• Nenhum resultado encontrado

O horizonte de expectativa da Roma Antiga no século I a.C

CAPÍTULO I: VIRGÍLIO: UM HOMEM E O SEU TEMPO

1.2 O seu tempo

1.2.1 O horizonte de expectativa da Roma Antiga no século I a.C

Após a morte de Júlio César uma nova disputa pelo poder se inicia. A busca para ocupar o lugar do ditador foi ávida, de maneira simbólica, de início, e física em seu final. As duas grandes figuras de destaque nessa disputa são, certamente, Marco Antônio e Otávio. O primeiro fora cônsul e um leal guerreiro de César, tendo entrado em batalha pelo ditador em diversas ocasiões, principalmente na conquista da Gália. Já o segundo, um jovem que poucos acreditavam que enfrentaria uma contenda pelo poder (GRIMAL, 1992, p. 20), fora adotado por Júlio César e reclamava seu lugar como herdeiro legítimo do ditador. Com pouca experiência em batalha e prestígio, é de se imaginar que Otávio teria quase nenhuma vantagem frente ao seu concorrente, exceto o fato de ser filho adotivo do general assassinado.

Partindo desse panorama, observar os eventos subsequentes aos Idos de Março se torna um profícuo cenário para hipóteses e percepções das manobras políticas feitas por ambos os lados. Tal é a força dessa proposição que Pierre Grimal aponta que:

Os historiadores têm se interrogado, desde a Antiguidade, em que medida Otávio era sincero quando certificava o caráter divino do seu pai adotivo e ainda em que medida, ao dar apoio à crença popular, mais não fazia do que usar para seus próprios fins a superstição da turba (GRIMAL, 1992, p. 21).

Nota-se que a divinização de César e a legitimação do poder nas mãos de Otávio se faz pelo apelo às tradições romanas. Uma estratégia certamente distinta a de seu opositor, Marco Antônio, que buscou ocupar o lugar do ditador a partir do comando das legiões e respaldo militar. A grosso modo, podemos inferir que enquanto um tentou conquistar o poder pelas armas, o outro se concentrou em conquistar os espíritos32. Entretanto, sabemos que as armas foram necessárias nesse

32 Utilizamos a expressão “conquistar os espíritos” de Pierre Grimal, em seu livro O século de Augusto (1992), uma

processo e que as batalhas travadas em mais uma guerra civil foram inevitáveis. Porém, antes de findarem suas diferenças políticas, Marco Antônio e Otávio, junto com Lépido, dominaram a República por cinco anos, através da lex Titia, ao qual os confere o título de “triúnviros do poder constituinte” (GRIMAL, 2011, p. 40). Aqui inicia-se o chamado segundo triunvirato. A partir de uma manobra política de Otávio, que revogara a lei que anistiava os senadores envolvidos na morte de César, começou-se a perseguição e mais uma série de batalhas sangrentas pelo poder.

Os primeiros a sofrerem foram os assassinos de César. Plutarco nos conta que o Daimon33 de Júlio César perseguiu seus algozes após sua morte e que, um a um, os caçou até não sobrar nenhum (PLUTARCO, Vida de César, LXIX, 2). Sabemos que quem vingou o ditador foram seus herdeiros, sendo representados na passagem do grego como esse demônio de César. Tanto Otávio quanto Marco Antônio, unindo seus exércitos contra o inimigo em comum, dedicaram-se a punir os conspiradores e levá-los a morte. Dentre as vítimas feitas nessa perseguição estão Cícero, Cássio e Brutus, este último tendo cometido suicídio na batalha de Filipos (PLUTARCO, Vida de César, LXIX, 13-14). A vingança pela morte de César marca um dos diversos momentos em que a memória do ditador é utilizada como arma política, sendo também um dos últimos golpes sofridos pela República, que agonizava. Não podemos afirmar, todavia, que as motivações para a perseguição dos assassinos tenha sido apenas a obtenção do poder. Devemos compreender que provavelmente, tanto Marco Antônio como Otávio, sentiam-se na obrigação de punir os conspiradores, em respeito à própria dignitas do general. É nessa linha tênue entre a cultura e a busca pela legitimação do poder que caminharemos.

