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3. OS IMPACTOS DA EXTINÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL

3.1 RECEITAS SINDICAIS

Sindicato é uma pessoa jurídica de direito privado, que opera na representação da sua categoria. Toda entidade sindical, necessita auferir receitas para sua manutenção e cumprir devidamente as obrigações inerentes.

No ordenamento jurídico nacional, são compostas por quatro tipos de contribuições dos trabalhadores para sua respectiva entidade sindical, que destacam-se a “contribuição sindical obrigatória, contribuição confederativa, da chamada contribuição assistencial e das mensalidades dos associados do Sindicato”.86

A contribuição confederativa, prevista no artigo 8º, IV da Constituição Federal de 88 estabelece o seguinte:

Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte. [..]

IV - a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei;

A referida contribuição foi imposta como uma alternativa da contribuição sindical, sendo que ela e deliberativa e fixada em Assembleia Geral, sendo que o seu valor descontado em folha de todos os integrantes da categoria independentemente da condição de associado. A respeito dessa contribuição, a jurisprudência tem compreendido quem embora lançada em instrumentos coletivos negociados, referente à convenção coletiva de trabalho ou acordo coletivo de Trabalho “ela só será devidas pelos filiados dos sindicatos representantes, não sendo válida sua cobrança dos demais trabalhadores não filiados.”87

A contribuição tem por finalidade o financiamento do sistema confederativo como um todo. Essa finalidade, com fulcro no dispositivo constitucional que dispõe sobre o tema, entende-se que esta contribuição seria devida por todos os

86 DELGADO, Mauricio Godinho. Direito coletivo do trabalho. 7 ed. São Paulo: LTr, 2017, p.137.

87 DELGADO, Mauricio Godinho; DELGADO, Gabriela Neves. A Reforma trabalhista no Brasil: com os comentários à Lei 13.467/2017. São Paulo: LTr, 2017, p.242.

trabalhadores pertencente à categoria, sendo tal entendimento totalmente contrário ao princípio da liberdade sindical.

Na mesma dicção de Alice Monteiro Barros, a cobrança da contribuição confederativa deve ser exigida somente:

Em relação aos associados dos sindicatos que participara ou poderiam ter participado da assembleia instituidora, pois no tocante aos não associados depende de lei, que fixará o quórum para a deliberação da assembleia, valor, critério para Distribuição das importâncias arrecadadas, sanção para os abusos cometidos, etc. 88

A autora ainda sustenta que a cobrança implica em bitributação e abuso de autoridade dos sindicatos. Outro ponto de destaque fica por conta da Súmula Vinculante de nº 40, que preceitua o seguinte: “A contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV, da Constituição Federal, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo.”89 A referida Súmula é oriunda da conversão da então Súmula nº 666 do STF, que aduz o seguinte: “A contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV, da Constituição, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo.¨90 Torna definitivo o entendimento de que apenas os filiados são devedores da contribuição confederativa.

Quanto ao tema em análise, importante salientar que referida contribuição tem por objetivo o próprio custeio do sistema confederativo, que fazem parte os sindicatos, as federações e as confederações, deixa explicito que o desconto da contribuição confederativa cabe somente ao trabalhador associado ao sindicato, dispensado obrigado àquele que porventura optar por não associar à entidade sindical.

Conforme disciplina o autor Sergio Pinto Martins, referente à distinção da contribuição confederativa da assistencial:

A natureza jurídica das duas contribuições e distinta: a Contribuição confederativa serve para custear o sistema confederativo da representação sindical patronal ou profissional; já a contribuição assistencial e encontrada nas sentenças normativas, acordos e

88 BARROS, Alice Monteiro. Contribuições Sindicais. Revista do Tribunal Regional do Trabalho 3ª Região, Belo Horizonte, v. 25, n. 54 p. 53, jul. 1994/jun.1995.

89 Brasil. Supremo Tribunal Federal. Súmula Vinculante n° 40. Disponível em

http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.asp?sumula=2204. Acesso em: 28 de outubro de 2019.

