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MARILEIDE SILVA GOMES

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

CENTRO DE FILOSOFIA E CIENCIA HUMANAS

CURSO DE BACHARELADO EM HISTÓRIA

MARILEIDE SILVA GOMES

O GOVERNO WANDERLEY DANTAS E A CONSTRUÇÃO DA

MODERNIDADE NO ACRE (1971-1974)

RIO BRANCO

2011

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MARILEIDE SILVA GOMES

O GOVERNO WANDERLEY DANTAS E A CONSTRUÇÃO DA

MODERNIDADE NO ACRE (1971-975)

Monografia apresentada

como requisito para

a conclusão do Curso de Bacharelado em

História pela Universidade Federal do Acre.

Orientadora: Profª. Drª. Maria José Bezerra

Rio Branco

2011

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GOMES, M. S., 2011.

GOMES, Marileide Silva. O Governo Wanderley Dantas e a construção da modernidade no Acre (1971-1975). Rio Branco: UFAC, 2011. 62f.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da UFAC.

Marcelino G. M. Monteiro – CRB 11ª - 258

G633g Gomes, Marileide Silva, 1982 -

O Governo Wanderley Dantas e a construção da modernidade no Acre (1971-1975) / Marileide Silva Gomes --- Rio Branco : UFAC, 2011.

62f : il. ; 30cm.

Monografia (Graduação em História) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Acre.

Orientador: Profª. Drª. Maria José Bezerra. Inclui bibliografia

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MARILEIDE SILVA GOMES

O GOVERNO WANDERLEY DANTAS E A CONSTRUÇÃO DA MODERNIDADE NO ACRE (1971-975)

Monografia apresentada como requisito para a conclusão do Curso de Bacharelado em História pela Universidade Federal do Acre sob a orientação da Profª. Drª. Maria José Bezera. Monografia defendida e aprovada em 19/04/2011

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________

Orientador: Profª. Drª. Maria José Bezerra

___________________________________________

Membro: Prof. Dr. Airton Chaves da Rocha

___________________________________________

(5)

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à professora Drª. Maria José Bezerra pela orientação e dedicação que tornou possível a realização desse trabalho.

Agradeço também ao professor Dr. José Dourado de Souza, pelo tempo dedicado à coorientação, pelos livros e documentos cedidos, e por mostrar os primeiros caminhos teóricos e práticos de como realizar a pesquisa.

Ao meu namorado pela paciência, a minha mãe Maria Carneiro pelo incentivo e apoio. A minha filha Elen pelo amor incondicional.

Por fim, agradeço aos colegas de curso pelas discussões, assim como aos professores que de alguma forma auxiliaram na realização desse trabalho.

(6)

RESUMO

Este estudo trata das políticas implantadas no Acre durante o governo de Wanderley Dantas, e tem por objetivo principal analisar a construção da modernidade conservadora implantada durante este governo no estado do Acre, destacando as implicações sociais, econômicas e culturais. Esse período foi relevante na nossa história, pois acarretou várias mudanças na organização sócio-espacial, desta forma, neste trabalho discuto o conceito de modernidade construído nos tempos modernos a partir de uma lógica capitalista. A expansão da fronteira capitalista na Amazônia teve as suas especificidades, no caso do Acre, a implantação do modelo desenvolvimentista, foi impactante ao alterar o modo tradicional de vida de migrantes da área rural que forjaram diversas formas de resistência para reconstruir suas vidas na cidade.

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ABSTRACT

This study deals with policies implemented in Acre during the administration of Wanderley Dantas, and its main objective is to analyze the construction of modernity deployed during this conservative government in the state of Acre, highlighting the social, economic and cultural. This period was important in our history, it brought many changes in socio-organization space, so, in this work I discuss the concept of modernity constructed in modern times that comes from a capitalist logic. The expansion of the capitalist boundary in the Amazon had its specific characteristics, in Acre's case, the implantation of the developmental model, was striking when it changed the traditional way of migrants' life from rural areas who forged various forms of resistance to rebuild their lives in the city.

Keywords: Capitalist Expansion; Modernization; Representations.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO: 08

CAPÍTULO 1 O GOVERNO DANTAS E A EXPANSÃO DA FRONTEIRA CAPITALISTA NO ACRE:

13

1.2. O Projeto Oeste e a modernização do Acre: 15

1.2. Os Planos Nacionais de Desenvolvimento e o programa de governo de Wanderley Dantas:

21

CAPÍTULO 2 MODERNIDADE, MODERNIZAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO:

30

2.1. O modelo político econômico pós 64 os e as políticas desenvolvimentistas do Brasil:

35

2.2. O governo Dantas e a modernização conservadora: 39

CAPÍTULO 3 OS EFEITOS SOCIAIS DO GOVERNO DANTAS PARA A CIDADE DE RIO BRANCO:

43

3.1. A formação da periferia de Rio Branco: 44

3.2. Os impactos no modo tradicional de vida dos migrantes: 49

CONSIDERAÇÕES FINAIS: 57

(9)

INTRODUÇÃO:

Através desse trabalho procuro trazer uma discussão sobre a implantação da modernidade no Acre, no governo de Francisco Wanderley Dantas, partindo do pressuposto de que Dantas ao assumir o governo estava de acordo com a política da ditadura militar para a Amazônia, disposto a romper com o modo tradicional de vida da população acreana, desarticulando as relações sociais existentes em nome do progresso e do desenvolvimento econômico, ou seja, da abertura das fronteiras da região à expansão capitalista.

A implantação da modernidade no Acre no governo de Dantas está atrelada à política de desenvolvimento do regime militar para a região Amazônica, e pretendia superar a crise da economia extrativista que se encontrava estagnada desde o fim da Segunda Guerra Mundial. A idéia de modernização trazia consigo diversas mudanças na estrutura da sociedade acreana. Segundo o pensamento vigente, era preciso superar os entraves ao progresso e ao desenvolvimento do país, indo de encontro aos obstáculos que eram postos pela existência de uma ordem tradicional. Este processo, calcado na urbanização e na industrialização, contrapunha o moderno ao arcaico, a cidade ao campo. Neste sentido, o campo era percebido como o sinônimo de atraso. Era de fundamental importância torná-lo altamente produtivo, em função das necessidades impostas pela expansão do sistema capitalista. O programa governamental para ocupação da região apresentava-se em harmonia não apenas com o desenvolvimento de atividades lucrativas, mas também com a política da segurança nacional, que via na Amazônia uma “área de perigo”. Desta forma os militares se encarregaram de propagar que a região era uma ameaça à soberania nacional, e empenharam-se em criar condições para atrair investimentos estrangeiros, atrelando-os aos interesses da elite brasileira.

Tal política mostra-se de acordo com uma estratégia firmada através do binômio desenvolvimento/segurança, que ficou conhecida como Ideologia da Segurança Nacional forjada em benefício da expansão do sistema capitalista, e reprimindo qualquer posição contrária a este. De fato, a política adotada pelos governos militares insere-se em um projeto pautado pela associação entre o capital nacional e estrangeiro.

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Ressaltando o caso do Acre, que apesar de está inserido na política de modernização para a Amazônia, tem suas peculiaridades. No presente trabalho abordamos a construção da modernidade no Acre durante o governo de Dantas destacando o inevitável rompimento com o modo de vida tradicional da população acreana, na perspectiva de investigar o comprometimento de Dantas com o projeto de desenvolver o Acre de acordo com o plano de desenvolvimento da ditadura militar para a Amazônia.

Convém mencionarmos que também é objeto do estudo realizado analisar os horizontes que Dantas se propôs a alcançar através do desenvolvimento do plano de governo que pôs em prática, relacionando as diversas ações e medidas desencadeadas pelo poder estatal para as mudanças radicais ocorridas durante o seu governo, tendo em vista que as transformações ocorridas podem ser vistas na economia local, que passou do extrativismo falido para a implantação das fazendas de gado, destruindo a relação do homem com a terra num processo de expropriação e proletarização de índios e seringueiros, bem como de levas de migrantes vindos de outras regiões.

