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O futuro conteúdo político da Teoria Geral da Administração

1.1 POR UMA ADMINISTRAÇÃO COM PARTICIPAÇÃO

1.1.3 O futuro conteúdo político da Teoria Geral da Administração

É interessante analisar a cartografia da Teoria Geral da Administração, considerando-se que o mapeamento da origem de cada pensamento que contribuiu para a evolução das organizações ainda carece de um pensamento sul-sul que se posicionasse sobre o conceito de qualidade.

O modelo weberiano da teoria da burocracia, preocupada com os aspectos internos e formais de um sistema fundado na padronização do desempenho humano, não cogitara a interação da organização com o ambiente externo, o que só ocorreu na teoria estruturalista, a partir do conceito de um sistema de sistemas e de uma macroabordagem inter e extraorganizacional.

A teoria neoclássica marca um retorno aos postulados clássicos atualizados, realçando a Administração como um conjunto de processos básicos (escola operacional), de aplicação de várias funções (escola funcional), de acordo com princípios fundamentais e universais, destacando os objetivos (administração por objetivos) e questionando o problema da eficiência no processo e da eficácia nos resultados. Ressalte-se, porém, que essa Escola ainda não coloca no objetivo maior da organização a participação do ser humano na sociedade política.

A teoria comportamental enfatiza a necessidade de flexibilização das organizações e sua adaptabilidade às mudanças ambientais, principalmente o comportamento dos participantes e suas relações interpessoais, mas ainda é centrada nas

organizações, sem a necessária abordagem extraorganizacional (CHIAVENATO, 2011, p. 469):

É com a Teoria de Sistemas que surge a preocupação com a construção de modelos abertos que interagem dinamicamente com o ambiente e cujos subsistemas denotam uma complexa interação interna e externa. [...]

Os sistemas vivos – sejam indivíduos ou organizações – são analisados como “sistemas abertos”, isto é, com incessante intercâmbio de matéria – energia – informação em relação a um ambiente circundante. A ênfase é colocada nas características organizacionais e nos seus ajustamentos contínuos às demandas ambientais. Assim, a Teoria de Sistemas desenvolveu uma ampla visão do funcionamento organizacional, mas demasiado abstrata para resolver problemas específicos da organização e de sua administração (CHIAVENATO, 2011, p. 469-470).

Verifica-se principalmente que a evolução do modelo, apesar de considerar o enfoque sistêmico, pela necessidade de um pensamento complexo para atingir qualidade da organização, chega a conceber a diminuição de índices quantitativos, mas não acrescenta o elemento político, de participação do ser humano para decidir o bem comum.

O enfoque sistêmico define a organização como sistema, com elementos interdependentes, como conjunto de pelo menos dois subsistemas que se influenciam mutuamente: o sistema técnico (que independe das pessoas: objetivos, divisão do trabalho, tecnologia, instalações, duração das tarefas, procedimentos) e o social (formado pelo comportamento dos indivíduos, pelas relações sociais, grupos informais, cultura, clima, atitudes e motivação).

Apesar do resultado econômico ser importante, considerando a aplicação correta dos recursos materiais para o resultado esperado, esse terceiro sistema deve ser somado ao quarto sistema, o sistema da participação, além de outros que esse sistema identificar como necessários:

Como os limites dos sistemas são arbitrários e dependem do observador, podem-se imaginar outros sistemas, além do social e do técnico. Por exemplo, é possível distinguir três sistemas, e não apenas dois, nas organizações: o social, o estrutural e o tecnológico. Como os sistemas são construtos construídos cognitivamente, você próprio pode enxergar outros sistemas dentro da organização (MAXIMIANO, 2012, p. 326). O ser humano deve ter a possibilidade de observar a organização e poder exercer sua natureza política, participando na construção de seu espaço político, dentro de organizações e entre organizações, contribuindo para a finalidade da sociedade política

maior que é o Estado, formado para atingir o bem comum. A moderna teoria dos sistemas aposta na análise e no planejamento para a eficácia das organizações e qualidade de vida da sociedade através dos seguintes elementos: ambiente, objetivos, componentes, processo, administração e controle (MAXIMIANO, 2012, p. 327).

É preciso compreender a missão do sistema dentro do ambiente, suas relações de interdependência, recursos, destinatários dos produtos e serviços, e suas regras. (MAXIMIANO, 2012, p. 328).

Os objetivos são alcançados quando se pergunta qual é a finalidade do sistema, seus critérios para avaliação de eficácia, quem são seus usuários, seus componentes e como é sua organização, além de como obter sua participação, através de um processo, com um tempo de ciclo adequado para que os objetivos sejam atingidos.

