UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES
ALT+R-HOTKEY
e a subversão do espaço público na web 2.0
Carlos Miguel Ricardo Gonçalves
Trabalho de Projeto Mestrado em Arte Multimédia Especialização em Audiovisuais
Trabalho de Projeto orientado pelo Prof. Doutor Rogério Taveira
2018
RESUMO
Os Indivíduos estão cada vez mais conexos com mundos em linha onde encontram informações sobre a vida social e acompanham os desenvolvimentos artísticos; portanto, é crucial que esse novo “espaço”
público consider as descobertas empíricas da investigação científica em torno do público ao pensar um espaço que se tornou comum. Depois de aprofundar uma noção do espaço do ponto de vista da web 2.0 no panorama atual, este estudo de projeto analisa o que considera os principais resultados de pesquisa relacionados ao espaço privado e público no ambiente em linha e suas implicações para a sociedade no século XXI. É dado uma ênfase especial à subversão introduzida pelos mecanismos de navegação na web 2.0, à natureza do armazenamento do conteúdo produzido pelos cibernautas e ao potencial impacto da web 2.0 no espaço público e nos direitos dos cidadãos em relação à sua privacidade. A web 2.0 deve inovar a sua noção de espaço público para manter o seu carácter de bem comum enquanto software da linha pública de Internet. Alt+R-hotkey configura-se como prática artística deste estudo que analisa a subversão do espaço público na web 2.0. Em 1990 surge o protocolo Internet Suite, capaz de encurtar distâncias geográfica, políticas, económicas e artísticas. Um espaço público com forma. Alt+R-hotkey tem o potencial de trazer para debate o público na web 2.0, estabelecendo comparações através de uma linha-própria de conceitos e conexões: Umwelt em Jakob von Uexküll, O novo espaço público em Daniel Innerarity, espaço Low-fidelity em Jaron Lanier e Ethnoscape em Arjun Appadurai, em comparação com Alt+R-hotkey no cruzamento com Domínio público em Richard Sennett, Camuflagem em Abbott Thayer, Ofuscação em Finn Brunton e Helen Nissenbaum e Software em Lev Manovich, como forma de estratégia de subversão espacial. Finalmente, Alt+R-hotkey é confrontada com os referidos conceitos e daí resulta a prática artística deste estudo.
Palavras-Chave: Espaço Público; web 2.0; tecla-de-atalho; subversão; mundo-próprio
ABSTRACT
Individuals are more and more connected with the online world in order to find informations about social life and follow artistical developments; therefore it is of crucial importance that this new public
“spaces” should consider the empirical discoveries of the scientifical investigation towards the public, considering this space has become common. After looking deep into a special notion from the point of view of web 2.0 within the actual panorama, this study project analyses those that are considered the main search results of private and public within the online environment and its implications in the XXI century society. Special emphasis is given to the subversion introduced by the navigational mechanisms of the web 2.0, to the storage nature of its contents produced by cybernauts and the potential impact of the web 2.0 in the public space and citizen´s rights towards their own privacity. Web 2.0 is to innovate its notion of public space if it wants to keep its characteristics of common asset as software of the public Internet network. ALT+R+Hotkey has in itself the power to configured as an artistical practice that analyses the subversion of the public space on WEB 2.0. In 1990 the Internet Protocol Suite appears capable of reducing geographical, political, economic and artistical distances; a public space as a publically shaped place. ALT+R+Hotkey has the potential to bring in to the publical debate on web 2.0, establishing comparisons through its own network of concepts and connections: Umwelt em Jakob von Uexküll, The New Public Space in Daniel Innerarity, Low Fidelity space in Jaron Lanier and Ethnoscape in Arjun Appadurai, comparing to Alt+R+hotkey and crossing it with Public Dominion in Richard Sennett, Camuflage in Abbott Thayer as a means of a strategy of special subversion. Finally Alt+R+Hotkey is confronted with the aforementioned concepts, hence the artistical practice of this study.
Keywords: Public Space; web 2.0; hotkey; subversion; self-world
À memória de José Rosa Gonçalves
Sumário
Declaração de autoria………..…..………...………
Resumo, palavras-chave e Abstract……….……..…..……….………
Introdução……..………..………..……….………
02 03 05
Primeira parte
………... 191. Para uma definição operativa de espaço
..……….………...19
1.1 O mundo absoluto em Jakob von Uexküll…...…..……….….... 20
1.2 A esfera íntima total em Daniel Innerarity……….…....……….. 27
1.3 Espaço low-fidelity em Jaron Lanier……….…………..….. 34 1.4 Espaço-escape etnográfico em Arjun Appadurai…………..………... 38
Primeira conclusão parcial…..………...…………..………..……... 39
Segunda parte
……….43
2. Para uma estratégia de defesa à subversão espacial
…………...…….. 432.1 Domínio público em Richard Sennett………...………... 40
2.2 Domínio total do privado-público em Abbott Thayer…..………..……….. 52
2.3 Domínio do invisível em Finn Brunton e Helen Nissenbaum……….. 58
2.4 Domínio do software em Lev Manovich……...………... 60
Segunda conclusão parcial…..………...…………..……..………..….. 67 Conclusão.…………....…...………...……….…
Bibliografia…...…………...…………...…………...…………...…………...………....
