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O governo Dantas e a modernização conservadora:

No documento MARILEIDE SILVA GOMES (páginas 40-44)

CAPÍTULO 2 MODERNIDADE, MODERNIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO:

2.2. O governo Dantas e a modernização conservadora:

Podemos dizer que o Acre na década de 70 era predominantemente rural, e mesmo com a crescente decadência da produção de borracha pode-se afirmar que os acrianos viviam de forma tradicional, e numa visão progressista o Acre era atrasado e arcaico. Esse era o olhar institucional de Dantas em relação a região acreana.

A tônica do momento era industrializar, mas para isso era preciso criar uma infra- estrutura que tornasse viável a implantação das indústrias, de forma que acelerasse a produção tanto para abastecer o consumo interno quanto para exportação. O primeiro passo era atrair os investidores, oferecer vantagens a estes, visto que o desenvolvimento do Acre era necessário e urgente, e para se concretizar esse ideal carecia desenvolver a mentalidade empresarial notadamente junto ao empresariado.

Primeiramente era indispensável modernizar a incipiente estrutura administrativa do Estado, trazendo novas formas de administração, novos métodos e criando uma nova concepção. Dantas em seu relatório ao presidente Geisel explicita essas mudanças que segundo ele seriam responsáveis por igualar o Acre com as comunidades desenvolvidas

Uma nova consciência geradora e responsável por uma mentalidade de comportamento social integral se esboça e assume princípios, normas e diretrizes que, inevitavelmente, fixarão na paisagem humana e administrativa deste Estado um tipo de sociedade que nos alçará a uma posição de igualdade com as comunidades em franco e acelerado estágio de desenvolvimento (O RIO BRANCO, 1974, p. 01).

Para a arrancada do desenvolvimento acreano, Dantas faz reivindicações junto ao governo federal, solicitando a isenção do Imposto sobre Produtos Importados (I.P.I) para atrair as indústrias, visto que as que se instalaram na região não gozavam dos mesmos privilégios e nem tinham as mesmas facilidades que se oferecia em outros estados. Em relação ao crédito, por exemplo, Maria Maia Oliveira (1996, p. 118) ressalta que apesar dos incentivos à industrialização, o Acre tinha certa desvantagem. O BASA que executa a política creditícia na Amazônia exerce uma atuação diminuta na aplicação de recursos, com o agravamento da demora na tramitação dos processos, que são analisados em Belém dificultando assim o acompanhamento por parte principalmente dos pequenos empresários.

A preocupação de Dantas com a instalação de empresas como indústrias para a exploração de madeira e criação de gado de corte era visível, em suas muitas viagens para angariar recursos para o Estado, e intervêm junto ao governo federal aos ministérios e a SUDAM a favor de empresários

Na capital paraense, na reunião do conselho deliberativo da SUDAM, Wanderley Dantas debateu projetos da Coloama, para implantação na área acreana, compreendendo colonização, exploração de madeira para consumo interno e exportação, agropecuária e plantação de seringueiras (O RIO BRANCO, 1974, p. 01)

Dantas defendia obstinadamente a implantação de uma infra-estrutura e condições vantajosas para a implantação de indústrias, insistia para que os benefícios da Zona Franca de Manaus se estendessem em toda a sua plenitude a Rio Branco. Apresentou em Brasília, junto ao Ministério de Minas e Energia a “necessidade de apressamento de uma hidrelétrica para atender à demanda de energia do Acre e a implantação de indústrias” (O RIO BRANCO, 1974, p. 01).

