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Capítulo 4 O jornalismo digital, fotojornalismo e a sua relação com o espaço online

4.1 Questões éticas: os direitos de autor e a atual legislação

Já antes da chegada da Internet existiam códigos éticos da profissão de jornalista, assim como para os profissionais da fotografia dessa área. Robert Capa foi o exemplo de um fotógrafo que, ao criar uma agência de fotógrafos, se preocupou com a preservação do trabalho aí realizado, ainda nos inícios do século XX. Nascido a 22 de outubro de 1913, em Budapeste, Hungria, não era ainda, nessa época, conhecido por Capa, mas sim por Endre Ernő Friedmann. O estudo ―Robert Capa: Espectador e coadjuvante nos conflitos de seu tempo‖, de 2009, aborda o percurso de Robert Capa, nome ―artístico‖ que adotou mais tarde e com o qual ―adequou a sua aparência física para criar um alter ego que tivesse apelo comercial e o tornasse distinto no meio fotográfico‖ (Rodolpho, Ramírez & Dolores 2009, p.108).

Em 1947, juntamente com os fotógrafos David ―Chim‖ Seymour, Henri Cartier Bresson e George Rodger, Robert Capa fundou a agência Magnum, numa ―cooperativa de fotógrafos, muito diferentes entre si em personalidade e educação‖ (Rodolpho, Ramírez & Dolores 2009, p.122), numa ―oportunidade de independência e autonomia do fotógrafo, que teria maior liberdade de criação e ação‖ (idem, ibidem, p.122). Os seus criadores desejavam uma validação, não só económica, mas também de controle sobre a sua produção, procedendo-se a uma espécie de ―autocensura‖ nas fotografias, de forma a selecionar ―um conjunto que se apresentasse coeso e compactuasse com a intenção do fotógrafo, impondo a si mesmo e ao público um ponto de vista‖ (Rodolpho, Ramírez & Dolores, 2009, p.122, 123).

Sob um código ético e moral rígido, a agência Magnum ―almejava garantir que as mazelas dos vitimizados (civis ou combatentes) fossem representadas unicamente a partir da ótica dos próprios

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fotógrafos‖ (idem, ibidem, p.123, 124), a partir de valores como autonomia, prestígio e, também, de uma situação económica positiva (Rodolpho, Ramírez & Dolores, 2009). Assim, a agência Magnum foi criada com o intuito de que ―a ideia original e o direcionamento ético do fotógrafo pudessem ser menos deturpados‖ (idem, ibidem, p.125), em qualquer que fosse o formato onde as imagens fossem visualizadas.

Com a chegada da Internet, foi necessário criar novos mecanismos e ferramentas de proteção de conteúdos físicos que passaram a ser virtuais. Esta mudança foi acompanhada de uma nova geração de jornalistas, ―recém-chegados à profissão (…) e capazes de misturar valores normativos novos e tradicionais‖ (Bastos et al, 2013, p.13) e que, por sua vez, acabaram por ter de lidar com os novos dilemas éticos da época, no setor dos media. Estes conflitos foram responsáveis por transformar os jornalistas em ―angariadores de exclusivos noticiosos a qualquer preço‖ (idem, ibidem, p.13).

Por outro lado, os produtos intelectuais, quer escritos, quer de imagem, passaram a estar acessíveis a todos e, embora os autores de produtos intelectuais saibam que a sua introdução no mundo virtual não lhes retira a sua autoria, a pirataria e a utilização de obras sem a consulta ou a menção do seu proprietário têm sido um motivo para que muitos fotojornalistas se vejam envolvidos em processos judiciais ou não publiquem o seu trabalho no mundo online e em redes sociais.

De acordo com o artigo 1.º do Capítulo 1 (Título 1) do ―Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos‖, são consideradas obras intelectuais todas as criações do domínio literário, científico e artístico. O artigo 2.º aborda também o facto de as ―obras fotográficas ou produzidas por quaisquer processos análogos ao da fotografia‖ serem consideradas ―criações intelectuais do domínio literário, científico e artístico, por qualquer modo exteriorizadas‖ (Sociedade Portuguesa de Autores, s/d, s/p).

Quanto aos direitos de autor, um tema abordado no Capítulo II do mesmo Código, é referido no artigo 9.º da Secção I que abrange ―direitos de caráter patrimonial e direitos de natureza pessoal, denominados direitos morais‖ (idem, ibidem, s/d, s/p). O artigo 11.º da Secção II acrescenta que o direito de autor pertence ao seu criador intelectual, ―independentemente de registo, depósito ou qualquer outra formalidade‖, uma informação complementada no Capítulo III, com a informação de que, ―salvo disposição em contrário, autor é o criador intelectual da obra‖ (Sociedade Portuguesa de Autores, s/d, s/p). O autor pode identificar-se através do nome próprio, ―completo ou abreviado‖, das suas iniciais, de ―um pseudónimo ou qualquer sinal convencional‖ (idem, ibidem, s/d, s/p).

A transformação ou modificação das obras só pode ser realizada com ―autorização do titular do direito de autor‖, pode ler-se no artigo 45.º, relativo ao usufruto das obras intelectuais. O autor tem todo o direito de ―reivindicar a paternidade da obra‖, assim como a sua integridade, e opor-se à destruição, modificação ou a qualquer ato que a ―desvirtue e possa afetar a honra e reputação‖ do criador (Sociedade Portuguesa de Autores, s/d, s/p, artigo 56.º, Capítulo VI). Também de acordo com a Secção I, relativa às modalidades de utilização, artigo 68.º, o autor tem o direito ―exclusivo de fazer ou autorizar (…) a publicação, pela imprensa ou por qualquer outro meio de reprodução gráfica‖, assim como qualquer forma de reprodução, adaptação ou exibição (Sociedade Portuguesa de Autores, s/d, s/p, artigo 68.º, Capítulo VI). A secção VIII realça, ainda, que ―aquele que utilizar para fins comerciais a reprodução fotográfica deve pagar ao autor uma remuneração equitativa‖ (idem, ibidem, s/d, artigo 165.º).

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A plataforma Facebook obriga os seus utilizadores a aceitar um conjunto de termos e condições se desejarem criar uma conta na rede social. Dentro destas normas, a plataforma apresenta uma breve explicitação sobre os Direitos de Autor relativamente aos conteúdos publicados e alerta os seus utilizadores para a denúncia de casos relacionados com ―contas de impostores‖, ―contas pirateadas‖, ―abuso e assédio‖, ―problemas relacionados com administradores de páginas e cursos‖, ―direitos de privacidade‖, ―problemas de funcionamento‖ e ―nomes de utilizadores e endereços web‖ (Facebook, s/d). Os direitos de propriedade intelectual relacionados com conteúdo publicado na rede social são abordados pela organização do Facebook de forma breve. No website pode ler-se que, de acordo com a legislação da maioria dos países, ―os direitos de autor são os direitos legais que protegem as obras de autoria originais, tais como livros, música, filmes e arte‖ (idem, ibidem).

Para além da legislação aplicada às publicações na Web, a entrada da fotografia digital no jornalismo diário constituiu uma importante mudança na ―forma de o público se relacionar com a informação por meio da valorização do que é visto‖ (Oliveira, 2010, p.429) e, trouxe, consequentemente, novas formas de fazer jornalismo.