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4. CAPÍTULO 3 – CONTRARREFORMA NEOLIBERAL DO ESTADO

4.1. O ideário liberal de criação de um Estado mínimo

b) Princípio da Anterioridade: este princípio está consagrado no § 6º do artigo 195 da Constituição Federal, o qual dispõe que as contribuições sociais só poderão ser exigidas após decorridos 90 (noventa) dias da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não sendo aplicado, portanto, o disposto no artigo 150, inciso III, alínea “b”.

As normas gerais em matéria tributária, a que estão sujeitas as contribuições sociais, estão previstas no Código Tributário Nacional a qual foi recepcionada pela Constituição Federal de 1988 com o status de lei complementar. A regulamentação das contribuições para a Seguridade Social prevista no artigo 195 da Constituição por meio de lei ordinária (Lei 8.212/1991) tem sido admitida, desde que não haja afronta às normas gerais definidas na CF e no CTN.

4. CAPÍTULO 3 – CONTRARREFORMA NEOLIBERAL DO ESTADO

4.1. O ideário liberal de criação de um Estado mínimo

O Estado Democrático de Direito nas nações capitalistas desenvolvidas do mundo vem se afirmando, cada vez mais, no modo de produção capitalista contemporâneo como um Estado mínimo. Nada mais oportuno me parece, do que refletir sobre os meandros da categoria Estado na sociedade capitalista, pois são as transformações que ocorrem neste modo de produção capitalista através das crises cíclicas do capital que geram as diferenças e excludentes, que se baseia na divisão social do trabalho e divisão de classes, na qual uma classe social irá se sobrepor a outra.

O Estado mínimo reflete um novo relacionamento entre Estado e sociedade, no qual a sociedade tem a primazia na solução dos seus problemas, só devendo recorrer ao Estado de forma subsidiária. Em outras palavras o Estado mínimo inspirado pelo ideário liberal, busca a prevalência da liberdade individual, a qual se aperfeiçoa com a mínima atuação do Estado exclusivamente como garantidor dos direitos que materializam essa liberdade e prol dos interesses da economia de mercado.

O Estado mínimo vem substituir historicamente o Estado de Bem estar Social, no qual havia a predominância do Estado sobre a sociedade ou até uma

46 certa simbiose entre ambos. Podemos dizer que o Estado mínimo remotamente se extrema no Estado liberal clássico, que privilegiava a liberdade individual e no qual o indivíduo tinha a preeminência diante do organismo estatal.

O Estado liberal clássico tinha por objetivo a proteção dos direitos individuais do cidadão, que começou a ser contrabalançada no Estado de Bem estar Social com a de segurança social (seguridade social) e culmina, no Estado mínimo, com a de seguro social. Os riscos e a insegurança da sociedade contemporânea não podem ser eliminados, mas devem ser aliviados por mecanismos de segurança social e econômica.

Para Bobbio, o liberalismo e democracia só podem conviver em um mesmo tipo de Estado através da sobreposição de um fenômeno a outro.

“Na acepção mais comum dos dois termos, por ‘liberalismo’ entende-se uma determinada concepção de Estado, na qual o Estado tem poderes e funções limitadas, e como tal se contrapõe tanto ao Estado absoluto quanto ao Estado que hoje chamamos de social; por ‘democracia’ entende-se uma das várias formas de governo, em particular aquelas em que o poder não está nas mãos de um só ou de poucos, mas de todos, ou melhor, da maior parte, como tal se contrapondo às formas autocráticas, como a monarquia e a oligarquia. Um Estado liberal não é necessariamente democrático: ao contrário, realiza-se historicamente em sociedades nas quais a participação no governo é bastante restrita, limitada às classes possuidoras. Um governo democrático não dá vida necessariamente a um Estado liberal: ao contrário, o Estado liberal clássico foi posto em crise pelo progressivo processo de democratização produzido pela gradual ampliação do sufrágio até o sufrágio universal.” (BOBBIO, 2005, p.08).

