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OS IMPACTOS NEGATIVOS DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL OBRIGATÓRIA: O

3. OS IMPACTOS DA EXTINÇÃO DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL

3.3 OS IMPACTOS NEGATIVOS DA CONTRIBUIÇÃO SINDICAL OBRIGATÓRIA: O

BRASIL

Conforme visto, os sindicatos exercem função essencial nas representações dos trabalhadores. Comumente, os mesmos lutam para assegurar os direitos trabalhistas através da negociação coletiva trabalhista, com o intuito de beneficiar toda a categoria representada.

Entretanto, a reforma trabalhista - Lei 13.467/2017, aprovada em julho de 2017 pelo Congresso Nacional, trouxe um novo cenário para a organização sindical brasileira, abalando assim seriamente as estruturas das entidades sindicais.

Acerca disso, destaca Luiz Eduardo Gunther: “Parece claro ser inadequada a abrupta retirada de uma fonte de custeio das entidades sindicais que perdurou por mais de 70 (setenta) anos.”121

119 DELGADO, Mauricio Godinho. Direito coletivo do trabalho. 7 ed. São Paulo: LTr, 2017, p.138

120 SOUZA JÚNIOR, Antônio Umberto; SOUZA, Fabiano Coelho; MARANHÃO, Ney; AZEVEDO NETO, Platon Teixeira. Reforma trabalhista: análise comparativa e crítica da lei 13.467/2017. São Paulo: Rideel, 2017. P 261.

121 GUNTER, Luiz Eduardo. O fim da contribuição sindical obrigatória: a crônica de uma morte anunciada. In: GUNTHER, Luiz Eduardo; ALVARENGA, Rúbia Zanotelli (Coords.). Reforma

Logo, para o autor, “como a reforma trabalhista estabeleceu renúncia de receita, deveria, obrigatoriamente, fazer-se acompanhar da estimativa do seu impacto orçamentário e financeiro, o que não ocorreu”.122

Ainda:

Não há dúvida que estabelecer, de forma clara e objetiva, a receita dos sindicatos, pode contribuir, de maneira eficaz, para que essas entidades possam ser efetivamente representativas de seus associados e não associados (destes também, por se beneficiarem das negociações coletivas de trabalho!).123

Sobre a questão, ainda esclarece Luiz Eduardo Gunther:

Em consulta efetuada por seis organizações sindicais, sobre a validade da tramitação da reforma trabalhista, a OIT apontou que a medida viola uma série de convenções internacionais. Para o organismo, a proposta deveria ter obedecido a Convenção n.144, que exige audiências entre os representantes dos trabalhadores, dos empregadores e do governo de modo a se chegar a uma maior quantidade possível de soluções compartilhadas por ambas as partes, conforme decidido, em outras ocasiões, pelo Comitê de Liberdade Sindical do Conselho de Administração da OIT. Posicionamento recente, inclusive, da Comissão de Peritos da entidade, divulgado na última Conferência da OIT em Genebra, em junho de 2017, condenou a aplicação das negociações individuais e mesmo coletivas com o objetivo de flexibilizar direitos já definidos na CLT, pois os Estados têm a obrigação de garantir, tanto na lei como na prática, a aplicação efetiva das convenções ratificadas, motivo pelo qual não se pode rebaixar por meio de acordos coletivos ou individuais a proteção estabelecida nas normas da OIT em vigor em um determinado país.124

Neste mesmo sentido, enfatiza Jose Affonso Dallegrave: “A reforma trabalhista representou mais um passo na tentativa de esvaziar a coerência da organização sindical em detrimento do cumprimento pelos sindicatos.”125

A contribuição sindical que anteriormente era de forma compulsória passa ser facultativa, sendo que o respectivo recolhimento está condicionado à autorização prévia e expressa do empregador. Reza, assim, o artigo 579 da Consolidação das Leis do Trabalho:

122 GUNTER, Luiz Eduardo. O fim da contribuição sindical obrigatória: a crônica de uma morte anunciada. In: GUNTHER, Luiz Eduardo; ALVARENGA, Rúbia Zanotelli (Coords.). Reforma

trabalhista: impacto e aplicação da Lei n. 13.467/2017. São Paulo: LTr, 2018, p. 144.

