• Nenhum resultado encontrado

1.2 A BUSCA DA COMPETITIVIDADE NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1.2.3 Sistemas politico-administrativos comparados

Competir é uma das ações da Gestão Pública, que avança com a abertura dos mercados e transposição de fronteiras pela globalização. A competitividade de uma organização pública precisa ser pensada e avaliada pela participação popular, com possibilidade de articulação entre organizações locais e globais, por suas relações intergovernamentais:

A visão comparada dos sistemas políticos e administrativos nos oferece a possibilidade de analisar de um ponto de vista global a situação dos diferentes níveis de governo, suas instituições, seu âmbito territorial de atuação, o marco no qual se desenvolvem suas políticas públicas, as relações que entre eles se produzem (VARELA ÁLVAREZ, 2003, p. 53)11.

Os sistemas político-administrativos mais significativos para a compreensão das relações intergovernamentais são o francês, o norteamericano, o britânico, o alemão, o italiano, o sueco e, finalmente, o português (VARELA ÁLVAREZ, 2003, p. 54). As relações intergovernamentais são horizontalizadas e desenvolvidas por mecanismos supralocais de ação e gestão dos serviços pela cooperação local e pelos consórcios (VARELA ÁLVAREZ, 2003, p. 63).

medios. Há de incorporar tambiém los objetivos, su definición y su articulación operativa. No se trata de que la gestión pública se deba ocupar únicamente de los fines, pero tampoco exclusivamente de los medios. La gestión pública há de ser instrumental y AL mismo tiempo orientarse a partir de unos valores sociales: de aquí su extrema complejidad.

11

Transcrição do trecho original: La visión comparada de los sistemas políticos y administrativos nos ofrece

la posibilidad de analizar desde um punto de vista global la situación de los diferentes niveles de gobierno, sus instituciones, su ámbito territorial de actuación, el marco em el cual se desarrollan sus políticas públicas, las relaciones que entre ellos se producen.

O que diferencia o sistema político-administrativo dos Estados Unidos da América dos sistemas europeus continentais e, inclusive. do conjunto de sistemas ocidentais, são a tradição anglosaxônica, a cultura política norteamericana e sua evolução até a atualidade, marcada pela convicção popular de não intervenção do Estado na economia e a não especialização da Administração Pública (VARELA ÁLVAREZ, 2003, p. 63). As Administrações Públicas contemporâneas realizam a gestão pública por um conceito de qualidade de melhora contínua e aproximação aos seus clientes internos e externos, servidores e cidadãos (VARELA ÁLVAREZ, 2003, p. 184).

Processos de reforma e modernização pautaram as estratégias britânicas pela fragmentação das unidades, livre mercado, administração profissionalizada personalizada, padrões explícitos para avaliação das atividades, forte controle de produção, estilo empresarial de seus gestores, serviço ao cliente (VARELA ALVAREZ, 2003, p. 192).

A evolução da gestão burocrática, passando pela gestão burocrática clássica, pela gestão por objetivos, gestão de qualidade total, gerencialismo clássico e tradicional levou ao novo paradigma denominado como “paradigma pósburocrático”, chegando à Nova Gestão Pública – New Public Management, situada no marco dos modelos de gestão pública hierárquicos (burocrático tradicional) ou autônomos (obtenção de resultados). (VILLORIA MENDIETA, 1997, p. 77-103).

O que ocasionou o surgimento da Nova Gestão Pública através de reformas neoliberais em muitos países foi o esgotamento do Estado, além de distorções das políticas de emprego, bem-estar e seguridade social no Reino Unido. Ao mesmo tempo, declinava a produtividade e competitividade da economia britânica, estendendo o pensamento de liberação dos mercados e eficiência dos governos para os Estados Unidos e alguns países europeus, em seguida tornando-se referência para países latinoamericanos (VILLANUEVA, 2008, p. 158).

