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O espaço do terreiro, a religiosidade e o compromisso político-social

1. OS CANDOMBLÉS NOS CULTOS AFRO-BRASILEIROS

1.5 Nações de candomblé: formas de resistência contra a intolerância

1.5.3 O espaço do terreiro, a religiosidade e o compromisso político-social

e aprendizado. São espaços que se amp liam para alé m de suas dependências, ganhando e conquist ando no vos espaço s e se engajando em mo vimentos polít icos, educacio na is e sociais da co ntemporaneidade.

Os Cando mblés, enquanto sistemas religiosos, assumem característ icas próprias e estão inseridos em outros sistemas estruturais da sociedade. Nesse sent ido, conforme abordado, anteriormente, algumas co munidades têm um engajamento po lít ico e social ao lado do religio so. Mona Ricumbi, do Terreiro Loabá esclarece bem essa questão:

O ter r eir o é o espa ço on de s e p ode con vi ver a r eligiosidade em temp o integr al, sem ter aquela fr on teira que sempr e, por exempl o, até aqui, eu faço par te do mun do, do p or tão pr a for a, eu s ou a Ér ica, do por tão pr a den tr o, eu s ou a Mona Ric umbi, ten h o toda uma vida; essa visã o d e mun do é impor tan te, aí, a natur eza, a minh a r elação com o mei o am bien te é p er feita; o equilíbr io com tod os os Inquices estã o ali col ocad os; saí dali, eu n ão tenh o compr omiss o com iss o. Então, es sa Casa sempr e vei o com es sa visã o de qu e n ão, a gen te tem que ser um todo o temp o t od o. Quer en do ou n ão, iss o é um gr an de desafi o pr a n ós e, qu er en do ou n ão, acaba s en do n ovo pr a muitos que vi vem e vi ven ciam essa r eligiosidade até mais tempo do qu e eu ten h o de vida. Apesar disso, em Á fr ica isso é algo con stan te.

Hoje, eu, quan do ocup o um espa ço administrativo n o ter r eir o, eu ten h o que ter essa pr eocupa ção, ou seja, uma festa como a de pai Angor ô, ou d e mãe Dandal unda, ou da d on a Jupira, ela t em q ue t er o m esm o p es o pr as pess oas qu e vi ven ciam e são filh os dessa casa, com o o tom bamen to d o Terr eir o Loabá, como a par ticipação n o CO NSER, como estar n os Con selh os d e Saúde, de Ha bitação, da Cr ian ça e do Adol es cen te; isso tem que ter o mesmo pes o, de estar n o Or çamen to Par ticipativo, por que iss o é dar con ta da man uten ção dessa r eligiosidade que a gen te tá dizen do.

Para Mona Ricumbi não pode haver separação entre a pessoa social e a religiosa, é necessário que as duas se funda m numa só e que haja uma unic idade. Ao dizer: "em África isso é algo constante", remete esse co nceito ao pensamento africano do ser pessoa; havendo a integridade do ser, e le vai transmit ir o que ele é pela palavra (cf.Hampatê Bâ, 1982). No caso da co munidade, o ser individual se int egra co let ivamente, formando o corpo co let ivo, a co munidade, ela própria, que se organiza e (re)organiza pelas experiências vivenciadas no cotidiano do convívio socioreligio so. E a participação dos me mbros da co munidade nas festas religio sas "tem que ter o mesmo peso" da part icipação polít ica e social.

Assim, de acordo com a declaração da informante, existe a preocupação co m uma formação tanto relig iosa quanto para o exercíc io da cidadania e m sua co munidade. Para Mona Ricumbi, a religião não pode estar dissociada dos outros segmentos da sociedade civil organizada. E será a part icipação polít ica, social e educacio nal que contribuirá para a manutenção e preservação da religião do Cando mblé.

A part icipação, sobretudo polít ica, e o exercício da cidadania é abordado também por mameto Indandalacata, dirigente da co munidade Terreiro Loabá, da qual faz parte Mona Ricumbi.

As pess oas, lá for a, estão d ecidin do por nós. Hoje, n ós tem os a n eces sidade de sa ber que p olítica estão fazen do pr a n ós, por que já h ouv e ép oca em qu e n ão podíamos n em estar n uma r eunião como es sa. Hoje, n ós estar mos aqui, é um dir eito n oss o. N ós tem os que sa ber que p olíticas estão s en do feitas, p or que pod em os estar r eun idos, aqui, e vir uma autor idade e dizer que estamos pr es os p or que baixou uma lei não sei d e quê e qu e n os pr oí be d e estar mos, aqui, r eun idos. En tão, o Or çamen to Par ticipativo é imp or tan te. Vocês, joven s, têm que estudar e estudar . Escola e san to combin am. Só fica aqui quem est uda. Vocês têm o dir eito de sa ber o qu e é qu e estã o dizen do p or n ós. Con h ecer a política par a

saber o qu e é que quer em da gen te, o qu e é qu e estão falan do da gen te, o que é que qu er em fazer pra gen te. Estão n os en sin an do uma mentir a, a vi ver uma paz que n ão existe, uma igualdade que n ão existe, sen ão, n ão estar íamos lutan do por igualdade de dir eitos. .. o apr en der é n osso, n in guém tir a.

Quando ela diz, textualmente, "houve época em que não podíamos nem estar numa reunião como essa", está se referindo ao que fo i abordado no ite m 1.5.1, deste capítulo, sobre a repressão polic ial nos terreiros de cando mblé s da Bahia, culminando co m a prisão de pessoas por estarem reunidas praticando a religião do cando mblé. Então, ela alerta a sua co munidade sobre os perigos de não se conhecer as po lít ic as públicas e as leis ou projetos de leis que estão sendo elaborados pela classe po lít ica brasile ira. Alé m da participação polít ica, ela aborda também a educação, como um meio para adquirir os conhecimentos cient íficos, historicamente acumu lados pela humanidade. Isso porque esses conhecimentos podem possibilitar visões de mundo mais amp liadas e, conseqüentemente, um entendimento maior sobre as lutas por igua ldade de direitos e pelo pleno exercício da cidadania.

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