Índice de figuras…...………..….
Anexos……….……….
.
69 70 72 73
Introdução
Figura 1: Frame de Alt+R-hotkey, em linha.
Figura 2: Frame de Alt+R-hotkey, em linha.
Figura 3: Frame de Alt+R-hotkey, em linha.
Figura 4: Frame de Alt+R-hotkey, em linha.
Figura 5: Frame de Alt+R-hotkey, em linha.
Figura 6: Frame de Alt+R-hotkey, em linha.
Partindo do princípio que o espaço público é um lugar horizontal, podemos afirmar, com maior certeza, que o espaço da Internet é tendencialmente vertical e de precisão formal. Do pós-guerra ao início da década de 1960, foram anos dourados para as economias capitalistas verticais. No outono de 1957, a entrada na órbita de Sputnik, o primeiro satélite artificial russo, foi um momento crítico na Guerra Fria - uma guerra tecno-ideológica -, da mesma forma, a Ideia de Universo Contingente (1950) de Norbert Wiener (1894/1964) irá predizer a grande operação da modelação da vida humana ao meio ambiente, cada vez mais estará dependente da cibernética. Cibernética, termo empregado por Wiener, representa a teoria das probabilidades e tem na sua raiz o verbo grego «kybernó»
(κυβερνώ), pilotar o navio. Curiosamente a mesma raiz do substantivo governo, obtido por via do latim . Por um lado, o teórico 1 Marshall McLuhan (1911/1980), relativamente ao lançamento do Sputnik, faz a seguinte observação: «quando o Sputnik (1957) orbitou o planeta tornou-o matéria programável e deste modo, tornou-se uma forma de arte. Nasceu a Ecologia e a Natureza estava obsoleta.» (1977, 80-81). Neste sentido, 2 para McLuhan a Ecologia nasceu de um sistema cibernético, isto é, de um sistema que opera através de um processo entrópico. Uma operação que tem por base combater a desorganização e a morte. Por outro lado, Wiener afirma que «num mundo probabilístico, não lidamos mais com quantidades e afirmações que digam respeito a um universo específico e real como um todo, mas, em vez disso, formulamos perguntas que podem ter respostas num grande número de universos similares» (Wiener, 1950, 13). A Ideia de Universo Contingente (1950) de Wiener encontra um ponto de convergência entre contingência e determinismo: vida humana versus meio ambiente ou mundo-próprio, diríamos nós. Desta forma, Wiener reconhece na textura do próprio Universo um elemento fundamental de acaso. Liga-o à ideia da moral agostiniana, que, exclui da sua equação, o mal físico e metafísico. Dá ênfase ao inacabamento característico da moral humana - especialmente nas opções que toma -, nas movimentações dos indivíduos no espaço público. Exclui-se a ideia de mal aquando da sua constituição, em oposição ao pensamento binário da filosofia maniqueísta, que equaciona o mal físico e metafísico na sua constituição. No entanto, a cibernética de Wiener, que relaciona a máquina e a sociedade, deságua na formulação teórica de entropia. A entropia tende a aumentar a eficiência tecnológica, e, segundo o autor, «conforme aumenta a entropia, o Universo e todos os
1A metáfora náutica era, com efeito, utilizada frequentemente pelos Gregos para evocar o governo da cidade.
2Tradução livre: “When Sputnik (1957) went around the planet become programmable content, and thus become an art form. Ecology was born, and Nature was obsolesced” (1977, 80-81).
sistemas fechados do Universo tendem naturalmente a deteriorarem-se e a perderem nitidez, alternando entre um estado de organização e diferenciação em que existem formas e distinções, e um estado de caos e mesmice.» (Wiener, 1950, 14). Terá a incorporação da cibernética na urbanidade, contribuído para destruição do espaço público anunciado por Richard Sennett (1943/2010)? Wiener trabalha não só o estudo da linguagem e mensagens como meio de dirigir máquinas e sociedades. Estuda um sistema que reafirma o caminho da modelação da vida humana face ao meio ambiente, convicto da relação da tecno-psicologia com o nosso sistema nervoso. Neste sentido, podemos ser levados a pensar que a máquina-Estado, que administra o espaço público horizontal, após o aparecimento das privatizações, austeridade fiscal, desregulamentação, livre comércio, e o corte de despesas governamentais a fim de reforçar o papel do setor privado na economia vertical, desvaloriza a indispensável importância do espaço público?