Outro ponto importante acontece em 42 a.C., quando Júlio César é divinizado. Essa passagem se torna uma das mais importantes do período, uma vez que graças a essa divinização Otávio ganha o título de “filho de Deus” (BEARD, 2015, p.336) tendo agora não apenas uma legitimação “jurídica” para governar (sendo herdeiro direto de Júlio César), mas também uma razão divina para postulante ao posto deixado pelo seu pai. Se faz necessário atentar para esse ponto. Primeiro devemos entender o peso desse argumento dentro da estrutura romana. Devemos lembrar, antes de tudo, que essa é uma sociedade marcada por uma forte presença da religião na política, sendo praticamente impensável uma análise dessa natureza com essas duas categorias separadas. O chefe político (principalmente no Império) muitas vezes também exercia cargos sacerdotais. O título de

33 Daimon, segundo a tradição grega, seria um espírito que guia cada homem em sua vida e também em sua morte,

Augustus, por exemplo, é retomado por todos os imperadores, desempenhando a função imperial de modo que se torna inseparável da sacralidade (GRIMAL,2011, p. 60). Para além disso, a religião mostrava-se presente no cotidiano dos romanos, seja pela realização de cultos e ritos como também por festivais e celebrações. Não por acaso, o poeta Ovídio escreveu os fastos, um calendário dedicado a descrever as datas e celebrações romanas.

Visto esses apontamentos, o fato de Otávio tornar-se filho de um Deus (Diui filius) não poderia ser ignorado dentro dessa disputa política. Um indivíduo com natureza divina, dentro das perspectivas lançadas acima, adquire uma força política que dificilmente poderia ser comparada. Talvez por isso Marco Antônio, estando responsável pela parte Oriental do território romano, tenha se outorgado como um “novo Dioniso” (GRIMAL, 2011, p. 60), a fim de não perder espaço dentro dessa contenda. Todavia, as armas políticas não se limitavam às legitimações por meio de exércitos, conspirações e parentescos divinos. A difamação também se mostrava como uma poderosa aliada dos políticos. Ela é perceptível em diversos momentos da história romana. Percebemos que muitos dos escritos, principalmente biografias, revelam, em alguns casos, um caráter estereotipado e caricatural de alguns indivíduos.

No caso de Otávio e Marco Antônio, a difamação foi uma estratégia útil para o filho adotivo de César, polarizando sua imagem com a do seu adversário. Enquanto Otávio se apresentava como legitimo romano, filho de um deus e defensor de sua cultura, acusava Antônio de estar distante, trocando a cultura romana pela oriental e não respeitando as tradições, oferecendo banquetes, solenidades e celebrações restritas aos romanos pelos os egípcios (BEARD, 2015, p. 343). Apesar de acharmos óbvia a constatação de que a difamação é uma arma política e que ao analisarmos devemos ter esse fato em nossas mentes, não percebemos que nós mesmos, mais de dois milênios depois, caímos no discurso gerado por Otávio Augusto. A imagem estereotipada sobre Marco Antônio se fez dentre os seus biógrafos, mas também se faz um lugar comum da historiografia até os dias atuais. Peguemos como exemplo um trecho do livro A morte de César, escrito pelo historiador americano Barry Strauss:

Quando jovem, Antônio atraíra um bocado de atenção em Roma, onde se tornou famoso por suas bebedeiras, por manter relacionamentos sexuais com muitas mulheres, por acumular dívidas e andar sempre em más companhias. Pela metade da casa dos seus vinte anos de idade, Antônio já havia ultrapassado a fase mais “selvagem” de sua juventude. [...] Os tradicionalistas sentiam-se ofendidos pelo estilo de vida dissoluto e degenerado que Antônio reassumira, deleitosamente. Várias fontes referem-se a noites de selvageria, aparições de “ressaca” em público, vômitos em pleno Fórum e passeios em carruagens tracionadas por leões (STRAUSS, 2017, p. 30-31).

