontram protegidos através de uma        imagem compósita do seu ambiente imóvel. Para Thayer, um animal com cor protetora é        uma imagem do seu ambiente. Com padrões monocromáticos e disruptivos, por um lado        oferece-lhe a mobilidade espacial sem que seja detetado através da sua desfragmentado        pelo efeito do movimento (tempo). Em       ​Concealing Coloration in the Animal Kingdom            (1909) Gerald Handerson Thayer (1883/1939) e seu pai Abbott publicam os resultados de       

73 Vide Criado material com índice negativo de refração para a luz visível. Disponível em 

[http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=metamaterial-indice-negativo-refracao] 

74 Tradução livre: “Usually, virtual reality makes a computer-generated world with no direct relation to the  real environment (…) What we would like to do is put virtual things in the real environment.” (BBC, 2003,  em linha) Disponivel em [http://news.bbc.co.uk/2/hi/asia-pacific/2777111.stm

75 Tradução livre: “The surgeon sees the patient as if they are transparent, and can see the whole body  structure” (BBC, 2003, em linha)  

estudos  sobre  cor  protetora  e  camuflagem no Reino Animal. Reúnem          uma série de ilustrações, fotografias,          desenhos,  esquemas  e  pinturas  magníficas das experiências realizadas.       

Entre elas destacamos o estudo acerca da        ocultação de borboletas munidas com          padrões fixos disruptivo (camuflagem)        em movimento. 

 

Figura 23: borboleta com padrões disruptivos em contraste. 

 

No capítulo XXII (​      Mammals, concluded, etc. Patterns of mammals that lack diurnal                  obliterative shading patterns of mammals, and a comparison between them and those of                          birds. Fixed   “dazzling” marks, and other special phases of pattern-use.              ​), Abbott aprofunda      as suas ideias através do estudo de animais que não possuem sombreamento nos seus        padrões monocromáticos. O caso borboletas (figura 23), com o seu padrão disruptivo fixo        de alto-contraste, foi posto em comparação com outras três da mesma espécie, mas de        coloração completamente branca, cinzenta e preta. Foram alinhadas em forma de número        cardinal, no centro de uma imagem. À medida que se efectua       ​zoom out  ​, verifica-se que o        padrão de alto contraste desfragmenta-se rapidamente e dilui-se num fundo cinzento escuro        ao passo que o restante grupo se mantém percetível na sua forma original.       

Contra-intuitivamente, é a primeira borboleta que desaparece segundo a posição e distância        do espectador (     ​zoom out     / ​zoom in     ). Este binómio parece, pois, fundamental para uma        ocultação no seu grau mais enigmático e exuberante, operada por leis de estereoscopia que        ditam que uma forma individual é susceptível de transformar-se em múltiplas outras por        meio da distância que medeia o olho e a forma visual. Parece que este estudo, deu início à        contribuição de Abbott na Primeira Grande Guerra que foi amplamente investigada na        Segunda Guerra Mundial sendo, consequentemente, uma presença assídua na esfera das    76        artes e na vida urbana de todo século XX, diríamos nós. Abbott Thayer, proeminente        artista americano de vanguarda, foi, sem dúvida, o maior responsável pelo uso do padrão        disruptivo na camuflagem militar da Primeira Grande Guerra. Thayer era um mestre da       

76   A este respeito podemos remeter para o filme             Kill or Be Killed       de estilo documental de 18 minutos de              duração, dirigido em 1942 pelo artista experimental Len Lye (1901/1980). Podemos dizer de igual forma que                                o trabalho artístico de Len Lye vai ao encontro dos estudos de camuflagem de Abbott Thayer, ou podemos                                    enquadrá-lo no movimento artístico que surge na América dos anos 80 do século XX e que se designa por                                      Neo-Geo (neo-geometria) da qual podemos destacar o trabalho do conhecido artista Peter Halley (n. 1953) .  

representação pormenorizada da natureza - aves e mamíferos -, acreditando que só um        artista poderia compreender mais profundamente a cor protetora e a camuflagem no Reino        Animal, pelo estudo de padrões e combinações de cores pelos quais as criaturas da Terra se        dissimulam e se tornam invisíveis. Thayer convenceu-se de que a camuflagem disruptiva        seria a tecnologia fundamental para defesa dos militares na Primeira Guerra Mundial.       

Sabe-se que, no decorrer da guerra, Thayer manteve um intenso contacto com altas        patentes militares, tanto americanas quanto britânicas, no sentido de responder eficazmente        aos ataques bélicos das Potências do Eixo. Elaborou esboços que explicam como a técnica        da camuflagem que explorava no Reino Animal era susceptível de ser aplicada a soldados        e equipamentos de forma a minimizar as baixas que frequentemente se verificavam entre        as tropas. Desenvolveu, com mais propriedade, a camuflagem de navios, demonstrando a        possibilidade  de  obscurecer  artilharia e exércitos de grandes dimensões que        deslumbrantemente podiam passar despercebidos aos periscópios de um inimigo submerso.       

Abbott elabora uma série de ilustrações que visam contribuir para ocultação dessa        artilharia e dos exércitos nos campos de batalha. A Figura 24 é uma de muitas digressões        desenvolvidas por Abbott de camuflagem disruptiva, obtida através do método       ​stencil  único 

     

     

Figura 24: Navios de guerra  com padrões disruptivos em  contraste.  

 

A lógica da camuflagem através de padrões disruptivos fixos em movimento é        considerada, muitas vezes, uma ferramenta para a invisibilidade. Na prática, tanto a        estratégia da camuflagem biológica no Reino Animal - pense-se como estratégia de defesa        desenvolvida primeiramente por Abbott Thayer - quanto a tecnologia da camuflagem        artificial desenvolvida posteriormente por diversos investigadores, assentam numa certa        variedade de técnicas e objetivos. Por um lado, a estratégia da camuflagem opera na        disrupção de padrões formais. Através da aplicação de padrões disruptivos, verifica-se a        quebra da forma em fragmentos (lembrando o caso da borboleta monocromática de       

Thayer) que dissimula a sua forma, movimento e verdadeira orientação face ao olho ou        periscópio. A estratégia de padrões disruptivos desmultiplica a silhueta original num        sem-número de outras formas que, sem a fazer desaparecer, dificulta a sua percepção e        confunde a avaliação (​      download de ​Alt+R-hotkey para visualização, cria uma pasta de        múltiplos ficheiros, dificultando a sua preceção). Consequentemente, será difícil aferir o        número de elementos que constituem um grupo munido dessa tecnologia. Estratégia de        dissimulação, goza de uma ampla utilização no campo militar pela sua capacidade de        ocultar ou diluir no meio circundante, por exemplo,       ​Alt+R.hotkey vigiada a partir da web          2.0. 

   

 

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