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O futuro do farmacêutico e a sedimentação das atividades clínicas no Brasil

IMPACTOS E PERSPECTIVAS DOS

5.5 O futuro do farmacêutico e a sedimentação das atividades clínicas no Brasil

Os farmacêuticos necessitam vencer as barreiras da gestão e investir também no acompanhamento farmacoterapêutico, pois, segundo Oliveira e colaboradores (2005), a implantação da Atenção Farmacêutica nas farmácias comunitárias enfrenta obstáculos que incluem o vínculo empregatício do profissional farmacêutico e a rejeição dessa prática por gerentes e proprietários. Aliam-se a esses fatores a insegurança e a desmotivação por parte dos farmacêuticos, devido ao excesso de trabalho e a falta de tempo para se dedicar ao atendimento, perdendo a concorrência para os balconistas em busca de comissões sobre vendas. Portanto, existe a clara necessidade de estimular a atuação do profissional nessa área, principalmente aquele que está alocado nas farmácias e drogarias. Em paralelo, a sensibilização dos acadêmicos para a importância de buscar essa formação pode ser um passo importante para o sucesso da Atenção Farmacêutica e o reconhecimento da sociedade, pois uma grande parte dos formandos são absorvidos por esse campo de trabalho (OLIVEIRA et al., 2005).

No Brasil, há farmacêuticos que buscam alternativas para desenvolver a Atenção Farmacêutica isoladamente, entretanto, pode-se observar que, na maioria dos casos, esse novo processo está associado às universidades e a seus docentes. De maneira geral, podemos considerar que a atividade de Atenção Farmacêutica ainda é incipiente no Brasil, tanto no setor público quanto no privado. Para a implementação efetiva da Atenção Farmacêutica no setor público, deve-se conscientizar os gestores de que esta atividade reduz custos para o sistema saúde e melhora a qualidade de vida. No setor privado, pode representar o diferencial de atendimento, que contribui para a fidelização do cliente.

Se a dispensação é um momento tão importante do processo terapêutico, por que os farmacêuticos têm tanta dificuldade para desempenhar essa atividade

de forma adequada? Para a resposta a essa questão, deve-se observar e entender o mercado dos medicamentos no Brasil, bem como as atividades desempenhadas pelos farmacêuticos nesses estabelecimentos responsáveis pela dispensação dos medicamentos e insumos farmacêuticos.

Para que a dispensação seja realizada de forma adequada, o farmacêutico deve estar disponível para o atendimento dos pacientes no balcão da farmácia, contudo, dessa forma, ele não poderia acumular funções administrativas ou gerenciais (ANGONESI; RENNÓ, 2011). Entretanto, na realidade brasileira tornou-se comum a contratação de farmacêuticos para a realização de controle de estoque ou da documentação legal, seja na iniciativa privada ou no setor público.

A dispensação parece um procedimento simples, porém necessita de tempo para ser realizado, e quanto maior o tempo dedicado a esse processo, maior a qualidade da dispensação. Além do tempo, a habilidade e o conhecimento do farmacêutico pode interferir na qualidade do processo (GOKCEKUS et al., 2012).

Quando o farmacêutico é o único profissional do local, torna-se mais complicado realizar as atividades de gerenciamento e dispensação, mas, na maioria das farmácias, existem outros profissionais, como os técnicos que podem auxiliar nestas atividades gerenciais e administrativas, inclusive no registro da movimentação de medicamentos controlados, sob supervisão do farmacêutico. Entretanto, para que o fato de delegar atividades gerenciais e administrativas tenha êxito, torna-se fundamental que o farmacêutico invista uma parte do tempo na educação continuada de sua equipe técnica, pois, dependendo do treinamento, os técnicos também estarão aptos a auxiliarem na dispensação, realizando o acolhimento dos pacientes, iniciando o processo de dispensação e selecionando aqueles que necessitam do atendimento farmacêutico (ANGONESI; RENNÓ, 2011).

Uma pesquisa realizada em 2007, na cidade de Fortaleza-CE, demonstrou que a maioria dos farmacêuticos, durante o processo de dispensação, não coletam informações consideradas essenciais para prevenir o surgimento de agravos durante a utilização dos medicamentos. Além disso, o mesmo estudo identificou que, em 97% dos atendimentos, os pacientes não tomam a iniciativa de questionar, colaborando para transformar o processo de dispensação em mera entrega de medicamento, aumentando o risco de uso inadequado dos medicamentos (ARRAIS et al., 2007).