A dicotomia gerada entre o casto e virtuoso Otávio em contraposição ao beberrão e desrespeitoso Marco Antônio pode parecer visivelmente artificial, fruto de uma distorção de fatos e construção de uma imagem. Por outro lado, negar os estereótipos mostra-se uma tarefa de relativa complexidade, pois as fontes, principalmente as escritas, reverberam a “propaganda” positiva de Augusto e a difamação frente à imagem de Antônio. Beard aborda tal questão em seu livro SPQR, uma história da Roma Antiga, ao falar que:

Há também um ponto de interrogação sobre o quanto o estilo de vida de Cleópatra e Marco Antônio foi de fato tão extravagantemente imoral, ou antirromano. Os relatos que chegaram até nós não são uma completa invenção [...], mas é absolutamente claro que, tanto na época quanto, ainda mais, em retrospecto, Augusto explorou a ideia de um conflito entre suas próprias tradições romanas, ocidentais, profundamente arraigadas, e o excesso “oriental” que Antônio e Cleópatra representavam (BEARD, 2015, p. 345). Sobre esse trecho podemos inferir dois argumentos que nos norteiam frente à questão da difamação: o primeiro é de criticar as fontes, como bem coloca Beard, entendendo que elas estão imersas em um cenário de falar de quem foi derrotado, contrapondo a visão dos vencedores. O segundo ponto é o de que devemos levar em conta que Otávio foi o vencedor da contenda, o que lhe garantiu as honras na escrita da história, fazendo com que sua visão se perpetue mais vividamente. Tendo essas perspectivas em mente, não podemos ignorar o poder dos elementos subjetivos dentro dessa disputa política, que agem dentro da cultura e manobra da opinião pública, além das diversas formas de legitimação do poder. As espadas foram as últimas a serem usadas, sendo, antes disso, outras armas usadas em demasia e com maior efetividade. Podemos, por fim, pensar na hipótese de que tais elementos subjetivos tiveram maior peso do que a experiência em batalha ou número de legionários à disposição do exército de cada um.

O ápice, e talvez a mais notória, das manobras políticas de Otávio Augusto ocorreu em 32 a.C. Tomando posse do testamento de Marco Antônio, o herdeiro de César incriminou seu adversário alegando uma conspiração contra Roma (BEARD, 2015, p. 343). Sob esse pretexto a guerra os alcançou, finalmente, no ano seguinte. A mais famosa e decisiva desses confrontos ocorreu no Áccio, na qual Otávio se consagrou vencedor. Há muitas razões para explicar a importância dessa batalha e as razões pela qual Otávio foi o vencedor. Podemos falar que ela marca o fim das disputas de Otávio e Marco Antônio, mas claramente percebemos, ao olhar o desdobramento desse fato, que a batalha representa mais do que apenas o fim de mais uma guerra civil.

A vitória no Áccio é vista como a salvação de Roma, a ameaça que pairava sobre as águias romanas havia sido extinta quando Marco Antônio resolveu fugir do campo de batalha com a rainha egípcia. Tamanha fora a importância desse fato que há registros em diversos textos da época. Destacamos aqui o trecho de uma elegia de Sexto Propércio que se dedica a narrar e a exaltar Augusto em batalha, fazendo uma oposição das virtudes do princeps com as debilidades dos seus adversários. Assim escreveu o poeta:

Est Phoebi fugiens Athamana ad litora portus qua sinus Ioniae murmura condit aquae, Actia Iuleae pelagus monumenta carinae, nautarum uotis non operosa uia.

Huc mundi coiere manus: stetit aequore moles pinea, nec remis aequa fauebat auis.

Altera classis erat Teucro damnata Quirino, pilaque femineae turpiter acta manu: hinc Augusta ratis plenis Iouis omine uelis, signaque iam patriae uincere docta suae

há um porto de Febo em margens atamanes Onde o golfo murmura em águas Jônias E o mar Ácio se faz monumento às mais Júlias: Via fácil aos votos dos marujos.

