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Capítulo 4 O jornalismo digital, fotojornalismo e a sua relação com o espaço online

4.2 O jornalismo digital e a sua relação com o espaço online

No meio profissional, pode-se afirmar que a introdução da Internet alterou vários contextos. De acordo com Cole (2005), uma das questões mais importantes à qual é necessário dar uma resposta relaciona- se com a ―obtenção de dados que permitam apurar se a Internet aumenta a produtividade ou se, pelo contrário, devido ao seu uso pessoal exacerbado, interfere com e diminui a produtividade‖ (p.330).

No artigo ―Jornalismo Digital: 10 anos de web... e a revolução continua‖, Alves (2006) aborda a ideia de novo jornalismo, fazendo uma ponte entre a primeira e segunda décadas de jornalismo digital. O autor realça a inicial má adaptação dos media à web, uma situação que refere como um ―medo de canibalizar o meio tradicional‖ (p.94) e como um desperdício das oportunidades abertas pela Internet, com a simples passagem do material já usado nos media para esta nova plataforma, numa lógica de "reciclagem" (idem, ibidem, 2006, p.94). Alves (2006) refere, ainda, as ideias de Fidler de ―mediamorfose‖, que se refere à adaptação dos meios tradicionais à introdução de um novo meio, até à sua adaptação final num encontro da ―sua própria linguagem‖ (Fidler, 1996, cit. Alves, 2006, p.94) e o ―mediacídio‖, o final de meios tradicionais que não tenham tido a capacidade de se adaptar ―ao novo ambiente midiático em gestação‖ (Alves, 2006, p.95).

A segunda década do jornalismo digital é destacada pelo autor como uma época de crise nos meios tradicionais, uma situação agravada pela ―popularização da web‖ (Alves, 2006, p.95), que acabou por não se mostrar como um complemento aos meios tradicionais, mas sim como uma situação negativa para a circulação dos diários em papel‖ (Alves, 2006). A Internet veio trazer o poder aos consumidores de escolherem o que querer ler, ver ou ouvir no momento em que o desejam, através de um ―fluxo contínuo de informações relevantes indexadas e acumuladas‖ (Alves, 2006, p.97) num sítio web. Os jornais passaram a perder leitores e também as fontes de publicidade que tinham, que passaram a querer investir em publicidade

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online.

Para além disso, Alves (2006) afirma que os media tradicionais permaneceram ligados a ―velhos esquemas e a paradigmas anacrónicos‖ (p.99) e que a web se apresentava como um meio ―criativo, inovador e revolucionário‖ (idem, ibidem, 2006, p.99). Perante este panorama, o jornalismo viu que deveria alterar-se e convidou os seus leitores, telespectadores ou ouvintes a participarem ativamente e contribuírem para um novo jornalismo digital, passando o cidadão a ter um papel de jornalista. O autor citado alerta para a necessidade de se criar um novo jornalismo que albergue os seus elementos fundamentais, mas, também, que "desenvolva uma nova linguagem, um novo código comunicacional adequado às características multimédia da web e das outras plataformas digitais que existem ou venham a ser criadas‖ (Alves, 2006, p.101, 102).

No artigo ―Os Jornalistas e a Internet – Como os profissionais avaliam o impacto da rede no jornalismo‖, Bastos et al (2013) inquiriram cerca de uma centena de profissionais que trabalham nos principais jornais, rádios e televisões generalistas do país e chegaram à conclusão de que o impacto da Internet é positivo no campo do jornalismo. No entanto, a mesma amostra demonstra que, embora seja uma ferramenta ―prática e útil no dia a dia‖ (idem, ibidem, p.12), acaba por ter um ―impacto limitado sobre questões de fundo, como os papéis tradicionais que os jornalistas desempenham numa sociedade democrática‖. Para aqueles que trabalhavam, até à integração do jornalismo na Internet, apenas com o papel, a Web tornou-se uma fonte de informação para investigação, acesso a documentos governamentais e empresariais, assim como informações de serviço (Bastos et al, 2013, p.12).