123 GUNTER, Luiz Eduardo. O fim da contribuição sindical obrigatória: a crônica de uma morte anunciada. In: GUNTHER, Luiz Eduardo; ALVARENGA, Rúbia Zanotelli (Coords.). Reforma

trabalhista: impacto e aplicação da Lei n. 13.467/2017. São Paulo: LTr, 2018, p. 145.

124 GUNTER, Luiz Eduardo. O fim da contribuição sindical obrigatória: a crônica de uma morte anunciada. In: GUNTHER, Luiz Eduardo; ALVARENGA, Rúbia Zanotelli (Coords.). Reforma

trabalhista: impacto e aplicação da Lei n. 13.467/2017. São Paulo: LTr, 2018, p. 145.

125 DALLEGRAVE NETO, José Affonso; KAJOTA NETO, Ernan Kajota. Reforma trabalhista: ponto a ponto. São Paulo: LTr., 2018.P 221.

Art. 579. O desconto da contribuição sindical está condicionado à autorização prévia e expressa dos que participem de uma determinada categoria econômica ou profissional, ou de uma profissão liberal, em favor do sindicato representativo da mesma categoria.126

Verifica-se que houve mudança substancial no teor da norma, quanto à contribuição sindical, tornando-a facultativa quanto à obrigatoriedade, sendo necessária para o desconto a uma autorização prévia dos associados de uma determinada categoria.

Conforme destaca Paulo Sergio João, ao eliminar-se a contribuição sindical obrigatória, não se pode transferir ou se anular a representação.127 Nesse sentido, há de um lado os empregados o direito de usufruir da liberdade sindical, podendo escolher ou não contribuir, e de outro lado às empresas, que nessa condição ficam proibidas de fazer o desconto sem previa autorização.

No entanto, a reforma ataca os sindicatos e a sua representatividade, de trabalhadores, evidentemente, aumentando o alcance dos poderes negociais jurídicos e politico do sindicato, porém ao mesmo tempo em que, ilogicamente, reduz seus recursos necessários à sobrevivência e ainda permite a negociação direta e individual entre empregado e empregador, de modo similar ao que pode ser negociado pelo próprio sindicato.

Como observa Luiz Eduardo Gunther:

Dentre tantos temas abordados pela reforma trabalhista, as receitas sindicais constituem assunto primordial. Exigir dos sindicatos de trabalhadores uma postura ativa (negociado sobre o legislado!) sem que existam condições materiais para esse desempenho, é enfraquecer o movimento sindical e criar insegurança jurídica, pela polêmica judicial que será instaurada.128

Sob tal perspectiva, assinalam Antônio Umberto de Souza Junio, Fabiano Coelho de Souza, Ney Maranhão e Platon Teixeira de Azevedo Neto: “Conquanto a extinção instantânea possa ser prejudicial à receita dos sindicatos, justamente num momento em que se dá mais poder a tais entidades, com provável hipervalorização

126 BRASIL.Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).In: Vade Mecum Saraiva OAB. 16. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2018.p 868.

127 JOÃO, Paulo Sérgio. Extinguir a contribuição sindical não pode levar a revogação de representação. Revista Consultor jurídico. Disponível em https://www.conjur.com.br/2017-abr-07/reflexoes-trabalhistas-extinguir-contribuicao-sindical-nao-levar-revogacao-representacao. Acesso em 20 out.2019

128 GUNTER, Luiz Eduardo. O fim da contribuição sindical obrigatória: a crônica de uma morte anunciada. In: GUNTHER, Luiz Eduardo; ALVARENGA, Rúbia Zanotelli (Coords.). Reforma

das convenções e acordos coletivos de trabalho na busca da prevalência do negociado sobre o legislado.129

É preciso destacar que a reforma aumenta o poder negocial do sindicato, ao conferir a quitação geral do contrato de trabalho no plano de demissão voluntária celebrado por intermédio da negociação coletiva (art. 477-A); da mesma maneira, quando permite a quitação anual das obrigações trabalhistas (art. 507-B) e quando garante a prevalência da negociação coletiva sobre a lei, em relação à extensa gama de direitos indicados no artigo 611-A.