Lá colidiram mundos – um Pinhal nas ondas De augúrios desiguais por cada remo Uma esquadra fadada por Teucro Quirino Tinha lanças sem honra em mão femínea, E aqui na Augusta nave, as velas vêm de Jove

Insígnias vencedoras pela pátria34

(PROPERCIO, Elegias, 4.6, v. 15-24)

Propércio apresenta Marco Antônio como um homem sem honra, nas mãos de uma mulher, enquanto Otávio Augusto guia sua nave pela pátria. Não se coloca à serviço de outro se não da própria Roma. A diferença dos dois comandantes faz-se na ideia de que “colidiram mundos”, mostrando uma relação de alteridade entre os dois exércitos. Essa relação também pode ser percebida na utilização do termo “Teucro” para referir-se a Marco Antônio, uma vez que o termo pode ser empregado como um sinônimo de estrangeiro (GRIMAL, 2005, p. 445). Logo, temos um exército luta pela pátria e o outro já é visto como um inimigo estrangeiro, não mais um cidadão de Roma. Portanto, a vitória de Otávio Augusto representa bem mais do que apenas a consolidação de seu poder dentro da estrutura política romana, mas sim a solução para as crises da República,

sendo a vitória sobre Marco Antônio uma vitória mais externa, ao defender-se de um invasor, do que uma disputa interna entre dois romanos, como foram as disputas entre Júlio César e Pompeu.

Quanto aos derrotados, Marco Antônio e Cleópatra escaparam da batalha, mas encontraram a morte pelo suicídio. Primeiro Marco Antônio, em seguida a rainha egípcia. Esse episódio põe fim a maior crise civil da história romana, a qual inicia-se com a morte dos irmãos Graco (WOOLF, 2017, p. 159). Após a vitória, não restava mais obstáculos à frente do jovem Otávio, pouco acreditado uma década atrás, acabava de se tornar o salvador do Estado romano. Essa salvação pode ser entendida tanto na forma física, de ter protegido Roma das “garras” de Marco Antônio e Cleópatra, como também uma salvação moral, representada sobre sua própria figura.

A partir da batalha vencida, começa uma nova jornada na vida de Otávio Augusto. O de ser o

princeps, o primeiro dos romanos, aquele que evoca para si todas as qualidades necessárias do

cidadão romano. Woolf destaca as qualidades de Augusto ao apontar o episódio em que o senado romano dá a Augusto um grande escudo onde estavam elevadas Valentia, Justiça, Clemência e Devoção (WOOLF, 2017, p.160). Nota-se aqui mais uma vez a reverberação das qualidades de Júlio César e sua autopromoção. A clemência, tanto difundida pelo ditador, como rejeitada pelos seus opositores por ferir o espírito republicano, agora é de fato consagrada como uma virtude essencial de Augusto, honra dada pelo próprio Senado. Podemos pensar que nesse momento o espírito republicano já está perdido, estando agora a estrutura política Romana concentrada na moral e virtude de um só homem, apoiado pelo corpo do Senado. Esse mesmo Senado vai conceder honrarias e o próprio título de Augusto ao princeps Otávio, selando seu poder constitucional dentro dos muros de Roma.

Pensando nesse panorama da sociedade romana, podemos começar a investigar o impacto da obra literária de Virgílio em seu tempo. Aqui falamos necessariamente da Eneida, apesar de sabermos que seus outros escritos também contam e ajudam-nos a entender melhor a relação entre o autor e a vida que o cercava, assim como a recepção de sua obra. Para tanto, pensamos em acordo com o crítico literário alemão Hans Robert Jauss, o qual explica que a recepção de uma obra literária pelo seu público é fundamental para entendermos seu impacto e compreensão. Segundo Jauss, uma obra é destinada a um público, sendo a análise posterior feita não entrando nessa equação. Em resumo: as obras não são escritas para serem lidas por historiadores ou críticos, mas sim pelo seu público (JAUSS, 1994, p. 23).

Tal afirmação, por mais óbvia que nos pareça, também nos leva a refletir sobre o nosso objeto de estudo. Portanto, mostra-se impossível analisar o canto VI da Eneida sem levar em consideração os aspectos externos e a recepção da mesma na antiguidade. A construção desse espectro externo foi desenvolvida, nos dando a possibilidade de perceber as disputas e incertezas dentro do momento histórico do poeta. Cabe-nos agora entendermos como a recepção dessa obra dentro da sociedade romana pode ter sido positiva ou negativa. Valer-nos-emos de outro importante conceito na teoria da recepção de Jauss, a qual denomina-se “Horizonte de expectativa”. O horizonte de expectativa parte da ideia de que toda obra literária é recepcionada por seu público a partir de uma expectativa sobre tal. Essa expectativa pode ser alcançada ou quebrada e parte de alguns critérios básicos, dentre eles: as normas conhecidas do gênero em que a obra fora escrita; a relação implícita com obras do seu contexto histórico-literário; a oposição entre a ficção e a realidade (JAUSS, 1994, p. 29).