Se no mundo Antigo a forma de governo denominada democracia dizia respeito à distribuição do poder a todos os membros da comunidade civil e política, no mundo Moderno e Contemporâneo a forma de governo da democracia diz respeito à limitação e a distribuição do poder, não entre a sociedade civil e política mas entre determinadas frações de classe da sociedade civil e política. Trata-se de uma concepção de liberdade sem substancialidade, através da qual a afirmação da liberdade individual de caráter privado implica na negação da liberdade coletiva de caráter público.

47 O núcleo central do Estado liberal se encontra nos fundamentos da doutrina do direito natural, para a qual o Estado nasce de um contrato social estabelecido entre homens igualmente livres, com o único intuito da autopreservação e da garantia de seus direitos naturais. Eis os fundamentos do Estado liberal, a garantia das liberdades individuais advindas do estado natural concebida enquanto limites do poder concedido ao Estado, ou seja, as liberdades individuais são elas próprias os limites do Estado liberal.

A Teoria do Estado liberal divide-se em três vias: teorias jusnaturalistas, teorias da divisão dos poderes e teorias da soberania popular. O que nos interessa neste momento especifico, é a relação entre as teorias jusnaturalistas e as teorias da divisão dos poderes.

A relação que se pode estabelecer entre a primeira e a segunda ocorre a partir da concepção de divisão de poderes em Locke, que aparece na forma dos poderes: Executivo, Legislativo e Federativo. Todavia, pode-se dizer que o terceiro poder é um aspecto do poder Executivo, portanto, a tendência é excluí- lo de forma a examinar a relação entre o primeiro e o segundo, que expressam a submissão do poder Executivo ao Legislativo. (MASCARO, 2015, p.37).

Somente a partir desta concepção atomista individual singular é que se torna possível o acordo consensual que institui aquele corpo político artificial, à imagem e semelhança dos indivíduos, capaz de garantir os direitos naturais do homem. Todavia, a mistificação do Estado liberal burguês se encontra justamente na sua justificação racional legal, ou seja, no caráter hipotético advindo do jusnaturalismo, pois essa doutrina parte de um estado originário de plenas liberdade e igualdade, enquanto tais substantivos são resultados da luta de classes travadas ao longo da história.

Assim Norberto Bobbio estabelece a relação entre Estado Liberal e Estado Democrático:

“A diferença entre estado liberal do tipo de Locke e estado democrático pode ser reduzida em última análise a uma diferença entre duas concepções da liberdade: o liberal entende a liberdade como não-impedimento, ou seja, como a faculdade de agir sem ser dificultado pelos outros, e cada um sem encontrar obstáculos; o democrático, todavia, entende a liberdade como autonomia, e cada um então tem liberdade tão maior quanto mais a vontade de quem faz as leis se identificar com a vontade de quem

48 deve obedecer a essas leis. Segundo o liberal, o Estado corresponde tanto mais ao ideal quanto mais suas ordens forem limitadas; para o democrático, o Estado é tanto mais perfeito quanto mais suas ordens exprimirem a vontade geral. No primeiro, o problema fundamental da liberdade coincide com a salvaguarda da liberdade natural; no segundo, com a eliminação da liberdade natural que é anárquica, e na sua transformação em liberdade civil que é a obediência à vontade geral. Assim, Rousseau pensou poder conciliar a instituição do Estado com a liberdade, visando a uma liberdade que não é a desordem dos instintos, mas a participação consciente e de acordo com a lei do Estado”. (BOBBIO, 1997, p.48). Partindo-se da afirmação de Norberto Bobbio, segundo a qual “o Estado liberal se afirma na luta contra o Estado absoluto em defesa do Estado de direito e contra o Estado máximo em defesa do Estado mínimo”. (BOBBIO, 2005, p.18), constitui-se enquanto método de análise, parâmetros capazes de qualificar Liberalismo e Neoliberalismo e, ao mesmo tempo, diferenciar processos de liberalização de democratização, que aparecem em boa parte da literatura liberal e no próprio senso comum enquanto sinônimos.

A ideia dos antecessores do liberalismo era a de que se deveria erguer um Estado que se contrapusesse aquele Estado advindo do antigo regime. Portanto, o Estado liberal ergue-se sobre os pressupostos da limitação do poder estatal em contraposição ao poder estatal absoluto. Este Estado presupõe a compreensão de que o mercado deve ser livre das intervenções do Estado, que deverá ralizar o mínimo de intervenção nas relações sociais, de modo que o bem estar coletivo insurja a partir dos esforços individuais.