Portanto, a pesquisa realizada está centrada na análise da construção da modernização conservadora implantada durante o governo Wanderley Dantas no Estado do Acre, destacando as implicações sociais, econômicas e culturais. Neste contexto também apresentamos uma discussão acerca dos conceitos de modernidade, modernização e desenvolvimento analisando as articulações entre os programas nacionais de desenvolvimento e as políticas estaduais e a expansão da fronteira capitalista na Amazônia sul-ocidental, demonstrando os efeitos sociais da política de modernização implementada pelo governo Dantas, no que se atém ao crescimento desordenado da cidade de Rio Branco destacando a carência de infra-estrutura para atender as necessidades dos migrantes e as implicações no modo tradicional de vida desse segmento social.

O interesse em realizar essa pesquisa está relacionado primeiramente à sua singular importância política e social e, digo política não no sentido de resgatar grandes nomes, mas com a compreensão de que as classes sociais oprimidas também têm sua participação na política, e nesse caso de forma bem pertinente, porque as massas apesar de manipuladas desenvolvem um papel ativo nas relações sociais, portanto na política.

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Neste sentido, o tema proposto é relevante porque contribui para a compreensão de problemas existentes até hoje na sociedade acreana, particularmente na forma como está distribuída as terras, as formações dos grandes latifúndios e fazendas de gado, e a formação da periferia de Rio Branco decorrente dessa ocupação desordenada, ou seja, o homem do campo foi expulso das florestas e sem meios para sobreviver na cidade começou a optar pela violência e prostituição como forma de resistência. Todo esse emaranhado de acontecimentos tiveram sua gênese no marco temporal do estudo realizado, mais especificamente tudo isso foi conseqüência da política governamental de Wanderley Dantas.

O tema objeto deste trabalho não é complementarmente novo, a implantação da modernidade no Acre já foi estudada por outros autores e em outros períodos de nossa história, como por exemplo, na época do governador Hugo Carneiro e também de José Guiomard dos Santos, porém o período estudado assinala um novo momento, ou seja, uma reabertura das fronteiras do Acre para o capital e sua expansão, com implantação de uma infra-estrutura que a favoreceu.

Neste sentido destaca-se a propaganda desencadeada pelo governo para atrair investidores, empresários e fazendeiros, tendo como objetivo integrar a região economicamente ao Centro-Sul do país, tendo em vista que a abertura de estradas proporcionaria a efetivação dessa integração, mas também não podemos esquecer a grande leva de miseráveis, pessoas desempregadas e exploradas que foram seduzidas a vir para o Acre em busca de melhores condições de vida, enganadas pela promessa de terras férteis, baratas e desocupadas. Porém ao contrário do que se prometia, ao chegarem aqui se depararam com uma realidade totalmente diferente, houve famílias que foram assentadas pelo INCRA, mas a maioria foi destinada a trabalhar nas fazendas de gado e construções de estradas, pontes e serviços assemelhados. Ou seja, tanto empresários, como o estado precisavam de mão-de-obra barata.

Compreender essas mudanças no seio da sociedade acreana nos remete também a refletir sobre o momento atual, quando esse mesmo discurso modernizador é defendido pelos atuais dirigentes do Estado do Acre, ou seja, a história “se repete”, e é exatamente para não cometer os mesmos erros que precisamos resgatar o passado e procurar tomar decisões que estejam comprometidas com a construção de um mundo melhor. A história é construída pelo povo e, mais uma vez vale

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ressaltar que este não se constitui agente passivo nas mãos das classes dominantes, e isso deve ser transmitido à sociedade para uma tomada de consciência.

O governo de Dantas foi recheado de enormes mudanças na organização econômica e social do Acre, podendo ser considerado um marco da história acreana. Portanto, é propósito desta pesquisa contribuir para uma melhor compreensão da concepção de modernidade implantada no Acre durante a gestão de mencionado governante, destacando suas conseqüências e os sujeitos sociais afetados por ela, direta ou indiretamente.

Para “dar conta do tema”, conforme as problematizações e os objetivos direcionadores do processo investigativo, pesquisei em diversas fontes, tais como: jornais, arquivos do governo, boletins, além de entrevistar oralmente pessoas que vivenciaram esses acontecimentos, bem como fizemos uso de uma vasta bibliografia referente a expansão da fronteira capitalista na Amazônia durante a ditadura militar.

A este respeito convém mencionarmos que a tarefa de levantamento e coleta de dados foi árdua, porém gratificante, muitos percalços foram encontrados pelo caminho, notadamente quanto a falta de recursos e até mesmo de tempo para as leituras necessárias a verticalização do estudo do tema proposto.

Assim sendo, pesquisamos nos arquivos do CDIH, Museu da Borracha, Patrimônio Histórico e Cultural nos quais consultamos os jornais “O Rio Branco”, de 1969 a 1975; e “Varadouro”, 1977 a 1981 e; o Boletim “Nós Irmãos”, 1970 a 1977. Ainda foram consultados artigos de internet, teses e monografias na biblioteca da UFAC, relatórios e programas de governos, além de bibliografias específicas ao tema, conforme as delimitações.

O texto da monografia está dividido em três capítulos: o primeiro trata de expansão capitalista para a Amazônia enfatizando os planos nacionais de desenvolvimento e fazendo a sua inter-relação com o plano de governo de Wanderley Dantas para o Acre – Projeto Oeste – no que se refere às medidas modernizantes planejadas e implementadas na região acreana.

O capítulo dois apresenta uma discussão acerca da modernização do Estado brasileiro dentro de uma lógica capitalista, enfatizando as dimensões do Estado moderno. É realizada ainda nesse capítulo a contextualização da instauração da

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ditadura militar no Brasil, as reformas implantadas por esta e seus reflexos no estado do Acre.

No terceiro capítulo apresentamos uma análise dos efeitos sociais e econômicos, ou seja, as conseqüências das políticas modernizantes implantadas por Dantas durante sua gestão e as formas de resistências desenvolvidas pelos sujeitos sociais envolvidas nesse processo, destacando que representações estas pessoas construíram sobre a expropriação sofrida e a imposição de viver na cidade, dando ênfase as suas práticas sociais e culturais.

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CAPÍTULO 1 O GOVERNO DANTAS E A EXPANSÃO DA FRONTEIRA CAPITALISTA NO ACRE:

Abordar a expansão da fronteira capitalista no Acre durante o governo Dantas implica necessariamente em contextualizar historicamente o modelo político e econômico formulado pelos militares para a Amazônia pós 1964.

Os planos nacionais de desenvolvimento - PND I (1972-1974) e PND II (1975-1979) propunham o desenvolvimento da Amazônia pautado numa lógica de segurança nacional e ocupação, e para isso foram criados diversos programas e órgãos de apoio para que fossem efetivados.

Os instrumentos de intervenção criados pelo governo militar que ficou conhecido como “Operação Amazônia”, visava “modernizar a economia regional de acordo com relações tipicamente capitalistas” (REGO, 2002, p. 289) além de estimular a ocupação da Amazônia através do deslocamento de excedentes populacionais e da implementação de uma política de imigração.

Importante, assinalar também que dentre os órgãos criados para viabilizar o desenvolvimento da Amazônia que tiveram maior relevância para o Acre destacam-se:

• a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), criada em 1966, e tinha como objetivo coordenar e supervisionar, além de elaborar e executar programas e planos para a região (RÊGO, 2002, p. 290);

• a reformulação do Banco de Crédito da Amazônia que passou a ser Banco da Amazônia S/A (BASA), passando a atuar como agente financeiro do Governo Federal na Amazônia (RIBEIRO, 1993, p. 14);

• o Programa de Integração da Amazônia (PIN), tendo como objetivo a construção da Transamazônica e a colonização em torno desta, assim como o mapeamento dos recursos naturais da região através do projeto RADAM1(RÊGO, 2002, p. 293);

• o Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agroindústria do Norte e do Nordeste (PROTERRA), que foi criado para dar apoio ao pequeno produtor e implantar projetos agrícolas para incentivar a agroindústria nas

1

Radar na Amazônia, criado em 1970 pelo Ministério de Minas e Energia.