Para transformar essa realidade, além de desenvolver habilidades de comunicação, torna-se fundamental construir uma relação de empatia para o usuário, tornando o processo de dispensação um procedimento eficiente. Além disso, o conhecimento sobre os medicamentos e as doenças é importante para o desenvolvimento de um processo de dispensação que contemple uma relação

de confiança e tenha como objetivo o uso racional de medicamentos. Diante disso, pode-se concluir que as lacunas de conhecimento contribuem para que o farmacêutico tenha dificuldades em prevenir, identificar e resolver os problemas relacionados à farmacoterapia e, consequentemente, exercer adequadamente sua atividade (GALATO et al., 2008).

Além da disponibilidade, da força de vontade e da presença de um pessoal qualificado e treinado, o farmacêutico responsável pela dispensação deve ter conhecimento técnico, habilidade de comunicação com pacientes e outros profissionais de saúde, além de liderança para coordenar a equipe de auxiliares. Além disso, torna-se fundamental a empatia aliada à formação humanística, sabendo acolher e ouvir o paciente (ANGONESI; RENNÓ, 2011).

Vale ressaltar que o Ministério da Saúde investiu na qualificação e capacitação dos farmacêuticos do SUS, nos últimos anos, porém torna-se necessário uma política para aumentar a formação e a qualificação de docentes e pesquisadores dessa área. A criação do Programa Nacional de Pós- Graduação em Assistência Farmacêutica e da Rede Brasileira de Assistência Farmacêutica e Vigilância de Medicamentos constituem iniciativas neste sentido.

Aliado a isso torna-se fundamental a inserção da área de Assistência Farmacêutica junto às agências de fomento, para facilitar a obtenção de recursos financeiros para a realização de pesquisas e consequente aumento e melhora da qualidade da produção científica.

As universidades precisam, também, assumir seu papel frente a sociedade e proporcionar uma formação mais adequada aos graduandos de Farmácia, participando de programas como o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde) e o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), além de fornecer estágios e ampliar a opção de disciplinas na área de Assistência Farmacêutica, como existe, atualmente, para as áreas de indústria e análises clínicas, permitindo aos farmacêuticos do futuro perceberem suas reais atribuições dentro do SUS, principalmente frente aos usuários e aos demais profissionais de saúde.

Entretanto, se pensarmos no setor público, torna-se fundamental que os concursos público, realizados pelas prefeituras municipais, sejam mais bem elaborados, com questões direcionadas para que sejam aprovados aqueles farmacêuticos que apresentam o perfil adequado para o trabalho no SUS. Muitos farmacêuticos aprovados nesses concursos são motivados apenas pelo salário, esquecendo que estão dentro das unidades de saúde para estimular a utilização racional do medicamento e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Um estudo demonstrou a desigualdade que existe entre os municípios brasileiros, apesar de o número de publicações científicas, relacionadas à área de Assistência Farmacêutica no Brasil, ter apresentado crescimento nos últimos anos. Esse fato pode ser evidenciado por meio de um rápido levantamento

bibliográfico junto a um sítio nacional de buscas de artigos científicos, disponível em: <www.scielo.br>, utilizando os descritores “Assistência Farmacêutica” e “Uso Racional de Medicamento” (OSORIO-DE-CASTRO et al., 2014).

Foram encontrados 68 artigos científicos publicados até 14/02/2013, sendo que 84% destes foram publicados a partir de 2008, confirmando as informações descritas anteriormente sobre o crescimento recente da produção científica nacional. Os periódicos Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences, Ciência & Saúde Coletiva, Cadernos de Saúde Pública e Revista de Saúde Pública foram responsáveis pela publicação de, aproximadamente, 70% desses artigos científicos.

Quando se divide essa produção científica pelas regiões brasileiras, observa-se que a região Sudeste apresenta 56% dos artigos publicados, seguida pelas regiões Sul (25%), Nordeste (12%) e Centro-Oeste (7%). A Região Norte não apresenta publicações científicas na área, demonstrando a desigualdade existente no país. Esses resultados ressaltam a necessidade da distribuição das informações sobre Assistência Farmacêutica e afins, para que o desenvolvimento igualitário seja alcançado em todas as regiões do país. Além disso, cerca de 85% dos artigos publicados foram desenvolvidos por pesquisadores alocados em instituições públicas, sendo necessário maior investimento do setor privado para o crescimento da área de Assistência Farmacêutica.