O Estado liberal burguês nasce da desagregação política, econômica e sócio cultural do antigo regime que tem seu início com a Revolução Gloriosa na Inglaterra, depois, a Revolução Americana em 1776 e em seguida a Revolução Francesa em 1789, e encontra sua justificativa racional no livre acordo estabelecido por indivíduos igualmente livres, que convencionam constituir um estado político e civil fundado nos direitos naturais.

Nesse sentido, a doutrina dos direitos naturais, o contratualismo e a doutrina liberal estão umbilicalmente ligados uns aos outros, pois o pressuposto de uma e de outra doutrina, bem como do próprio contratualismo é

49 a concepção atomista da sociedade, segundo a qual a sociedade é o resultado consensual de indivíduos singulares.

Talvez um parâmetro razoável para qualificar Liberalismo e Neoliberalismo se encontre na relação entre limites de poder e limites de funções do Estado liberal burguês.

Nesse sentido, partir-se a da hipótese de que o Estado liberal burguês só é pleno quando o processo de liberalização das formas de organização e administração da vida social se encontra no marco tanto das limitações de poder quanto da limitação de funções do Estado, pois enquanto as primeiras expressam a determinação do Estado de Direito as segundas expressam a determinação do Estado mínimo. Ora, um Estado liberal burguês pleno implica hegemonia civil da burguesia, que organiza e administra as formas de produzir a vida objetiva e subjetivamente sem nenhuma oposição das classes subalternas.

Quando os limites do Estado liberal burguês se restringem apenas ao poder, a mera liberalização das relações garantidoras dos direitos naturais sede espaço para a possibilidade efetiva de democratização das relações sociais e da cotidianidade, ampliando-se assim, os direitos da esfera individual para a esfera social.

Todavia, quando os limites do Estado liberal burguês avançam para as funções deste Estado, o processo de democratização se torna árido, possibilitando em última instância seu total esgotamento e um recuo dos direitos sociais para a mera garantia dos direitos individuais.

O primeiro movimento desmistifica a natureza do Estado liberal burguês, pois a correlação de forças entre as classes fundamentais do modo de produção capitalista obriga as classes dominantes a fazer concessões às classes subalternas, possibilitando-se assim um processo de democratização daquele Estado.

Já o segundo movimento mistifica o Estado liberal burguês, pois através do procedimento de justificação hipotético racional legal oculta todas as determinações históricas advindas da luta de classes, compreendendo-as enquanto resultado natural da liberalização. Ora, para apreender o movimento constitutivo do Estado liberal burguês se torna necessário distinguir os processos de democratização e liberalização.

50 De acordo com essa hipótese, liberalismo e democracia podem ser caracterizados enquanto termos antitéticos, pois a determinação de um Estado liberal burguês pleno implica a exclusão de toda e qualquer possibilidade democrática, enquanto que um Estado Democrático implica na corrosão de todos os fundamentos do liberalismo.

Assim, em um Estado liberal burguês pleno a democracia é puramente técnico formal e não possui nenhuma substancialidade, restringindo-se a um mero Estado de Direito mínimo, pois a própria concepção de Estado de Direito (KELSEN, 2009), passa a se limitar à existência ou não de um ordenamento jurídico, independentemente da substancialidade qualificadora deste ordenamento.

Nesse sentido, compreendemos o neocontratualismo enquanto expressão teórico prática de um projeto contra reformista, a partir do qual a burguesia recolocara sua hegemonia civil e solapara todos os fundamentos do Estado Democrático de Direito. É da ideia complexa de que o fundamento e o exercício do poder só podem ser legítimos se baseados no consenso que resulta tanto o liberalismo quanto sua relação com a democracia.

Essa concepção de contratualismo é revolucionária visto que ela rompe com a hegemônica concepção política organicista predominante no período Medieval e funda uma ciência política baseada em relações consensuais entre indivíduos, ou seja, a relação entre indivíduo e sociedade assume uma nova forma, através da qual a sociedade passa a ser resultado não de fatos naturais que independem das vontades individuais, mas das próprias vontades dos indivíduos que a habitam.