90 Brasil. Supremo Tribunal Federal. Súmula 666. Disponível em

http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumarioSumulas.asp?sumula=1642. Acesso em: 28 de outubro de 2019.

convenções coletivas, visando custear as atividades assistenciais do sindicato principalmente pelo fato de o sindicato não ter participado das negociações para obtenção de novas condições de trabalho para categoria e compensar a agremiação com os custos incorridos naquela negociação.91

Evidencia assim o caráter facultativo da contribuição confederativa, sem as garras da obrigatoriedade, sendo notável a intenção do legislador de determinar um sistema de custeio da atividade sindical que parta da vontade própria do trabalhador. A outra forma de receita e a contribuição assistencial ou negocial (também denominada de cota da solidariedade) ostenta a importância econômico-financeira no mundo sindical sendo “maior que a contribuição confederativa pela circunstância de estar vinculada necessariamente a dinâmica da negociação coletiva de trabalho.”92

Desse modo, consiste em uma obrigação facultativa, sendo o seu objetivo a cobertura dos serviços assistenciais prestados pelo sindicato. Isso porque durante a assembleia geral, a mesma é pactuada entre os sindicatos patronais e profissionais, que decidem as questões alusivas à contribuição e, principalmente pelo fato da entidade sindical ter participado da negociação coletiva ou da propositura de dissídios coletivos, aspectos definidos em norma coletiva.93

Na dicção de Mauricio Godinho Delgado: “Contribuição assistencial diz a respeito aprovado por convecção coletiva ou acordo coletivo de trabalho normalmente pra o desconto em folha de pagamento em uma ou poucas mais parcelas ao longo do ano”.94

Sendo assim, a mesma foi definida para retribuir ao sindicato pelos resultados obtidos em negociações coletivas de trabalho, onde participou como representante da categoria que representa. O valor da contribuição assistencial é definido em Assembléia Geral promovida pelo sindicato, uma vez por ano, na época da negociação salarial.95

91MARTINS, Sérgio Pinto. Contribuição sindical: direito comparado e internacional. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2009. P. 132.

92 DELGADO, Mauricio Godinho; DELGADO, Gabriela Neves Delgado. A reforma trabalhista no

Brasil: com os comentários à Lei 13.467/2017. São Paulo: LTr, 2017, p. 242.

93MARTINS, Sérgio Pinto. Contribuição sindical: direito comparado e internacional. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2009. P. 84.

94 DELGADO, Mauricio Godinho. Direito coletivo do trabalho. 7 ed. São Paulo: LTr, 2017, p.137.

Cumpre salientar, que o trabalhador, pode contestar ao desconto do valor da contribuição assistencial, uma vez que não é obrigado a concordar com este pagamento conforme artigo 545 da CLT:

Os empregadores ficam obrigados a descontar da folha de pagamento dos seus empregados, desde que por eles devidamente autorizados, as contribuições devidas ao sindicato, quando por este notificados.96

Todavia, se o empregado autorizar a cobrança da contribuição assistencial, a mesma será realizada.

De acordo com entendimento do Tribunal Superior do Trabalho, na orientação jurisprudencial nº 17 da SDC e na PN 119 da Seção de Dissídios coletivos:

OJ-SDC-17 CONTRIBUIÇÕES PARA ENTIDADES SINDICAIS. INCONSTITUCIONALIDADE DE SUA EXTENSÃO A NÃO ASSOCIADOS.Inserida em 25.05.1998. As cláusulas coletivas que estabeleçam contribuição em favor de entidade sindical, a qualquer título, obrigando trabalhadores não sindicalizados, são ofensivas ao direito de livre associação e sindicalização, constitucionalmente assegurado, e, portanto, nulas, sendo passíveis de devolução, por via própria, os respectivos valores eventualmente descontados.97

Nº 119 CONTRIBUIÇÕES SINDICAIS - INOBSERVÂNCIA DE PRECEITOS CONSTITUCIONAIS – (mantido) - DEJT divulgado em 25.08.2014"A Constituição da República, em seus arts. 5º, XX e 8º, V, assegura o direito de livre associação e sindicalização. É ofensiva a essa modalidade de liberdade cláusula constante de acordo, convenção coletiva ou sentença normativa estabelecendo contribuição em favor de entidade sindical a título de taxa para custeio do sistema confederativo, assistencial, revigoramento ou fortalecimento sindical e outras da mesma espécie, obrigando trabalhadores não sindicalizados. Sendo nulas as estipulações que observem tal restrição, tornam-se passíveis de devolução os valores irregularmente descontados.98

De acordo com Mauricio Godinho Delgado, a respeito das jurisprudências acima supracitadas, estas têm considerado inválida ao se tratar de trabalhadores não sindicalizados, na esteira que também compreende a contribuição confederativa. Ressaltando que o argumento que fere a liberdade sindical, mesmo

96 BRASIL. CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO ART 545. Disponível em

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452compilado.htm. Acesso em: 28 de outubro de 2019.