Apesar dos dados apresentados, a publicação nessa linha de pesquisa ainda não pode ser considerada consistente, quando comparada às áreas tecnológicas da Farmácia. A reduzida produção bibliográfica dificulta a divulgação das pesquisas em Assistência Farmacêutica e prejudica a capacitação dos farmacêuticos que atuam no SUS, principalmente aqueles que trabalham em municípios menores, distantes dos grandes centros, ou isolados, convivendo apartados da academia.

Storpirtis relatou, num editorial, publicado pela Brazilian Journal of

Pharmaceutical Sciences em 2013, que, considerando apenas os trabalhos sobre

Atenção Farmacêutica, inserida no contexto da Assistência Farmacêutica, esse mesmo periódico publicou 46 artigos nos últimos três anos, demonstrando um crescente interesse na disseminação dos resultados, o que pode favorecer o desenvolvimento e o reconhecimento da área.

Por outro lado, a análise de 58 artigos científicos obtidos a partir de uma pesquisa na base de dados, disponível em: <www.scielo.br>, utilizando os descritores “Atenção Farmacêutica” ou “Pharmaceutical Care”, mostrou que apenas nove tratavam-se de um estudo de Atenção Farmacêutica. Cerca de 85% das publicações utilizam esse descritor de forma inadequada, destacando a necessidade de melhorar a qualificação metodológica dos estudos brasileiros.

Pela análise dos trabalhos citados neste capítulo, pode-se afirmar que vários municípios ainda não estão preparados para iniciar as atividades de Atenção Farmacêutica, pois há uma carência de farmacêuticos no SUS, e, ainda

quando estes existem, geralmente estão focados na gestão. Portanto, cabe aos gestores estimular a capacitação de seus farmacêuticos para desempenhar de forma adequada a dispensação dos medicamentos, para depois avançar na direção da Atenção Farmacêutica e do manejo da terapêutica, ressaltando que enquanto o país não apresentar um sistema de saúde sedimentado, essa prática continuará acontecendo de modo isolado e em locais isolados (OSORIO-DE- CASTRO et al., 2014).

Segundo a análise do nosso grupo de pesquisa, para a implementação da Atenção Farmacêutica e do manejo da terapêutica por parte dos farmacêuticos, no Brasil, é necessário:

a) mudança de paradigma, ou seja, as tecnologias devem ser adequadas e baseadas no acolhimento e nas necessidades dos usuários. Esta mudança, não depende só da prática do farmacêutico, mas de todo o serviço, que deve estar empenhado no estabelecimento de uma relação de confiança e respeito mútuo entre o usuário e o provedor do cuidado, permitindo a superação das barreiras que impedem o estabelecimento do diálogo;

b) avaliar a capacitação e o perfil do profissional farmacêutico para esta nova atividade e, se necessário, desenvolver estratégias para prepará- los e treiná-los, partindo da pedra fundamental, pelo menos no plano estratégico, lançada nas novas diretrizes curriculares para os cursos de Farmácia que enfatizam a formação generalista (CHAUD et al., 2004; BRASIL, 1996; 2001b). O sistema formador deve aproveitar as modificações propostas para o farmacêutico generalista e e incluir, nos currículos dos cursos de Farmácia, treinamento clínico em ambulatórios, aprendizagem baseada em soluções de problemas, de modo a ampliar seus conhecimentos em fisiopatologia, medicamentos e terapêutica. Além do conhecimento técnico, a formação deve contemplar o desenvolvimento de habilidades de comunicação em linguagem adequada com a equipe de saúde e, principalmente, com o usuário;

c) criação e validação, social e econômica, de modelo tecnológico de Atenção Farmacêutica, o qual deve permitir, frente à nossa realidade, demonstrar ou não que os benefícios por ela proporcionados, ou seja, redução das reações adversas, das interações medicamentosas e dos agravamentos da patologia, devido a maior adesão ao regime terapêutico prescrito, tenham maior valor monetário do que os custos de sua implantação e manutenção. Em caso positivo, este seria o argumento decisivo para convencer os gestores dos serviços de saúde da necessidade e das vantagens da implantação do serviço de Atenção Farmacêutica.

