4.7 PUBLICIDADE E CULTURA
4.8.2 O funcionamento do CONAR
Qualquer consumidor pode fazer denúncias ao CONAR a respeito de peças
publicitárias que o fizeram se sentir lesado. Também autoridades e membros do
Conselho podem abrir uma reclamação para o CONAR. A entidade fará,
posteriormente, o julgamento do caso, conforme menciona Schneider (2005, p. 65):
Pode recorrer ao CONAR toda pessoa que se sinta ofendida por uma peça publicitária – filme de televisão, spot de rádio, anúncio de revista, jornal, outdoor, internet, mala direta ou cartaz de ponto de venda. Também pode haver queixa caso se constate que o anunciante não cumpriu com o prometido no anúncio, que não corresponde à verdade ou, ainda, fere os princípios da leal concorrência. A queixa não pode ser anônima e deve ser encaminhada por telegrama, carta, fax, e-mail ou abaixo-assinado. O CONAR instaura, então, o processo ético contra o anúncio. (SCHNEIDER, 2005, p. 65).
Caso seja um consumidor o denunciante, não existe nenhuma cobrança de
taxa para abertura da queixa. Se algum anunciante desejar instaurar um processo
no CONAR contra um de seus concorrentes, ele deve ser associado ao Conselho e
contribuir financeiramente para a manutenção da entidade.
A fiscalização, o julgamento e a deliberação a respeito dos processos é feita
pelo Conselho de Ética do CONAR. Eles analisarão se o anúncio denunciado
realmente fere o código e, caso seja constatado abuso, "o CONAR recomenda aos
veículos de comunicação a suspensão da exibição da peça ou sugere modificações
em seus dizeres ou imagens". (SCHNEIDER, 2005, p. 65).
O Conselho de Ética é representado por meio de Câmaras – oito ao todo –,
Brasília, Porto Alegre e Recife. Na capital paulista, há quatro câmaras e uma nas
demais cidades. Os conselheiros são profissionais do ramo da publicidade e da
propaganda que prestam serviço de forma voluntária. Eles não podem possuir
cargos públicos para os quais tenham sido nomeados ou eleitos.
É importante ressaltar que nenhuma peça publicitária denunciada ao
CONAR é censurada previamente. Ocorre sempre a veiculação do anúncio e, em
momento posterior, caso haja alguma infração grave ao código, a peça pode ser
sustada das mídias.
O CONAR é conhecido pela eficiência e rapidez no julgamento dos casos.
Assim que a denúncia é recebida pelo órgão, verifica-se a procedência da
demanda e um relator é sorteado. Nesse mesmo momento, o anunciante é
notificado e pode recorrer por escrito. Na sequência, os conselheiros se reúnem,
situação na qual podem estar presentes a acusação e a defesa para apresentação
de argumentos. Posteriormente, o relator faz um parecer sobre a denúncia, que é
apreciado para voto pelos demais membros conselheiros. Depois dos votos, a
decisão tomada pelo CONAR é informada àqueles envolvidos no processo. Se a
decisão do Conselho foi sustar a peça publicitária, todos os meios de comunicação
recebem notificações a respeito. Caso denunciante ou anunciante queiram recorrer
da deliberação feita pelo Conselho, podem fazer representações na Câmara
Especial e no Plenário do Conselho de Ética.
Caso o Conselho de Ética acredite não haver nenhum prejuízo à ética
publicitária, sugere-se o arquivamento do caso. Também se pode recomendar que
a campanha seja alterada ou corrigida, em caso de alguma infração. Existem
medidas mais drásticas que podem ser sugeridas, como advertência ao
anunciante, agência ou meio de comunicação responsáveis pela peça publicitária.
Como mencionamos anteriormente, a punição mais grave para um anúncio
denunciado ao CONAR é a sustação de sua veiculação. O CONAR não aplica
multas nem pode realizar detenções, já que são medidas fora de seu escopo.
Porém, são punições que podem existir se o caso for levado à Justiça Comum, já
que estão previstas no Código de Defesa do Consumidor.
por todo os envolvidos no âmbito da comunicação social no Brasil, sejam veículos,
anunciantes ou agências de propaganda. É um grande feito, visto que o Código não
tem valor de lei, mas é um regimento de uma organização não governamental.
Acredita-se que o cumprimento rigoroso das decisões tomadas pelo CONAR se dê
pelo fato de que todos os envolvidos no Conselho são efetivamente participantes do
funcionamento da entidade.
O CONAR não recebe denúncias nem faz julgamentos de propaganda
política. Caso alguém se sinta lesado por esse tipo de campanha, deve procurar o
Tribunal Eleitoral do local onde a peça foi exibida ou o Superior Tribunal Eleitoral. No
entanto, propagandas oficiais sem caráter político-partidário, como por exemplo,
informes a respeito de obras, tarifas ou serviços, podem ser apreciadas pelo
Conselho.
5 ANÁLISE DO CORPUS
Como corpus desta dissertação, selecionamos cinco peças publicitárias
denunciadas ao CONAR entre os anos de 2015 e 2016. São quatro peças
impressas. A primeira delas, da Ambev, é um item de mobiliário urbano. As duas
seguintes, dos anunciantes Editora Minuano e Jetco Comércio de Artigos
Esportivos, são anúncios veiculados em revistas. A última peça impressa é um
painel externo de Roberto Miranda Moreira – Eireli – EPP (Cabo Branco Outdoor).
Finalizamos nosso corpus com um spot de rádio, da empresa Wasser – Tubos e
forros de PVC.
Todas as peças publicitárias foram gentilmente cedidas pelo CONAR para
a realização desta dissertação, assim como os textos das denúncias enviadas ao
Conselho pelos consumidores e os despachos com as decisões finais elaboradas
pelo presidente da entidade.
Na próxima seção, realizaremos a análise de nossos dados, procurando
explicitar porque tais anúncios foram considerados ofensivos para os
consumidores. As análises serão realizadas à luz da TP e da TR. Antes de
iniciarmos a aplicação das teorias aos dados selecionados, mostraremos algumas
tendências gerais a respeito do texto publicitário relacionadas à polidez linguística.
No documento
ANÁLISE DE PEÇAS PUBLICITÁRIAS NAS PERSPECTIVAS DAS TEORIAS DA POLIDEZ E DA RELEVÂNCIA
(páginas 106-109)