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2. PRINCÍPIOS E FUNÇÕES SINDICAIS

2.5 PRINCÍPIO DA EQUIVALÊNCIA DOS CONTRATANTES COLETIVOS

O princípio da equivalência entre os contratantes coletivos requer que as partes ao celebrar convenções e acordos coletivos de trabalho, possam estabelecer idêntica natureza jurídica e ter os mesmos instrumentos de ameaça igualmente capazes e equilibrados para a defesa de seus interesses contrários, como resultado

61 DELGADO, Mauricio Godinho Delgado. Direito coletivo do trabalho. 6 ed. São Paulo: LTr, 2015, p. 33.

62 DELGADO, Maurício Godinho. Direito coletivo do trabalho. 3 ed. São Paulo: LTr, 2008. p. 59.

de legítima negociação. Desse modo, “o reconhecimento de um estatuto sócio jurídico semelhante a ambos os contratantes coletivos (o obreiro e o empresarial) ”.64

Sendo que os sujeitos da negociação coletiva trabalhista se equivalem, tem a mesma natureza, são todos seres coletivos.

O empregador por si já é considerado um ser coletivo, independentemente de se de agrupar em alguma entidade sindical. Por outro lado, os trabalhadores têm sua face coletiva institucionalizada quando se agrupam e formam os sindicatos.65

Na planície das relações coletivas de trabalho, o sindicato dos trabalhadores e os empregadores estão em plano de igualdade, podem valer-se dos instrumentos de ação e resistência, a serem utilizados no decorrer do processo negocial coletivo. Por conta da atuação intermediária obrigatória do sindicato dos trabalhadores e das liberdades e garantias asseguradas à entidade sindical, não é possível verificar a existência de vulnerabilidade da representação dos trabalhadores, muito menos falar em aplicação do princípio da proteção no âmbito das relações coletivas de trabalho66

Nas palavras de Maurício Godinho Delgado, tal equivalência resulta, portanto,

da satisfação de “dois aspectos fundamentais: a natureza os

processos característicos aos seres coletivos trabalhistas.”67

Explica o mesmo autor, sobre o primeiro aspecto:

Os sujeitos do Direito Coletivo do Trabalho têm a mesma natureza, são todos seres coletivos. Há, como visto, o empregador que, isoladamente, já é um ser coletivo, por sua própria natureza, independentemente de se agrupar em alguma associação sindical. É claro que pode também atuar através de sua entidade representativa; contudo, mesmo atuando de forma isolada, terá natureza e agirá como ser coletivo.68

Claramente, a natureza coletiva dos sindicatos deve ser de acordo com a realidade. Sendo que os sindicatos dos empregados têm de exibir consistência, estrutura organizativa, além de efetiva representatividade no que diz respeito à sua base profissional trabalhista. Tendo em vista que o sindicato frágil e sem representatividade verdadeira consiste na oposição da ideia de sindicato, improvavelmente sendo apta a impedir a natureza de ser coletivo obreiro.

64 DELGADO, Maurício Godinho. Direito coletivo do trabalho. 3 ed. São Paulo: LTr, 2008. p. 55.

65 Ibidem, p. 55.

66 MARTINEZ, Luciano. Curso de direito do trabalho: relações individuais, sindicais e coletivas do trabalho. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.p 182.

67DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 17 ed. São Paulo: LTr, 2018, p. 1557.

68 DELGADO, Mauricio Godinho. Direito coletivo do trabalho e seus princípios informadores. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Porto Alegre,v 67, n 2.junho 2001. P.91.

No que pulsa ao segundo aspecto, aludido ao instrumento de pressão a cargo dos sujeitos coletivos, aptos de garantir equivalência na negociação de interesses contrários, assim salienta Maurício Godinho os seguintes argumentos:

O segundo aspecto essencial a fundamentar o presente princípio é a circunstância de contarem os dois seres contrapostos (até mesmo o ser coletivo obreiro) com instrumentos eficazes de atuação e pressão (e, portanto, negociação). Os instrumentos colocados à disposição do sujeito coletivo dos trabalhadores (garantias de emprego, prerrogativas de atuação sindical, possibilidade de mobilização e pressão sobre a sociedade civil e Estado, greve, etc.) reduziriam, no plano juscoletivo, a disparidade lancinante que separa o trabalhador, como indivíduo, do empresário. Isso possibilitaria ao Direito Coletivo conferir tratamento jurídico mais equilibrado às partes nele envolvidas. Nessa linha, perderia sentido no Direito Coletivo do Trabalho a acentuada diretriz protecionista e intervencionista que tanto caracteriza o Direito Individual do Trabalho69