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regiões Norte e Nordeste, facilitando assim a implantação da empresa agrícola (RÊGO, 2002, p.295);

• o Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA), criado em 1970, que atuava na ocupação da região, seja através da desapropriação de terras para a reforma agrária, da implantação e aprovação de projetos de colonização oficiais e particulares, ou mesmo pelo estímulo à agropecuária, atraindo pequenos e médios empresários rurais (CARDOSO; MÜLLER, 1977, p. 123) . No Acre o INCRA só foi implantado em 1972;

• o Programa de Pólos agropecuários e Agrominerais da Amazônia (POLAMAZONIA) que tinha a finalidade de promover a exploração das potencialidades agropecuárias, agroindustriais, florestais e minerais da Amazônia (RÊGO, 2002, p. 295).

Todos esses programas e instituições foram criados com o objetivo de viabilizar o desenvolvimento da Amazônia através da integração com as outras regiões do País, permitindo a exploração dos recursos naturais e criando condições e incentivos para atrair investimentos, assim como estimular o deslocamento do excedente populacional das regiões Sul e Sudeste para ocupar os espaços “vazios” na Amazônia e conseqüentemente no Acre, que é o espaço alvo da investigação histórica realizada.

Vale ressaltar que mesmo após a desativação dos seringais e a estagnação da economia gomífera no pós Segunda Guerra, as terras no Acre não se encontravam abandonadas, eram povoadas por posseiros, índios, seringueiros e ribeirinhos.

Dentre os motivos que ocorreram para a falência da economia gomífera temos: o fim da exportação com o término da II Guerra em 1945, visto que a borracha produzida na Amazônia não teve condições de concorrer com os seringais do Oriente e; o corte do financiamento pelo BASA aos seringalistas, que em sua maioria já estavam endividados com o banco, sem condições de concorrer no mercado internacional, devido as atrasadas técnicas de produção empregadas nos seringais amazônicos (SILVA, 1982, p. 44).

Com o processo de desativação dos seringais, muitos proprietários e seringueiros abandonaram os seringais. Porém os que ficaram passaram a dedicar-se a agricultura de subsistência e a criação de pequenos rebanhos, comercializando o 14

(16)

excedente de sua produção nos núcleos urbanos que começam a surgir. No entanto, a produção passou a ser destinada ao autoconsumo, sem nenhuma ligação com o mercado nacional ou estrangeiro. (CALIXTO; SOUZA; SOUZA, 1985, p. 201)

1.1. O projeto OESTE e a modernização do Acre:

Por se localizar em área de fronteira, o Acre trazia a possibilidade de se tornar um importante entreposto comercial. Através da abertura de estradas pretendia-se, naquela época, ligar o Acre ao Peru através da Estrada do Pacífico, bem como ao resto do País por meio da BR-364.

No entanto, reativar a economia local, em processo de estagnação devido à queda na produção do látex, implicava em atrair investidores para o Acre que tivessem interesse em desenvolver atividades ligadas à agropecuária e a indústria, consideradas básicas para o desenvolvimento da região.

Com o slogan “investir no Acre, produzir no Acre e exportar pelo Pacífico” Wanderley Dantas fez uma intensa divulgação das potencialidades do Acre no cenário nacional, na perspectiva de viabilizar a ocupação da região pelo capital.

Neste sentido, dentre as muitas vantagens para se investir no Acre, era propagandeado, principalmente no Centro-Sul, através do rádio e da televisão, que as terras do Acre eram férteis, baratas e “disponíveis”, além da concessão de incentivos fiscais. Um relatório enviado a Assembléia Legislativa pelo governador Dantas afirma que:

Criamos, nestes quatro anos, uma nova opção para o nosso desenvolvimento. Projetamos no resto do País, principalmente em seus grandes centros – Brasília, São Paulo, Rio – uma nova imagem do Acre [...] que produziu uma verdadeira mobilização para o nosso desenvolvimento. Desenvolvimento no qual vivemos nesses quatro anos [...] (ACRE, 1975, não paginado).

É importante ressaltar que a propaganda governamental não foi o motivo crucial que levou à corrida pelas terras do Acre, vários foram os fatores que desencadearam esse processo.

Em primeiro lugar deve-se considerar o processo de modernização da agricultura nas regiões Sul e Sudeste, que provocou a expropriação de pequenos produtores, dado que os incentivos estatais para a mecanização das técnicas empregadas na lavoura deram prioridade aos grandes proprietários, impossibilitando a resistência da pequena produção.

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Com base no exposto, Rêgo (2002, p.285) afirma que foi criado um excedente populacional nessas regiões, para aplacar os conflitos sociais, os pequenos produtores expropriados foram induzidos a migrar para a Amazônia, onde o preço das terras era relativamente baixo e com o dinheiro da venda de suas pequenas propriedades poderiam adquirir uma área bem maior. Esse fluxo migratório na década de 70 constituiu-se uma válvula de escape às pressões demográficas decorrentes da expansão capitalista.

Além dos incentivos fiscais, da propaganda do governo local e o baixo preço das terras, este último se mostra o fator mais importante na corrida pelas terras do Acre, visto que no período que vai de 1971 a 1975 o valor liberado na forma de incentivos fiscais para o Acre é inexpressivo, contabilizando apenas 0,78% do total liberado para a região, sendo assim a especulação fundiária foi fator determinante. Os compradores oriundos principalmente do Centro-Sul adquiriram vastas áreas esperando a valorização para revender com lucros extraordinários (SILVA, 1982, p. 45).

Analisando as políticas adotadas, torna-se evidente que uma das grandes prioridades do governo local para o desenvolvimento do estado eram as atividades agropecuárias, visto a necessidade de diversificar a economia acreana, diante do declínio de sua principal fonte de renda, a exploração da borracha.

Nessa perspectiva, foram criados programas para dar apoio à implantação da empresa agropecuária no Acre. O INCRA se instalou no Acre em 1972 para legalizar as terras e, foi criado também o Fundo de Expansão Agropecuária (FEAGRO), com o objetivo de garantir critérios e condições de financiamentos mais vantajosos para o produtor, além de racionalizar o emprego de recursos, através de planejamento e assistência técnica (ACRE, 1975, não paginado).

A partir do exposto, percebe-se que os governos (estadual e federal) não tinham interesse em reativar a economia gomífera, o que fica evidente quando o BASA corta os financiamentos destinados aos seringalistas.

Importante destacar que a Superintendência de Desenvolvimento da Borracha (SUDHEVEA), criada em 1967 pela lei 5.227, tinha o objetivo de ser o órgão executor de uma política da borracha no Brasil, por considerá-la um produto estratégico. A partir dessa ótica, o governo militar decide intervir na produção e no mercado do látex, com fins de conquistar a auto-suficiência em borracha natural (RIBEIRO; SILVA, 2009, p. 05).

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Nessa perspectiva, as atribuições da SUDHEVEA consistiam em dá assistência financeira para recuperar os seringais aumentando a produção, e em conjunto com o BASA objetivava estimular a implantação da cultura racional com a criação do seringal de cultivo, introduzindo tecnologias para encurtar o prazo de maturidade da seringueira, assim como a pulverização dos seringais para evitar o “mal das folhas”2 (COMISSÃO..., 1975, p. 67).

No entanto, mesmo depois tendo sido criado o PROBOR3, não foi desenvolvido nenhuma política que tivesse êxito na reativação da produção da borracha no Acre, oficialmente predominava o discurso que a pecuária poderia ser consorciada com outras atividades, inclusive com a borracha, mesmo a pecuária sendo maior consumidora de terra e menor consumidora de mão-de-obra, o Acre teria terras suficientes para todo tipo de trabalho (COMISSÃO..., 1975, p. 114).

