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3. OS IMPACTOS DA EXTINÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL

3.2 O HISTÓRICO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL OBRIGATÓRIA

A contribuição sindical obrigatória, como se pode deduzir pela própria nomenclatura é a principal fonte de receita do sindicato, prevista na Constituição Federa de 1937.105 No Estado novo, a referida contribuição era denominada de imposto sindical, contudo, a mudança não modificou a natureza jurídica de tributo, de acordo com o fato gerador que possui, nos termos do artigo 4º do Código Tributário Nacional:

Art. 4º A natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la: I - a denominação e demais características formais adotadas pela lei; II - a destinação legal do produto da sua arrecadação.

O imposto sindical ou contribuição sindical está previsto no artigo 579 da Consolidação de Leis Trabalhistas (CLT):

Art. 579. O desconto da contribuição sindical está condicionado à

autorização prévia e expressa dos que participarem de uma determinada

103 MARTINS, Sérgio Pinto. Contribuição Sindical: direito comparado e internacional. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2009. P. 86.

104 PINTO, José Augusto Rodrigues. Direito sindical. 2.ed. São Paulo; LTr 2002, P.127.

105 “Art 138 - A associação profissional ou sindical é livre. Somente, porém, o sindicato regularmente reconhecido pelo Estado tem o direito de representação legal dos que participarem da categoria de produção para que foi constituído, e de defender-lhes os direitos perante o Estado e as outras associações profissionais, estipular contratos coletivos de trabalho obrigatórios para todos os seus associados, impor-lhes contribuições e exercer em relação a eles funções delegadas de Poder Público.” Veja-se: BRASIL. [Constituição (1937)]. Constituição da República Federativa do Brasil de 1937 Brasília, DF: Presidência da República, [2019]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm. Acesso em: 28 out. 2019.

categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria ou profissão ou, inexistindo este, na conformidade do disposto no art. 591 desta Consolidação.

Desse modo, continua a regular as relações de trabalho no Brasil. Foi criado junto com a CLT nos anos 1940, pelo então presidente Getúlio Vargas. Sendo que o seu objetivo era fortalecer os sindicatos no Brasil. Anos antes, em 1931, Vargas também aprovou a Lei da Sindicalização, pelo Decreto n. 1.402 de 1939, responsável por regulamentar à associação, no seu art. 3º, alínea f, onde faz menção à prerrogativa dos sindicatos de “impor contribuições a todos aqueles que participam das profissões ou categorias representadas”.106 O artigo 38, dedicado à gestão financeira do sindicato e à sua fiscalização, rezava que:

Art. 38. Constituem o patrimônio das associações sindicais: a) as

contribuições dos que participarem da profissão ou categoria, nos termos da alínea f) do art. 3º; b) as contribuições dos associados, na forma estabelecida nos estatutos ou pelas assembleias gerais; c) os bens e valores adquiridos e as rendas produzidas pelos mesmos;

d) as doações e legados; e) as multas e outras rendas eventuais.

Parágrafo único. O modo da determinação da taxa das contribuições, a

que se refere a alínea a, bem como o processo de pagamento e cobrança destas contribuições e de organização das listas dos contribuintes serão estabelecidos em regulamento especial.

Segundo José Carlos Arouca, a instituição da “contribuição sindical se deveu a carta del lavoro da Itália Fascista, na busca de uma fórmula que permite assim a subordinação dos sindicatos ao Estado”107. Encontrando sua sustentação financeira a eficiência do controle estatal, conforme salienta abaixo:

Os sindicatos foram incluídos no sistema corporativista e assim totalmente subordinados ao Ministério do Trabalho. Era preciso amortecer sua atuação, especialmente política e para tanto dar-lhe sustentação financeira mas sobre o controle do Estado. A formula mágica para legitimá-la foi a delegação de competência para impor contribuições a categoria (...) a lei sindical de 1939 amoldou-se a carta que substituiu a constituição de 1934 e já enunciou a recita fácil mediante a contribuição compulsórias.108

Somente com o advento do Decreto- Lei n. 2.377 de 1940, é que teve uma regulamentação mais detalhada e minuciosa da sua cobrança. Chama atenção neste instrumento que, pela primeira vez, a contribuição é chamada de imposto

106MARTINS, Sérgio Pinto. Receitas sindicais: contribuição sindical compulsória e contribuição confederativa. In: FRANCO FILHO, Georgenor de Souza. Direito coletivo do trabalho. Estudos em homenagem ao Ministro Orlando Teixeira da Costa. São Paulo: LTr, 1998, P. 136.

107 AROUCA, José Carlos. Organização sindical no Brasil: passado, presente e futuro. São Paulo, 2013, p 358.

sindical, iniciando uma contenda de nomenclatura da exação que reflete até os dias atuais.109

O referido decreto procurou sanar as dúvidas que surgiram durante a cobrança do imposto sindical, reconhecendo, sua importância para o funcionamento dos sindicatos. Da mesma forma, procedeu-se com o Decreto-Lei n. 3.035/41 e o Decreto-Lei n. 4.298/42, em seus respectivos anos.110

Foi o Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de Maio de 1943, mais conhecido como Consolidação das Leis Trabalhistas, o responsável por selecionar, em um só texto, todas as legislações sobre a contribuição sindical.