É importante ressaltar que mesmo tendo sido aumentado a capacidade dos geradores de energia no Governo de Dantas de 6.000 para 9.000 KW, esta ainda se mostrava obsoleta. A falta de energia se torna motivo de crítica por parte até do Jornal “O Rio Branco”, que na época era incontestavelmente um jornal à favor do Governo. A oposição na pessoa do deputado Nabor Junior denuncia as taxas exorbitantes cobradas pela Companhia de Eletricidade e critica o aumento 40

extraordinário da taxa de consumo, pedindo para que sejam colocados medidores nas residências para acabar com a cobrança aleatória (O RIO BRANCO, 1974, p. 01). O próprio Dantas reconhece a deficiência no abastecimento de energia no estado. No relatório ao presidente Geisel anteriormente citado, Dantas solicita à Eletrobrás apoio técnico e financeiro à Eletroacre visando:

substituir parte do sistema estadual de geração, sustentada por caldeiras aquecidas à lenha. Tomadas essas providências seriam criadas condições para o melhor aproveitamento industrial rentável dos recursos naturais e o pronto atendimento à demanda de energia elétrica (O RIO BRANCO, 1974, p. 3).

Além do empenho sem êxito de Dantas para industrializar o Acre, o DIRB (Distrito Industrial de Rio Branco) só veio a ser consolidado em 1975, no Governo de Geraldo Mesquita, vale ressaltar que a implantação do DIRB fazia parte das metas de Dantas e era um dos assuntos que o levava sempre à Brasília. Ainda em 1973, em reunião com o ministro da Indústria e do Comércio Pratini de Moraes, debateu a implantação do futuro parque industrial acreano (O RIO BRANCO, 1973, p. 1).

Outra preocupação de Dantas foi reorganizar o planejamento para que o Estado tivesse maior controle sobre as atividades desenvolvidas, o planejamento carecia ainda de pessoal técnico especializado, que foi suprido na medida do possível, passando de três em 1971 para dezenove em 1974, e foi contratada uma empresa de consultoria especializada para subsidiar a secretaria de planejamento.

Para modernizar o Acre, era preciso investir em segurança, visto que a filosofia que fundamentava o Estado era “Segurança e Desenvolvimento”. Para isso foi implantado em 31 de março de 1974, a Polícia Militar do Estado do Acre que substituiu a velha Guarda Territorial. De acordo com Dantas o surto de desenvolvimento pelo qual passava o Acre exigia medidas de segurança mais eficientes (ACRE, 1975, não paginado), foram realizados cursos de formação de soldados, operação da selva e ação de comando entre outros, tudo isso visando garantir um melhor desempenho por parte do “braço armado” do Estado na sua função de manter a ordem e a proteção das classes dominantes.

Outro projeto de Dantas, que é também uma instituição típica de sociedades modernas era a criação de um novo presídio. Segundo o jornal O Rio Branco (1974, p. 1) ao voltar de Brasília o governador informou ter firmado convênio com o Ministério da Justiça “para a construção de uma penitenciária em Rio Branco, dentro

dos modernos padrões oficiais”. No entanto, o novo presídio só veio a ser implantado na gestão de Joaquim Macedo, sendo inaugurado em 1983, em substituição ao antigo presídio Evaristo de Moraes.

A partir do exposto acima, pode-se perceber que Dantas criou as bases para a implantação da modernidade, ou do “Novo Acre”, como costumava chamar. Ele explica não ter concluído todas as metas de seu governo por diversos fatores, como o isolamento e a falta e recursos, mas que essa árdua tarefa ficaria sob a responsabilidade dos governantes que o sucederia (ACRE, 1975, não paginado). No entanto podemos caracterizá-la uma modernização conservadora, autoritária e conflituosa, visto ter colaborado ainda mais para a concentração de terras e também para a concentração de renda nas mãos de poucos em detrimento do empobrecimento das classes subordinadas e a crescente miséria destas, aguçando os problemas sociais com o crescimento urbano desordenado, pois que os conflitos pela posse da terra resultaram na constituição das periferias de Rio Branco, que foram ocupadas por pessoas que não possuíam nenhuma qualificação profissional, além das atividades extrativistas. Esses trabalhadores oriundos do campo foram obrigados a se instalar em ambiente estranho para o qual não estavam moldados.

CAPÍTULO 3 OS EFEITOS SOCIAIS DO GOVERNO DANTAS PARA A CIDADE

No documento MARILEIDE SILVA GOMES (páginas 40-44)

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