Rapidamente a verticalidade das redes sociais eletrónicas, fizeram aparecer manifestos de homens como o célebre pioneiro de Silicon Valley, Jaron Lanier (n. 1960). Lanier sustenta publicamente que, é errada a forma que tem vindo a adquirir a web 2.0 e que os Estados estão cada vez mais dentro desse sistema nefasto de protocolos arquitetados por privados.
Esses Estados operam com os meios de comunicação informatizados, de maneira pouco democrática e pouco transparente. Aliás, já assim o era na web 1.0 e deu azo ao aparecimento de maoistas digitais , afirma-o. Neste sentido, Lanier explora a base do problema, defendendo-o com a definição de computação fenotrópica . 3 Jaron’s World:
Computer Evolution Most software stinks. It should learn from robots and bacteria, um artigo de 2007, publicado na revista Discover , clarifica a noção de computação 4 fenotrópica e explica a estrutura que está na sua base. Afirma-se, essencialmente, que, ao contrário da computação fenotrópica, os engenheiros informáticos assentam as suas respostas em protocolos demandados pelo mercado informático, isto é, através de processos entrópicos positivos (neguentropia), solucionando-se dessa forma, problemas próprios dos softwares5 clássicos. Respostas que têm que ver com a previsibilidade da interação do computador com o mundo físico. Deste modo, cada vez mais, construtores de robôs, designers experimentais de interface de utilizador e especialistas em visão da máquina, transformaram as superfícies em interfaces informáticos. Aqui, o problema
3 Entenda-se por computação fenotrópica o tipo de software que não requer protocolo informático.
4 Jaron’s World: Computer Evolution. Most software stinks. It should learn from robots and bacteria .
Disponivel em [http://discovermagazine.com/2007/jul/jaron2019s-world] consultado a 30 de julho de 2018.
5 Software, é uma coleção virtual de dados ou instruções do computador que informam a máquina como trabalhar. Isso contrasta com o elemento físico hardware, do qual o sistema é construído e efetivamente executa o trabalho.
identificado por Lanier, coloca em causa a realidade high-fidelity de uma possível artisticidade no mundo informático. Porque, a precisão formal do interface, ao sofrer pequenas mudanças, leva a efeitos aleatórios e catastróficos que, da perspetiva de Lanier, libertam-nos das ontologias predefinidas e tecnologicamente aprisionadas nas questões humanas. Este problema verifica-se, por exemplo, na criação do sistema MIDI. Assim sendo, desta forma chega-nos a supremacia do privado, evocando a problemática das prisões - o sistema prisional atua graças ao ciberespaço, pois é nele que o mercado encontra a velocidade quase instantânea -, necessária à sua devassidão. Ela é determinada na extraterritorialidade do ciberespaço, anestesiando os que nela operam, isto é, todos os governos assentes no atual sistema vertical capitalista e informatizado.
1989 foi o ano do século XX que viu nascer a World Wide Web . WWW, esse espaço eletrónico, virtual e definitivamente paralelo, que lança a arte contemporânea para uma forte análise à distorção do mundo das sensações, e também ao novo mundo da tecnologia software. Da web 1.0, surgiram magníficas peças artísticas. Assim mesmo, o impacto produzido pelo advento da lógica do software levou à construção de mundos, rapidamente diagnosticados como antídotos revestidos de artisticidade. As poucas peças de Net-art que sobreviveram em linha até hoje, propõem corrigir um distúrbio hipersensível que comportam em si a desejada subjetividade da web 1.0. Podíamos mesmo compará-la à subjetividade da ágora ou da Acrópole: espaços públicos por excelência, propícios ao reencontro da Cidade. Provavelmente foi o aparecimento do código informático da web 1.0, o responsável por criar um certo desenraizamento espacial nos seus utilizadores, e levá-los a ocupar e a manipular o espaço que os rodeia, por exemplo o espaço eletrónico.
Ao invés desse espaço, a manipulação e a sua ocupação por corpos, sentiu-se ao nível internacional. O mundo objectivo expandiu-se para espaço-nenhum. Um espaço de estrutura invisível onde a substância constituída por um extraordinário número de páginas web, comunicantes entre si, constituem a versão 1.0 da web. A web 2.0 é, ela mesma, foco de grande divagação ética e consumo turístico. Definitivamente por via satélite - a imagem-lugar síncrona-, o sistema Internet encurtou distâncias geográficas que há muito6 seduzia. Num primeiro momento, linhas de código HTML da estrutura 1.0, vocacionada para monitorizar e manipular corpos que operam com subjetividade: parecem converter a condição humana da web 1.0, em condição urbana da web 2.0. Esta última, é palco do nascimento de maior número de movimentos económicos até à data desconhecidos. Esta
6 Vide ALT+R (hotkeys) (2017)disponivel em
[https://drive.google.com/drive/u/1/folders/0By0SCh3bX0LieWdEZjl4Y1pLZ2c]
nova urbanidade é determinante para a sobrevivência da arte contemporânea? No mesmo sentido, surge-nos Art, Power, and communication (1996) manifesto do artista russo Alexei Shulgin (n. 1963) debruçado sobre esse modo de comandar a já fixada esfera da arte, através de software.
