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Para Sperber e Wilson (1986, p. 86), existem três formas pelas quais

recebemos informações que nos auxiliam a interpretar um enunciado. A primeira é

a entrada lógica, que para os autores “consiste em um conjunto de regras

dedutivas que se aplicam a formas lógicas das quais esse conceito é um

constituinte”

103

. (SPERBER; WILSON, 1986, p. 86). Assim, por meio das regras, é

possível se descrever premissas e conclusões. A segunda é a entrada

enciclopédica, que “contém informações sobre a extensão e/ou a denotação do

conceito: isto é, sobre os objetos, eventos e/ou propriedades que o instanciam”

104

.

(SPERBER; WILSON, 1986, p. 86). São, portanto, os conhecimentos que temos

sobre os mais distintos tópicos. Por fim, existe a entrada lexical, que “contém

informações sobre a contrapartida de linguagem natural do conceito: a palavra ou

frase de linguagem natural que a expressa”

105

. (SPERBER; WILSON, 1986, p. 86).

De forma simplificada, são as informações sobre a palavra ou enunciado que

expressam o contexto.

Vanin indica que “pode-se dizer, então, que a construção do conteúdo de

um enunciado envolve a identificação de palavras ali existentes, a recuperação de

conceitos e a aplicação de regras dedutivas a suas entradas lógicas”. (VANIN,

2007, p. 70). Essas entradas de dados são chamadas de input. Além das entradas

lógicas, são utilizados as enciclopédicas e as lexicais, que já foram explicadas

anteriormente.

A respeito das regras dedutivas, Sperber e Wilson (1986, p. 99) propõem

103 “consists of a set of deductive rules which apply to logical forms of which that concept is a constituent”. (SPERBER; WILSON, 1986, p. 86).

104 “contains information about the extension and/or denotation of the concept: that is, about the objects, events and/or properties which instantiate it”. (SPERBER; WILSON, 1986, p. 86).

105 “contains information about the natural-language counterpart of the concept: the word or phrase

diversos mecanismos com a finalidade da dedução, entre eles, o modus ponens,

que será utilizado nas análises desta dissertação, indicando que “essas regras,

como o próprio modus ponens, são regras de eliminação, e [...] há boas razões

para pensar que elas desempenham um papel no processamento dedutivo

espontâneo das informações”

106

. (SPERBER; WILSON, 1986, p. 99). Os autores

explicam o sistema dedutivo da seguinte maneira:

Um conjunto de pressuposições que constituirão os axiomas, ou teses iniciais, da dedução são colocados na memória do dispositivo. Ele lê cada uma dessas pressuposições, acessa as entradas lógicas de cada um dos seus conceitos constituintes, aplica qualquer regra cuja descrição estrutural é satisfeita por essa suposição, e escreve a suposição resultante em sua memória como uma tese derivada. Quando uma regra fornece descrições de duas pressuposições de entrada, o dispositivo verifica se ele tem na memória um par apropriado de suposições; se assim for, ele escreve a suposição de saída em sua memória como uma tese derivada. O processo aplica-se a todas as teses iniciais e derivadas

até que não sejam possíveis deduções adicionais107. (SPERBER;

WILSON, 1986, p. 95).

Santos, S. L. (2009, p. 92) complementa que “[p]ara a TR, a mente

trabalha com regras dedutivas nas entradas lógicas para os conceitos do tipo ‘e’,

‘se... então’ e ‘ou’”. P e Q, que estão presentes nas formas lógicas apresentadas

na sequência deste trabalho, indicam variáveis proposicionais, representadas

sempre por letras maiúsculas. Essas proposições possuem relações entre si, que

são expressadas por meio de operadores. Santos, S. L. descreve a regra modus

ponens da seguinte forma:

106 “These rules, like modus ponens itself, are elimination rules, and […] there is good reason to

think that they play a role in the spontaneous deductive processing of information”. (SPERBER; WILSON, 1986, p. 99).

107 A set of assumptions which will constitute the axioms, or initial theses, of the deduction are

placed in the memory of the device. It reads each of these assumptions, accesses the logical entries of each of its constituent concepts, applies any rule whose structural description is satisfied by that assumption, and writes the resulting assumption down in its memory as a derived thesis. Where a rule provides descriptions of two input assumptions, the device checks to see whether it has in memory an appropriate pair of assumptions; if so, it writes the output assumption down in its memory as a derived thesis. The process applies to all initial and derived theses until no further deductions are possible. (SPERBER; WILSON, 1986, p. 95).

Esta regra toma como entrada de dados um par de premissas, uma condicional e outra sendo sua antecedente, e dá como resultado a consequente da condicional. Aplica-se somente às premissas que contêm uma ocorrência designada do conceito “se... então” e dá como resultado as conclusões de que essa ocorrência foi retirada. (SANTOS, S. L., 2009, p. 92).

Vanin (2007, p.90) dá um exemplo da regra modus ponens conforme a

figura abaixo:

FIGURA 2 – REGRA MODUS PONENS

FONTE: VANIN (2007, p. 60).

No entanto, há enunciados em que não é possível aplicarmos a regra

modus ponens no processo de interpretação. De acordo com Santos, S. L. (2009,

p. 266), a TR dá “a hipótese da existência de derivação alternativa dessa regra”.

Derivações possíveis são o modus ponens conjuntivo e disjuntivo. Para Ferreira

(2017, p. 29), essas regras “aumentam a probabilidade de interação entre as

premissas e a representação de mundo do indivíduo, o que permite que sejam

adquiridas novas conclusões”.

Ferreira (2017, p. 29) ainda aponta que não podemos saber de maneira

antecipada quais são as regras que o ouvinte utiliza para realizar o processamento

de dados. O que fazemos na TR é, depois da interação linguística, tentar identificar

as inferências dedutivas realizadas pelo indivíduo.

Ambas as regras, modus ponens conjuntivo e disjuntivo, estão definidas na

figura abaixo, de acordo com Santos, S. L. (2009, p. 266). Para análise de nosso

corpus, faremos uso do modus ponens e do modus ponens conjuntivo para que

melhor possamos delinear o processo inferencial realizado pelos leitores ao

interpretarem as peças publicitárias.

FIGURA 3 – REGRA MODUS PONENS CONJUNTIVO E MODUS PONENS DISJUNTIVO

FONTE: SANTOS, S. L. (2009, p. 266).