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Capítulo 4 O jornalismo digital, fotojornalismo e a sua relação com o espaço online

4.4 O ensino do jornalismo e fotojornalismo em Portugal

A época salazarista não tinha qualquer tipo de ensino superior de Comunicação Social ou Jornalismo, em parte devido ao facto da orientação dos jornais estar ―vinculada do exterior pelos censores‖ (Mesquita, Ponte, 1997, s/p.). Durante o mandato de Marcelo Caetano, a censura sofreu um ―abrandamento‖ (idem, ibidem) e ―ensaiaram-se novas formas de jornalismo‖ (Mesquita & Ponte, 1997, s/p.), com a entrada de novas pessoas nas redações, entre os quais estavam estudantes, ativos nas lutas académicas contra o salazarismo (idem, ibidem). Na década de ‘70, foi criada uma comissão cujo objetivo era de desenvolver um projeto dedicada ao estudo do jornalismo no ensino superior (Pinto, Sousa, 2003, p.9), na qual estiveram envolvidos ―profissionais prestigiados‖ (Pinto, 2004, p.51) em que, parte deles, haviam obtido ―diplomas em instituições superiores estrangeiras‖ (idem, ibidem, p.51), como Lille, Paris, Navarra, Roma e Madrid. Na assembleia-geral do Sindicato Nacional dos Jornalistas – nascido em 1940 – foi criada uma proposta que previa o nascimento de um curso superior, com a duração de cinco anos, ―que incluía cadeiras teóricas e práticas‖ (Pinto, 2004, p.51). A proposta definia, igualmente, que, nos primeiros três anos de curso fossem

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estudadas matérias no âmbito das ciências sociais e humanas e, nos dois últimos, ―dimensões mais especificamente comunicacionais e jornalísticas‖ (idem, ibidem). De acordo com Pinto (2004), o ―fracasso da iniciativa sindical‖ (p.51) pode ter-se devido a, na mesma época, estar, também, a ser desenvolvido um projeto ―com fim análogo‖, por um importante grupo económico, o Grupo Quina. Este grupo, que detinha os jornais Diário Popular e Record e a revista Rádio-Televisão, decide criar uma escola dedicada ao estudo do jornalismo. Desta forma, surge, em 1973, a Escola Superior de Meios de Comunicação Social (idem, ibidem). No entanto, a mesma não teve ―reconhecimento oficial‖ (Fernandes, 2007, p.19), nem ―aceitação dos profissionais de comunicação e jornalismo‖ (idem, ibidem). Com o desencadeamento da Revolução de 25 de abril de 1974, a instituição de ensino superior veio a sofrer as suas consequências e, não conseguindo formar um grande número de jornalistas, veio a fechar as suas portas pouco tempo depois (Pinto, 2004, p.51).

Por outro lado, os vários grupos económicos privados que mantinham relações próximas com o regime autoritário da época foram ―destruídos após a Revolução de 1974‖ (Pinto, Sousa, 2003, p.9) e o programa de jornalismo da Escola Superior de Meios de Comunicação Social constituiu uma das consequências desse facto. De acordo com Pinto e Sousa (2003, p.11), a população universitária portuguesa era extremamente reduzida, sendo que entre o grupo de jovens entre os 18 e os 22 apenas 10% frequentavam o ensino superior durante a época da Revolução dos Cravos. A época de pós-25 de abril foi, também, acompanhada por uma popularização do jornalismo, com o surgimento de ―novos títulos como o Correio da Manhã (diário) e Tal & Qual (semanário)‖ (Mesquita & Ponte, 1997, s/p.). De acordo, ainda, com Mesquita e Ponte (1997, s/p.), os jornais com maior destaque no período já referido eram o Expresso, o Jornal e o Semanário, semanários que desempenharam um ―papel político preponderante‖ e se afirmaram como ―uma imprensa de referência, com impacto no domínio da informação política e cultural‖ (idem, ibidem). O diário Jornal de Notícias, da cidade do Porto, disputava, na época, ―o primeiro lugar nacional de vendas‖ (Mesquita & Ponte, 1997, s/p.) com o Correio da Manhã. Já o Diário de Notícias acabou por perder a liderança de vendas no Sul do país, deixando o primeiro lugar para o Correio da Manhã (idem, ibidem).

Os finais da década de 70 foram beneficiados pelas mudanças ocorridas nos anos anteriores. Segundo Pinto (2004, p.51, 52), a ―consolidação da nova ordem constitucional‖, a queda das estruturas do antigo Governo autoritário e a ―democratização do acesso ao ensino‖ acompanhada pelo regresso de académicos e intelectuais que haviam realizado formação no estrangeiro, muitos regressados de Angola e Moçambique, foram condições essenciais à criação do ensino superior do Jornalismo em Portugal.