Questionado por um universitário em relação à posição da SUDHEVEA referente à substituição dos seringais por campos de pastagens, em um debate ocorrido na Universidade Federal do Acre, onde estava sendo discutidos os planos e metas para os anos de 1975 a 1979, o superintendente da SUDHEVEA Sr. Estésio Guitton explica que a SUDHEVEA não pode interferir, pois vivemos em um país de economia liberal, onde o proprietário da terra tem liberdade para decidir o que fazer com ela, e se ele quiser transformar os seringais em pastagens, não tem como impedir (COMISSÃO..., 1975, p. 116).

No exposto acima, ficam claras as intenções do governo federal, representado pela SUDHEVEA, em substituir a economia gomífera, porque se tivessem sido oferecido condições mais vantajosas como foi para a mineração e para a agroindústria, obviamente que os donos de seringais teriam tido maior interesse em reativá-los. No caso do Acre, onde predominou a implantação da pecuária onde antes funcionavam os seringais, o governador Wanderley Dantas foi tido como principal fomentador dessas mudanças na economia.

Wanderley Dantas ao assumir o governo em março de 1971 afinado com a política desenvolvimentista dos governos militares adota um plano de metas estabelecido no programa de governo que ficou conhecido como Projeto Oeste, no qual ele pretende romper com o “atraso” anunciando um novo tempo para o Acre.

2

Doença causada pelo fungo microcyclus ulei, muito comum nos seringais sul-americanos.

3

Programa de Incentivo à Produção de Borracha Vegetal, criado em 1972 através do Decreto-lei nº 1.232.

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No Projeto Oeste Dantas define as linhas de atuação de seu governo, pautado na lógica de progresso que proporcione o desenvolvimento do homem. Em seu discurso Dantas aparentava acreditar que promovendo o desenvolvimento do estado através da abertura das fronteiras acreanas para a entrada do capital, propiciaria melhores condições de vida para a população acreana. Desta forma, procura romper com o modelo político-administrativo vigente no estado, o qual ele denomina “arcaísmo de formas” (PLANO..., [S. l.: s. d.], p. 23) e, também dinamizar a economia e melhorar as condições de vida da população acreana com a implantação de serviços básicos como, saneamento, saúde, educação, segurança, habitação, etc. Em outras palavras, Dantas procurou implantar a modernidade no Acre.

Para fundamentar melhor o entendimento do objeto de estudo torna-se necessário explicar algumas categorias conceituais, no que diz respeito a possibilidade de implantar a modernidade,ou promover a modernização de um espaço ou de uma comunidade, evidenciando o desenvolvimento humano.

Temos como marco do nascimento da era moderna numa visão ocidental, o rompimento com o antigo regime representado pelo sistema feudal, a ruptura da subordinação do Estado à igreja, da razão à fé, do homem a Deus, do misticismo à racionalidade. As novas descobertas desencadeadas com as grandes navegações e o Renascimento colocam a Europa Ocidental como centro gerador da modernidade, “porém é somente a partir das revoluções inglesas e francesa, que são efetivamente formados as instituições, o modo de vida, os valores, a cultura, posteriormente considerados modernos e que se consolidarão no século XIX” (SANT’ANA JÚNIOR, 2003, p. 408).

Ainda de acordo com Fagundez (2010, p. 22) a modernidade não pode ser entendida como um marco teórico ou estabelecida a partir de um recorte espacial-temporal, mas como uma constante renovação dos valores, revisão dos velhos conceitos e a construção de novos referenciais.

Todavia, a este respeito, Touraine (2002, p. 100) assinala que “este esgotamento da idéia de modernidade é inevitável, já que ela se define, não como uma nova ordem, mas como um movimento, uma destruição criadora [...]”.

O rompimento com a sociedade tradicional alicerçada na fé e na tradição passando a ser regida pela racionalidade é sem dúvida um avanço positivo. Por outro lado, “a

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modernidade traz uma visão fragmentada de mundo, e que cientificamente quer controlar a natureza, dominar os seus encantos e submetê-la aos seus anseios de riqueza” (FAGUNDEZ, 2010, p. 02).

Falar em modernidade no Acre pode parecer inconcebível se levarmos em conta a leitura do mundo moderno somente a partir do quadrante norte-ocidental europeu, considerando as outras sociedades como pré-modernas tradicionais ou antiquadas.

A modernidade é uma modalidade da experiência marcada pela ruptura para com a tradição, é o estado de coisas criado pelo advento do capitalismo, um produto da revolução burguesa que criou uma capacidade produtiva sem igual e abriu infinitas possibilidades para o desenvolvimento humano, segundo Berman:

Há uma modalidade de experiência vital – experiência do espaço e do tempo, do eu e dos outros, das possibilidades e perigos de vida – que é partilhada por homens e mulheres em todo o mundo atual. Denominarei esse corpo de experiência ‘modernidade’. Ser moderno é encontrar-se num ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, transformação de si e do mundo – e, ao mesmo tempo, que ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos. Os ambientes e experiências modernos cruzam todas as fronteiras da geografia e da etnicidade, da classe e da nacionalidade, da religião e da ideologia; nesse sentido, pode-se dizer que a modernidade une toda a humanidade. Mas trata-se de uma unidade paradoxal, uma unidade da desunidade; ela nos arroja num redemoinho de perpétua desintegração e renovação, de luta e contradição, de ambigüidade e angústia. Ser moderno é ser parte de um universo em que, como disse Marx, ‘tudo o que é sólido desmancha no ar’. (BERMAN, 1986, p. 15).

A modernização entendida como materialização da modernidade “é, sobretudo um processo técnico e econômico marcado pelo imperativo de renovação, tanto dos mecanismos produtivos como dos procedimentos administrativos utilizados na organização da vida coletiva” (RODRIGUES, 2010, não paginado).

Não obstante Berman afirma existir uma relação dialética entre modernidade e modernização, e enfatiza que no século XX, que ele classifica como a última fase da modernidade:

O processo de modernização se expande a ponto de abarcar todo o mundo, e a cultura se expande a ponto de abarcar virtualmente o mundo todo [...] atinge espetaculares triunfos na arte e no pensamento. Por outro lado, à medida que se expande, o público moderno se multiplica em uma multidão de fragmentos [...] a idéia de modernidade [...] perde sua capacidade de organizar e dar sentido à vida das pessoas. Em conseqüência disso, encontramo-nos hoje em meio a uma era moderna que perdeu contato com as raízes de sua própria modernidade (BERMAN, 1986, p 17).

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O desenvolvimento está atrelado à lógica da sociedade moderna, e para que ocorra efetivamente a modernização de uma cidade, Estado ou nação é necessário promover o seu desenvolvimento de forma integral, contemplando todos os aspectos da vida social, nessa perspectiva:

O desenvolvimento deve ser encarado como um processo complexo de mudanças e transformações de ordem econômica, política e, principalmente, humana e social. Desenvolvimento nada mais é que o crescimento – incrementos positivos no produto e na renda – transformado para satisfazer as mais diversificadas necessidades do ser humano, tais como: saúde, educação, habitação, transporte, alimentação, lazer, dentre outras (OLIVEIRA, 2010, não paginado).

No entanto para que o homem se desenvolva é necessário “a radical transformação de todo o mundo físico, moral e social em que ele vive” (BERMAN, 1986, p. 42). Partindo deste ponto de vista todo desenvolvimento tem um preço, um custo humano altíssimo onde quer que ele aconteça. Berman aponta as formas de desenvolvimento ocorridas nos países subdesenvolvidos onde:

Os planos sistemáticos para um rápido desenvolvimento significam em geral a sistemática repressão das massas. Isso tem assumido duas formas distintas embora não raro mescladas. A primeira forma significou espremer até a última gota a força de trabalho das massas [...] para alimentar as forças de produção e ao mesmo tempo reduzir de maneira drástica o consumo de massa, para gerar o excedente necessário aos reinvestimentos econômicos. A segunda forma envolve atos aparentemente gratuitos de destruição [...] destinados a não gerar qualquer utilidade material, mas a assinalar o significado simbólico de que a nova sociedade deve destruir todas as pontes, a fim de que não haja uma volta atrás. (BERMAN, 1986, p. 74-75)

Num primeiro momento, não pretendo afirmar que o Acre tenha sido modernizado durante o governo Dantas, mas sim discutir essa tentativa de modernização através da idealização de um projeto formulado pelos ideólogos e intelectuais que apoiavam a ditadura militar, num contexto marcado, essencialmente, pela ideologia da segurança nacional, que os autores de vertente marxista, definem como modernização conservadora visto que grande parte dos esforços do governo militar:

[...] foi no sentido de promover o processo de modernização da economia brasileira, contudo, uma modernização imposta de cima, sem participação popular, e excludente tanto em termos de classes e grupos sociais, quanto em termos regionais. Enfim, tratava-se de um processo de industrialização acelerada [...] marcado por profundas desigualdades econômicas, sociais e regionais. (SANT’ANA JUNIOR, 2003, p. 420).