Dentro desses critérios, uma obra que atende a essas perspectivas irá atingir o horizonte de expectativa de seu público. Caso contrário, a obra poderá quebrar esse horizonte, causando uma ruptura com algum padrão de gênero ou estilo literário. Segundo Hans Robert Jauss:

O horizonte de expectativa de uma obra, que assim se pode reconstruir, torna possível determinar seu caráter artístico a partir do modo e do grau segundo o qual ela produz seu efeito sobre um suposto público. Denominando-se distância estética aquela que medeia entre o horizonte de expectativa preexistente e a aparição de uma obra nova - cuja acolhida, dando-se por intermédio da negação de experiências conhecidas ou da conscientização de outras, jamais expressas, pode ter por consequência uma "mudança de horizonte"-, tal distância estética deixa-se objetivar historicamente no espectro das reações do público e do juízo da crítica (sucesso espontâneo, rejeição ou choque, casos isolados de aprovação, compreensão gradual ou tardia) (JAUSS, 1994, p. 31).

Podemos perceber, portanto, que o horizonte de expectativa de uma obra se faz com elementos intrínsecos ao gênero literário ao qual está vinculada, assim como os acontecimentos externos ao autor. Pensando no nosso objeto de estudo, o horizonte de expectativa da Eneida está, necessariamente, ligado ao contexto histórico que o circunda. Não por acaso, Virgílio demarca de forma explicita alguns acontecimentos e enaltece os grandes personagens de Roma, em especial Otávio Augusto e Júlio César, o que veremos nos capítulos seguintes. Por hora, pensemos na recepção da Eneida enquanto uma obra de cunho literário. Se atentarmos a sua forma, perceberemos que Virgílio segue um padrão de estrutura narrativa do épico, baseado nas obras de

Homero35. Por sua vez, não busca quebrar uma estética, mas utiliza-se da mesma para moldar os elementos e estruturas à sua realidade.

Se seguirmos as categorias de análise estabelecidas por Jauss perceberemos que a Eneida alcança o horizonte de expectativa do seu público, sendo assim uma obra muito bem recepcionada em seu tempo. E quem seria esse público? Em um primeiro momento devemos entender como a elite intelectual romana, a que primeiro teve acesso e condições de leitura da obra. Estamos falando dos próprios poetas, dos senadores e do princeps Otávio Augusto. A recepção entre estes pareceu muito positiva, segundo Suetônio. O biografo afirma que mesmo antes de nascida, a Eneida já causava uma expectativa positiva entre os interessados nas artes poéticas (SUETÔNIO, Vida de Virgílio, 30). A fama da obra estendeu-se de tal maneira que Sexto Propércio a elogiaria em uma de suas elegias, afirmando que tinha nascido uma obra mais grandiosa que a Ilíada (PROPERCIO, Elegia II, 2.34, v. 60 – 65). Tais elogios e a rápida assimilação da epopeia dentro da sociedade romana nos faz crer que a sua aceitação fora de imediato. Ovídio (Fastos, II, v. 543 – 548) e Sêneca (Cartas a Lucílio, LXX) referenciaram tanto as aventuras de Eneias quanto o próprio Virgílio em seus escritos que não podemos pensar na possibilidade que houvesse uma rejeição significativa das ideias apresentadas pelo poeta da Eneida. Apesar dos críticos e comentadores, podemos entender como positiva a relação da obra com o seu horizonte de expectativa. Tão positiva que a Eneida rapidamente tornou-se um elemento de educação do cidadão romano, tornando um ponto de partida para a formação do indivíduo no Lácio e nas províncias ocidentais nos séculos vindouros (WOOLF, 2017, p. 37).

Partindo dessas evidências, podemos aferir que a recepção da obra fora bem-sucedida.