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2 INTERESSE PÚBLICO E SUA APLICABILIDADE NA

2.4 Princípios infraconstitucionais da Administração Pública

2.4.2 Princípio da motivação

Este “princípio implica para a Administração”, segundo Mello (2009, p. 112), “o dever de justificar seus atos, apontando-lhes os fundamentos de direito e de fato”, fazendo “a correlação lógica entre os eventos e situações que deu por existentes” e, quando for o caso, aferir a “conduta administrativa com a lei que lhe serviu de arrimo” apresentando “a providência tomada”.

A motivação “deve ser prévia ou contemporânea à expedição do ato”, variando o momento e o seu formato (menção do fato e da regra a ser aplicada ou o fazendo de forma detalhada) de acordo com o ato a ser praticado (MELLO, 2009, p. 112). Na concepção de Gasparini (2009, p. 23) para se “atender a essa exigência não é absolutamente necessário que do ato conste a explicitação do motivo”.

O atendimento ao princípio da motivação pode ser feito por meio da indicação de “que o ato é praticado em razão do que consta no processo administrativo tal e qual ou que está calcado no parecer de folhas tais”. Assim o

fazendo, “o conteúdo do processo e as conclusões do parecer constituem a motivação dos respectivos atos” (GASPARINI, 2009, p. 23).

Mendes (2008, pp. 197-8) já é mais enfático nesse quesito ao dizer que “por motivação não se pode entender a simples referência ao dispositivo legal que dá base ao ato praticado”. A motivação “para ser válida, deve permitir ao interessado saber de onde o administrador saiu [...] demonstrando a sua competência para a prática desse ato bem como os fatos que os justificam”. “Por onde passou”, por meio da exposição das “normas que teve de seguir para editar o ato de forma válida”, demonstrando como subsidiou os fatos com as “normas que entendeu a eles aplicáveis” e “aonde vai chegar com a prática do ato”, determinando, assim, “a finalidade que a prática daquele ato quis atingir”. E o mais importante: “por que quis chegar até esse ponto”. Ao fazer isso “estará demonstrando que, em face de um interesse ou necessidade pública, aquele ato se mostrava a melhor solução a ser adotada no caso concreto”.

A falta de motivação ou sua ocorrência sem a “intempestiva e suficiente motivação” tornam os atos “ilegítimos e invalidáveis” de ofício pela Administração ou pela via judicial (MELLO, 2009, p. 113), uma vez que a “motivação é necessária para todo e qualquer ato administrativo, consoante já decidiu” o Supremo Tribunal Federal (GASPARINI, 2009, p. 23).

Mendes (2008, p. 193) discorre que “com a Constituição de 1988, ganhou força na doutrina o entendimento pela obrigatoriedade da motivação” uma vez que ela “plasmou o Estado brasileiro como um Estado Democrático de Direito” e, ao assim o modelar, o sujeitou “à ruleoflaw” (à função da Lei), daí “nada mais lógico, nada mais natural que ver na motivação um princípio informador de toda a atividade administrativa”. Gasparini (2009) e Mendes (2008), com base no artigo 50 da Lei nº 9.784/90 (Lei Federal do Processo Administrativo), defendem que na Administração Pública Federal não há lugar

para discussão sobre a possibilidade de um ato administrativo não decorrer de motivação, independentemente de este ser vinculado ou discricionário.

Além da Lei Federal de Processo Administrativo constar em seu artigo 2º “o princípio da motivação como princípio informador da Administração Pública”, inseriu em seu artigo 50 um maior detalhamento acerca do assunto, “determinando as hipóteses em que ela deve ocorrer (incs. I a VIII) e as condições que deve ou pode observar (§§ 1º e 3º)” (MENDES, 2008, p. 193).

Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos, quando:

I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses; II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções;

III - decidam processos administrativos de concurso ou seleção pública;

IV - dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitatório; V - decidam recursos administrativos;

VI - decorram de reexame de ofício;

VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais;

VIII - importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.

§ 1o A motivação deve ser explícita, clara e congruente, podendo consistir em declaração de concordância com fundamentos de anteriores pareceres, informações, decisões ou propostas, que, neste caso, serão parte integrante do ato.

§ 2o Na solução de vários assuntos da mesma natureza, pode ser utilizado meio mecânico que reproduza os fundamentos das decisões, desde que não prejudique direito ou garantia dos interessados.

§ 3o A motivação das decisões de órgãos colegiados e comissões ou de decisões orais constará da respectiva ata ou de termo escrito.

(FIGUEIREDO, 2008, p. 296)

Com a edição da referida lei, o trabalho “do intérprete” passou de “justificar a obrigatoriedade da motivação” para com base em seu artigo 50 “definir os limites e as condições” a serem observados “para o pleno atendimento do comando legal”, uma vez que “de forma geral” a doutrina

“entende que motivar o ato é explicar, explicitar ou expor as razões [...] de fato e direito” que levaram à sua prática (MENDES, 2008, pp. 193-7).

Com a inserção pela Lei nº 9.784/90 de um rol de hipóteses em “que a motivação é expressamente exigida, caberia agora uma pergunta: há taxatividade no rol do art. 50” e que somente “será exigida a motivação nos atos administrativos que se subsumam a uma das hipóteses previstas daquele artigo?” (MENDES, 2008, p. 213-4). A resposta dada pelo autor, e que Gasparini (2009) e Mello (2009) entendem como assertiva, é de que não, visto que “a motivação se consubstancia em princípio constitucional informador do exercício da função administrativa, não se pode entender que a exigência da motivação se limite aos atos” elencados nos incisos I a VIII do artigo 50, uma vez que ali não estão e nem poderiam estar “previstas todas as hipóteses em que a motivação se qualificaria como obrigatória”. Atinge, pois, tal princípio, tanto os atos vinculados como os discricionários.

Entretanto, carece a sociedade de ter confiança nos resultados gerados no âmbito da Administração e lhe são afetos, por isso a importância do princípio da segurança jurídica, que busca consolidar as decisões administrativas, impedindo que decisões consolidadas sejam alvo de reanálises e, por consequência, resultem em instabilidade social.