Entre suas propostas está a redução do tamanho do setor público, com descentralização das organizações e mudança de cultura administrativa (VARELA ÁLVAREZ, 2003, p. 29):

Como redução do tamanho do aparato da função pública e eficiência de seu desempenho, foi a efficiency estrategy, que tomou forma em 1979 e cujo primeiro responsável foi sir Derek Rayner, quem primeiro a operou desde a unidade como Escritório de Eficiência, assinada diretamente do gabinete da primeira ministra, Margaret Thatcher, que sacudiu a Administração Pública britânica e a seu legendário serviço civil e que conseguiu que o governo fizesse em pouco tempo avanços significativos.

A estratégia consistia basicamente no “escrutínio de eficiência”, que o mesmo pessoal dos ministérios e departamentos do governo se encarregavam de realizar e que tinha o propósito intermediário de descobrir a relação entre custos e resultados das unidades administrativas com o propósito final de propor melhoras na eficiência, centradas no avanço e redução de custos (VILLANUEVA, 2008, p. 159-160)12.

A Nova Gestão pública é uma transposição acrítica de técnicas provenientes do setor privado ao público, sem considerar as condições institucionais, princípios e valores da gestão pública (VARELA ÁLVAREZ, 2010, p. 74). O problema é que, nesta concepção, não há espaço para a participação, a legitimação política necessária da ação pública, com uma atenção economicista excessiva posta nos recursos de gestão, sem se considerar a cultura e motivação dos empregados públicos (VARELA ÁLVAREZ, 2010, p. 75).

Mesmo com esse problema, que na história da Teoria Geral da Administração pode ser vislumbrado em todos os pensamentos, é possível aproveitar as experiências da Nova Gestão Pública, bem como todas as outras teorias construídas, para pensar a eficácia e eficiência da Administração Pública.

O que se deve considerar a cada decisão tomada pela Administração Pública é a condição humana do ato político, de participação no cotidiano das organizações, das sociedades políticas que formam o Estado, de modo que a mescla das técnicas e teorias da administração enfatize os valores públicos. A formulação da Gestão Pública deve, portanto, equilibrar eficiência (relação entre projetos e ação), efetividade (relação entre a ação e suas conseqüências) e legitimidade (grau de aceitação de uma autoridade por parte daqueles que têm que aceitar essa autoridade pela participação dos servidores públicos e cidadãos) (VARELA ÁLVAREZ, 2010, p. 76).

A Nova Gestão Pública produziu mudanças na gestão das organizações públicas britânicas e sua relação com cidadãos e outras organizações descritas no Livro Branco apresentado em março de 1999, a partir de alterações no desenho das políticas da Administração, da prestação dos serviços públicos, do uso das Tecnologias de Informação

12

Transcrição do trecho original: Como reducción del tamaño del aparato de la función pública y

eficientización de su desempeño, fue la efficiency strategy, que tomo forma em 1979 y cuyo primer responsable fue sir Derek Rayner, quien la operó desde la unidad u Oficina de Eficiencia, asignada directamente a la Oficina de la primera ministra, Margaret Thatcher, que sacudió a la AP britânica y a su legendario servicio civil y que logro que el gobierno hiciera em breve tiempo ahorros significativos. La estrategia consistia básicamente em el “escrutinio de eficiencia”, que el mismo personal de los ministerios y departamentos del gobierno se encargaba de realizar y que tenia el propósito intermedio de descubrir la relación entre los costos y los resultados de las unidades administrativas com el propósito final de hacer propuestas de mejora de la eficiencia, centradas em el ahorro y la reducción de costos.

e Comunicação (TICs) para valorização e rendimento do serviço público britânico (VARELA ÁLVAREZ, 2003, p. 193).

O novo modelo foi utilizado nos programas presidenciais norteamericanos de Clinton e Al Gore como mecanismo de ação do setor público com espírito empresarial (VARELA ÁLVAREZ, 2003, p. 30), gerando documentos importantes que impactaram as reformas mundo afora, inclusive pelos governos latinoamericanos. Por sinal, os Consensos de Santiago (1998), Centro Latinoamericano de Administración para el Desarrollo (CLAD) (1998) e de Santa Cruz (2003) carregam o pensamento do gerencialismo na Administração Pública.