Net.art significa comunicação significa presente. Artistas! Tentem esquecer as muitas palavras e a noção “arte”. Esqueçam os seus fetiches parvos - artefatos que lhe são impostos pelo sistema supressivo, foram sempre obrigados a referirem-se à sua atividade criativa. Teóricos! Parem de fingir que não são artistas. A vossa vontade de obter poder sobre as pessoas seduzindo-as com especulações intelectuais é muito óbvia (embora compreensível). Mas o domínio da comunicação pura e genuína é muito mais atraente e nos nossos dias está a tornar-se muito possível. Artistas Multimédia! Parem de manipular as pessoas com falsas “instalações interativas” e “interfaces inteligentes”! Estão muito perto da ideia de comunicação, mais próximos do que os artistas e os teóricos! Livrem-se apenas das suas ambições e não considerem as pessoas como idiotas, incapazes da comunicação criativa. Hoje podem encontrar aqueles que conseguem aferi-la ao mesmo nível. Se quiserem, é claro. (Shulgin, 1996, em linha) 7
No mesmo ano que Shulgin se lançou sobre a esfera da web 1.0, a arte internacional sofreu de imediato uma transformação. My Boyfriend Came Back from the War (1996) da artista8 russa, Olia Lialina (n. 1971) é disso paradigma. Esta obra apresenta-se com a forma de uma página web 1.0 HTML , que apenas tolera imagem e texto, isto é, conteúdo estático. 9 Lialina, utiliza deliberadamente as ferramentas oferecidas pelo novo médium. À medida que My Boyfriend Came Back from the War vai construindo uma diagonal sobre um fundo preto, reforçando toda uma narrativa romântica, serve-se consecutivamente da estrutura algorítmica da linguagem web 1.0. Tabelas que vão sendo subdivididas por um utilizador que comanda e influencia diretamente a montagem da narrativa. O artefacto parece ser criar um extraordinário arco narrativo (técnica de alteração temporal de narração). O equilíbrio entre imagem/texto, reforça essa tendência pela verticalidade parente da cultura do ecrã: uma superfície que se opera do ponto onde convergem o privado e o público
7 Tradução livre: “Net.art means communication means present. 4. Artists! Try to forget the very word and notion "art". Forget those silly fetishes - artefacts that are imposed to you by suppressive system you were obliged to refer your creative activity to. Theorists! Stop pretending that you are not artists. Your will to obtain power on people seducing them with intellectual speculations is very obvious (though understandable). But realm of pure and genuine communication is much more appealing and is becoming very possible nowadays. Media artists! Stop manipulate people with your fake "interactive media installations" and "intelligent interfaces"! You are very close to the idea of communication, closer than artists and theorists! Just get rid of your ambitions and don't regard people as idiots, unable for creative communication. Today you can find those that can affiliate you on equal level. If you want of course.”
(Shulgin, 1996, em linha)
8 Para uma panorâmica satisfatória desta peça, ver My Boyfriend Came Back from the War disponivel em [http://www.teleportacia.org/war/] consultado em julho, 2018.
9 Linguagem de Marcação de Hiper Texto. Tradução livre: “Hyper Text Markup Language”
(pense-se nos fenómenos sociais que surgem nas plataformas da web 2.0; o privado torna-se público e vice versa). Subtraindo da narrativa, a obra utiliza a montagem dialética do cinema (técnica amplamente explorada por D. W. Griffith (1875/1948) e Sergei Eisenstein (1898/1948)). Lialina constrói um roteiro utilizando links entre páginas web, como forma de explorar as potencialidades do hipertexto interativo, direcionado a um público observador/utilizador. O trabalho de Lialina, no sentido que descreve Manovich em Behind the Screen / Russian New Media (1996), utiliza o interface do computador como sistema de montagem de fotogramas de um filme que rearticula consciências antigas da cultura do ecrã, exteriorizadas agora na web 1.0.