Wanderley Dantas para adequar-se as diretrizes nacionais procurou desenvolver toda uma infra-estrutura que proporcionasse o desenvolvimento do estado através da abertura da fronteira acreana aos empresários que tivessem interesses em investir no Acre, apesar de ter realizado avanços significativos nas áreas como

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saúde, educação, distribuição de energia e outros serviços de extrema necessidade referentes a saneamento básico, distribuição de água, abertura de rodovias e estradas vicinais, construção de conjuntos habitacionais, instalação e fortalecimento do Serviço Social da Indústria (SESI), não priorizou a implantação de políticas que atendessem os interesses do enorme contingente de pessoas que ficou à margem dessa modernização.

O governo de Dantas pode ser considerado moderno no sentido de implantar a urbanização das cidades oferecendo o mínimo de infra-estrutura, assim como o uso racional das técnicas com a criação de suporte técnico à agricultura e à pecuária, para promover a integração da economia acreana ao restante do país e ao mercado internacional, através da abertura de estradas.

No entanto, se mostra retrógrado no que diz respeito ao elemento humano, pois ao invés de promover o desenvolvimento da sociedade acreana, através de seus feitos permitiu ainda mais a exploração das classes subalternas, levando-os ao que poderíamos chamar um estado de “barbárie”.

1.2 Os Planos Nacionais de Desenvolvimento e o Programa de governo de Wanderley Dantas:

Os governos militares pós-64 incumbidos de desenvolver uma política pautada na segurança e desenvolvimento nacional, criaram na década de 70 dois planos de desenvolvimento nacional (I PND e II PND).

O primeiro plano de desenvolvimento nacional (I PND, 1972-1974) foi elaborado no Governo Médici e era composto de grandes projetos para tornar possível a integração nacional através de investimentos colossais no setor de telecomunicações e nos transportes, com a abertura de extensos eixos rodoviários como a rodovia Transamazônica; a Cuiabá-Rio Branco e; a Cuiabá-Santarém; (PAULA, 2004, p. 87).

O segundo plano de desenvolvimento nacional (II PND, 1975-1979) desenvolvido no governo de Geisel, tinha como prioridades a implantação de indústrias de base - siderúrgica e petroquímica; autonomia em insumos básicos como metais, minérios, fertilizantes e defensivos agrícolas, papel e celulose; energia, com destaque para a indústria nuclear, a pesquisa do petróleo e a construção de hidrelétricas; desenvolvimento científico e tecnológico; aumento da ofertas de emprego; aumento

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da oferta de bens e a formação de mercados e ainda aumento da oferta de produtos para exportação e a formação do corredor de exportação (COMISSÃO..., 1975, p. 106).

O Projeto Oeste tinha como grandes prioridades as Operações de apoio; Educação; Saúde; Transporte e; Energia. As operações de apoio deveriam ser implantadas de modo a criar a infra-estrutura necessária ao desenvolvimento do Estado e contemplava os serviços de finanças, organização da máquina administrativa, comunicação, segurança, habitação, serviços sociais, turismo e pesquisa dos recursos disponíveis (PLANO..., [S. l.: s. d.], p. 15).

Em tese, o plano de ações do governo Dantas foi pensado de acordo com as diretrizes da política do governo federal para a Amazônia. No sentido de criar atrativos para que pudesse transformar o Acre num empório comercial.

Em linhas gerais, parte significativa do plano de governo foi posto em prática, houve certo avanço no que diz respeito aos setores considerados prioritários: energia, transporte, educação, saneamento, habitação e saúde.

Wanderley Dantas atribuía à insignificante expansão do setor industrial no Acre à escassez de energia elétrica, que tornava inviável a implantação de indústrias para explorar a matéria-prima local, dado os altos custos da instalação de fonte geradora própria, decorrente disso a indústria permanecia restrita ao semi-artesanato e a empreendimentos de pequena escala (ACRE, 1975, não paginado).

Com o objetivo primeiro de viabilizar a implantação de indústrias, foi ampliada a capacidade das usinas geradoras bem como a implantação de grupos geradores nos municípios que não dispunham desse serviço, somando a isso a reformulação e a expansão na rede de distribuição de energia, para que pudesse atender a demanda populacional, além de melhorar a aparência urbanística dos principais logradouros públicos na cidade de Rio Branco (ACRE, 1975, não paginado).

A importância de melhorar o sistema de transporte era justificada por dois motivos. O primeiro seria para facilitar o escoamento da produção oriunda do setor primário e, o segundo seria para concretizar a integração interna do estado e também a nível nacional.

Por sua vez, como os rios não permitiam uma navegação permanente, foi preciso fortalecer o transporte rodoviário, para tanto foi elaborado um plano viário para o 22

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estado, que em curto prazo permitisse a expansão da fronteira econômica e a incorporação de novas áreas ao processo de produção.

Contemplando esse horizonte, o Departamento de Estradas e Rodagens do Acre (DERACRE) foi o órgão que ficou responsável em executar a política de transporte do Governo realizando estudos e projetos para melhorar, conservar, recuperar, assim como promover a abertura de estradas vicinais que favorecessem a ocupação dos “espaços vazios” e a implantação da atividade agropecuária para viabilizar a exploração comercial (ACRE, 1975, não paginado).

Também foi construída uma estação rodoviária em Rio Branco, e uma nova ponte sobre o rio Acre, financiada pelo Fundo de Desenvolvimento Urbano (FUNDURBANO), por intermédio do BASA. Foi realizada a reparação da primeira ponte, asfaltamento das principais ruas da capital, contribuindo para o aumento de transporte coletivo. O transporte aéreo também recebeu atenção por parte do Governo com a construção da estação de passageiros Presidente Médici, melhoramentos nas pistas de Feijó e Tarauacá, além de contar com os serviços de jatos modernos (ACRE, 1975, não paginado).

Na educação pode-se dizer que as metas não foram alcançadas, apenas algumas mudanças foram implantadas. Procurou-se adequar o Acre a Reforma do Ensino que agregou o curso primário comum e ginasial, ao Ensino Fundamental com a duração de oito anos; houve redução do déficit escolar com o aumento das matrículas; qualificação de professores e do pessoal técnico administrativo; aumento do corpo docente e da capacidade física da rede escolar; foram implantados cursos de licenciatura de curta duração, que eram oferecidos no período de férias para os professores do interior do estado e; no ensino superior, o feito de mais relevante foi a federalização da Universidade do Acre (ACRE, 1975, não paginado).

É importante lembrar que era economicamente viável adequar–se a Reforma do Ensino visto que o Ministro da Educação Cel. Jarbas Passarinho prometera repassar maiores verbas aos estados que apresentassem melhores projetos para a sua implantação (PLANO..., [S. l.: s. d.], p. 43).