Também Leitão (2012) refere as vantagens apontadas pelos profissionais do jornalismo. No estudo ―Os Lugares do Fotojornalismo‖, o autor mostra a importância do reconhecimento da Internet como uma plataforma utilizada pelo grupo profissional dos fotojornalistas, sendo que a mesma autora refere que alguns fotojornalistas afirmam que o ―retorno que recebem por publicações em redes sociais é infinitamente maior do que nos jornais‖ (2012, p.5). Tendo em conta os utilizadores, Leitão (2012, p.8) refere, igualmente, que sendo que todas as fotografias de imprensa contêm uma mensagem, o seu público irá interpretá-la, estabelecendo-se assim um ―novo vínculo, um modelo de interação sem um intermediário que antes existia‖. No seu estudo, o autor afirma, ainda, que se deu início a novo espaço de ―trocas simbólicas‖ (2012, p.8, 9), no qual o fotojornalista tem o direito a possuir um blogue ou uma rede social onde fale sobre as suas rotinas de trabalho, embora realce que os editores não apreciam essa exposição e o sentimento de obrigação de ―ter que responder ou justificar as suas escolhas, principalmente se fala em nome do interesse de um leitor que nem sempre sabe o que pensa‖ (Idem, ibidem, 2012, p.10).

Por outro lado, esta nova era do jornalismo trouxe alguns desafios e desvantagens. Em primeiro lugar e ―em termos de identidade profissional, os jornalistas reagiram com ambivalência à Internet‖ (Bastos et al, 2013, p.12). As edições online, com prazos mais apertados e com uma perda de fator notícia muito mais imediata, rapidamente tiveram de introduzir uma ―nova geração de profissionais (…), muitas vezes jovens e mal pagos (idem, ibidem, p. 12).

Outro fenómeno que se tem vindo a desenvolver, e que divide opiniões, é o da criação do cidadão- jornalista, que representa um utilizador que passa de recetor a produtor de notícias. De acordo com Tavares (2010), este fenómeno deve-se à democratização da Internet, que permite que os utilizadores tenham a

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possibilidade de publicar livremente conteúdo com um ―caráter mais instantâneo e descentralizado‖ (p.7), que tem modificado ―o sistema tradicional de produção de informações para a comunicação de massa‖ (idem, ibidem, p.8). Uma dos principais fatores gerados por esta nova geração de produtores de notícias foi um fim ao filtro de informação que a comunicação social controlava. A escolha daquilo que seria fator notícia, muitas vezes motivado por ―interesses políticos ou económicos existentes na relação de poder do proprietário do veículo em relação aos seus subordinados‖ (Tavares, 2010, p.8), deixou de existir, visto que os cidadãos passaram a divulgar tudo aquilo a que tinham acesso.

No artigo ―O Fotojornalismo das Páginas Impressas à Internet‖, Mancuzo (2011, p.3) elabora uma análise ao livro ―Fotografia e Jornalismo: A Informação pela Imagem‖, de Dulcília Schroeder Buitoni, de 2011, referindo que, de acordo com a autora da obra, as redes sociais estão a reformular os conceitos de imagem pública e imagem privada, tornando ―público aquilo que antes era visto como privado‖ (Mancuzo, 2011, p.3), sendo que a Internet possibilitou a criação de um local ―fundamental para o desafio diário que os fotógrafos profissionais da imprensa enfrentam ao concorrer com pessoas comuns, que estão em todo o lugar e que, assim como eles, registam os factos‖ (idem, ibidem, 2011, p.3). Mancuzo (2011, p.3) refere, ainda, uma situação que se dá no espaço ilimitado da Internet que, segundo o mesmo, ―ao invés de ajudar, banaliza a veiculação da fotografia na rede e transforma a imagem em coadjuvante dos factos‖.

Assim, a área jornalística tem sofrido diversas modificações no que toca à sua integração com a Internet. As notícias passaram a ter um conteúdo muito mais imediato e a ter que responder às novas exigências de um público que quer consumir rapidamente, ―provocando transformações no fluxo das notícias, no quotidiano dos jornalistas e na responsabilidade profissional‖ (Bastos et al, 2013, p.12).

Por outro lado, o papel da fotografia sofreu, igualmente, modificações e adaptações no que toca à sua afirmação na passagem do papel para o digital. Atualmente, é possível identificar websites nos quais o destaque dado à fotografia é visível e meios de comunicação social onde a fotografia assume um papel relevante, embora nunca tão visível como a relevância dada às próprias notícias.

4.3 O destaque da fotografia nos meios de comunicação social – uma comparação entre os EUA