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CLIENTES EM MERCADO

4.6.3 O mercado ibérico de gás natural

Como referido anteriormente, o mercado ibérico está ainda relativamente fechado face à União Europeia. Assim, o desenvolvimento de um mercado único de energia requer a interconexão entre sistemas para que o balanço entre procura e oferta de gás seja efectuado da forma mais eficiente. Este tema tem no entanto de ser relativizado face ao investimento necessário para a existência de sistemas perfeitamente conexos.

Um mercado único requer ainda que cada mercado nacional seja competitivo para que possa criar mercados regionais eficientes, pelo que a interconectividade assume um papel preponderante. Um outro factor de sucesso diz respeito à cooperação entre agências regulatórias nacionais, e entre estas e as entidades Europeias. Adicionalmente, a uniformização de regras é um factor de sucesso para a transparência, liquidez dos mercados. Deste modo e com o objectivo de criar um mercado ibérico de gás foi criado o MIBGAS.

O MIBGAS pretende a criação e o desenvolvimento do mercado ibérico de gás natural, assumindo particular relevância para os consumidores e comercializadores. Tendo em conta a importância da capacidade de recepção de gás natural liquefeito (GNL) da Península

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Ibérica nos contextos europeu e mundial é possível perspectivar a afirmação do Mercado Ibérico de Gás Natural (MIBGAS) como mercado de referência a nível internacional. Com efeito, segundo dados de 2006, este mercado é constituído por cerca de 7,3 milhões de consumidores (6,4 milhões em Espanha e 0,9 milhões em Portugal) envolvendo vendas anuais de cerca de 446000 GWh, o que o situa como o quarto mercado em termos de vendas na União Europeia. O Gás Natural Liquefeito (GNL) importado pelo mercado ibérico corresponde a mais de metade do volume total de GNL importado pela Europa. Considera-se assim que a integração dos sistemas do sector do gás natural de Espanha e de Portugal é benéfica para os consumidores de ambos os países.

O acesso a todos os agentes em condições de igualdade de tratamento, de transparência e de objectividade deverá ser assegurada no MIBGAS. Actualmente, ainda se verifica uma dupla tributação (pancaking) do acesso de terceiros às redes nas trocas entre Portugal e Espanha. O quadro jurídico para o seu desenvolvimento deve ser estável, e estar em consonância com a legislação e regulamentação europeia aplicável. A criação do MIBGAS tem os seguintes objectivos:

• aumentar a segurança de fornecimento através da integração dos mercados e da coordenação de ambos os sistemas do sector do gás natural e reforço das interligações;

• aumentar o nível de concorrência, reflectindo a maior dimensão do mercado e o aumento do número de participantes;

• simplificar e harmonizar o quadro regulatório de ambos os países;

• incentivar a eficiência das actividades reguladas e liberalizadas, bem como a transparência do mercado.

O processo de harmonização e construção do MIBGAS tem sido desenvolvido de forma gradual e de mútuo acordo entre Espanha e Portugal, estando subjacente uma contribuição activa de ambos os países na concretização de um mercado europeu de gás natural.

Com o objectivo de coordenar os trabalhos de harmonização regulatória, necessários ao desenvolvimento do Mercado Ibérico de Gás Natural, foi proposta a criação de um Comité de Coordenação do MIBGAS, constituído pelas entidades reguladoras de Espanha e de Portugal (CNE e ERSE), podendo ser convocados, a fim de serem ouvidos mas sem direito

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de voto, os operadores dos sistemas de gás natural (ENAGAS e REN), assim como os representantes dos sujeitos que actuam no mercado ibérico de gás natural.

Na sequência de um primeiro processo de consulta pública para o desenvolvimento do modelo de funcionamento do MIBGAS, a ERSE e a CNE, elaboraram uma proposta para o referido modelo, onde são tratadas diversas matérias agrupadas em quatro temas centrais: definição do marco institucional e princípios básicos de funcionamento do MIBGAS; considerações sobre a comercialização do gás natural; considerações sobre a gestão técnica do sistema e segurança de fornecimento; considerações sobre a supervisão e desenvolvimento do mercado ibérico de gás natural.

A proposta de modelo de funcionamento descreve o plano de acção para a criação e desenvolvimento futuro do MIBGAS, nomeadamente:

- harmonização das licenças de comercialização de gás natural ao nível ibérico: a CNE e a ERSE devem elaborar um estudo com uma análise comparativa das condições para obter a licença de comercialização em ambos os países e uma proposta de recomendações de harmonização regulatória;

- convergência na estrutura de tarifas de acesso: de modo a garantir o acesso às infra- estruturas, a nível ibérico, é necessária uma convergência nas estruturas e sistemas de tarifas de acesso, em particular, as relacionadas com o trânsito de gás natural entre Espanha e Portugal, dada a sua importância no estabelecimento do mercado ibérico;

- planeamento conjunto do sistema de gás natural ibérico: a REN e a ENAGAS deverão preparar um plano de investimento para reforço das interligações e capacidade de armazenamento de gás natural.

Em resumo, a maior parte dos países analisados utilizam um modelo híbrido de regulação, combinando elementos da regulação pelo custo do serviço aplicada essencialmente à componente do custo do capital, e da regulação por incentivos aplicada aos custos operacionais.

No entanto, os gaps regulatórios existem e ocorrem em duas situações. A primeira quando a regulação europeia deixa tanto espaço de manobra para a entidade reguladora nacional

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que os objectivos europeus podem falhar pela implementação de diferentes políticas em cada estado-membro, e a segunda quando a transmissão de gás em duas zonas geográficas reguladas por entidades distintas não está regulada.

O sistema regulatório europeu é o resultado de um processo em marcha. As Directivas europeias demonstraram a dificuldade de integrar os diferentes mercados nacionais de gás natural dos estados-membros e a Comissão Europeia propõe que apesar de existirem gaps regulatórios nos temas de interligações, os mesmos deverão ser resolvidos pela ACER. O facto de existirem gaps regulatórios entre países e entre enquadramentos regulatórios nacionais não é mandatório de recomendações. Alguns objectivos, como a segurança de fornecimento pode justificar regulação que outros objectivos, como o aumento da concorrência, não justifique. No entanto se o objectivo último da EU é que os enquadramentos regulatórios convirjam para que seja atingido o mercado único de energia, então os gaps regulatórios são um problema e as acções correctivas deverão ser tomadas.

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