No intuito de erradicar o analfabetismo, um dos objetivos do plano de governo no tópico que diz a respeito à educação, foi implantado no Acre em 1971 através do Projeto Minerva, cursos supletivos que permitissem recuperar a escolaridade de 23

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alunos com idade defasada; curso primário dinâmico que permite concluir o primário em oito meses; curso de capacitação ao ginasial com a duração de cinco meses; supletivo de 2º grau que visava atender a demanda dos alunos aprovados no exame de 1º grau; a implantação do MOBRAL e; implantação de variados cursos profissionalizantes em nível de 2º grau (ACRE, 1972, p. 03), inclusive a implantação do SESI e do SENAI. Em entrevista com o Sr. José Higino de Souza, um dos secretários do governo Dantas, questionado a respeito de quais medidas foram tomadas no sentido de qualificar o migrante que vem da área rural para que ele sobrevivesse na cidade, ele destaca que:

O que eu posso lhe dizer é que foi nesta época que ele (Dantas) conseguiu trazer pra cá o SESI e o SENAI, justamente pra trabalhar nesse aspecto, o SENAI dando cursos para capacitar pessoas para as atividades urbanas e o SESI dando assistência social em colaboração com o governo complementando as ações desenvolvidas pelo governo [...] O SESI e o SENAI prestaram um grande serviço justamente nessa área, qualificando esse pessoal, principalmente para a construção civil. Eu mesmo que saindo do planejamento, fui pra direção do SENAI, dei muitos cursos até nos bairros da cidade para essas pessoas, essas foram as medidas que o governo tomou. (SOUZA FILHO, 2010).

O discurso de Dantas no Projeto Oeste é que o Homem é a meta-síntese das atividades do seu governo (PLANO..., [S. l.: s. d.], p. 11), no entanto pode-se perceber nessa sua iniciativa um descaso com o desenvolvimento do ser humano, é evidente que se pretendia dar escolaridade para a população para integrá-la a sociedade de consumo e a produção, gerando uma mão-de-obra minimamente qualificada, esse propósito fica claro pela iniciativa governamental de implantar cursos profissionalizantes e supletivos que não promovem a educação no seu sentido amplo, restringe-se apenas ao “fazer” em detrimento do “pensar”.

No setor saúde foram promovidas melhorias nas unidades hospitalares existentes, como: a aquisição de novos equipamentos; a criação de serviços como pronto atendimento; departamento de radiologia; serviço de proteção ao câncer cérvico-uterino; setor hospitalar especializado em doenças mentais; construção e instalação do laboratório de analises clínicas; foram promovidas campanhas de vacinação contra várias doenças e; reciclagem, especialização e treinamento de médicos, bioquímicos e auxiliares de enfermagem (ACRE, 1975, não paginado).

Foram implantados postos de saúde em todos os municípios, com exceção de Tarauacá e Xapuri que contavam com unidade hospitalar privada, também foi ampliado o número de leitos e de profissionais na área da saúde. Devido à escassez

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dos recursos o governo firmou convênio com outras entidades no sentido de angariar recursos para o setor, dentre estas temos a ACAR-ACRE, a LBA e o FUNRURAL (ACRE, 1975, não paginado).

Uma das metas do Plano Oeste que não chegou a se concretizar no governo Dantas foi à criação da Fundação Hospitalar do Acre que foi implantada algum tempo depois no governo de Flaviano Melo.

Segundo Dantas uma das necessidades de melhorar e ampliar a rede hospitalar e a saúde pública como um todo era resultante do rápido desenvolvimento do estado em virtude da “política de integração nacional e do esforço de divulgação das potencialidades estaduais [...] capazes de contribuir efetivamente para o ingente esforço de desenvolver o estado” (ACRE, 1975, não paginado).

É importante ressaltar o caráter contraditório desse modelo de desenvolvimento que o Acre experimentava. Se desenvolver é exatamente melhorar o nível de vida e o bem-estar social, que desenvolvimento é esse que causa moléstias e doenças e proporciona o aumento da procura dos serviços de saúde não como forma preventiva, mas curativa e de reabilitação?

No que se refere ao saneamento básico, no início do governo Dantas foi ampliada a capacidade dos reservatórios de água e, implantado um sistema de tratamento de água provisório – a sub-estação de emergência no igarapé Judia. Foi iniciada a construção da SANACRE na fazenda Sobral e, implantado um sistema de abastecimento na Vila Quinari e em Cruzeiro do Sul.

Na parte de esgotos sanitários o Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) implantou o sistema de esgoto na área central da cidade e, através do convênio deste com a Prefeitura Municipal executou o projeto “do igarapé da maternidade, com revestimento do canal e avenidas marginais e também a dragagem e retificação do igarapé Ferrugem” (ACRE, 1975, não paginado).

No que se refere à política habitacional, Dantas concebe a construção de moradias pelo seu aspecto econômico e social. Do ponto de vista econômico, fomenta o crédito, absorve mão-de-obra não especializada, proporciona a utilização dos recursos naturais e ainda estimula o desenvolvimento de pequenas e médias indústrias locais. Do ponto de vista social oferece funções educativas, conforto e 25

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estímulo a sociabilidade (ACRE, 1975, não paginado). Em relação ao déficit habitacional, o governo realizou várias ações, quais sejam:

• Construiu o conjunto Habitacional Guiomard Santos, com 320 casas e construiu a infra-estrutura indispensável a habitação e realizou ainda obras de infra-estrutura no conjunto Mascarenhas de Moraes (ACRE, 1975, não paginado);

• Foi dado início a execução de 307 casas do conjunto habitacional Humberto de Alencar Castelo Branco, além da ampliação do conjunto Guiomard Santos com mais 120 casas e a construção do conjunto habitacional Thaumaturgo de Azevedo em Cruzeiro do Sul, com 130 unidades (ACRE, 1975, não paginado).

• Para a população de baixo poder aquisitivo foi construído o conjunto habitacional São Sebastião no bairro Estação Experimental, com 73 unidades em madeira (ACRE, 1975, não paginado).

• Ainda destinada a população de baixa renda foi construído a Vila Redenção com 223 casas populares destinadas aos ribeirinhos que eram anualmente desabrigados devido as cheias do rio Acre e também foram concluídas as obras do conjunto de residências do Ipase, que estava a muitos anos parada (ACRE, 1975, não paginado).

• Outra preocupação do governo foi construir a Vila Militar composta de dez residências destinada aos oficiais da policia militar, e mais oito residências para técnicos e assessores que vieram de outros estados e por fim uma residência para o governador. Essas construções seguiam a um padrão com o intuito de melhorar o aspecto urbanístico e embelezar a cidade (ACRE, 1975, não paginado).

É interessante ressaltar que esses conjuntos eram construídos pela Companhia de Habitação do Acre (COHAB-AC) como o financiamento do Banco Nacional de Habitação - BNH e, contava com o apoio inconteste do governo do estado que procurou “dar um tratamento empresarial a Companhia, apesar de ter participação majoritária do poder público e fins sociais” (ACRE, 1975, não paginado) a empresa conseguiu elevar o seu capital social de duzentos mil cruzeiros para 3 milhões e possuía no fim de 1974 um saldo bancário superior a Cr$1,5 milhão .

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Como podemos observar foram tomadas diversas medidas para melhorar a condição de vida da população de Rio Branco e das cidades do interior, no entanto os dados oficiais omitem que esses serviços ficaram restritos as áreas centrais e aos bairros de classe média. Segundo o Boletim “Nós Irmãos”, no bairro Floresta moradores reclamavam da total ausência de luz elétrica (1975, p. 8); e, no bairro Estação Experimental a população, cerca de 1.600 famílias sofria há mais de um ano com a falta de abastecimento de água, a comunidade era abastecida através dos carros pipas que não davam conta de atender à demanda o que ocasionava desentendimento entre os moradores, como mostra a matéria veiculada no Boletim Nós Irmãos:

Dizem particularmente aqueles que têm o privilégio de ter água encanada em sua casa, que o povo da Estação Experimental é “mal educado e ignorante porque estão acontecendo confusões, brigas [...] nas enormes filas atrás dos carros-pipa para receber a sua esmola de água”. [...] a origem destas confusões está nas pessoas que esperam a fila por um mísero balde de água ou está num sistema sócio-econômico que deixa mais de 1.600 famílias há vários meses sem água suficiente para viver [...].(NÓS IRMÃOS, 1976, p. 14-15)

Através dos dados apresentados a respeito da política habitacional percebemos que foi priorizada a construção de conjuntos habitacionais que atendessem a classe média, assim como a infra-estrutura foi também privilégio para a população que habitava esses bairros. Contrastando os números, percebemos uma disparidade enorme, sendo que foram concluídas 877 casas nos conjuntos habitacionais destinados as classes mais abastadas e apenas 296 casa destinadas a população carente.

