• Nenhum resultado encontrado

Em discussão desde o ano de 2013 no Congresso Nacional, o Estatuto da Família é um dos projetos que propõe o estabelecimento de regras jurídicas para definir quais os grupos que podem ser considerados uma família perante a lei em nosso país.

3.3.1 Conceito e tramitação

O Estatuto da Família, encaminhado na forma de Projeto de Lei (PL n° 6.583/2013), consiste em um projeto que busca definir o que pode ser considerado uma família em nosso país. A proposta é estabelecer critérios ou regras jurídicas para a definição de que tipo de

41Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao

processo no qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos.

Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e psicológica.

grupo de pessoas constitui o que pode ser chamado de família. O referido teve autoria do Deputado Anderson Ferreira (PR-PE).

A proposta foi apresentada na Câmara de Deputados, no ano de 2013, havendo na sequência, a análise sua análise por Comissão Especial. Em setembro de 2015, o PL n° 6.583/2013 foi aprovado em sessão muito tumultuada realizada na Câmara dos Deputados, e deveria seguir para análise pelo Senado Federal. Pondera-se que a aprovação do texto nesta, levantou uma série de debates, sobretudo acerca da definição de família. Entretanto, foram apresentados recursos, logo em seguida à aprovação, pelos deputados Jean Wyllys (PSOL-RJ) e Erika Kokay (PT-DF). Em caso de aprovação destes, o Plenário da Câmara terá de votar o Estatuto, mas, havendo rejeição quanto aos mesmos, o Estatuto seguirá para o Senado.

Aprovado no Senado Federal, o projeto do Estatuto da Família será encaminhado para apreciação pelo Presidente da República, que pode sancioná-lo e transformá-lo em lei ou vetá- lo, parcial ou totalmente. Havendo o veto do Presidente, a proposta retorna para o Congresso Nacional. Salienta-se que até o presente momento, os recursos ainda sequer foram analisados, estando o PL n° 6.583/2013 sem movimentação desde a data de 06 de novembro de 2015, conforme o Portal Oficial da Câmara dos Deputados.

3.3.2 Conteúdo

Constitui-se em um conjunto de 16 artigos, com a finalidade de instituir o Estatuto da Família e dispor sobre os direitos da família, as diretrizes das políticas públicas voltadas à valorização e apoio à entidade familiar.

Primeiramente, o PL n° 6.583/2013, define o entendimento por entidade familiar, conforme o seu art. 2º, que assim dispõe: “o núcleo social formado a partir da união entre um homem e uma mulher, por meio de casamento ou união estável, ou ainda, por comunidade formada por qualquer um dos pais e seus descendentes” (CÂMARA, 2013).

Tratando especificamente dos direitos, o Estatuto da Família prevê no caput do seu art. 5°, ser responsabilidade do Estado, garantir para entidade familiar, “as condições mínimas para sua sobrevivência, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam a

convivência saudável entre os seus membros e em condições de dignidade” (CÂMARA, 2013). Da mesma forma, assegura atenção integral à saúde dos membros da entidade familiar através do Sistema Único de Saúde – SUS, e também do Programa de Saúde da Família, de acordo com o estabelecido no seu art. 6°.

Segundo o disposto no art. 9°, deve haver prioridade, em qualquer instância, tanto na tramitação dos processos e procedimentos, quanto na execução de atos e diligências judicias, quando o interesse versado, constitua risco à preservação e sobrevivência da entidade familiar. Ainda, objetiva como sendo dever da parte interessada, justificar o referido risco em uma petição endereçada à autoridade judiciária. Não obstante em mencionar que o art. 12 do PL. n° 6.583/2013, incumbe às escolas a obrigação de “formular e implantar medidas de valorização da família no ambiente escolar, com a divulgação anual de relatório que especifique a relação dos escolares com as suas famílias” (CÂMARA, 2013).