Figura 7: Frames de My Boyfriend Came Back from the War, em linha
Através da sincronização dos artistas com a linha, a prática artística russa tornou-se impulsionadora de um reaparecimento de referência na arte comercial. Embora o avultado valor comercial da Internet sofresse um impacto pela economia americana e europeia daquela época, em Moscovo explorava-se sobretudo formas de comunicação que pulverizavam fronteiras geográficas. Os artistas por caminhos próprios de um novo médium eletrónico, reinterpretam a rede. Além disso, a história das obras audiovisuais de vanguarda russas, serviam as narrativas visuais dos novos artistas locais, mas desta vez o estúdio é a Internet. Expandem o seu espaço de criação, reconfigurando-o a partir do
computador, através das potencialidades do software cultural 10. É precisamente essa transformação da prática artística russa, verificável na peça referida de Olia Lialina e no manifesto escrito por Alexei Shulgin, que nos permite analisar a capacidade artísticas das páginas web. Entre os anos 80 e 90 do século XX, artistas programavam vida através de peças artísticas, fora do mundo-próprio da cena cinematográfica internacional. Kit Galloway e Sherrie Rabinowitz criam em 1980 uma vídeo-chamada entre Nova Iorque e Los Angeles. Hole in Space: A Public Communication Sculpture (1980), é exemplo da construção de um mundo-próprio audiovisual antropológico e paralelo à cena cinematográfica internacional. Neste sentido, os seus criadores adotavam expressões artísticas através de novas ferramentas da Internet, quando a relação da arte com a Internet ainda não era clara. O défice de formulações teóricas sobre o assunto levou, precisamente, Shulgin a tomar algumas considerações acerca da ambiguidade do novo médium. Na introdução de Hot Pictures (1994), Shulgin, observa o seguinte:
a fotografia (...) parecia ser o único método credível para a reflexão da realidade. Mas o desenvolvimento das tecnologias informáticas colocou esse axioma em julgamento.
Então, a fotografia que a seu tempo mudou todas as belas-artes, agora é a mudança em si mesma. A galeria de fotografias eletrónica não é apenas a apresentação de um artista com um trabalho específico, mas também uma tentativa de pesquisar e visualizar os fenómenos aqui descritos. (Shulgin, 1994, em linha) 11
A galeria de fotografia eletrónica de Shulgin, retira o médium fotográfico do seu contexto tradicional físico , (re)definindo-o como via que relaciona aspectos pictóricos, mecânicos e documentais. É precisamente essa transubstanciação que o médium Internet veio trazer a Alt+R-hotkey ,12 abrangendo amplamente os temas que vão da política às belas-artes, em forma de planos audiovisuais incorporados num código HTML. Refletindo uma certa subversão da ordem dos espaço, Alt+R-hotkey pretende estabelecer uma relação íntima entre duas realidades radicalmente diferentes de um único ser-objecto. Enquanto uma primeira realidade explora esse espaço privado low-fidelity do software do ser-objecto no momento da sua modelação 3D e respectiva renderização que configura o seu mundo-próprio subjetivo ( Umwelt) , a segunda, camuflada por imagens, materializa-se,13
10 Termo cunhado por Manovich em Software Takes Command (2013).
11 Tradução livre: “Photography (...) seemed to be the only credible method for reality reflection. But the development of the computer technologies had put this postulate on trial. So photography which in its time had change all fine arts now is change itself. Electronic photo gallery is not only the presentation of specific artist and work, but also an attempt to research and visualize the described phenomena.” (Shulgin, 1994, em linha)
12Alt+R-hotkey (prática do projeto) disponível em
[https://drive.google.com/drive/folders/1AgjKW87dz3_6fJMfjiPTA4ce67xTNII3?usp=sharing]
13Umwelt - termo alemão que significa ambiente, mundo-ambiente ou, talvez com mais propriedade, mundo-próprio-subjectivo. Conceito estudado no ponto 1.1 do presente estudo.
executa-a no computador do público através do código HTML no mundo-próprio objetivo (Umgebung) face a14 Alt+R-hotkey. O nosso projecto artístico Alt+R-hotkey, pretende assim estabelecer um espaço entre esses dois extremos, reconfigurando uma realidade com vocação para uma comunicação montada de dentro para fora, estudando dessa forma a estabelecida ordem dos espaços.
Além da introdução da alta tecnologia de modelação 3D numa página web como médium artístico e armazenada numa Cloud Computing 15 da web 2.0, Alt+R-hotkey incorpora marcas das memórias políticas de uma certa intervenção sobre a democracia, por parte dos artistas russos. Pretende substanciar o processo de renderização de imagens e formas radicais conseguidas através de uma hotkey16; processo que aspira à formação de um meio ambiente subjetivo [designado aqui por Umwelt], face à objetividade do espaço eletrónico da democracia política atual [ Umgebung]. Possivelmente Alt+R-hotkey virá despoletar um software bug17 da ordem dos espaços, implementado pela nova urbanidade através da disseminação de softwares industriais . 18 De certa forma Alt+R-hotkey mantém o seu caráter binário e automatizado, preponderante a uma modelação constante da arte, através de impulsos elétricos. No entanto, é subjugada a um padrão defensivo de modos de comando automatizado. Esses são softwares autoritários, sem intervalos, que nos olham diretamente o corpo, como bom condutor de eletricidade. Dessa forma Alt+R-hotkey é propícia à montagem de conteúdo de um certo espaço-tempo audiovisual direcionado a um espaço público volátil e instantâneo.