O primeiro curso na área nasce na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em 1979. Lopes (2000) refere este curso como a ―primeira via no ensino superior para a formação de agentes da comunicação, incluindo-se o jornalismo como uma das saídas profissionais‖ (p.389). Outros cursos de comunicação foram, na mesma época, desenvolvidos pelas Universidades da Beira Interior e Minho, na época designados cursos de Comunicação Social ou de Ciências da Comunicação e que surgem integrados em ―escolas ou faculdades ligadas às humanidades e às ciências sociais, valorizando as componentes histórico-filosóficas, linguística, sociológica e tecnológica‖ (Pinto, 2004, p.52). O programa do curso incluía um tronco comum nos dois primeiros anos e ramos específico e disciplinas opcionais nos dois

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ou três anos finais (idem, ibidem). Tal como Pinto (2004) refere, o próprio curso da Universidade Nova de Lisboa viria, mais tarde, a adotar esta estrutura que, ao mesmo tempo, integrava áreas como as ―relações públicas, comunicação publicitária, produção e realização audiovisual, tecnologias da informação e comunicação‖ (p.52), entre outras. Também o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas e a Universidade Católica Portuguesa foram instituições pioneiras na criação de formação superior em Jornalismo em Portugal (Mesquita & Ponte, 1997, s/p.).

A década de 80 fica marcada pela criação dos cursos de Ciências da Informação, que funcionavam como cursos de pós-graduação para licenciados ou já profissionais da área (Fernandes, 2007, p.21). Também a Universidade do Minho cria, em 1983, uma especialização em Comunicação Social na Licenciatura em Ciências Sociais, iniciativa do Instituto de Ciências Sociais (idem, ibidem, p.21). Apesar da crescente oferta de ensino superior de Jornalismo, os profissionais da área viam os mesmos com desconfiança, considerando- os ―demasiado teóricos e afastados do universo das empresas jornalísticas‖ (Mesquita & Ponte, 1997, s/p.). No entanto, em alguns casos, estes cursos foram complementados com ―ações de formação profissional‖ (idem, ibidem). A formação permitiu que, após a adesão às Comunidades Europeias, Portugal passasse a contar com uma nova geração de profissionais com uma ―forte componente feminina, ao contrário do que era tradicional na profissão‖ (Mesquita & Ponte, 1997, s/p.).

Nesta época surgem, igualmente, dois organismos importantes, o Centro de Formação de Jornalistas, no Porto, que acabou por dar origem à Escola Superior de Jornalismo, integrada no ensino superior politécnico (Pinto, 2004, p.52), e o Centro Protocolar de Formação de Jornalistas, em Lisboa (Pinto, Sousa, 2003, p.12), em 1986, a partir de um protocolo entre o Instituto de Emprego e Formação Profissional, o Sindicato dos Jornalistas, a Direcção-Geral da Comunicação Social, a Associação da Imprensa Diária e Não- Diária (Mesquita & Ponte, 1997, s/p). Os dois centros de formação, de acordo com Pinto (2004, p.52), acabaram por se dedicar maioritariamente à formação de profissionais em serviço, ―numa aparente afirmação implícita de que os rumos que os estudos universitários da comunicação haviam começado a seguir não respondiam às necessidades da profissão jornalística e do jornalismo‖.

A partir de 1985 começam a surgir cursos de bacharelato do ensino politécnico e, no final da década, são criados cursos privados e politécnicos de Jornalismo e Comunicação. É a partir dos anos 90 que surge o curso de Comunicação Social da Escola Superior de Jornalismo do Porto, uma instituição de ensino privada que nasce a partir do Centro de Formação de Jornalistas do Porto (Pinto & Sousa, 2003). Mesquita e Ponte referenciam o início de atividade deste curso a partir do ano letivo 1986/1987 e que teria continuidade num Curso de Estudos Superiores Especializados em Jornalismo Internacional, em 1991, com a participação de professores da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e de profissionais da área (Fernandes, 2007, p.22).

Pinto (2004) refere, igualmente, as ―duas linhas que se desenvolvem paralelamente‖ (p.52) nos anos 90. A primeira corresponde à criação de ―cursos específicos de Jornalismo no seio da instituição universitária‖ (idem, ibidem, p.52), como o curso iniciado em 1993 na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e, em 2000, na Universidade do Porto, com o envolvimento de ―alguns dos responsáveis e docentes da Escola Superior de Jornalismo, que inicia então um processo de extinção do seu curso‖ (Pinto,

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2004, p.52). A segunda linha diz respeito à criação de cursos de Jornalismo ou de Comunicação nas instituições públicas e privadas do ensino politécnico. De início estruturadas para um ensino superior de curta duração e dirigido ao mercado de trabalho, ―viriam a avançar para as licenciaturas, tirando partido das possibilidades abertas pela Lei de Bases do Sistema Educativo de 1986: os diplomas de estudos superiores especializados e, mais tarde, as ‗licenciaturas bietápicas‘‖ (Pinto, 2004, p.52). É em 1994 que surge o Observatório da Imprensa, que contribui, também, para a formação profissional na área (Mesquita & Ponte, 1997, s/p).

É a partir de finais dos anos 80 e ao longo da década de 90 que começam a ser notados os investimentos realizados a nível educativo, com a criação do mestrado em Ciências da Comunicação, na Universidade Nova de Lisboa, e no Instituto de Estudos Jornalísticos da Faculdade de Letras de Coimbra, iniciado em 1998/1999 (Pinto, 2004, p.53).