Espera-se que a formação profissional, oferecida pelas Instituições de Ensino Superior, seja direcionada para promover a resolução dos principais problemas de ordem nacional. Assim, analisando de forma especial a profissão farmacêutica, observa-se que o Brasil apresenta várias limitações nas áreas da indústria farmacêutica, dos laboratórios de análises clínicas e da saúde pública, que poderiam ser superadas com a formação adequada desse profissional. Um exemplo prático dessas limitações é a reduzida produção de novos fármacos, que poderiam originar medicamentos nacionais, com menor custo para a população, melhorando a terapêutica, sobretudo das doenças negligenciadas.

Portanto, para que o farmacêutico brasileiro seja reconhecido em todas as suas áreas de atuação (indústria, laboratório de análises clínicas, farmácias, drogarias, unidades de saúde, hospitais etc.), torna-se imperativo modificarmos o processo de formação na graduação, permitindo que o acadêmico vivencie e conheça todas essas atividades, na teoria e na prática, pois só assim seremos reconhecidos como verdadeiramente profissionais da saúde.

Além disso, são poucos os programas de pós-graduação que apresentam orientadores atuando nessa área ou trabalhando com projetos de pesquisa que permitem a intersecção com a Assistência Farmacêutica. Essa carência, no país, favoreceu a formação inadequada de vários docentes que atuam na área. A reduzida produção científica da área marca também as dificuldades dos pesquisadores em obter financiamento junto às agências de fomento para desenvolver pesquisas. Os orçamentos para pesquisa sempre sofrem cuidadoso escrutínio e muitas vezes os custos associados a um estudo de campo em Assistência Farmacêutica não são valorizados pelas agências, com o consequente corte nos orçamentos pretendidos. O orçamento reduzido torna mais árdua a tarefa de desenvolver um projeto de pesquisa de qualidade, que possa favorecer uma publicação em periódico de impacto significativo, oportunizando, portanto, a leitura por um número maior de alunos, professores e gestores (OSORIO-DE- CASTRO et al., 2014).

Diante dessa realidade pode-se afirmar que os pesquisadores permanecem inseridos num ciclo desgastante de insucessos. As deficiências de formação dificultam a construção metodológica adequada de projetos de pesquisa. Para a concessão de financiamento as agências de fomento julgam, além do projeto em si, a produção científica do docente. Se essa não for considerada satisfatória, o financiamento do estudo é negado. Sem o financiamento, o docente não produz conhecimento e isso interdita a publicação científica.

Uma das críticas mais relevantes que os pesquisadores da área recebem dos pareceristas das agências de fomento nacionais, quando têm suas propostas de solicitação de auxílio negadas, são referentes à relevância dos objetivos e das metodologias propostas nos estudos. Muitos avaliadores ressaltam que a

maioria dos projetos apresentam características semelhantes aos serviços de extensão à comunidade, ao invés de serem caracterizados como pesquisa.

Em adição às dificuldades metodológicas frequentes, destaca-se que essa área ainda não se encontra consolidada nas agências de fomento, podendo ser considerada com posição discreta nos comitês avaliadores, responsáveis pelo julgamento e pela concessão de projetos. Os projetos de pesquisa encaminhados para avaliação muitas vezes recebem parecer de pesquisadores que, apesar de demonstrar algum conhecimento sobre Farmácia Clínica e áreas afins, atuam em outro campo. Ainda que tenha havido certo avanço dentro das agências, existem dificuldades em face da produção científica reduzida, comparada a outras áreas da Farmácia e da Saúde Coletiva, já sedimentadas (OSORIO-DE-CASTRO et al., 2014).

Assim, é fundamental que a melhoria da formação rompa com esse ciclo perverso, indicando aos pesquisadores dessa área a necessidade de serem criativos e preparados cientificamente, capazes de propor estudos metodologicamente bem delineados e relevantes para a sociedade, com custo aceitável ao financiador e consistente com o projeto. Ao contrário de outros países nos quais a Farmácia Clínica está consolidada, no Brasil, o processo ainda está em fase de implantação, normatização e padronização. Este fato acaba por influenciar também as publicações. Os periódicos que apresentam maior impacto são internacionais, sendo que muitas dessas revistas não se interessam por artigos que descrevem etapas gerenciais ou de enfoque social do processo. Essas revistas estão mais voltadas para os resultados clínicos, ainda não consolidados no Brasil de modo geral. É inegável, ainda, lembrar o chamado “viés de publicação”, um certo “preconceito” com relação aos autores de países em desenvolvimento, que falam de temas pertinentes ao desenvolvimento e que nem sempre são valorizados no exterior (OSORIO-DE-CASTRO et al., 2014).