Outro aspecto a fundamentar a equiparação dos contratantes coletivos é a circunstância de contarem os dois sujeitos da relação com instrumentos eficazes de atuação e pressão, o que afasta a disparidade que sempre se evidenciou entre o trabalhador individual e o empresário. Dessa maneira, não faz sentido a acentuada diretriz protecionista e intervencionista do direito individual do trabalho.

Consoante as reflexões de Mauricio Godinho Delgado:

Em sentido contrário a tal entendimento – sobre não haver sentido a diretriz protecionista e intervencionista do Estado, ante a equivalência dos seres contratantes – Maurício Godinho Delgado aduz que, no caso brasileiro, mesmo depois de mais de vinte anos após a promulgação da Constituição, ainda não se completou a transição para um direito coletivo pleno, equânime e eficaz, que realmente assegure a equivalência das partes contratantes. Isso porque, a Constituição, em que pese tenha afirmado alguns princípios fundamentais do Direito Coletivo do Trabalho no país, não se fez seguir de uma Carta de Direitos Sindicais que adequasse a velha legislação heterônoma às reais necessidades da democratização do sistema trabalhista e da negociação coletiva. Nesse sentido, portanto, é possível vislumbrar que, talvez, a diretriz protecionista, ao menos, ainda faça sentido.70

Mais uma vez, é necessário atentar para os limites da negociação coletiva trabalhista, haja vista que mesmo havendo equivalência entre contratantes coletivos, não se pode falar em total e plena autonomia privada coletiva.

2.2.1 Funções sindicais

69DELGADO, Mauricio Godinho. Direito coletivo do trabalho e seus princípios informadores. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Porto Alegre,v 67, n 2.junho 2001. P. 55.

70DELGADO, Mauricio Godinho. Direito coletivo do trabalho e seus princípios informadores. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Porto Alegre,v 67, n 2.junho 2001. P. 55.

A principal função do sindicato é a de defender os seus interesses e a de seus representados, no âmbito trabalhista. Ao sindicato profissional cabe a obtenção de melhorias nas condições de trabalho dos empregados; no caso do sindicato dos patronais é a de resistir às pretensões dos sindicatos obreiros, além de municiar os representados de elementos que lhe sejam úteis no desempenho de suas atividades.71

A busca por melhores salários, menores jornadas de trabalho e melhores condições para o exercício da profissão levou os trabalhadores a organizarem-se para, coletivamente, negociarem com seus empregadores essas melhorias. Independentemente de haver garantias legais mínimas, a coletividade dos trabalhadores passou a postular mais vantagens, as quais seriam ou não atendidas pelos seus empregadores.72

O sindicato tem a função de cumprir suas linhas básicas nos diferentes sistemas jurídicos. Nessa linha, Amauri Mascaro Nascimento indica as funções sindicais como sendo as seguintes: a) negocial; b) assistencial; d) representação; e) política; e f) econômica.73

A função negocial caracteriza-se pelo poder conferido aos sindicatos para elaborar Convenções Coletivas de Trabalho, nas quais são fixadas regras a serem aplicáveis aos contratos individuais de trabalho dos empregados pertencentes a esfera de representação do sindicato pactuante.

Mauricio Godinho Delgado, afirma que a função negocial possui o seguinte significado:

Por meio dela, esses entes buscam diálogo com empregadores e/ou sindicatos empresariais com vistas a celebração dos diplomas negociais coletivos, composto por regra jurídica que irão reger os contratos de trabalho das respectivas bases representadas.74

A Convenção nº 98 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) estimula a atuação negocial dos sindicatos, como instrumento de paz social e de grande utilidade técnica jurídica que permite às próprias partes de uma disputa trabalhista a escolha das normas a serem observadas para a composição dos seus conflitos.

