• Nenhum resultado encontrado

1. OS CANDOMBLÉS NOS CULTOS AFRO-BRASILEIROS

1.5 Nações de candomblé: formas de resistência contra a intolerância

1.5.2 Resistência

A resistênc ia à repressão, à intolerância e às perseguições, so bretudo polic iais vai se desenvo lver por meios tanto colet ivo s quanto individuais e através de diferentes estratégias.

Em muit as co munidades acontece, anualmente, uma festa para a qual os dirigentes costumam convidar so ldados, para quem servem a feijoada de Ogum. Essa é uma das formas de aproximar a polícia lo cal do culto dedicado a Ogum que é um orixá da guerra e está associado aos so ldados. Outra festa de cando mblé bastante popular é a Festa de Erê, em que as religiõ es de matriz africana, sobretudo o Cando mblé e a Umbanda distribuem doces e brinquedos para as crianças da co munidade do entorno. E, outras festas populares, principalmente, a Festa de Iemanjá, divulgada, inclusive, pela míd ia.

As co munidades de cando mblé das diferentes nações têm se organizado em torno de Ent idades que agrupam as mais diversas modalidades de religiõ es afro-brasileiras. Os membros dessas Ent idades pro movem congressos, seminários, encontros co m temas variados e de int eresse nacio nal so bre a saúde, a ética e a cidadania, a preservação do meio-ambiente, a paz, dentre outros. Publicam també m periódicos que são distribuídos a milhares de pessoas, focalizando temas variados, denunciando perseguições e abusos contra as religiõ es afro-brasile iras e promovendo as co munidades na divulgação de suas festas.

Fazendo parte de Ent idades ou não, algumas co munidades de cando mblé estão engajadas em mo vimentos socia is, educacio na is e po lít icos. Isso pode ser observado nas co munidades em São Luis/M A; em Salvador/BA; e e m São

Paulo/SP.

a) Com unidades no Ma ranhão

Em São Luis, no Maranhão, pesquisei duas co munidades: a Casa Fant i- Ashant i e a Casa das Minas.

A Casa Fant i-Ashant i é dirig ida por Euclides Menezes Ferreira, ma is conhecido como “pai Euclides de Oxalá”, cujo no me iniciát ico é Talabiã. Essa Casa abriga do is ritos dist intos: o cando mblé e o tambor-de-mina dentro de um vasto terreno, em que há a co nstrução do barracão, na frente do terreno, local em que se realizam os ritos do tambor-de-mina, de influência fo m e, no fundo do terreno, o barracão onde se realizam os ritos do cando mblé, de influência ioruba. Essa co munidade é a única de meu conhecimento que abarca do is ritos co mpletamente diferentes: o culto ao orixá e o culto ao vodum. Pai Euclides preserva o patrimô nio histórico da

Casa Fant i-Ashant i através da difusão de seus cânt icos rituais em gravações de CDs, distribuídos no mercado de discos.

As at ividades da Casa Fant i-Ashant i estão direcio nadas para a cultura maranhense, part icipando das festas populares, co mo: tambor de crio ula, bumba-meu-bo i, festa do divino espírito santo, dentre outras.

A Casa das Minas, dirigida por “mãe Deni”, uma das casas ma is ant igas de São Luis, mantém o seu patrimô nio histórico, as suas tradições e a preservação da mata natural. Essa Casa deixa as suas portas abertas à vis itação e a sua dirigente e outros membros não se furtam a dar informações acerca do histórico da Casa. Ela fo i fundada em 1849, provavelmente, por uma rainha do ant igo reino do Daomé Nã Agotimê que no Brasil recebeu o no me de Maria Jesuína (cf.informações de Mãe Deni).

b) Com unidades na Bahia

Em Salvador, Bahia, pesquisei duas co munidades dist int as: uma, de Nação Ango la e outra, de Nação Queto.