Embora Alt+R-hotkey possa ser vista como parte de um ciclo-de-função da Internet, estabelecido entre organismo vivo / software / urbanidade, com este projecto tenta-se estabelecer uma perceção correlativa entre a ordem dos espaços face àquelas noções suas antecessoras, em virtude da manifestação dessa nova capacidade da web 2.0 organizar binária e mundialmente o desempenho coletivo de uma cidade. Os indivíduos que vagueiam pelas ruas de corpos tombados, mergulhados nos smart phones sobre smart cities, refletem essa subversão espacial, tornando-os assim a questão central deste estudo.
14 Vide anexo I.
15 Armazenamento de dados através de computação em servidores disponíveis na Internet a partir de diferentes fornecedores.
16 Uma chave ou uma combinação de teclas que fornece acesso rápido a uma função específica dentro de um software de computador.
17 Um bug de software é um erro, uma falha num programa ou sistema de computador que faz com que
produza um resultado incorreto ou inesperado ou se comporte de maneira inesperada.
18 Termo cunhado por Manovich em Software Takes Command (2013).
Perguntamos então, de que forma a incorporação da cibernética na nova urbanidade, subverte a ordem dos espaços privado e público?
Ganhando formas de arte pública e urbana, os interesses de Alt+R-hotkey concentram-se na expressão e na comunicação por via de softwares culturais de montagem, no sentido da designação empregue pelo teórico de multimédia russo Lev Manovich. O código HTML da estrutura de Alt+R-hotkey é executado exteriormente ao seu ponto zero ( homing) , isto é,19 fora do seu espaço inicial de gestação e armazenamento; ativa-se sob ação de estímulos exteriores, tal como a máquina que não trabalha por meio de subjetividade e funciona objectivamente através de missão de movimentos emitidos pelo seu utilizador. Tendo em vista a análise da montagem público-privado, a web 2.0 é a lógica que serve os propósitos de Alt+R-hotkey: uma pelagem na qual recai a investida do software industrial (em oposição ao cultural), de interação social. Alt+R-hotkey é uma espécie de ser-privado marcado pela automatização / análise da linha, consequentemente estabelecendo ligação eterna com o público . Um animal social órfão de mundo-próprio à primeira tentativa da sua exteriorização. Um processo de modelação explorado sem restrição na nova urbanidade. Uma nova forma urbana que organiza o espaço social, deixando-se comandar e manipular por processos entrópicos negativos que nos levam à deterioração e descorporalização do espaço comum? Uma fragmentação de onde resultam cidades abertas sem capacidades humanas de subjetividade. Talvez descritas, precisamente, por Daniel Innerarity em O Novo Espaço Público (2006) . 20
Este estudo centra-se, precisamente, nessa relação artificial do discurso do software industrial com a vida humana urbanizada. Provavelmente é subsidiário da subversão espacial na web 2.0. Uma contingência que levanta questões bastante interessantes como esta que enunciamos de seguida: que novos entendimentos se fazem do espaço público a partir da web 2.0? Existirá uma nova percepção do público através da linguagem artificial da camuflagem do código HTML, apresenta um novo molde para o mundo físico?
O principal objectivo deste estudo é explorar a forma como são entendidos o espaço público do ponto de vista da web 2.0, refletindo acerca da posição do Ser Humano face à
19 Homing é a habilidade inata do animal para navegar em direção ao seu ponto de origem através de zonas desconhecidas, isto é, a capacidade para localizar o seu território residencial ou local de reprodução sem ponto de referência visual. Assunto estudado no ponto 1.1 do presente estudo.
20 As cidades onde espaço público tende em transformar-se num local de passagem subserviente à deslocação. Conceito estudado no ponto 1.3 do presente estudo.
realidade da sua privacidade no mundo digital. Essa privacidade que se acredita estar sob o comando do software, tem implicações preponderantes na noção de Direito à Cidade (1968), obra do filósofo francês Henri Lefebvre (1901/1991) . Para atingir este objetivo 21 desenvolveremos um estudo progressivo de conceitos que vão da zoologia ao universo digital em linha, que possibilitarão o desenvolvimento e enquadramento da nossa proposta artística. Alt+R-hotkey ao ser armazenada na Internet, estabelece com a web 2.0 um parâmetro com a vida social, em razão do espaço privado de um computador pessoal. Um servidor web 2.0 e a Internet como reconfiguração do público. Alt+R-hotkey surge como forma de reflexão à partilha de informação através da incorporação da cibernética na urbanidade. Um animal social que habita um espaço onde a democracia e o direito à cidade pretendem prevalecer sobre posturas artísticas num espaço elétrico, paralelo ao estado de direito. Do campo da ordem pública, o nosso projecto prático apresenta uma forma de organização urbana e sublinha o paradoxo do aparecimento de escapes etnográficos, consequência da movimentação forçada. Uma desterritorialização dos organismos vivos do seu espaço nativo; um mundo-próprio interativo e elétrico onde a democracia não previne a repressão sobre posturas contrárias à sua.