71 HINZ, Henrique Macedo. Direito coletivo do trabalho. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 156.

72 Ibidem, p. 158.

73 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 29 ed. São Paulo: LTr, 2003, p.32.

74 DELGADO, Mauricio Godinho. Direito coletivo do trabalho. 17 ed. São Paulo: LTr, 2019. p. 1.597.

Nesse aspecto, a função negocial é considerada o melhor sistema para desatar os problemas que, constantemente, surgem entre o capital e o trabalho, para assim estabelecer melhores condições laborais e regular todas os aspectos que envolvam questões entre empregador e empregado, seus representados na categoria.

A organização sindical constitui uma classe de trabalhadores que tem reconhecimento e expressão social, a força advinda da união dos trabalhadores é a única capaz de afetar os interesses dos detentores do capital e do poder político.

Segundo Milkovich, “negociação coletiva é o processo pelo qual os representantes sindicais negociam as condições de trabalho que são estendidas a toda atividade laboral dos empregados sindicalizados ou não”.75

De acordo com João de Lima Tixeira Filho, a negociação coletiva de trabalho pode ser definida como:

O processo democrático de autocomposição de interesses pelos próprios atores sócias, objetivando a fixação de condições de trabalho aplicáveis a uma coletividade de empregados de determinada empresa ou de toda uma categoria econômica e a regulação das relações entre as entidades estipulantes.76

A função assistencial é a atribuição conferida pela lei ou pelos estatutos ao sindicato para prestar serviços aos seus representados, contribuindo para o bem-estar individual e pessoal do trabalhador, bem como para o seu desenvolvimento integral.

A CLT determina à entidade sindical diversas atividades assistenciais como educação, saúde, colocação, lazer e fundação de cooperativas e serviços jurídicos. Cabem alguns exemplos em conformidade com o art. 500 e o art. 514, "b” da CLT como um que expressa ser dever do sindicato de manter assistência judiciária aos associados, bem como a assistência nas rescisões dos empregados.

A função assistencial, na elucidativa visão de Mauricio Godinho Delgado “consiste na prestação de serviços de seus associados ou de modo extensivos, em alguns casos a todos os membros da categoria.”77

75 MILKOVICH, Ch, Georg T; Boudreou, Johnw. Administração de recursos humanos. São Paulo: Atlas, 2010, p. 56

76 TEIXEIRA FILHO, João de Lima; SUSSEKIND, Aenaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, segadas,

Instituições de direito do trabalho. Volume 2. São Paulo: LTr, 2000, p.230.

77 DELGADO, Mauricio Godinho. Direito coletivo do trabalho. 17 ed. São Paulo: LTr, 2019. p. 1.597.

Continua o autor, afirmando que as funções assistenciais dos sindicatos são tidas como dever social, previstas inclusive na legislação. Todavia, os sindicatos não são obrigados a desenvolver tais funções e aqueles que desenvolvem o fazem como maneira de angariar melhorias de condições para a categoria que representam e para atrair mais filiados78

A principal função e prerrogativa dos sindicatos é a de representação, no sentido amplo, de suas bases trabalhistas. Assim, “o sindicato organiza-se para falar e agir em nome de sua categoria; para defender seus interesses no plano da relação de trabalho e, até mesmo, em plano social mais largo" 79

Insta destacar que representar perante as autoridades administrativas e judiciais, os interesses coletivos da categoria ou individuais dos seus integrantes, leva a atuação do sindicato como parte nos processos judiciais em dissídios coletivos destinados a resolver os conflitos jurídicos ou de interesses, e nos dissídios individuais de pessoas que fazem parte da categoria, exercendo a substituição processual, caso em que agirá em nome próprio na defesa do direito alheio, ou a representação processual, caso em que agirá em nome do representado e na defesa do interesse desses.80

O inciso III, do art. 8º, da Constituição Federal de 1988, faculta ao sindicato representar os direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria em questões judiciais e administrativas, sob o manto da substituição processual.