De acordo com Lopes (2000), no ano 2000 existiam já 11 cursos públicos (cinco em universidades e seis em politécnicos) e 12 cursos privados em Comunicação em Portugal, com saídas profissionais em jornalismo ou em áreas idênticas. É no ano letivo 1999/2000 que a Escola Superior de Tecnologia de Abrantes do Instituto Politécnico de Tomar inicia a licenciatura de Comunicação Social, com a duração de 5 anos, (Fernandes, 2007) e em 2000 criado o curso de Jornalismo e Ciências da Comunicação, na Universidade do Porto, a partir do curso de Comunicação Social da Escola Superior de Jornalismo do Porto. Também a Universidade do Minho inicia, no ano letivo 2001/2002, a especialização em Informação e Jornalismo no curso de mestrado em Ciências da Comunicação (Pinto, 2004).

O campo da investigação no jornalismo inicia-se nos anos 80, nos congressos da Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, mais conhecida por SOPCOM, ―ela própria expressão do vigor crescente dos estudos comunicacionais em Portugal‖ (Pinto, 2004, p.53). A abertura de mestrados e doutoramentos e os centros de investigação que vão sendo criados contribuem para o aumento das publicações na área, ―quer sob a forma de traduções de textos fundamentais de referência, quer sob a forma de publicação de teses e de resultados de pesquisas‖ (idem, ibidem). Com o passar dos anos, Pinto (2004) salienta o crescimento de materiais que têm sido relevantes ―para o avanço do conhecimento e o reconhecimento académico do campo‖ (p.53).

Atualmente, são vários os cursos com saída profissional no campo do jornalismo. Dentro do ensino superior público, as opções recaem sobre os cursos de ―Ciências da Comunicação‖ da Universidade Nova de Lisboa, Universidade do Minho, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa, Universidade do Porto, Universidade da Beira Interior, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e Universidade do Algarve. Os cursos designados por ―Jornalismo‖ estão presentes no Instituto Politécnico de Lisboa (Escola Superior de Comunicação Social) e Universidade de Coimbra. Apenas o Instituto Politécnico de Portalegre designa o curso como ―Jornalismo e Comunicação‖. O Instituto Politécnico de Leiria engloba o curso com a área multimédia, designando-o ―Comunicação e Educação Multimédia‖. O curso de ―Comunicação Social‖ está presente no Instituto Politécnico de Coimbra, Instituto Politécnico de Setúbal, Instituto Politécnico de Viseu e Instituto Politécnico de Tomar. A Universidade dos Açores designa o curso por ―Comunicação Social e Cultura‖.

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De acordo com a Direção-Geral do Ensino Superior (s/d), no seio das universidades privadas em Portugal, a oferta de cursos que preparem futuros jornalistas é já vasta. A Universidade Católica Portuguesa, que detém a Licenciatura em Comunicação Social e Cultural, e a Universidade Autónoma de Lisboa e o Instituto Universitário da Maia, que oferecem a Licenciatura de Ciências da Comunicação, são alguns exemplos.

Até ao ano de 1997, apenas duas instituições de ensino incluíam o fotojornalismo nas suas unidades curriculares: o bacharelato em Jornalismo e Comunicação, da Escola Superior de Educação de Portalegre, criado em 1994, e a licenciatura em Ciências da Comunicação da Universidade Fernando Pessoa, iniciada em 1990/1991 ((Mesquita & Ponte, 1997, s/p). No ano 2007, de acordo com Fernandes (2007, s/p.), a Escola Superior de Comunicação Social do Instituto Politécnico de Lisboa incluía a unidade curricular ―Ateliê de Fotojornalismo‖ no 3.º ano do curso. A unidade curricular ―Fotografia‖ estava presente nos cursos de Ciências da Comunicação da Universidade da Beira Interior (4.º ano), de Comunicação Social da Escola Superior de Educação de Viseu (2.º ano) e de Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Já a unidade curricular ―Fotojornalismo‖ estava presente no 3.º ano do curso de Comunicação Social da Escola Superior de Tecnologia de Abrantes, no 5.º ano do curso de Comunicação Social da Escola Superior de Educação de Setúbal e no 4.º ano do curso de Jornalismo e Comunicação da Escola Superior de Educação de Portalegre.

Atualmente, o sistema de Ensino Superior português oferece algumas opções de unidades curriculares em ―Fotojornalismo‖, embora nem todos os cursos de Comunicação Social/Jornalismo as tenham. Paralelamente, algumas instituições do Ensino Superior como a Escola Superior Artística do Porto e a IADE – Creative University têm Licenciaturas em ―Artes Visuais – Fotografia‖ e ―Fotografia e Cultura Visual‖, respetivamente.

Em suma, o ensino do jornalismo passou por inúmeras adaptações e modificações, no que toca à época vivida, à evolução da tecnologia e, também, ao despertar de áreas que, com o passar do tempo, passaram a ser vistas como relevantes pelos docentes da área do jornalismo. Atualmente, é possível distinguir vários tipos de fotojornalismo e diferentes categorizações entre o género de fotografias captadas.