97 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho - OJ-SDC-17 CONTRIBUIÇÕES PARA ENTIDADES SINDICAIS. INCONSTITUCIONALIDADE DE SUA EXTENSÃO A NÃO ASSOCIADOS. Disponível

emhttp://www.tst.jus.br/home?p_p_id=15&p_p_lifecycle=0&p_p_state=maximized&p_p_mode=view& _15_struts_action=%2Fjournal%2Fview_article&_15_groupId=10157&_15_articleId=63246&_15_versi on=1.1 Acesso em: 28 de outubro de 2019.

98 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho , PN 119 CONTRIBUIÇÕES SINDICAIS -

INOBSERVÂNCIA DE PRECEITOS CONSTITUCIONAIS. Disponível em:

http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/PN_com_indice/PN_completo.html#Tema_PN119. Acesso em 28 de outubro de 2019.

os empregados sendo efetivos e integrantes da base de representação da entidade sindical são beneficiários das vantagens da negociação coletiva de trabalho. 99

Esse entendimento tem exceções, como a Súmula nº86 do Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul100, que determina que a contribuição assistencial prevista em acordo ou convenção coletiva é devida para todos os integrantes da categoria, sejam eles associados ou não do sindicato respectivo.

Conforme Luiz Eduardo Gunther, “a contribuição assistencial de origem normativa (convencional ou sentencial) destina-se ao custeio das atividades assistenciais da associação sindical que interveio no processo de formação da norma coletiva”.101

No entanto, prudente é entendermos tal contribuição como um puro e simples exercício da vontade do trabalhador, além de ser um direito dos sindicatos, previsto no art. 513, da CLT e, que disciplina que “são prerrogativas dos sindicatos impor contribuições a todos aqueles que participam das categorias econômicas ou profissionais, ou das profissões liberais representadas”.

Outra fonte de receitas dos sindicatos chamada de mensalidades consiste em outra contribuição paga apenas pelos trabalhadores que são sindicalizados, não possuindo, como a contribuição confederativa e a assistencial, o caráter compulsório. Na visão do Mauricio Godinho Delgado, as mensalidades dos associados do sindicato “consistem em parcelas mensais pagas estritamente pelos trabalhadores sindicalizados a suas entidades sindicais representativas” Sendo uma modalidade voluntária de contribuições comuns, como (clubes, academias, culturais etc.) avesso apenas ente de caráter sindical.102

99 DELGADO, Mauricio Godinho; DELGADO, Gabriela Neves. A reforma trabalhista no Brasil: com os comentários à Lei 13.467/2017. São Paulo: LTr, 2017, p.243.

100 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul. Súmula nº 86. A contribuição

assistencial prevista em acordo, convenção coletiva ou sentença normativa é devida por todos os integrantes da categoria, sejam eles associados ou não do sindicato respectivo. Disponível

em https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/sumulas. Acesso em 28 de outubro de 2019.

101 GUNTHER, Luiz Eduardo. O fim da contribuição sindical obrigatória: a crônica de uma morte anunciada. In: GUNTHER, Luiz Eduardo; ALVARENGA, Rúbia Zanotelli (Coords.). Reforma

trabalhista: impacto e aplicação da Lei n. 13.467/2017. São Paulo: LTr, 2018, p. P.141

102 DELGADO, Mauricio Godinho; DELGADO, Gabriela Neves. A reforma trabalhista no Brasil: com os comentários à Lei 13.467/2017. São Paulo: LTr, 2017, p. 244.

Nessa mesma direção, Sérgio Pinto Martins assinala que a “mensalidade sindical na condição de associados será cobrada em decorrência dos benefícios prestada pela organização sindical”.”103

Para José Augusto Rodrigues Pinto o “pagamento da mensalidade fixada no respectivo estatuto, como ocorre com o associado de qualquer entidade destina-se a prestação de serviços aos seus aderentes”104

Tal contribuição funciona como uma espécie de “troca”, haja vista que os que a pagam são sindicalizados beneficiados por diversos serviços prestados pelas entidades sindicais, como assistência judiciária, médica, dentre outras. O valor da mensalidade também é definido livremente pelos sócios em Assembleia Geral ou no Estatuto do sindicato.

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