Somente a partir desta concepção indivisível, individual e singular é que se torna possível o acordo consensual que institui aquele corpo político artificial, à imagem e semelhança dos indivíduos, capaz de garantir os direitos naturais do homem.

Todavia, a mistificação do Estado liberal burguês se encontra justamente na sua justificação racional legal, ou seja, no caráter hipotético advindo do jusnaturalismo, pois essa doutrina parte de um estado originário de plenas liberdade e igualdade, enquanto tais substantivos são resultados da luta de classes travadas ao longo da história.

51 Nesta perspectiva, o liberalismo não pode ser entendido como um corpo de idéias descoladas da realidade, mas sim como uma ideologia da sociedade burguesa, fruto das ações concretas dos homens no tempo histórico. O liberalismo assim, é um conjunto de ideias que tem a finalidade de assegurar a liberdade individual e a propriedade privada. Estas ideias filosóficas foram geradas a parir do surgimento de uma nova sociedade econômica, no final da Idade Média: a sociedade capitalista.

Os princípios liberais primam pelo livre mercado, ou mínima intervenção estatal sobre o mercado de modo que o próprio mercado funcionaria por meio da coletividade de sujeitos que, individualmente contribuiriam para seu funcionamento e articulação para se chegar ao bem comum, sobretudo, se sobrepondo a ideia do trabalho como mercadoria.

O liberalismo não concebe um Estado presente no sentido de regulação da vida social, mas um Estado limitado e repressor, pronto para salvaguardar os interesses do mercado quando necessário, mas que não intervenha de modo a “atrapalhar” as relações livres neste. Entende-se que a intervenção estatal aparece como um mal necessário ao pensamento liberal, isso porque, o aparato legislador e repressor presente nesse Estado são essenciais para a garantia da propriedade privada e da harmonia social.

Cabe salientar que o alvorecer do pensamento liberal tinha como pano de fundo o poder aristocrático e do clericato que conformavam uma poderosa força parasitária nos altos estratos da sociedade durante a vigência do Absolutismo. O contexto estava permeado por uma burguesia economicamente significativa, mas ainda não consolidada enquanto classe social. À época, o pensamento era perfeitamente cabível e tomado como um avanço para a classe burguesa então revolucionária.

Certamente, algum tempo depois da burguesia consolidada e hegemônica assumir o poder do Estado, os limites da proteção da propriedade privada e do livre comércio, o ideário revolucionário burguês provocou na classe trabalhadora concepções distintas, causando desdobramentos adversos como a Primavera dos Povos em 1848.

Podemos dizer que a grande questão do século XVIII, alvo de preocupação para os pensadores da modernidade foi como assegurar a consolidação política da burguesia, por intermédio de um Estado que, valendo-

52 se da lei e da força, protegesse a propriedade privada que não impusesse limites à acumulação do capital.

Adam Smith, representante do chamado Liberalismo Econômico, partia do princípio de que cada homem é adequado a julgar suas ações, defendia que os homens têm propensão natural para a troca e ainda acredita que o papel do Estado é o de proteger as atividades espontâneas dos indivíduos. Defendeu a tese de que, em uma sociedade bem dirigida, a riqueza universal chega até as camadas baixas da população.

Adam Smith discutiu a divisão do trabalho, porque o contexto no qual estava inserido lhe permitia falar de um trabalho socialmente dividido, baseado no contrato de patrão e empregado.

“Essa divisão do trabalho, da qual derivam tantas vantagens, não é, em sua origem, o efeito de uma sabedoria humana qualquer que preveria e visaria a esta riqueza geral à qual dá origem. Ela é a conseqüência necessária, embora muita lenta e gradual, de uma certa tendência ou propensão existente na natureza humana que não tem em vista essa utilidade extensa, ou seja: a propensão a intercambiar, permutar ou trocar uma coisa pela outra.” (SMITH, 1996, p.73).