Em seu plano de governo Dantas diz que “o nosso Plano tem um alto e nobre objetivo que orienta toda a nossa sistemática de ação: O HOMEM.” (PLANO..., [S. l.: s. d.], p. 15). E, esse é o mesmo discurso proferido pelos governos militares, porém partindo das análises das políticas adotadas no seu governo percebe-se que este homem ao qual ele se referia era o homem de negócios, que estivesse disposto a investir no Acre.

Não obstante a afeição de Dantas com a política desenvolvimentista dos governos militares é precipitado afirmar que o seu plano de governo não estava direcionado apenas para expansão da pecuária, fazem parte do plano também a industrialização, as atividades extrativistas em forma de entidade empresarial, onde estavam inclusos a exportação de madeira com a fixação de preços mínimos para a

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indústria extrativista e a diversificação da agricultura com a inserção de outras culturas, e também podemos perceber um aumento dos fluxos de negócios no setor do comércio. No entanto é indiscutível que a expansão da pecuária contou com o apoio inconteste de seu governo e as outras atividades receberam menor atenção e incentivos.

Não podemos afirmar que a pecuária era a única meta do plano Oeste, no entanto foi à única alternativa que restou capaz de satisfazer seus anseios em integrar o Acre à economia nacional. Houve a ação de fatores externos que contribuíram para a implantação da pecuária e a conseqüente substituição da economia gomífera. Em depoimento o Sr. José Higino enfatiza que:

[...] quando o Dantas teve a idéia de divulgar o Estado do Acre lá fora para atrair investidores, no que menos ele pensou foi na pecuária. Acontece que as pessoas que vieram eram todas praticamente voltadas para a pecuária e afinal de contas ele não teve como mudar isso, a coisa foi se desenvolvendo de tal forma que não teve como estancar essa atividade, mas a intenção dele era mais voltada para a indústria, para o investimento industrial, trazer investidores para esse aspecto da economia (SOUZA FILHO, 2010).

Não há como negar que a implantação da pecuária extensiva foi conseqüência das ações do governo Dantas, principalmente da propaganda de divulgação das terras férteis e baratas. Não obstante outros fatores dificultaram a realização de suas metas de governos inclusive à oposição interna dentro do seu partido – a ARENA. Os seus planos também não eram os mais altruístas, visto que seus ideais eram pautados numa lógica de desenvolvimento capitalista, mais foi um ponto de partida para outros governos que vieram depois, que utilizando o discurso oficial de preservação do meio ambiente têm colocando em prática muito daquilo que foi planejado por Dantas.

Um aspecto que pretendo enfatizar é a relação de Dantas com os agentes políticos locais e em que contexto assumiu o governo. Wanderley Dantas foi o sucessor de Jorge Kalume, que ao término de seu mandato tinha intenções de indicar o nome do governo subseqüente. No entanto, para sua surpresa, o presidente Médici escolheu Dantas para ser o seu sucessor. A partir de então, Dantas passou a sofrer uma oposição dentro do seu próprio partido, não podendo contar com aqueles que deveriam ser seus aliados, referente a isso José Higino nos relata que:

[...] quando o Kalume estava terminando o governo a sua intenção era indicar o seu sucessor, não havia disputa, não havia nada dentro e nem fora do partido, a intenção dele era levar o nome do candidato e entregar ao

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presidente da República, acontece que quando isso aconteceu o Médici disse: eu já tenho o meu candidato e deu o nome de uma pessoa aqui do Acre que tinha sido secretario dele. Aí ele perguntou quem era o candidato, aí o Médici disse é Francisco Wanderley Dantas, deputado federal, então ele teve que aceitar (SOUZA FILHO, 2010, entrevista).

O fato de Wanderley Dantas ter passado muito tempo fora do Acre provocou esse distanciamento com as oligarquias políticas locais, que tem suas divisões internas e se caracterizam por visão e prática regionalista, o que contribuiu para que este não tivesse o apoio nem do seu próprio partido, acrescentando-se o fato de que naquela época, Jorge Kalume era a figura com mais destaque na política local e conseqüentemente quem “dava as cartas”. Tanto que em seu plano, Dantas refere-se à superação das oligarquias regionais e a renovação dos valores para refere-se conseguir a verdadeira democracia (PLANO..., [S. l.: s. d.], p. 07).

Embora as medidas acatadas por Dantas tenha tido algum efeito positivo, referente ao crescimento das exportações do estado decorrente da expansão da pecuária de corte, os efeitos negativos foram mais expressivos e de maior alcance causando uma verdadeira calamidade social, com reflexos nos âmbitos econômico, social e cultural.

Sendo a população do Acre naquela época predominantemente rural, as mudanças afetaram primeiramente o homem do campo. A terra passou a ser valorizada pela sua extensão e não mais pela quantidade de seringueiras nela existente, a pecuária por necessitar de grandes áreas de terras e pouca mão-de-obra criou graves problemas de desemprego, forçando o homem do campo a migrar para as cidades sem possuir meios de sobreviver nelas, formando os “cinturões de miséria” principalmente em torno de Rio Branco, principal pólo de atração dos migrantes, o que resultou em “ondas” de violência tanto no campo quanto nas cidades, causando enormes conflitos sociais, e outros problemas urbanos como roubos, assaltos e prostituição, demonstrando a face perversa de um projeto de modernização, que não elegeu o social, sendo centrado na modernização da base material da sociedade acreana. Portanto, numa modernização sem mudança e excludente, do ponto de vista da melhoria das condições de vida dos migrantes da área rural.

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CAPÍTULO 2 MODERNIDADE, MODERNIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO:

Neste capítulo iremos empreender uma análise voltada a discutir a implantação do Estado moderno brasileiro dando ênfase às dimensões que compõem a modernidade e, ressaltando os eventos que desencadearam a instauração da ditadura militar no Brasil e seus reflexos no estado do Acre.

De modo geral podemos dizer que a modernização conservadora no Brasil teve início a partir de 1930 com o governo Vargas que estabelecendo a aliança entre autoritarismo político e modernização econômica possibilitou o início da industrialização, e teve seu momento de glória com Juscelino Kubitschek, passando a partir daí, à recessão econômica com enormes crises desencadeadas com o fim do regime populista e a crescente politização dos segmentos subalternos e do operariado, desde então o Brasil só veio a sair da crise a partir de 1968 com o chamado “milagre econômico”, resultante da conjuntura econômica mundial favorável à liberação de empréstimos aos países em desenvolvimento.

Os acontecimentos que antecederam ao golpe de 64, (mais adiante será discutido o termo golpe onde pretendo justificar a minha escolha em fazer uso deste), provocou o descontentamento da classe empresarial, principalmente do empresariado internacional e do nacional a este associado.

Sabemos que João Goulart era visto com desconfiança pela classe dominante graças aos seus ideais nacional-reformistas e, as reformas anunciadas por ele contrariavam os interesses da mesma. Apesar de nunca ter saído do papel e, talvez o próprio Goulart soubesse que não poderia realizá-las por vias democráticas, mesmo assim as reformas de bases surgiram como um fantasma atormentador das elites sociais, pois essas mudanças atuaram com algo ameaçador às estruturas do País.

As reformas que tiveram maior ressonância foram: a “eleitoral, administrativa, tributária, urbana, bancária, cambial, universitária e, certamente a mais polêmica, a agrária” (CHIAVENATO, 1994, p. 14).

A reforma eleitoral concedia direito de voto a analfabetos e soldados e, direito de elegibilidade ao legislativo aos sargentos. A universitária visava acabar com a vitaliciedade da cátedra e estender benefícios educacionais às classes populares. Goulart propunha também uma reestruturação do sistema tributário baseado na 30

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taxação da renda e, reajuste do salário mínimo, estabelecendo uma política de controle de preços além de supervisar a distribuição de bens de consumo de primeira necessidade (DREIFUSS, 1981, p. 131).