Meramente a modo de esclarecimento, o sindicato pode homologar acordos ou pagamentos com êxito, mas apenas em relação às parcelas que estejam especificadas. A eficácia geral, compreendendo todas as parcelas do extinto contrato de trabalho, só é possível quando se trata de acordo em juízo.

De acordo com os dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômico – DIEESE, com o fim da obrigatoriedade do imposto sindical imporá aos sindicatos perda média de 35% de suas receitas, alusivo às federações e confederações, essa perda se aproxima no total de 100%. 130

Os dados do CNES (Cadastro Nacional de Entidades Sindicais) demostram que “havia no Brasil, em 2018, 11.578 sindicatos, 424 federações e 36 confederações de trabalhadores, presentes em todas as unidades da Federação.”131

Em termos de representação, estima-se, a partir de dados da Rais, que aproximadamente 46 milhões de trabalhadores são abrangidos por essas entidades.132

Após o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical, os pedidos de abertura de novos sindicatos caíram drasticamente, de acordo com os dados do CNES, que

129 SOUZA JÚNIOR, Antônio Umberto; SOUZA, Fabiano Coelho; MARANHÃO, Ney; AZEVEDO NETO, Platon Teixeira. Reforma trabalhista: análise comparativa e crítica da lei 13.467/2017. São Paulo: Rideel, 2017. P. 265.

130 DIEESE. Subsídios para o debate sobre a questão do Financiamento Sindical Nota Técnica 200 dezembro de 2018. Disponível em

https://www.dieese.org.br/notatecnica/2018/notaTec200financiamentoSindical.html. Acesso em 20 de out 2019.

131 CNES. Ministério do Trabalho. Disponível em

https://www.dieese.org.br/notatecnica/2018/notaTec200financiamentoSindical.html. Acesso em 22 de out 2019.

132DIEESE. Subsídios para o debate sobre a questão do Financiamento Sindical Nota Técnica 200 dezembro de 2018. Disponível em

https://www.dieese.org.br/notatecnica/2018/notaTec200financiamentoSindical.html. Acesso em 20 de out 2019.

apontam que apenas 176 registros foram solicitados no ano 2018. Em anos anteriores à mudança, o número rondava a casa de 800 pedidos. O dado repete tendência verificada em 2018, primeiro ano completo da reforma trabalhista, quando apenas 470 solicitações foram registradas. No ano passado, apenas 174 pedidos foram concedidos; neste ano, são 106 os que receberam o registro sindical.133

Após a reforma trabalhista, percebe-se uma queda significativa nas negociações coletivas em 2018. De acordo com DIEESE apontou queda no primeiro semestre deste ano. “Até junho foram realizados 1.914 acordos coletivos, que representou uma queda de 28% em relação ao primeiro semestre de 2017”.134

Quando o assunto é convenção coletiva, este número é maior. Uma redução de 41% em relação ao ano anterior.

Na referida reforma posto que o negociado prevalecesse sobre o legislado, dando poderes às negociações coletivas, contudo ao mesmo tempo permitiu que o trabalhador negociasse diretamente com o patrão, sem a interferência da entidade sindical.

Além disso, após a vigência desta lei, a constitucionalidade ou inconstitucionalidade dos dispositivos legais ligados à contribuição sindical tem causado uma grande instabilidade jurídica, uma vez que tem dividido opiniões não só na sociedade em geral, mais também entre os próprios magistrados.