O controle dessa organização ocorre pelo feedback, que produz a informação necessária para que o sistema seja capaz de regular seu próprio funcionamento, ajustando-o pela intervenção humana (MAXIMIANO, 2012, p. 329-330). A participação do ser humano nas organizações, exercendo seu controle social, possibilita este feedback, conferindo qualidade ao sistema.

A evolução do pensamento consolidado pela Teoria Geral da Administração seguiu pela teoria do enfoque neoestruturalista, com paradigma neoclássico da teoria da contingência, adotando enunciados da teoria geral de sistemas:

A organização, o sistema total, pode ser entendido em termos de conjunto de sistemas que, por sua vez, podem se subdividir em outros sistemas. Estes sistemas ou subsistemas geram uma complexa rede de relações de interdependência. Nas organizações podem-se diferenciar os seguintes subsistemas: subsistema ambiental (entorno da organização), subsistema estratégico (metas, objetivos e valores do sistema), subsistema tecnológico (tecnologia, sistemas de informação, recursos materiais, etc.), subsistema humano ou psicossocial (recursos humanos da organização), subsistema estrutural (postos de trabalho, órgãos, critérios de diferenciação e de integração) e subsistema de processo administrativo ou de direção que representa aquela zona onde se cruzam e se inter- relacionam o resto dos subsistemas internos (RAMIÓ, 1999, p. 15)4.

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Transcrição do trecho original: La organización, o sistema total, puede ser entendido em términos de

conjunto de sistemas que, a su vez, pueden subdividirse em otros sistemas. Estos sistemas o subsistemas generam uma compleja red de relaciones de interdependência. En las organizaciones se pueden diferenciar los siguientes subsistemas: subsistema ambiental (entorno de la organización), subsistema estratégico (metas, objetivos y valores del sistema), subsistema tecnológico (tecnologia, sistemas de información, recursos materiais, etc.), subsistema humano o psicosocial (recursos humanos de la organización),

Pela abordagem contingencial, a eficácia da estrutura da organização e seu funcionamento são dependentes da sua interface com o ambiente externo, cuja especificidade requer desenho organizacional apropriado para cada situação (CHIAVENATO, 2011, p. 468).

Essa abordagem representa um avanço na Teoria Geral da Administração, pois a Teoria Clássica concebe a organização como um sistema fechado, sem conexão com seu ambiente externo, enquanto a Teoria das Relações Humanas, apesar de ser um movimento humanizador da teoria das organizações, permanece com abordagem voltada ainda para o interior da organização (CHIAVENATO, 2011, p. 468).

Do ponto de vista da Teoria da Contingência, o ser humano pode ser observador de dentro para fora da organização:

A ênfase é colocada no ambiente e nas demandas ambientais sobre a dinâmica organizacional. Para a abordagem contingencial são as características ambientais que condicionam as características organizacionais. É no ambiente que estão as explicações causais das características das organizações. Assim, não há uma única melhor maneira (the best way) de se organizar. Tudo depende (it depends) das características ambientais relevantes para a organização. As características organizacionais somente podem ser entendidas mediante a análise das características ambientais com as quais se defrontam (CHIAVENATO, 2011, p. 470).

O processo administrativo deve fazer essa análise das contingências, dos subsistemas internos, possibilitando a mudança organizacional. Possibilitar a mudança conforme as contingências é objeto da teoria organizativa, ainda mais abrangente:

Considera-se a mudança como resposta aos impulsos do entorno (teoria das contingências), a mudança dos padrões culturais (perspectiva cultural), a mudança gerada pelas relações dinâmicas com outras organizações (análise interorganizativa), ou a mudança vinculada ao ciclo vital dos entes organizativos (análise longitudinal). É hora, pois, de que a mudança passe a ser o objeto principal de análise da teoria organizativa. Ou seja, o estudo da lógica de mudança (como mudam e por que), a resistência à mudança (que forças rechaçam a mudança e por que) e os agentes de mudança (que atores são ou podem ser os catalisadores, dinamizadores e condutores da mudança) (RAMIÓ, 1999, p. 18)5.

subsistema estructural (puestos de trabajo, órganos, criterios de diferenciación y de integración) y subsistema de processo administrativo o de dirección que representa aquella zona donde se cruzan e interrelacionan el resto de los subsistemas internos.

