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Assim como o entendimento do conceito de família, a noção de parentesco tem apresentado evolução, superando interpretações antes dadas e que tinham como base formas únicas de precisar ou conceber as relações familiares.

De acordo com Gagliano e Pamplona Filho (2017, p. 667):

Entende-se por parentesco a relação jurídica, calcada na afetividade e reconhecida pelo Direito, entre pessoas integrantes do mesmo grupo familiar, seja pela ascendência, descendência ou coletividade, independentemente da natureza (natural, civil ou por afinidade).

A compreensão do sentido, do significado de parentesco, inclusive com a distinção conceitual de que “parentesco e família não se confundem, ainda que dentro do conceito de família esteja contido o parentesco mais importante: a filiação” (DIAS, 2017, p. 398), constitui-se em importante base para a ciência jurídica.

Para Miranda (apud GONÇALVES, 2017, p. 519):

[...] parentesco é a relação que vincula entre si as pessoas que descendem uma das outras, ou de autor comum (consanguinidade), que aproxima cada um dos cônjuges dos parentes do outro (afinidade), ou que se estabelece, por fictio iuris, entre o adotado e o adotante.

O advento da CF/88 tendo por base o princípio da igualdade trouxe importantes mudanças no entendimento das relações familiares. Segundo Dias (2017, p. 397), a Carta Magna, em seu art. 226, §6°, “ao não permitir distinções entre filhos, afastando adjetivações relacionadas à origem”, levou a uma “verdadeira desbiologização da paternidade- maternidade-filiação e, consequentemente, do parentesco em geral”.

As inúmeras transformações que vem marcando a nossa sociedade e, por consequência, suas formas de regulação, sugerem também novas formas de entender determinados conceitos.

No que se refere ao instituto ora em análise, o parentesco, novamente Dias (2017, p. 397), afirma que “deve-se buscar um conceito plural de paternidade, maternidade e de parentesco em sentido amplo, no qual a vontade, o consentimento, a afetividade e a responsabilidade jurídica terão missões relevantes”.

O conhecimento acerca das relações de parentesco é de suma importância, dada que a legislação atribuiu a estas relações, efeitos relevantes, direito e obrigações recíprocas entre os parentes, de ordem pessoal e patrimonial, bem como, fixando proibições com base em sua existência.

2.1.1 Classificação

Dada às diversas origens das atuais estruturas familiares, as relações de parentesco podem ser classificadas observando-se vários critérios.

2.1.1.1 Classificação do parentesco quanto à natureza

O Código Civil, em seu art. 1.596, reproduziu a regra estabelecida na CF/88, em seu art. 227, §6°, que estabeleceu a igualdade dos filhos, sem qualquer adjetivação8.

8Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com

Embora o princípio igualitário constitucional vigente estabeleça a não diferenciação de origem, ela persiste na conceituação técnica. Ou seja, os filhos não podem mais ser chamados, discriminatoriamente, de legítimos, ilegítimos ou de adotivos, a não ser em doutrina.

O denominado parentesco natural, historicamente é reconhecido pelos vínculos consanguíneos. Beviláqua (apud GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2017, p. 669) afirma que:

O parentesco criado pela natureza é sempre a cognação ou consanguinidade, porque é a união produzida pelo mesmo sangue. O vínculo de parentesco estabelece-se por linhas. Linha é a série de pessoas provindas por filiação de um antepassado. É a irradiação das relações consanguíneas.

O Código Civil brasileiro, em seu art. 1.5939, igualmente dispõe acerca do tema.

Portanto, embora tenha o vínculo consanguíneo como referência básica, o parentesco natural também engloba o vínculo parental não consanguíneo, advindo de outra origem. Caso típico da adoção. Neste caso, recebe a denominação de parentesco civil.

Dias (2017, p. 398) amplia o entendimento acerca do parentesco civil, quando refere que:

O desenvolvimento das modernas técnicas de reprodução assistida ensejou o que passou a ser chamado de desbiologização da parentalidade, impondo o reconhecimento de outros vínculos de parentesco. Assim, parentesco civil não é somente o que resulta da adoção. Também é o que decorre de qualquer outra origem que não seja a biológica. Não há como deixar de reconhecer que a concepção decorrente de fecundação heteróloga (CC, 1.597, V) gera parentesco civil.

Atualmente, as relações de parentesco não são somente marcadas pelos laços de consanguinidade. O reconhecimento de outros vínculos que não decorrem exclusivamente de informações biológicas ou genéticas contribuem para a ampliação da expressão “outra origem”, presente no Código Civil ao definir parentesco.

à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão:

§6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

No sábio dizer de Dias (2017, p. 399):

[...] Assim, “outra origem” não significa mais e tão somente o parentesco decorrente da adoção, mas o parentesco que tem origem diversa da consanguínea. Também a referência a veementes presunções resultantes de fatos já certos (CC, 1.605, II) diz com o conceito de posse de estado de filho, nada mais do que a filiação socioafetiva.

Portanto, o parentesco civil, resultado da socioafetivade, se dá a partir do reconhecimento da paternidade ou da maternidade, no tocante a definição da filiação, prescindindo a conexão do sangue.

2.1.1.2 Classificação do parentesco quanto a linhas e graus

O atual ordenamento jurídico tem sua classificação do parentesco com base na noção de linha um das mais tradicionais interpretações. De acordo com Dias (2017, p. 399), “falar em linha de parentesco é identificar a vinculação da pessoa a partir de um ascendente comum”.

De acordo com Gagliano e Pamplona Filho (2017, p. 672), a definição do parentesco com base na noção de linha, ancorada na concepção histórica de linhagens, define-se quando “um núcleo familiar é tomado como referencial, o que se denomina de tronco comum, a partir do qual vão se ligando os demais parentes, através de linhas ascendentes ou descendentes”.

Nesta classificação, é possível distinguir parentes em linha reta dos parentes em linha colateral. Tendo como referência a relação de ascendência e de descendência entre os parentes, parentesco em linha reta está definido na redação do art. 1.591 do Código Civil10.

Deste modo, parentesco em linha reta é infinito, pois não tem fim o parentesco entre ascendentes e descendentes, pois, conforme Dias (2017, p. 399), “por mais afastadas que estejam as gerações, serão sempre parentes entre si as pessoas que descendem umas das outras”.

10Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as outras na relação de ascendentes

Lôbo (apud GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2017, p. 673), assim se refere quanto ao parentesco em linha reta:

O parentesco em linha reta é infinito, nos limites que a natureza impõe a sobrevivência dos seres humanos. A linha reta é a que procede sucessivamente de cada filho para os genitores e deste para os progenitores e de cada pessoa para os seus filhos, netos, bisnetos, etc. Assim, promanam da pessoa uma linha reta ascendente e uma linha reta descendente.

Com relação ao parentesco em linha colateral, tem-se que este considera como parentes, as pessoas provenientes do mesmo tronco familiar, ou seja, tem um ancestral comum, porém sem descenderem umas das outras. Nesse sentido, o Código Civil se acentua no caput de seu art. 1.59211. Portanto, o parentesco colateral encerra-se no quarto grau. Embora existam outros graus de parentesco, eles não são considerados para efeitos jurídicos.

Com relação à classificação do parentesco quanto a graus, o Código Civil devidamente trata a respeito, dispondo em seu art. 1.594, caput12.

Portanto, tanto para o parentesco em linha reta como para o parentesco colateral, é o número de gerações o critério fundamental para se realizar a classificação.