A co munidade de cando mblé de Nação Angola é o Tumba Junçara, dirigida por Iraildes Maria da Cunha, cujo nome inic iát ico é Mesoenji. Nessa co munidade presenc iei o início do ano let ivo de um curso de língua quimbundo ministrado por Raimundo Dantas, tata kivonda do Nzo Ndembu Aqüenã, um terreiro filiado ao Tumba Junçara. Além desse curso, há també m projetos para a alfabet ização de adultos e de valorização do patrimô nio histórico, po is essa Casa é uma das mais ant igas de Nação Ango la em Salvador.

A co munidade de Nação Queto é o Axé do Opô Afonjá, uma das co munidades mais ant igas da Bahia; é dirigida pela ia lorixá Maria Stella de Azevedo Santos, ma is conhecida co mo “mãe Stella de Oxosse", cujo no me inic iát ico é Ode Caiode (o caçador traz alegria). Co nversei co m alguns membros dessa co munidade, entre eles, o sr. Clay, que me levou para conhecer todos os espaços do vasto terreno que abriga o barracão onde se realizam as festas, as casas dos orixás, dispostas à maneira dos egbes iorubas, a mata, a esco la, a biblioteca e o museu.

A esco la que funcio na em suas dependências é a "Esco la Municipal Eugênia Anna dos Santos" e atende às crianças do bairro. Os membros da

co munidade co m quem co nversei, informalmente, disseram-me que as aulas ministradas busca m a valorização e o resgate da história dos povos iorubas através do ensino da mito logia dos orixás, fo calizando os ele mentos da natureza, aos quais eles estão ligados, visando também à preservação do meio-ambiente. Além da educação ambiental para as crianças, a co munidade busca co nscient izar a todos sobre a importância da natureza. Em frente à esco la, há uma placa, co m o seguinte text o:

c) Com unidades em São Paulo

Em São Paulo, as invest igações foram feitas nas duas Casas de Cando mblé de Nação Ango la: o Inzó Inquice Mameto Dandaluna Quissimbi Quiamaze (Inzó Dandaluna) e o Centro Religioso e Cultural das Tradições Banto Ilê Azongá Oni Xangô (Terreiro Loabá) e uma Casa de Cando mblé de Nação Queto, o Ilê Axé Omo Ode.

O Inzó Dandaluna, dirigida por Pedro Alves Bezerra, cujo no me iniciát ico é Roxitalamim, tem uma interação co m a co munidade do entorno, através da promoção de suas festas de cando mblé, nas quais pude constatar a presença de seus viz inho s. As ent idades de caboclo, por exemplo, escutam, pacientemente, as queixas do cotidiano das pessoas, aconselham, dão passes energét icos, confortando e orientando. Além disso, há também a preocupação co m a preservação da natureza, tomando muito cuidado em relação aos despachos nas matas.

O Terreiro Loabá é dirigido por Ilza Maria Barbosa, cujo no me iniciát ico é Indandalacata. Essa co munidade tem uma história bastante ant iga de luta para preservação do terreno onde está localiz ado o barracão e que possui ainda uma mata nat iva. Além de também pro mover orientação e conforto às pessoas que procuram a Casa, buscam o engaja mento nos movimentos populares.

Essas duas Casas de Cando mblé de Nação Ango la serão descritas no capítulo 2, visto que os seus textos e sua estrutura ritualíst ica const ituem o foco desta tese.

O Ilê Axé Omo Odé é dirigido pelo babalorixá Jair de Odé. Os membros da co munidade part icipam at ivamente de congressos, seminários, enco ntros, passeatas. A co munidade pro move ações sociais no seu entorno em três níve is:

- educac io nal: em suas dependências funcio nam cursos de alfabet ização de adultos;

- saúde da mulher: uma vez ao ano, trazem médico s para exames de papanicolau;

- nutrição: uma vez por semana, há a entrega de leite para as crianças carentes.

1.5.3 O espaço do terreiro, a religiosidade e o compromisso político-social

Documentos relacionados