Amauri Mascaro Nascimento desdobra a função de representação em dois grupos: o coletivo e o individual. Diz que no plano coletivo, o sindicato representa grupos, nas suas relações com os outros órgãos e grupos sendo essa a sua natural atribuição. Assim, quer perante o estado, quer perante os empregadores ou outros órgãos, cabe ao sindicato atuar como intérprete das pretensões do grupo à frente do qual se põe e cujas reivindicações e posições encaminhará. Não só no nível coletivo, mas, também, no individual, o sindicato cumpre funções representativas, com maiores ou menores limitações: participando de processos judiciais, pratica atos homologatórios de rescisões contratuais81

78 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 10 ed. São Paulo: LTr, 2011.p. 1274.

79 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 10 ed. São Paulo: LTr, 2011. P.1274.

80 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. 20 ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p.254.

Sendo assim, os sindicatos representam os interesses gerais da categoria e os interesses individuais dos associados relativos ao trabalho.

çp.

A função econômica decorre da própria auto-suficiência da instituição sindical prover e administrar o seu caixa ou demandar a respeito do incremento de seu patrimônio, instituindo e impondo as contribuições genéricas aos participantes da categoria, nos exatos termos da alínea "e", do artigo 513, da CLT.

Sobre esse aspecto, ensina Amauri Mascaro Nascimento:

A negociação coletiva cumpre uma função econômica de meio de distribuição de riquezas numa economia em prosperidade, ou, também, uma função ordenadora numa economia em crise. A melhoria da condição social do trabalhador não pode prescindir de uma técnica que, sendo adequada em relação às possibilidades de cada empresa ou de cada setor da economia, permite que, sem maiores traumas, sejam atendidas às reivindicações operárias perante o capital.82

No tocante à função política dos sindicatos, é relevante ponderar que apesar de pouco recomendável à vinculação das instituições a partidos políticos ou adotar ideologias político-partidárias, mormente pelo desgaste que isso poderia implicar, não se confunde com a ideia de proibição normativa de exercício eventual de ações políticas que possam impactar diretamente sobre os interesses da categoria.

Consoante ensina Amauri Mascaro Nascimento:

A função política da negociação coletiva trabalhista possui o papel de promover o diálogo entre grupos sociais numa sociedade democrática, cuja estrutura política valoriza a ação dos interlocutores sociais, confiando-lhes poderes para que, no interesse geral, superem as suas divergências. O equilíbrio do sistema político pode ser atingido pelas perturbações na ordem social, resultantes, às vezes, dos conflitos trabalhistas e na medida da generalização destes; a negociação coletiva trabalhista atua, portanto, como veículo de diálogo e pacificação social.83

O jurista Mauricio Godinho Delgado faz uma distinção entre a vinculação a partidos políticos e a subordinação a linhas político partidárias:

A mesma reflexão aplica-se às atividades políticas. O fato de não ser recomendável a vinculação de sindicatos a partidos políticos e sua subordinação a linhas político-partidárias, pelo desgaste que isso pode trazer à própria instituição sindical, não se confunde com a ideia de proibição normativa de exercício eventual de ações políticas. A propósito, inúmeras questões Gênia Darc de Oliveira Revista do CEPEJ, Salvador, vol.

82 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 33 ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 461.

83 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Iniciação ao direito do trabalho. 33 ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 461.

20, pp 269-300, jul-dez 2017 289 aparentemente de cunho apenas político podem, sem dúvida, influenciar, de modo relevante, a vida dos trabalhadores e de seus sindicatos. Ilustrativamente, é o que se passa com a política econômica oficial de certo Estado, que pode alterar, de maneira importante, a curva de emprego/desemprego na respectiva sociedade. Nesse quadro é lícito vedar ao sindicato postar-se contra ou a favor de tal política? Certamente que não, sob pena de os princípios de liberdade sindical e de autonomia dessas entidades se transformarem em inegável simulacro.84

De acordo com Art. 521, d, a CLT ressalta que não é finalidade do sindicato exercer função política. Porem no pensamento do doutrinador Delgado, essa função política é possível quando se tratar de um ato de cidadania. “Um sindicato cidadão busca formar sua categoria contra imposições políticas, isso ele consegue no intuito de desenvolver o senso crítico dos trabalhadores. Fato que possibilita a participação sindical nos movimentos sociais, exemplo disso foi o CONLUTAS criado no governo Lula como forma de enfrentamento da política neoliberal.”85

84 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 10 ed. São Paulo: LTr, 2011. P 1275.

3. OS IMPACTOS DA EXTINÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL

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