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Transcrição do trecho original: Se considera al cambio como respuesta a los impulsos del entorno (teoria

Mudar, não mudar e as razões para tal devem ser o cerne da participação do ser humano nas organizações, compreendendo-se que o ser humano é ator dos processos de transformação das organizações. A reflexão sobre por quê mudar e como realizar essa transformação requer planejamento, que no desenvolver da Teoria Geral da Administração fez surgir a teoria do planejamento estratégico.

Planejar de forma estratégica é o processo de elaborar a estratégia, considerando decisões que proporcionaram a situação presente, denominada posição estratégica ou situação estratégica, combinando com os planos estratégicos com decisões presentes que afetarão o futuro da organização (MAXIMIANO, 2012, p. 342).

O planejamento estratégico aponta para a necessidade de criação e institucionalização dentro das organizações de processos organizacionais, considerando o presente para a tomada de decisão futura, analisando a atual situação estratégica para traçar planos a serem realizados:

Um processo é um conjunto ou sequência de atividades interligadas, com começo, meio e fim. Por meio de processos, a organização recebe recursos de sua cadeia de suprimentos (trabalho de pessoas, materiais, energia e equipamentos) e os transforma em produtos, informações e serviços, que serão fornecidos aos clientes. Os processos integram e coordenam as áreas funcionais para a produção de resultados (MAXIMIANO, 2012, p. 448).

Integrar as áreas funcionais para atingir os resultados é o trabalho de articulação dentro das organizações e entre elas que a administração promove para consolidar uma cadeia horizontal de processos. A horizontalização da organização, em lugar da estrutura vertical da cadeia de comando, reformula o modo de administrar as operações, integrando todas as funções envolvidas na solução de um problema, aumentando a eficiência da organização.

Para possibilitar que cada organização consolide a horizontalização de seus processos e destes com outras organizações, há dois tipos de processos, os centrais e os de apoio:

las relaciones dinâmicas com otras organizaciones (análisis interorganizativo), o el cambio vinculado al ciclo vital de los entes organizativos (análisis longitudinal). Es decir, el estúdio de la lógica de cambio (cómo cambian y por qué), la resistência AL cambio (qué fuerzas rechazan el cambio y por qué) y los agentes Del cambio (que actores son o pueden ser los catalizadores, dinamizadores y condutores del cambio).

Os processos centrais estão relacionados com a transformação de insumos em produtos destinados a clientes internos ou externos:

-Desenvolvimento de produtos e serviços; - Geração e processamento de pedidos;

- Produção: transformação de pedidos, informação e matérias-primas em produtos e serviços;

- Atendimento aos clientes; [...]

Existem outros processos nas organizações. São os processos de apoio, que sustentam os processos centrais ou medem seu desempenho. Os mais importantes são:

-Administração financeira e contabilidade; -Recursos Humanos;

- Compras (MAXIMIANO, 2012, p. 449-450).

Os processos centrais e os processos de apoio são orientados para a eficiência e a eficácia na horizontalização da organização. Com eles, formulam-se equipes com pessoas de diferentes departamentos e até de fora da organização, considerando como indicador de desempenho a satisfação do cliente, e não a valorização das ações ou a lucratividade, recompensando integrantes das equipes por suas contribuições coletivas (MAXIMIANO, 2012, p. 451).

Conquistar a satisfação do cliente requer a participação do usuário dos serviços da organização na formulação e reformulação dos processos, daí a importância de formular equipes que contenham integrantes de fora da organização, principalmente representantes dos usuários dos serviços, recompensando a contribuição coletiva.

Nesse sistema, os indicadores de desempenho devem aprimorar os processos, e estes devem aprimorar os indicadores de desempenho:

Os processos podem ser aprimorados, em busca de maior eficiência, velocidade ou qualquer outro indicador de desempenho. Diversas técnicas de aprimoramento de processos têm sido propostas, desde que Taylor inventou a administração científica. Na passagem para o século XXI, essas técnicas ganharam o reforço das tecnologias da informação, que permitiram automatizar e acelerar os processos. Uma das ideias que ganhou muita divulgação recebeu o nome de reengenharia, originalmente, propôs reformular e tornar mais eficientes os processos, antes de automatizá-los (MAXIMIANO, 2012, p. 452).

A tecnologia da informação tem contribuído para a maior publicidade dos processos e para se obter um maior grau de participação nas organizações, promovendo a reengenharia na reformulação das tomadas de decisão.

Contudo, critica-se a reengenharia quando os esforços são orientados exclusivamente à redução de custos, especialmente por meio de corte de pessoal e perda da identidade da organização (MAXIMIANO, 2012, p. 453). Com a tecnologia da informação aplicada a uma participação mais intensiva na organização, a reengenharia adotou novas concepções, como redesenho de processos, aprimoramento de processo passo a passo, pequenos aprimoramentos, realizados com participação.