Em sede de controle de inconstitucionalidade difuso, aludido à ausência da contribuição sindical obrigatória, sem qualquer medida substitutiva, foi o entendimento do juiz Laércio Lopes, da 5ª Vara do Trabalho de Barueri-SP, que determinou que uma empresa procedesse ao desconto da contribuição sindical dos empregados, independentemente de autorização prévia, em favor do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados, do Açúcar e de Torrefação, Moagem e Solúvel de Café e do Fumo dos municípios de São Paulo (capital), Grande São Paulo, Mogi das Cruzes, São Roque e Cajamar.135

133 AMANDA, Pupo. Sem contribuição sindical obrigatória, caem pedidos de abertura de sindicato. Disponível em https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,sem-contribuicao-sindical-obrigatoria-caem-pedidos-de-abertura-de-sindicato,70002982287. Acesso em 19 out 2019.

134 DIEESE. Subsídios para o debate sobre a questão do Financiamento Sindical Nota Técnica 200

dezembro de 2018. Disponível em

https://www.dieese.org.br/notatecnica/2018/notaTec200financiamentoSindical.html. Acesso em 20 de out 2019..

135BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho 2ª Região São Paulo. Processo nº 1000100-93.2018.5.02.0205) Disponível em https://ww2.trtsp.jus.br/noticias//noticias/noticia/news/sentenca-

considera-inconstitucional-fim-da-contribuicao-sindical-O magistrado também informou já haver decisão favorável a um sindicato, garantindo o desconto em folha de contribuição dos seus associados. É o caso do Sindicato dos Servidores Públicos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (SINTUFRJ). A decisão é da 2ª Vara Federal do Rio de Janeiro.

Entre outro argumento, o Juiz Federal Mauro Luis Rocha Lopes destacou que a Constituição prevê como direito básico do trabalhador a liberdade de associação profissional ou sindical, estabelecendo que a assembleia geral fixará a contribuição, que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva (art. 8º, inciso IV).136

Insta destacar que as entidades sindicais apresentaram junto ao Supremo Tribunal Federal (STF), Ação Direta de Inconstitucionalidade - ADI 5.794/DF, que foi ajuizada em outubro de 2017, pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte Aquaviário e Aéreo, na Pesca e nos Portos (CONTTMAF). Vale ressaltar que tramitaram juntamente com a referida demanda outras 18 ADIs, que foram ajuizadas visando o mesmo fim, ao denunciarem a Lei 13.467/2017, por tornar facultativo o financiamento sindical e demais contribuições, única e exclusivamente para tentar desarticular a luta da classe trabalhadora por direitos.137

O julgamento da ADI 5794 se deu em 29 de julho de 2018, decidindo o Supremo Tribunal Federal, por 6 votos a 3, pela improcedência da referida demanda e consequente declaração de constitucionalidade dos dispositivos legais alterados pela Reforma Trabalhista, dando efeito erga omnes, ou seja, por mais que existam divergências de entendimentos sobre o assunto, deve ser seguido o julgado do supremo, visto sua posição como guardião da Constituição Federal de 1988. Apesar da suposta resolução para sanar insegurança jurídica, os impactos continuam ocorrendo.138

O relator da ação, Ministro do STF Luiz Edson Fachin ficou vencido ao votar pela obrigatoriedade da contribuição sindical obrigatória. Ele sustentou que a

obrigatoria/?tx_news_pi1%5Bcontroller%5D=News&tx_news_pi1%5Baction%5D=detail&cHash=0e4e beeaaddfe78c835bdb6b3c4b3624. Acesso em 19 out. 2019.

136Ibidem. Tribunal Regional do Trabalho 2ª Região São Paulo. Processo nº 1000100-93.2018.5.02.0205)

137 BRASIL. Supremo Tribunal Federal ( STF). ADI 5794. Disponível em

https://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=5288954. Acesso em 19 out. 2019.

138 BRASIL. Supremo Tribunal Federal ( STF). ADI 5794. Disponível em

Constituição de 1988 foi precursora no reconhecimento de direitos nas relações entre capital e trabalho, entre eles, a obrigatoriedade do imposto para custear o movimento sindical.