O Estatuto da Família ainda disciplina nos seus arts. 14 e 15 acerca do conselho da família, o qual, segundo caput do art. 14, consiste em órgãos permanentes e autônomos, não jurisdicionais, que se encarregam das políticas públicas direcionadas à família, igualmente, a garantia do exercício dos direitos da entidade familiar. O conselho de família objetiva colaborar junto aos órgãos da administração, no planejamento e implantação de políticas que se voltam à família; o estudo e discussão sobre políticas públicas que permitam e garantam a integração e participação da família nos mais diversos processos, seja social, econômico, político, cultural; a criação de formas de participação da família nos órgãos da administração pública, dentre outros.

3.3.3 O centro da polêmica

O principal alvo de críticas quanto ao Estatuto da Família, como referido anteriormente, recai sobre o conceito de entidade familiar. Previsto no art. 2° do referido, “define-se entidade familiar como o núcleo social formado a partir da união entre um

homem e uma mulher (grifo do autor), por meio de casamento ou união estável, ou ainda por

As críticas concentram-se no sentido de que, caso seja aprovado este entendimento por família, estará se limitando a formação do meio familiar através da união entre indivíduos de sexos diferentes, no caso, homem e mulher, além de contrariar disposição do Supremo Tribunal Federal neste sentido, que no ano de 2011, após julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI n° 4.227), e também da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF n° 132), reconheceu a união estável para casais do mesmo sexo, ou seja, a união estável entre casais do mesmo sexo passaria a se constituir também entidade familiar. Cumpre-se ressaltar ainda que em 2013, o Conselho Nacional de Justiça, através da Resolução n° 175, determinou, a todos os cartórios do Brasil, que não poderão recusar a celebrar os casamento civis de casais do mesmo sexo, ou ainda, deixar de converter em casamento a união homoafetiva.

Ao estabelecer que os laços familiares sejam formados a partir da união conjugal firmada entre o homem e a mulher, o Estatuto se valeu do previsto no art. 226, §3° da CF/88, o qual desta forma dispõe: “É reconhecida a união estável (grifo do autor) entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento” (BRASIL, 2016). Salienta-se que a CF/88 não limita o conceito de família unicamente à entidade entre um homem e uma mulher, tão pouco dispõe assim no tocante ao casamento. Em caso de aprovação do PL n° 6.583/2013, o Supremo Tribunal Federal deverá prontamente se manifestar quanto ao conflito dos entendimentos anteriormente expostos, em outras palavras, acerca do que é verdadeiramente entidade familiar.

Entretanto, é mais do que perceptível que o Estatuto da Família e a sua definição do que pode ser considerado como família não deve prosperar, visto que, em tempos modernos, e com a evolução da sociedade ao longo dos anos, a qual está constantemente na busca pela maior igualdade de direitos entre os indivíduos, não é possível aceitar que ainda haja tamanhas restrições a um tema tão relevante e fundamental para todos, além da evidenciada postura homofóbica. Contrários ao ora mencionado Estatuto, manifestaram-se veementemente o IBDFAM – Instituto Brasileiro de Direito de Família, a OAB/RS - Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Rio Grande do Sul, dentre outros.

Deste modo, o indigitado Projeto de Lei é materialmente inconstitucional, por tentar, via lei ordinária, alterar a Constituição, ao propor um conceito de família trazendo restrições e limitações que não existem no texto constitucional e que já se encontra explicitado por quem tem competência para fazê-lo.

De outro lado, tanto o projeto como o seu substitutivo, ao restringirem o conceito de família desconsideram todos os demais vínculos socioafetivo, subtraindo direitos e negando acesso às políticas sociais governamentais (OAB/RS, 2015).

A polêmica sobre o tema ainda não está encerrada. Mesmo que o Estatuto seja aprovado e transformado em lei, uma das questões que se levanta é a posição do Supremo Tribunal Federal que já em 2011, através da aprovação da ADI 4.277, na qual admitiu a união estável entre pessoas do mesmo sexo, com todos os efeitos da união estável heterossexual.