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4.2 O HIPERTEXTO COMO FERRAMENTA METODOLÓGICA DE ENSINO EM EaD

4.2.1 O hipertexto e o AVEA

4.2.1.2 O hipertexto: uma possibilidade de ensino em EaD

Ao falarmos sobre possibilidade de ensino utilizando hipertexto, tratamos especialmente da relação do estudante com o ambiente virtual de ensino-aprendizagem. Nele os estudantes podem interagir por meio do uso do hipertexto. Essa forma de aprendizagem foge do modo tradicional vivenciado na escola. O texto será apresentado pela tela de um computador e o acesso a ele será de forma virtual. (PETERS, 2003)

O autor (2003) acrescenta que o AVEA não pode ser utilizado de forma restrita, ou seja, como se estivéssemos fazendo uso de matérias para uma aprendizagem tradicional, porque se dessa forma o fizéssemos estaríamos desprezando o seu verdadeiro potencial didático. Se o estudante fizer uso de um hipertexto, por exemplo, ele terá uma rápida localização das informações desejadas, colocando o estudante na condição de pesquisador dinâmico, penetrando a fundo em um universo textual.

Dessa forma, percebemos que a aprendizagem recebe certa reestruturação nesse tipo de ambiente. “Nas camadas mais profundas de um hipertexto, por exemplo, os autores de citações importantes são apresentados biograficamente com uma ilustração e enquadrados cientificamente” (PETERS, 2003, p. 236). Dependendo da acessibilidade ao autor, é possível inclusive disponibilizar uma entrevista em que o estudante poderá, por exemplo, conhecer o timbre de voz do escritor.

O hipertexto apresenta também explicações complementares, as quais podem ser oferecidas por meio de “informações objetivas, derivações e fundamentações históricas, considerações teórico-científicas, posições e opiniões contrárias, bem como comentários a respeito de literatura especializada” (PETERS, 2003, p. 236). Esses caminhos, percorridos por meio do hipertexto, não interrompem o fluxo de pensamento, nem muito menos a linearidade da leitura, não prejudicando assim a dinâmica da aprendizagem. Na verdade, segundo o autor (2003, p. 236), eles acabam por facilitar e ampliar o conhecimento do estudante, que age por conta própria dentro deste “universo multidimensional”

Peters (2003) explica que, para tanto, é necessário que ocorram modificações significativas do comportamento docente. Estes devem aprender a se articular em vários níveis: oferta de conteúdos em pequenas unidades; relações entre as unidades por meio de hiperlinks; estrutura linear, que permita combinações entre as unidades. O autor (2003) afirma ainda que

para o ensino a distância, esse modo de ensinar é especialmente vantajoso, porque, como é sabido, seus participantes não são um grupo relativamente homogêneo de interessados, como, por exemplo, numa classe do último ano do ginásio27, mas, sim, pessoas com interesse individuais muitas vezes bem diferentes, de exigências intelectuais distintas e com seus respectivos objetivos especiais, como seria de se esperar de estudantes em idade adulta média ou mais avançada. (PETERS, 2003, p. 237)

Alguns teóricos fazem objeção ao uso do hipertexto de forma científica e acadêmica. Porém essa objeção pode ser contestada, porque, segundo Peters (2003), “o saber não está ordenado linearmente por si mesmo, mas é tradicionalmente compactado de forma cronológica ou contígua, sendo com isso deformado”. Precisamos entender que a aprendizagem constrói e modifica o saber, e o trabalho com as redes de unidades de informação podem ser úteis nesta forma de aprender. Contudo, o autor (2003) explica ainda que o desenvolvimento dessas redes, ao pretender ativar diversas variações na aprendizagem entre os estudantes, implica mudanças bem difíceis.

Para Peters (2003), não só docentes precisam se adaptar a este novo processo, como também os estudantes. A mudança de atitude discente é necessária para que esse novo método de aprendizagem seja absorvido pelos estudantes. Estes precisam ser autônomos em todo o processo e possuem liberdade para tomar decisões acerca de seus estudos. Os caminhos para que isso aconteça são delimitados por eles mesmos. Eles devem refletir constantemente até que ponto querem ou precisam se aprofundar acerca de determinado assunto. Muitas vezes tem que decidir se permanecerão no campo das informações secundárias ou não.