Aludido a Constituição de 1946 sobre a exigência da contribuição sindical, Sergio Pinto Martins estatui:

Não vedou a cobrança de contribuições por parte do sindicato, mesmo porque este continuava a exercer função delegada pelo poder público (art. 159). Isso quer dizer que recepcionou as regras da CLT a respeito da exigência de contribuições pelo sindicato.111

O Decreto-Lei n. 27/66, que acarretou no acréscimo à Lei n. 5.172/66, Código Tributário Nacional, do art. 217 com a seguinte redação:

Art. 217. As disposições desta Lei, notadamente as dos artigos 17, 74, § 2º, e 77, parágrafo único, bem como a do art. 54 da Lei nº 5.025, de 10 de junho de 1966, não excluem a incidência e a exigibilidade: I. da "contribuição sindical", denominação que passa a ter o Imposto Sindical de que tratam os artigos 578 e segs. Da Consolidação das Leis do Trabalho, sem prejuízo do disposto no art. 16 da Lei nº 4.589, de 11 de dezembro de 1964;112

A Constituição de 1967 reservou ao art. 159 a missão de possibilitar a arrecadação de contribuições sindicais:

Art 159 - É livre a associação profissional ou sindical; a sua constituição, a representação legal nas convenções coletivas de trabalho e o exercício de funções delegadas de Poder Público serão regulados em lei. [...]

§ 1º - Entre as funções delegadas a que se refere este artigo, compreende-se a de arrecadar, na forma da lei, contribuições para o custeio da atividade

109 ROMITA, Arion Sayão. Direito sindical brasileiro. Rio de Janeiro: Brasília ,1976. P. 130.

110 MARTINS, 1988, P. 137.

111 MARTINS, Sergio Pinto. Contribuições sindicais. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 20. 112BRASIL. Código Tributário Nacional In: Vade Mecum Saraiva OAB. 16. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2018.p. 693

dos órgãos sindicais e profissionais e para a execução de programas de interesse das categorias por eles representadas.113

A emenda Constitucional nº 1 de 1969, repetiu a redação do art. 159, ressaltando que, deste então, o legislador corrigiu a denominação da exação, passando a, corretamente, nomear de contribuição. De acordo com Sergio Pinto Martins, “a associação sindical ou profissional continuaria livre e que o sindicato exercia função delegada ao poder público.” 114

Nesse sentido, Mauricio Godinho Delgado enfatiza que a “contribuição sindical obrigatória é a mais controvertida, do ponto de vista político-ideológico, dessas receitas,”115 pois conforme acentua Luiz Eduardo Gunther, “trata-se de um tributo instituído por lei federal, heterônoma, portanto se sujeitando-se como tributo a todos os princípios do direto tributário”116

Por isso, Sergio Pinto Martins é enfático:

A Contribuição sindical envolve uma obrigação de dar, de pagar, e pecuniária, pois será exigida em dinheiro. Tem natureza compulsória, visto que independe da pessoa ou não interesse de contribuir para os sindicatos, porque o vinculo obrigacional decorre da previsão da lei, que determina o recolhimento.117

Em tal sentido, destaca Armando Boito Jr:

As contribuições sindicais obrigatórias por força de lei e extensivas aos não associados constituem uma espécie de poder tributário que o sindicato oficial, enquanto ramo do aparelho de Estado, detém. Sua importância na integração do sindicato oficial ao Estado reside no fato de tornar as finanças do sindicato e, por extensão, os seus recursos materiais e humanos dependentes da cúpula do aparelho de Estado. Do mesmo modo que a representatividade outorgada oriunda da investidura sindical, os recursos materiais do sindicato oficial dependem do Estado e não dos trabalhadores. Dependem, em primeiro lugar, da norma jurídica que obriga todo trabalhador a contribuir para o sindicato oficial. E dependem, em segundo lugar, do ramo do Estado que viabiliza a arrecadação. No caso do imposto sindical, a dependência direta é para com o Ministério do Trabalho, que arrecada e distribui o imposto.118

113 BRASIL. Constituição 1967. Disponível em

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao67.htm. Acesso em 28 outubro de 2019.

114 MARTINS, 1988, p. 138.

115 DELGADO, Mauricio Godinho. Direito coletivo do trabalho. 7 ed. São Paulo: LTr, 2017, p.138.

116 GUNTER, Luiz Eduardo. O fim da contribuição sindical obrigatória: a crônica de uma morte anunciada. In: GUNTHER, Luiz Eduardo; ALVARENGA, Rúbia Zanotelli (Coords.). Reforma

trabalhista: impacto e aplicação da Lei n. 13.467/2017. São Paulo: LTr, 2018, p. 141. 117Inserir os dados da citação

118 BOITO JR., Armando. O sindicalismo de Estado no Brasil: uma análise crítica da estrutura sindical. Campinas: UNICAMP, 1991, p. 37.

É de suma importância frisar que a contribuição sindical encontra-se prevista nos artigos 578 a 610 da Consolidação das Leis do Trabalho; artigo 8º, inciso IV, e artigo 149, ambos da Constituição Federal de 1988.

Referente aos trabalhadores, a contribuição sindical é paga anualmente, em favor do sistema sindical, correspondendo ao valor de um dia de trabalho para os empregados, e sendo a importância equivalente a 30% do maior valor de referência estabelecido pelo Poder Executivo para os profissionais liberais e trabalhadores autônomos. Sendo feito o desconto na folha de pagamento do mês de março, a base de cálculo é equivalente a um dia de trabalho. Incidindo também aos trabalhadores não sindicalizados. 119

Com a reforma trabalhista, a contribuição sindical compulsória, passou a ser facultativa, ou seja, há a necessidade de autorização previa e expressa do trabalhador para os descontos salarias decorrente de cobrança de contribuição em favor do sindicato. Assim, a empresa só poderá recolher a contribuição depois de autorização do empregado 120

3.3 OS IMPACTOS NEGATIVOS DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL OBRIGATÓRIA:

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