Percebendo os três períodos pelos quais passou a Teoria Geral da Administração, os processos internos e externos à organização evoluíram como novas abordagens da administração, contemplando a importância da articulação e compreensão da complexidade dos sistemas:

1. O período cartesiano e newtoniano da Administração. Foi a criação das bases teóricas da Administração iniciada por Taylor e Fayol envolvendo principalmente a Administração Científica, a Teoria Clássica e a Neoclássica. A influência predominante foi a física tradicional de Isaac Newton e a metodologia científica de René Descartes. Foi um período que se iniciou no começo do século XX até a década de 1960, aproximadamente, e no qual o pensamento linear e lógico predominou na teoria administrativista. Foi um período de calmaria e de relativa permanência no mundo das organizações.

2. O período sistêmico da Administração. Aconteceu com a influência da Teoria de Sistemas que substituiu o reducionismo, o pensamento analítico e o mecanismo pelo expansionismo, pensamento sintético e teleologia, respectivamente a partir da década de 1960. A abordagem sistêmica trouxe uma nova concepção da Administração e a busca do equilíbrio na dinâmica organizacional em sua interação com o ambiente externo. Teve sua maior influência no movimento do DO – Desenvolvimento Organizacional e na Teoria da Contingência. Foi um período de mudanças e de busca da adaptabilidade no mundo das organizações. 3. O período atual da Administração. Está acontecendo graças à profunda influência das teorias do caos e da complexidade na teoria administrativa. A mudança chegou para valer no mundo organizacional (CHIAVENATO, 2011, p. 532).

No contexto atual da Teoria Geral da Administração, a tecnologia da informação permite análise do processo, identificação de suas fragilidades a partir da participação dos recursos humanos da organização e de seus usuários, possibilitando um desenho mais eficiente.

A nova abordagem da organização vem com a quinta onda das possibilidades da tecnologia da informação. Evolui-se da Era Industrial para a Era da Informação, com transformações rápidas e intensas (CHIAVENATO, 2011, p. 540) no interior e no exterior das organizações, marcadas pela não linearidade do poder, resgatada pela maior

disseminação de informações e possibilidade de participação no cotidiano das organizações.

Com a inovação da tecnologia da informação, as barreiras territoriais foram esquecidas e o mercado global de negócios inseriu nas organizações o clamor da competitividade:

A alta competitividade requer inovação, impondo que as organizações

organizem-se em torno da lógica do cliente, estabelecendo metas

elevadas, definindo padrões mundiais, selecionando pensadores criativos

com uma visão abrangente, estimulam seus funcionários em múltiplas

habilidades, trabalhando em vários territórios, com as melhores ferramentas para executar suas tarefas, encorajam o empreendimento pelo

investimento em empowerment sobre novos conceitos de produtos e

serviços, reconhecendo a iniciativa, sustentam o aprendizado constante. Promovem a ampla circulação de informações, observam os concorrentes e inovadores no mundo inteiro, medem seu próprio desempenho com base em padrões mundiais de qualidade e oferecem treinamento contínuo para manter atualizado o conhecimento das pessoas, colaboram com os

parceiros, construindo seu sucesso com três principais ativos Cs:

conceitos, competências e conexões, que elas estimulam e repõem continuamente (CHIAVENATO, 2011, p. 541).

A competitividade na era digital colocou um desafio para a administração de processos, posto que ao mesmo tempo que possibilita a administração eficaz e acelerada das soluções internas, viabilizando inclusive organizações virtuais (MAXIMIANO, 2012, p. 458), requer que se repense cada atitude da organização para o resgate do componente político de participação, que, apesar de ser possível com as novas tecnologias da informação, tem sido esquecido em detrimento da sociedade política maior que é o Estado. Cada organização, sociedade política em miniatura, requer análise da intencionalidade política de seus atos, possibilitando a atuação política do ser humano para tomada de decisão de tudo que possa influenciar sua vida.

A atualidade da Teoria Geral da Administração, embora considere a conexão entre seis variáveis: tarefa, estrutura, pessoas, tecnologia, ambiente e competitividade (CHIAVENATO, 2011, p. 17), não conseguiu pensar a conexão política para a qualidade das organizações. Talvez essa conexão, que é tão possível na era da informação, seja o futuro do pensamento na Teoria Geral da Administração, em especial quando aplicamos seus conceitos à Administração Pública.