Os hipertextos possibilitam a exigência de atitude de um estudo autônomo e também dependem da estrutura remissiva implícita e explícita do texto didático. Assim os estudantes poderão orientar seus estudos com estratégias adequadas. Existem algumas formas específicas de trabalho com hipertextos: o browsing28; a procura de determinadas unidades de

informação; e o acompanhamento de um caminho determinado. (PETERS, 2003)

O objetivo do uso do browsing é a aproximação dos estudantes às unidades de saber elaboradas, os quais começam por qualquer ponto, aprofundam-se na leitura por meio de uma sequência de referências, abandonando um assunto e começando outro. O embasamento desta

27 No Brasil, o ginásio, citado por Peters (2003), equivale hoje ao Ensino Fundamental II da Educação Básica. 28

Para Peters (2003, p. 238) o browsing é uma forma conhecida de lidar com livros. Em bibliotecas americanas, por exemplo, existe muitas vezes um browsing room, reservado para folhear livros. Uma acepção secundária significativa do termo é beliscar. Este é um método pouco conhecido na didática.

metodologia é o prazer por se fazer , o tempo todo, novas descobertas. Conforme Peters (2003, p. 239), “este é um método exploratório-associativo no cosmo da ciência de hipertextos”. Nesse método, a informação nova deve ser estudada, verificando a relação dela com aquilo que se pretende estudar pelo estudante. Este deve desenvolver uma sensibilidade para escolher o link que é condizente com o seu objeto de interesse.

A procura de determinadas unidades de informação se torna fácil pelo uso de recursos que possibilitam o acesso a conteúdos bem determinados em compêndios. Nesse momento se trabalha com índices onomásticos, verbetes, números, resumos e símbolos. “Aqui as técnicas conhecidas de bons livros didáticos são diferenciadas, otimizadas tecnicamente e, sobretudo, dinamizadas” (PETERS, 2003, p. 239).

A caminhada por um trajeto estabelecido pelos docentes se realiza, conforme o autor (2003), através de proposições que conduzem os estudantes a sequências bem definidas das unidades de informação, a fim de se alcançar alguns efeitos didáticos. Nesse caso, os links são ativados automaticamente, contudo a sequência pode ser interrompida a qualquer momento, com o objetivo de que o conteúdo de certas unidades seja explorado de forma ampla e eficaz pelo estudante. Este caminho é explicado por comentários que aparecem em janelas da tela do computador.

Mediante os trabalhos aqui descritos com hipertexto, Peters (2003) questiona a relação entre o livre escarafunchar e o estudo com objetivos determinados. E ainda, que vantagens didáticas se pode esperar dessa forma de estudo para o ensino a distância. O próprio autor nos reponde ao afirmar que “a aprendizagem aumenta a auto-orientação, a atividade e a interatividade, toma em consideração interesses, preferências e capacidades pessoais e é, desse modo, individualizada eficazmente” (2003, p. 240). Sabemos também que é por esta razão que os estudantes têm que ter clareza da utilização de hipertexto, porque os efeitos, causados por ele, tais como combinação de elementos heterogêneos, técnica de janelas múltiplas, dinamização de estruturas ou apresentação no formato olho-de-peixe29, podem atrapalhar, por muitas vezes uma leitura mais apurada.

29

Segundo Peters (2003), este tipo de apresentação é aquele em que as coisas mais importantes que estão diante dos olhos são apresentadas em formato grande, enquanto as coisas menos importantes aparecem no formato menor.

CAPÍTULO 5

CURSO DE LETRAS PORTUGUÊS A DISTÂNCIA DA UFSC: UM

ESTUDO DE CASO

Na busca da significação do outro, o pesquisador deve ultrapassar seus próprios métodos e valores, admitindo outras maneiras de entender, conceber e recriar o mundo. (ANDRÉ, 1995, p. 45)