Conforme o voto do relator:

O modelo de sindicalismo criado pela Constituição sustenta-se em um tripé formado por unicidade sindical, representatividade obrigatória e custeio das entidades sindicais por meio de um tributo. Este último é a contribuição sindical, expressamente autorizada pelo artigo 149, e imposta pela parte final do inciso IV, do artigo 8º, da Constituição da República. Assim sendo, na exata dicção do texto constitucional, é preciso reconhecer que a mudança de um desses pilares pode ser desestabilizadora de todo o regime sindical, afirma o ministro.139

O relator considera que era necessário haver um período de transição até a criação de novas fontes de custeio, entendendo que a Constituição Federal de 1988 fez uma opção ao estabelecer a compulsoriedade da contribuição sindical.

Em contrapartida, há o voto do Ministro do STF Luiz Fux, que assim dispõe:

Afirmando que a Lei 13.467/2017 não estaria tratando de matéria tributária, e, ademais, não seria necessária lei complementar para tratar de tal assunto, uma vez que a compulsoriedade da contribuição sindical não seria matéria constitucional, mas sim de lei ordinária. O mesmo também atribui ao caráter compulsório a proliferação de sindicatos nas últimas décadas, os quais não estariam de fato buscando a defesa e melhoria de condições das categorias, isso devido à ausência de competitividade. Trata o mesmo, outrossim, da violação causada ao princípio da liberdade sindical pela compulsoriedade da contribuição sindical, vez que o sistema de sindicatos do Brasil, mesmo após o advento da Constituição de 1988, ainda possuiria resquícios do contexto corporativista e intervencionista no qual foi criado, não sendo possível, portanto, a plena concretização da liberdade sindical no Brasil. Por fim, alega ainda a existência de outras fontes de renda pelos sindicatos, tais como as contribuições confederativa e assistencial, bem como outras instituídas pela assembleia geral da categoria .140

Ficou concluído, então, pelo posicionamento da maioria dos Ministros do STF que as alterações que trouxeram o fim do caráter compulsório da contribuição sindical não seriam inconstitucionais, sendo, portanto, improcedentes as referidas ADIs ajuizadas.

A sistemática constitucional vigente, a unicidade sindical e a obrigação de representação de toda a categoria, incluindo associados e não associados e a

139 VOTO . AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE 5.794 DISTRITO FEDERAL. Disponível em http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/VotoADI5794.pdf. Acesso e 20 out 2019.

inexistência de uma fonte de custeio obrigatória inviabiliza a atuação do próprio regime sindical. Nesse sentido, a abalizada doutrina estatui:

Trocando em miúdos, das duas uma: ou se elimina de uma vez por todas a unicidade sindical e seus desdobramentos remanescentes mediante alteração constitucional que traslade o ordenamento jurídico para as bandas da pluralidade, elegendo como responsáveis pelo custeio da organização do sindicato exclusivamente aqueles que se beneficiam com sua atuação; ou se mantém o sindicato único com a excrecência representada pelo dever de representar e defender os direitos de associados e não associados, mantendo-se a única fonte de custeio existente para propiciar essa hercúlea tarefa sobre os ombros de todos os beneficiários, sob pena de fragilizar a organização sindical de forma incompatível com o delineado constitucionalmente e propiciar o enriquecimento sem causa dos não associados que paradoxalmente continuariam se beneficiando com a atuação do sindicato sem precisarem custeá-la.141

Sendo assim, a unicidade sindical e a representatividade obrigatória, por consequência, sem o pagamento, por meio de um tributo autorizado constitucionalmente de forma expressa no artigo 8º, IV da CF afrontam o modelo sindical brasileiro, caracterizando-se, ainda que de forma demorada, como restrição ao âmbito de proteção do direito reconhecido a um regime sindical.