Mais especificamente, Alt+R-hotkey pretende servir o debate sobre a conveniência de um mecanismo institucional que garanta a operacionalidade de aspectos técnicos da linha, os direitos e obrigações dos utilizadores e sobretudo, da atual situação totalitária das grandes empresas que nela operam, não oferecendo espaço os dados privados dos cibernautas.
Alt+R-hotkey, alerta para a necessidade na defesa de uma ordem espacial definida pelos cibernautas, através do recurso aos padrões de camuflagem da pelagem animal:
Para que a privacidade seja generalizada, deve fazer parte dos contratos sociais. As pessoas devem juntar-se e implantar esse sistema para o bem comum. A privacidade só se estende até a cooperação de seus seguidores na sociedade. Nós, os Cypherpunks, procuramos as suas perguntas e as suas preocupações e esperamos que possamos implementá-la para que não nos enganemos. No entanto, porque alguns possam discordar dos nossos objetivos, não seremos afastados do nosso curso. (Eric Hughes, 1993, em linha) 22
21Vide anexo III.
22 Tradução livre: “For privacy to be widespread it must be part of a social contract. People must come and together deploy these systems for the common good. Privacy only extends so far as the cooperation of one's fellows in society. We the Cypherpunks seek your questions and your concerns and hope we may engage you so that we do not deceive ourselves. We will not, however, be moved out of our course because some may disagree with our goals.” (Eric Hughes, 1993, em linha)
A problemática da subversão da ordem dos espaços de uma sociedade capitalista, a qual se rege num sistema de economia de esforço e de meios, é provavelmente mais discutida nos meios de comunicação de massa . De igual forma, a Internet como tecnologia de difusão e 23 troca de dados é a principal inovação tecnológica que acompanhou a entrada da humanidade no século XXI. Embora as relações sociais, ali formadas, revelem uma ampla vocação para surgirem sociedades políticas complexas, o impacto tanto do sistema capitalista quanto da Internet é evidenciado do ponto de vista do direito à diferença e à privacidade. Consequentemente, a realidade social contemporânea tende para uma cidade genérica ,24 isto é, um mundo genérico, uma arte genérica, um Ser genérico. Torna-se assustador esse processo entrópico de caráter mimético face à incorporação da cibernética nessa nova urbanidade. Provavelmente por isto, gigantes empresariais no mercado digital são proprietários do espaço que organiza o trabalho dos utilizadores da Internet, sendo estes os próprios atores das notícias diárias sobre política económica.
As privacidades dos servidores do movimento Net.art foram banidas da esfera artística atual. Em 1990, mesmo antes da Internet se tornar popular em todas as esferas da sociedade contemporânea, Net.art, conhecida como pós-média, era sinónimo de obsolescência do suporte de arte. Rosalind Krauss , sublinha com pertinência a 25 importância da Net.art, dizendo que o movimento ofereceu ao público uma percepção diferente do computador enquanto máquina de caos e glória. No entanto, no período entre o ano 1990 e 2000 a linha da rede pública de Internet denominada por web 1.0 que reservava aos utilizadores o controle dos conteúdos publicados na rede sobre uma regra de passividade do utilizador através de liberdades de utilização, transfigurou-se na rede. A partir daqui, as peças artísticas digitais seriam armazenadas em servidores privados, a partir dos seus computadores pessoais. Somente ali eram tornadas públicas pela atribuição e divulgação de um endereço WWW. A partir do ano 2000, essa condição alterou-se:
curiosamente, coincidiu com o desaparecimento do movimento Net.art; por sua vez a web 2.0 apresenta ao mundo a Cloud - permanece uma incógnita onde se localizam ao certo e como são tratados os dados ali armazenados pelos utilizadores. Sabe-se, no entanto, que são propriedade privada das maiores empresas de computação do mundo como a Google, a
23 Vide Caso Cambridge Aanalytica (2018) disponivel em [https://www.publico.pt/caso-cambridge-analytica].
24 Termo consagrado por Rem Koolhaas no texto “Generic City” integrado na publicação S, M, L, XL onde o arquitecto compara as cidades contemporâneas a aeroportos a partir da sua semelhança. Koolhaas, Rem &
Mau, Bruce (1995) S, M, L, XL. New York: Monacelli Press.
25 Vide Kraus, Rosalind (1999) A Voyage on the North Sea: Art in the Age of the Post-Medium Condition, London: Thames and Hudson.