Por sua vez, a estratégia francesa de reforma do Estado buscou simplificar o procedimento administrativo na comunicação com o usuário dos serviços públicos, incentivando a dedicação dos servidores por uma nova cultura de mobilidade e qualidade de serviço, adequado à nova realidade político-administrativa descentralizada (VARELA ÁLVAREZ, 2003, p. 193). As mudanças ainda abrangiam responsabilização dos agentes públicos e aplicação das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) (VARELA ÁLVAREZ, 2003, p. 194).

A modernização do setor público atingiu também a Alemanha, que incorporou estratégias de um processo administrativo integrado por descentralização e desconcentração, reforma territorial, reforma organizativa por reformas de pessoal, adaptando-as à unificação alemã e ao processo de europeização (VARELA ÁLVAREZ, 2003, p. 194).

Na Espanha, publica-se em 1989 o primeiro informe do Ministério para as Administrações Públicas, intitulado “Reflexões sobre a modernização da Administração do Estado”, com um diagnóstico sobre os males da organização administrativa nacional. Esse documento foi seguido, em 1992, pelo “Plano de Modernização da Administração do Estado”, que, com a aquiescência dos sindicatos, firmou-se também o “Acordo para modernizar a Administração do Estado e melhorar as condições de trabalho” (VARELA ÁLVAREZ, 2003, p. 194-195). O final da década de 90 continua com a ênfase reformista no desenho normativo das estruturas administrativas, como a preparação do Estatuto da Função Pública e, em 2000, a publicação do “Livro Branco para a Melhora dos Serviços

Públicos. Uma nova Administração a serviço dos cidadãos”13 (VARELA ÁLVAREZ, 2003, p. 195).

A principal mudança na Espanha foi da cultura e dos instrumentos de gestão das organizações públicas, em especial sobre os recursos humanos, com o compromisso dos empregados, comunicação interna e participação, marco organizativo à carreira, desconcentração da gestão de recursos humanos e constante capacitação (VARELA ÁLVAREZ, 2003, p. 195).

Em vista disso, pode-se dizer que as transformações da Administração Pública “se caracterizam por dois enfoques diametralmente distintos, mas necessariamente complementares: a mudança interna da organização e a melhora da relação com os cidadãos”14 (VARELA ÁLVAREZ, 2003, p. 196).

Esse enfoque foi observado na reforma na Galícia, a qual foi impactante para a Espanha e torna interessante a análise de seu sistema político-administrativo por ter como referencial imediato de atuação o cidadão (VARELA ÁLVAREZ, 2003, p. 196-197). A Galícia teve por estratégias realizar reforma normativa para simplificação dos trâmites; promover os recursos humanos pela liberação do trabalho rotineiro e incrementando as possibilidades de promoção; informatizar a gestão, potencializando o acesso à informação e comunicação; estabelecer sistema de Avaliação do Rendimento (VARELA ÁLVAREZ, 2003, p. 197-198). Ademais, as administrações locais adaptaram sua gestão à internet para possibilitar inclusive a participação online, numa verdadeira “democracia eletrônica” ou e-

government (VARELA ÁLVAREZ, 2003, p. 203).

Diante desse quadro de diferentes administrações e suas estratégias, voltadas às relações intergovernamentais para competir no espaço global, retoma-se a finalidade da sociedade política: atender às necessidades apresentadas através do maior contato com o cidadão e, por meio da participação, atingir o bem comum.

13

Transcrição do trecho original: Libro Blanco para la Mejora de los Servicios Públicos. Uma nueva

Administración al servicio de los ciudadanos.

14

Transcrição do trecho original: se caracterizan por dos enfoques diametralmente distintos pero

necesariamente complementários: el cambio interno de la organización y la mejora de la relación com los ciudadanos.