Essa propensão natural para a troca, segundo ele, permitiria trocar o excedente do seu próprio trabalho e estimularia as pessoas a se dedicarem a uma ocupação específica e a cultivar o talento. Sobre esta questão, Adam Smith (1996), explica que:

“Na realidade, a diferença de talentos naturais em pessoas diferentes é muito menos do que pensamos; a grande diferença de habilidade que distingue entre si as pessoas de diferentes profissões, quando chegam à maturidade, em muitos casos não é tanto a causa, mas antes o efeito da divisão do trabalho.” (SMITH, 1996, p. 75).

Para Smith, não eram necessárias intervenções na economia, visto que o próprio mercado dispunha de mecanismos próprios de regulação da mesma: a chamada “mão invisível”, que seria responsável por trazer benefícios para toda a sociedade, além de promover a evolução generalizada.

53 Os liberalistas defendem a livre concorrência e a lei da oferta e da procura, assim, cada indivíduo seria, então, responsável por merecer sua riqueza, através do seu esforço individual de desenvolvimento do mercado. Até mesmo os salários não deveriam, padecer de regulamentação, mas sim, acompanhar naturalmente o equilíbrio entre oferta e procura.

Tanto assim, que Smith supunha que o somatório dos esforços individuais para melhorar as condições objetivas de existência de cada sujeito surgiria como um todo expresso no bem comum. Para ele, a mão invisível do mercado garantiria esta finalidade. Assim, o Estado seria mínimo, no sentido de fornecer somente:

1) a defesa (contra possíveis inimigos externos); 2) a proteção dos indivíduos contra ofensas; e

3) as obras públicas impossíveis de serem realizadas pela iniciativa privada. Este é o resumo da concepção de Estado adotada por Smith, um dos maiores influenciadores do pensamento liberal em seu auge. O autor cria que a busca por bens materiais seria naturalmente orientadora de sentimentos morais e do senso de dever do conjunto da sociedade. A acumulação de riquezas estaria, assim, diretamente associada à coesão social, a conformidade de uma sociedade voltada para seus deveres, orientados pela moral e pela ética advindas do mercado.

Contudo, apesar de todos os aspectos sob os quais se apresenta a teoria liberal, penso que dois são os fundamentais para entendermos o papel do Estado no mundo capitalista: o econômico e o político. Afinal, é a partir daí, que enquanto teoria econômica, o liberalismo é defensor da economia de mercado e, como teoria política, é defensor do Estado que governe o menos possível ou, seja, do Estado mínimo, pois defende a liberdade como valor supremo e assevera a mínima intervenção do Estado na vida dos particulares como forma de manter livre as relações econômicas.

No liberalismo econômico e político, o Estado exerce um papel gerenciador, fiscalizador, mas não necessariamente um propositor ou um possuidor de instituições. Então, a ideia é que exista um Estado capaz de regular a vida social criando condições para que, individualmente, cada um consiga potencializar seus projetos. O papel do Estado seria o de criar

54 condições para que, individualmente, os cidadãos façam o que bem entendem, persigam as suas metas e potencializem seus dons pessoais.

Assim, podemos afirmar que a doutrina do Estado liberal apresenta-se, em seu nascimento, como a defesa do Estado limitado contra o Estado absoluto. O Estado é mínimo e intervém, apenas, para manter o desenvolvimento econômico.

Portanto, o Estado em um contexto capitalista se constitui em uma arena tensa e contraditória, em que interesses do capital financeiro se contrapõem permanentemente aos interesses dos trabalhadores. No confronto de interesses, a hegemonia do capital se sobrepõe, exigindo das classes trabalhadoras permanente processo de luta para garantia de seus direitos sociais ou ampliação dos mesmos.

Em suma, o liberalismo pode ser definido através do predomínio do individualismo em detrimento da coletividade; pela naturalização da miséria por meio da culpabilização do sujeito como único fator condicionante para tal situação indigna (este não se esforçou o suficiente para garantir sua própria subsistência); pelo predomínio de ideias competitivas; da fragilidade de um Estado mínimo e da concepção de que políticas sociais estimulam o ócio.

No Brasil, as ideias liberais chegaram ao início do século XIX, tendo