A reforma urbana pretendia determinar o número máximo de imóveis por proprietário e fazer a desapropriação do excedente para beneficiar pessoas sem moradia, com o pagamento financiado pelo Estado. Dentre outras medidas, Goulart pretendia nacionalizar os bancos e vários outros setores como a desapropriação de refinarias, além de rever as concessões de mineração cedidas às multinacionais. No entanto as propostas que mais atemorizavam a burguesia era a Reforma Agrária, que ia de encontro aos interesses dos latifundiários e, a lei da remessa de lucros que refletia perdas nos lucros excessivos das multinacionais (CHIAVENATO, 1994, p. 15).

A Lei 4.131 de 03 de setembro de 1963 que restringiu a remessa de lucros pelas companhias multinacionais às suas matrizes, o que de certa forma, impedia a saída maciça do capital, praticamente obrigava as empresas transnacionais a fazerem aquilo que por tanto tempo haviam se esquivado: aplicar os lucros dos seus investimentos no Brasil (DREIFUSS, 1981, p. 131).

É importante esclarecer que essas reformas em nada alteravam a ordem vigente e muito menos ameaçava o sistema capitalista, no entanto a perca dos lucros excessivos das empresas multinacionais e as alterações nas estruturas de poder dos grandes latifundiários que detinham em suas regiões o poder político e econômico, e faziam usos de suas enormes possessões de terras para angariar empréstimos motivou a burguesia nacional aliada ao capital estrangeiro e ainda contando com o apoio da classe média e de parte da Igreja a fazerem uma intensa oposição à consolidação das reformas (CHIAVENATO, 1994, pp. 17-18).

Existem várias versões acerca dos idealizadores do golpe de 64, porém todas elas acordam quanto à participação ativa dos Estados Unidos, uns com maior veemência como é o caso de René Armand Dreifuss que destaca a atuação do complexo IPES/IBAD, de igual modo Júlio José Chiavenato (1994, p. 68) defende que o golpe foi planejado em Washington não só através da CIA, mas contou também com a participação do FBI.

Por outro lado, Jacob Gorender (1987, p. 52) afirma que o golpe não teria sido planejado e executado por agentes externos, pelo contrario, ele teria vindo mesmo

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do Brasil e contou em certa medida com o apoio norte-americano, porém não pretendia levar ao poder a fração multinacional-associada da burguesia e sim deter as classes subalternas por meio da coerção extrema visto que a ideologia populista em derrocada não tinha condições de continuar manipulando as massas naquele momento de efervescência política. Apesar das prerrogativas de Gorender, vamos analisar a instauração da ditadura militar a partir da visão de Dreifuss, Chiavenato e Moniz Bandeira.

O principal agente da política externa que atuou de forma a defender os interesses do capital multinacional e associado foi o Instituto Brasileiro de Ação Democrática – IBAD, criado no final da década de 50. Seus membros eram advindos do Conselho Superior das Classes Produtoras – CONCLAP, da Escola Superior de Guerra – ESG e agia como uma das principais operações políticas da CIA no Rio de Janeiro (DREIFUSS, 1981, p. 102).

O IBAD aliou-se à Igreja e a políticos de direita que representavam a Ação Democrática Parlamentar- ADP, desenvolvendo intensa campanha publicitária anticomunista e contra o governo de Goulart. O IBAD de forma secreta passou a atuar nas organizações de estudantes e nos movimentos sindicais, infiltrando-se inclusive no campesinato, com o propósito de refrear o crescimento dessas entidades, além de financiar a candidatura de políticos de direita principalmente da ADP, intervindo nas eleições de 1962. (BANDEIRA, 1978, p. 68-70).

Outro agente dos interesses externos implantado no Brasil foi o Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais – IPES, que a partir de 1962 passou a atuar em conjunto com o IBAD e com a ESG. Financiado pelas empresas multinacionais o complexo IPES/IBAD aliciou representantes de vários segmentos, principalmente entre os parlamentares e nas forças armadas com o objetivo de desencadear o golpe de Estado, que de acordo com Bandeira (1978, p. 70):

Com esse primoroso trabalho de corrupção, inédito na história do País, a CIA não somente aliciou empresários, vereadores, deputados estaduais e federais, senadores, governadores de Estado, jornalistas, donas-de-casa, estudantes, dirigentes sindicais, padres e camponeses, enfim, a choldra de todas as classes e categorias da sociedade civil brasileira. Nas Forças Armadas, onde a Cruzada Democrática, desde o início da década de 50, conspirava para desfechar o golpe de Estado reacionário, antipopular e antinacional, a pretexto de combater o comunismo, a CIA recrutou tanto através do IPES quanto do IBAD e até diretamente, inúmeros oficiais dos mais diversos escalões [...].

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Apesar do golpe de 64 ter sido planejado em grande escala pelos EUA, existem diversos fatores internos que concorreram para sua efetivação. A situação econômica do Brasil com um índice inflacionário altíssimo, corte dos financiamentos por parte do FMI, e os Estados Unidos recusando-se a oferecer empréstimos para o Brasil sair de crise somando-se a isso o caráter dúbio de João Goulart que num momento cedia às pressões do FMI e dos EUA e num outro momento procurava manter boas relações com as massas e com a esquerda através do seu projeto de reformas, o que resultou na perda do apoio tanto da direita quanto da esquerda criando um clima de insatisfação geral.

A burguesia nacional também não via com bons olhos os projetos reformistas de Jango, temerosa de perder seus privilégios, pois estava “subordinada às finanças internacionais e ligada umbilicalmente ao latifúndio” (BANDEIRA, 1978, p. 54) recusava a apoiar qualquer mudança preferindo juntar-se aos conspiradores golpistas. O golpe ainda contou com o apoio inconteste de políticos brasileiros importantes como Ademar de Barros – governador de São Paulo, Carlos Lacerda – Governador da Guanabara e Magalhães Pinto – governador de Minas Gerais.

Constata-se que o apoio interno foi de grande utilidade para a execução do golpe de 1964, porém pudemos perceber que apesar de ter sido planejado no Brasil, as políticas desenvolvidas depois de instaurada a ditadura militar veio a beneficiar grandemente os interesses multinacionais. Segundo Bandeira o presidente Kennedy chegou a fazer declarações sobre os problemas internos brasileiros, o irmão do presidente, Robert Kennedy chegou a acusar o governo brasileiro de corrupção com intenção de difamá-lo deixando-o frágil diante da comunidade internacional, evidenciando assim ainda mais a participação dos Estados Unidos no Golpe. Bandeira (1978, p. 83) enfatiza que “[...] Kennedy, sem a menor cerimônia, alinhou-se à oposição interna ao Governo de Goulart, como qualquer político brasileiro, incentivando sua desestabilização, antes mesmo de restaurado o presidencialismo”.

É corriqueiro encontrar na literatura dos anos 60 e 70 do século XX, e também nos jornais que circulavam na época referências ao golpe de 1964 designando-lhe o nome revolução. Os golpistas que o consumaram falavam em nome de uma revolução, por outro lado temos uma vasta literatura publicada principalmente a partir da abertura democrática nomeando a conspiração de 64 de Golpe de Estado ou Militar. Diante desse impasse se faz necessário estabelecer a distinção entre os

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Tanto para os compósitos binários contendo 3 % de grafite ou de MMT, quanto ternários contendo 3 % de cada carga, a magnitude da queda do módulo de E´ na região da transição

Um último exemplo, foi o caso do senhor Angelo Pereira que adotou, entre 1997 e 1998, um menino na cidade do Rio de Janeiro, tendo relatado que em nenhum momento havia

Velike sile su uticale na odluku o poloæaju i ureðewu takve dræave: bila je unitarna zato ãto niti jedna dræava oko Nemaåke nije bila federalna, ostala je tradicionalni politiåki

DA COMISSÃO: O arrematante deverá pagar ao Leiloeiro, à título de comissão, o valor correspondente a 5% (cinco por cento) sobre o valor da arrematação, no prazo de