A nota técnica n. 1º, de 27 de abril de 2018, do Ministério Público do Trabalho (MPT), por meio da Coordenadoria Nacional de Promoção da Liberdade Sindical (CONALIS) avaliou que a forma abrupta como foi pensado e aprovado o fim da contribuição sindical, sem qualquer diálogo com o movimento sindical, deixa transparente o real motivo da classe patronal em comemorar esse ponto da nova lei: o enfraquecimento dos sindicatos e centrais sindicais que defendem os direitos da classe trabalhadora.142

Afirma a Coordenadoria:

A alteração da natureza jurídica da contribuição sindical (perda da compulsoriedade) implicará na debilidade econômica das entidades sindicais e, por conseguinte, no prejudicial enfraquecimento da ação sindical de tutela dos interesses e direitos de seus representados.143

Diante disso, outro impacto que os sindicatos representantes da categoria profissionais e da categoria econômica tiveram foram os recursos drenados pelo fim da obrigatoriedade da contribuição sindical. Dados oficiais mostram que em 2018,

141 DALLEGRAVE NETO, José Affonso; KAJOTA NETO, Ernan. Reforma trabalhista: ponto a ponto. São Paulo: LTr, 2018, P. 222.

142CONJUR. NOTA TÉCNICA n. 1º, de 27 de abril de 2018. Disponível em

https://www.conjur.com.br/dl/mpt-afirma-reforma-trabalhista-nao.pdf. Acessado em 25 out de 2019.

primeiro ano cheio da reforma trabalhista, a arrecadação do imposto caiu quase 90%, de R$ 3,64 bilhões em 2017 para R$ 500 milhões no ano passado. A tendência é que o valor diminua a cada ano.144

A consequência foi uma brutal queda dos repasses às centrais, confederações, federações e sindicatos, tanto de trabalhadores como de empregadores.

As entidades sindicais podem estar expostas ao risco, inerente à abrupta modificação na forma de seu custeio pela legislação infraconstitucional impugnada, de modo a não conseguirem dar cumprimento aos seus misteres institucionais, constitucionalmente estabelecidos.

Diante desse novo cenário as entidades sindicais, com corte brusco no financiamento põe em risco a própria existência da entidade sindical e cria uma situação inexistente no mundo: um sistema em que os trabalhadores têm acesso aos direitos produzidos e conquistados pelos sindicatos, mas sua contribuição para a entidade torna optativa.

144 SILVA, Cleide. Sindicatos perdem 90% da Contribuição Sindical 1 ano da reforma trabalhista. Estadão. 2019. Disponível em: https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,sindicatos-perdem-90-da-contribuicao-sindical-no-1-ano-da-reforma-trabalhista,70002743950. Acesso em: 22 out. 2019.

CONCLUSÃO

É sabido a importância dos sindicatos para todos os trabalhadores, tendo em vista que são por meios deles que as categorias se organizam e conseguem exercer coerção em frente aos seus empregadores em relação às conquistas de novos direitos para a categoria, evitando os desmontes de seus direitos.

Fantasiar uma sociedade sem uma entidade sindical, para defender os interesses inerentes dos seus representantes, provoca um cenário onde sempre prevalecerá o interesse do capital, ou seja, o interesse dos empregadores.

Durante o deslinde do presente trabalho, que abortou o fim da contribuição sindical compulsória, trazida pela Reforma Trabalhista, ficou evidenciado um novo cenário para as entidades sindicais brasileiras.

A contribuição que era até então a principal fonte de receita das entidades sindicais, e, com a supressão de forma abrupta da retira da fonte de custeio, essa que já perdurou por 70 anos, acarretará em vários problemas relacionados à representatividade dos sindicatos com a sua categoria.

Ou seja, aludido ao poder de representação das entidades sindicais, conferida pela Reforma Trabalhista, estes terão que descobrir novas fontes de renda, e, enquanto não forem capazes de obter novas fontes de arrecadação com o proposito de alcançar uma equivalência ao que era antes recebido por meio da contribuição sindical, ficando assim com sua representatividade irremediável, em face da redução nas negociações.

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