Microsoft ou a IBM, bem como também de agências governamentais norte-americanas - os cibernéticos totalitários ou maoístas digitais como apelidados por Jaron Lanier (2011, 33)
Metodologicamente, este estudo é organizado em duas partes: a primeira tenta criar uma definição operativa de espaço, estabelecendo o diálogo entre Alt+R-hotkey e os conceitos de Umwelt em Jakob von Uexküll, Novo Espaço Público em Daniel Innerarity, web 2.0 em Jaron Lanier e Ethnoscapes em Arjun Appadurai; numa segunda parte propõe uma estratégia de defesa à subversão espacial face ao software, estudando a relação entre O Domínio Público em Richard Sennett, Camuflagem no Reino Animal em Abbott Thayer e Software Takes Command em Lev Manovich. Este estudo termina com uma comparação entre as duas partes do trabalho de forma a estabelecer os nexos que pretendemos atingir com esta rede de referências na sua relação com o projecto prático: Alt+R-hotkey.
PRIMEIRA PARTE
A questão permanece, no entanto, será a Rússia capaz de parar a marcha do imperialismo estético [e espacial] de Bill Gates, da forma como ela anteriormente congelou os exércitos de Napoleão? (Manovich, 1997, 40-43 ) 26
1. Para uma Definição Operativa de Espaço
O espaço é indiscernível, disse Leibniz (Leibniz apud Lefebvre, 2000, 137). Muitos filósofos consagraram de uma vez, o espaço como absoluto: contém figuras, relações, proporções e números. Uma espécie de imaginação onde chovem imagens dentro, segundo Calvino . Uma imaginação do espaço, provavelmente, tornada científica em Uexküll,27 através do estudo do comportamento dos animais. Para Uexküll, esse espaço absoluto faz parte do sistema ecológico subdividido em dois: Umwelt - um mundo-próprio subjetivo -, e Umgebung, em absoluta oposição. Para Innerarity o espaço público é um absolutamente novo; para Lanier, um mundo-próprio objetivo low-fidelity que transformou a particularidade dos instrumentos musicais e dos músicos, em sons genéricos e sem sabor;
em Appadurai um escape ao espaço público ao que chama ethnoscapes: imaginado por nativos em movimento. Em Lefebvre, esse espaço absoluto de Leibniz é ocupado por
26 Tradução livre: “The question remains, however, will Russia be able to stop the march of Bill Gates' aesthetic imperialism, the way she previously froze out the armies of Napoleon?” (Manovich, 1997, 40-43)
27 Vide “Imaginação” in Calvino, Ítalo (1990) Seis Propostas para o Próximo Milénio, Trad. José Colaço Barreiros, Lisboa: Editorial Teorema.
corpos que indicam direções através de coordenadas, em gestos que marcam e orientam o espaço. Lefebvre, apoiado nas ideias de Leibniz, reafirma que o espaço é absolutamente relativo, é dotado de abstração que o caracteriza matematicamente por original de carácter concreto, porque é nele que os corpos manifestam o materialismo da sua existência.
Como forma de definir operativamente espaço do ponto de vista da web 2.0 , este primeiro capítulo começa por distinguir a ecologia espacial em Uexküll, colocando-a em relação com o Novo Espaço Público em Innerarity. Por um lado, Uexküll, oferece a noção zoológica de Umwelt, onde os corpos se relacionam através dos sentidos, através de marca-de-ação ( Merkmalträger). Por outro lado, o novo espaço público de Innerarity revela que tais Merkmalträger sobre a nova urbanidade, alteram a ideia de comunidade democrática, muito devido aos meios de comunicação. Essa big mind que transforma os corpos em códigos binários e consequentemente reconfigura-os num mundo-próprio objetivo em matéria low-fidelity, tem capacidades de modelar toda sociedade através da sua manipulação por via de software e armazenamento de dados dos seus utilizadores.
Finalmente, através da definição de ethnoscapes em Appadurai, tenta-se esclarecer a noção de subversão da ordem dos espaços, atribuindo à peça Alt+R-hotkey o carácter de nativo em movimento num mundo objetivo. Consequentemente, o movimento de uma natividade (homing) que destrói por completo a ideia de comunidade social, expulsando os indivíduos do comando do seu mundo-próprio subjetivo, dando lugar ao totalitarismo das empresas que operam no espaço digital. Os corpos sólidos transformam-se em trabalhadores digitais transparentes, numa cidade que necessita urgentemente ser resgatada do comando privado.
1.1. O mundo absoluto em Jakob von Uexküll
Sistematizando o Umwelt28 único e privado para o restante Reino Animal, Jakob Johann Baron von Uexküll (1864/1944), cientista e filósofo estónio, fundador de uma biologia comportamental e um dos mais proeminentes zoólogos do século XX, aprofundará as especificidades do espaço, estruturando o seu pensamento no primeiro ponto do seu ensaio da seguinte forma: 1. Os espaços de Umwelt; a) o espaço-de-ação, b) o espaço tátil, c) o espaço visual. O autor apresenta uma imagem elucidativa de Umwelt, desta feita aplicado ao sujeito-humano. Curiosamente o mundo-próprio subjetivo ou o Umwelt do astrónomo é tomado na figura 8 como mais fácil à sua representação gráfica:
28 Para uma exposição mais vasta deste conceito, ver anexo I.