Normalmente, o autor com maior número de publicações tem a chance de publicar mais. Por isso, um possível caminho para a consolidação das publicações dessa área seja a realização de parcerias entre instituições de ensino e pesquisa, além do desenvolvimento de projetos multicêntricos. Nessas oportunidades, apresenta-se a possibilidade de publicar em periódicos conceituados e partilhar os ganhos acadêmicos gerados pelas publicações, fortalecendo a área.

Por outro lado, apesar das revistas internacionais apresentarem excelente impacto para pesquisadores, universidades e instituições de pesquisa, geralmente elas não alcançam o público alvo da ponta, ou seja, os gestores e os profissionais. A língua inglesa é considerada uma necessidade comum e acessível nos dias de hoje; entretanto muitos ainda não a dominam completamente e preferem a leitura profissional na língua portuguesa. Assim, argumenta-se que as revistas nacionais teriam maior aceitação e até mesmo melhor impacto na publicação de resultados de pesquisas dessa área, pois teriam maior probabilidade de chegar aos gestores do país.

A deficiência de docentes preparados e titulados nessa área pode ser evidenciada pela quantidade de concursos públicos realizados nos últimos anos. Nesse sentido, a própria Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP), contratou, em meados de 2004, o primeiro docente para implantar a disciplina de Farmácia Clínica & Terapêutica na sua grade curricular. Essa disciplina obrigatória funciona com uma carga horária semestral de quatro créditos (60 horas) para todos os acadêmicos do quarto ano, e baseia-se na problematização como modelo de ensino, permitindo o aprendizado por meio das reflexões e do estudo de caso. Em adição, foi implantada uma disciplina eletiva de Farmácia Clínica prática, em que uma turma reduzida de alunos acompanha pacientes internados na Enfermaria da Neurologia do HCFMRP-USP.

Em muitas universidades, principalmente aquelas do setor privado, essa disciplina ainda é inexistente ou ministrada por um docente não preparado de forma adequada, que geralmente atua na área da farmacologia básica. Esse fato interfere na formação de graduandos, dificultando a expansão da área, como discutido anteriormente.

No Brasil, a Farmácia Clínica aproveitou o sucesso da Atenção Farmacêutica para buscar sua sedimentação, ficando clara a necessidade da formação clínica para a qualidade do acompanhamento farmacoterapêutico. Assim, a Atenção Farmacêutica vem sendo discutida e encaminhada junto às instituições de saúde e de educação como uma das diretrizes principais para redefinição da atividade farmacêutica no Brasil, embora, nas condições específicas da realidade brasileira, ainda restem algumas questões a serem enfrentadas na transposição desse referencial, principalmente no SUS, onde a garantia do acesso ao medicamento ainda se constitui o principal obstáculo a ser transposto pelos gestores. Dessa forma, as farmácias perderam o “status” de estabelecimento de saúde e passaram a ser considerados estabelecimentos comerciais (setor privado) ou depósitos de medicamentos (setor público), afastando o farmacêutico da atividade primária, ou seja, a dispensação dos medicamentos e, consequentemente, dos pacientes.

Para que a farmácia retorne à atividade de estabelecimento de saúde, desempenhando uma importante função social e tendo o farmacêutico como líder, torna-se necessário investir na formação que resulte na melhoria do atendimento e, consequentemente, na conscientização da população para o uso correto dos medicamentos. Para isto, o farmacêutico deve possuir o conhecimento teórico, aliado à habilidade de comunicação nas relações interpessoais (CHAUD et al., 2004).

Como pano de fundo dessa problemática, encontra-se o afastamento dos farmacêuticos da equipe de saúde, dando início à crise profissional com progressiva perda de espaço. Nos Estados Unidos, o farmacêutico comunitário que atua na dispensação, também perdeu sua importância junto à população devido

à liberalização do mercado e das vendas de medicamentos pelo correio, além da ampliação da lista dos medicamentos de venda livre (PERETTA; CICIA, 1998).

Nesse sentido, observa-se também que o país necessita de um farmacêutico preparado para o manejo da terapêutica, acostumado a trabalhar de forma integrada, aproximando-se dos pacientes e dos demais profissionais da