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O interesse público no âmbito da Administração Pública

2 INTERESSE PÚBLICO E SUA APLICABILIDADE NA

2.6 O interesse público sob a ótica da gestão pública

2.6.1 O interesse público no âmbito da Administração Pública

No que concerne à perseguição do interesse público, Denhardt e Denhardt apud Denhardt (2012, p. 265) argumentam que a postura dos administradores públicos deve ser de contribuição “para a construção de uma noção coletiva, compartilhada, do interesse público”. Seu objetivo não deve ser "encontrar soluções rápidas movidas por decisões individuais” e sim, criar “interesses e responsabilidade compartilhados”.

O administrador público não é um “árbitro solitário do interesse público”, mas um “ator-chave” dentro da governança, uma vez que desempenha “papel importante no sentido de garantir que o interesse público prevaleça”. Para tanto, é necessário que “as próprias soluções tanto quanto o processo pelo qual se desenvolveram as soluções dos problemas públicos sejam consistentes com as normas democráticas de justiça, fairness e equidade” (DENHARDT, 2012, p. 265).

Ao administrador público, no cumprimento de suas funções de direção pública19, é imposto o “múnus público”, o “encargo de defesa, de conservação e de aprimoramento dos bens, serviços e interesses da coletividade” (SANTOS,

19

Para SANTOS (2006, p. 51) “direção é o processo administrativo que conduz e coordena o pessoal na execução das tarefas antecipadamente planejadas. Dirigir uma organização pública significa conseguir que os agentes públicos executem as tarefas pelas quais respondem.” Ainda, segundo o autor, a “função direção relaciona-se, principalmente, com a orientação a ser dada para as pessoas, por meio de uma comunicação adequada e de habilidade de liderança e motivação. Enfim, a direção deve assegurar que os agentes públicos ocupem cargos e desempenhem suas funções adequadamente.”

2006, p. 13), devendo ele balizar sua conduta e o “emprego do poder de autoridade”, mencionado acima por Sunderfeld (2003, p. 16), como sendo não um poder-dever, mas sim um dever-poder. Nesta lógica, Mello (2009, p. 142) asseverou que “inobstante os poderes” que as funções públicas exprimem “sejam, efetivamente, seu lado mais aparente, visto que tais poderes são antes de tudo “deveres, o que é particularmente visível no caso das competências

administrativas”. Assim, são na verdade “deveres-poderes, expressão esta que

descreve melhor suas naturezas de que a expressão poder-dever”.

Fica patente que os poderes do administrador público são um múnus público e deve a Administração Pública atuar não em prol de si mesma ou de seus integrantes (agentes públicos e políticos e servidores), mas sim, dentro de uma condição de sujeição aos titulares do direito, que é a coletividade a quem representa, como posto por Mello (2009, p. 143), ao concluir “que as competências lhes são outorgadas única e exclusivamente para atender à

finalidade” pública para “qual foram instituídas, ou seja, para cumprir o

interesse público que preside sua instituição”, resultando na propositura de “uma situação de dever: o de prover àquele interesse”. Apesar desses “ditos poderes” possuírem “caráter meramente instrumental”, eles são os meios e à sua falta tornaria impossível para o administrador desempenhar o “dever de cumprir o

interesse público”. Este “é, afinal, o próprio objetivo visado e a razão mesma

pela qual foi investido nos poderes atribuídos”.

É, pois, com a força emanada de todos os povos livres que se pode asseverar que o interesse público é a causa maior da existência da Administração Pública e não menos da própria coletividade, uma vez que porquanto os nossos antepassados pré-históricos não vislumbravam a existência de interesses comuns entre eles (segurança, busca de fonte alimentícia e reprodução) não se associavam formando os antigos clãs ou tribos, primeira forma de organização social derivada do contrato social de Rousseau (2001, pp. 30-1) que, ao

subscrevê-lo, o homem perdeu “a liberdade natural e um direito ilimitado a tudo o que tenta e pode alcançar”, mas como contrapartida ganhou “a liberdade civil e a propriedade de tudo o que possui”.

O interesse público não é somente a supremacia do coletivo sobre o particular, nem a soma dos interesses peculiares dos particulares que fazem parte do todo, como leciona Mello (2009, p. 59), uma vez que “ao se pensar em interesse público, pensa-se, habitualmente, em uma categoria contraposta à de

interesse privado, individual, isto é, ao interesse pessoal de cada um”. Está-se

certo ao dizer que ele se “constitui no interesse do todo, ou seja, do próprio

conjunto social, assim como acertasse também em sublinhar que não se

confunde com a somatória dos interesses individuais, peculiares de cada qual”. No entanto, para o autor, tal entendimento é “muito pouco para compreender-se verdadeiramente o que é interesse público”.

Mello (2009, p. 143) complementa seu raciocínio enfatizando que o interesse público, apesar de sua “prevalência sobre os interesses pessoais peculiares de cada um, não é senão uma dimensão dos interesses individuais”, fazendo e respondendo a seguinte pergunta:

Poderá haver um interesse público que seja discordante do interesse de

cada um dos membros da sociedade? Evidentemente, não. Seria

inconcebível um interesse do todo que fosse, ao mesmo tempo, contrário ao interesse de cada uma das partes que o compõem. Deveras, corresponderia ao mais cabal contrassenso que o bom para todos fosse o mal de cada um, isto é, que o interesse de todos fosse um anti-interesse de cada um.

Não há, pois, como o particular ser contra o interesse do coletivo, pois dentro do seu papel de cidadão deve “olhar para além do autointeresse, e enxergar o interesse público mais amplo; é um papel que toma uma perspectiva mais abrangente e de longo prazo” (DENHARDT, 2012, p. 255). Mesmo que ele em algum caso pontual seja prejudicado pela decisão tomada em prol da

coletividade, visto continuar fazendo parte do todo social. Pode em dado momento “haver um contraposto a um dado interesse individual” seu, mas não um interesse do todo social que se choque com o de um de seus membros (MELLO, 2009, p. 60).

Em um Estado Federal como o Brasil, “deve-se entender como um todo

social a comunidade submetida à competência da entidade integrante da Federação”

(GASPARINI, 2009, p. 16). Pela forma governamental tripartite da Federação, o referido autor assevera que à União cabe atender ao “interesse da comunidade

brasileira”, ao Estado o “interesse da comunidade estadual” e ao Município

compete atender o da “comunidade municipal”, caso contrário, assevera Gasparini (2009, p. 17), “restará muito difícil, senão impossível, ao Município, ao Estado- Membro ou ao Distrito Federal demonstrar que seus comportamentos são de interesse público, já que devem satisfazer à comunidade nacional”.

Uma das formas da Administração Pública buscar o atendimento do interesse público é trabalhar em conjunto com a sociedade. E uma das formas dela unir-se à sociedade para consecução de seus objetivos é buscando parceiros interessados em realizar atividades comuns aos seus interesses e aos da coletividade. Daí decorre as parcerias institucionais, muito utilizadas por entidades públicas de ensino, pesquisa e extensão.