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O Mercado de Trabalho Brasileiro: oportunidades de trabalho para as mulheres

cidadania Feminina

54 HOBSBAWN, 1995 55 COSTA, 2002.

2.2.2 O Mercado de Trabalho Brasileiro: oportunidades de trabalho para as mulheres

Em concomitância à efervescência dos movimentos feministas e aos estudos das mulheres trabalhadoras na década de 70, o Brasil viveu um grande surto de crescimento econômico, período caracterizado de “milagre econômico”, que marcou a expansão do processo de industrialização62, gerando a entrada de indústrias multinacionais no país e o crescimento do parque industrial. Neste período de industrialização, os setores têxteis, metal- mecânico e eletrônico precisavam da mão-de-obra feminina, por isso a contratação desta entrou em fase de expansão. Segundo Nader, “O chamado ‘milagre econômico brasileiro’ possibilitou a expansão de empregos, incorporando no mercado de trabalho urbano secundário e terciário milhares de pessoas vindas do campo atraídas pelo crescimento das cidades, esperançosas de uma vida melhor” (2002, p.5).

Como conseqüência da industrialização, o processo de urbanização se intensificou e levou as pessoas a buscarem nos centro urbanos trabalho e melhor qualidade de vida. Com o êxodo rural, o crescimento populacional de alguns centros urbanos se tornou fato. Segundo dados do IBGE, em 1950 existiam 33.161.506 pessoas morando nas zonas rurais, e 18.782.891 morando nos centros urbanos. Em percentual, cerca de 64% moravam no campo.

62 Isto fez parte de grande parte dos países industrializados e em desenvolvimento (o Brasil não foi exceção), e

Já nos anos 70, essa realidade vai invertendo gradativamente, pois quase 56% da população viviam nos centros urbanos63. E esse diferencial se tornou cada vez maior à medida que os anos foram passando (ver tabela abaixo).

População do Brasil Total 1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000 Urbana 18.782.891 32.004.817 52.097.260 80.437.327 110.990.990 123.076.831 137.953.959 Rural 33.161.506 38.987.526 41.037.586 38.573.725 35.834.485 33.993.332 31.845.211 Percentual Urbana 36,16 45,08 55,94 67,59 75,59 78,36 81,25 Rural 63,84 54,92 44,06 32,41 24,41 21,64 18,75

Fonte: Censo Demográfico/IBGE (Notas: 1 - Para 1950: População presente; 2 - Para 1960 até 1980: População recenseada; 3 - Para 1991 até 2000: População residente; 4 - Para 1950 até 1960: Os dados referentes ao nível Brasil incluem a população da região da Serra dos Aimorés, área de litígio entre Minas Gerais e Espírito Santo)

Além do crescimento da população nos centros urbanos, chama a atenção o processo de ‘feminização’ da população brasileira. Em 1970, as mulheres representavam 50,3% da população residente no Brasil e este valor permaneceu crescente até o final do século.

População residente no Brasil

Total 1970 1980 1991 1996 2000 Urbana 52.097.260 80.437.327 110.990.990 123.076.831 137.953.959 Rural 41.037.586 38.573.725 35.834.485 33.993.332 31.845.211 Sexo Homens 46.327.250 59.142.833 72.485.122 77.442.865 83.576.015 Mulheres 46.807.596 59.868.219 74.340.353 79.627.298 86.223.155

Fonte: 1996 - Contagem da População/1970 a 1991 e 2000 - Censo Demográfico/IBGE.

A tabela acima evidencia bem o crescimento do contingente feminino nos últimos quarenta anos. Esse diferencial se iniciou com 408.346 mil mulheres, alcançando 2.647.100 em 2000. Com isto, observa-se que a sociedade brasileira vem experimentando uma acelerada transição demográfica, que aponta a necessidade de atenção especial no processo de formulação, execução e avaliação das políticas públicas criadas e direcionadas para elas, já que se trata de uma população marcada por várias formas de desigualdades e que mantém um crescimento constante.

Ainda em meados dos anos 70 e início dos anos 80, começou a se delinear no país dois processos que se tornaram fundamentais para a construção de um novo modelo de produção e uso da força de trabalho: a globalização e reestruturação produtiva. A globalização da

63 No início era muito comum apenas que os homens deixassem os campos em busca de melhores condições de

vida nos centros urbanos, ficando suas mulheres e filhos no campo. Mas, com o passar do tempo às famílias começaram a se deslocar dos campos para os centros urbanos. Neste caso, cabiam as mulheres o ter que garantir uma proteção mínima na família.

economia, que se dá a partir da implementação de políticas financeiras e neoliberais que visam à desregulamentação e abertura dos mercados, privatizações e liberalização do comércio internacional. Assim, a comercialização da produção e serviços expandiu para uma escala em nível mundial, atingindo os mercados assalariados protegidos pelos mercados urbanos.

A mudança do modelo de produção baseada no padrão taylorista/fordista, a partir do longo processo de inovações tecnológicas – a automação, a robótica, a microeletrônica -, gerou a necessidade de reestruturar a produção e a economia locais, para que fosse possível que o país se adaptasse ao novo modelo de produção do capital. As concepções e práticas da reestruturação entraram em prática: flexibilização da produção; desregulamentação do trabalho; a terceirização da mão-de-obra; rompimento da relação salário-produtividade; jornadas de trabalho mais flexíveis; crescimento da economia informal, etc. Assim, durante os anos de 1970 a 1990, o país passou por um processo de transformações na economia, no qual segundo Bruschini:

“A atividade econômica oscilou entre períodos de aquecimento e recessão, embora a tônica, principalmente nos anos 80, tenha sido a de uma permanente e prolongada crise econômica, com o aumento do desemprego e alteração na distribuição da população economicamente ativa, deslocando-a do setor industrial para o setor informal. Na primeira metade desta década, o setor terciário teve papel fundamental no sentido de evitar maiores quedas no nível do emprego. Desde então, os ramos que mais se destacaram na geração de empregos foram a prestação de serviços, o comércio, as atividades sociais, a administração pública e alguns outros, como, como as instituições financeiras” (2000, p.23).

Com esses processos, mudanças estruturais no mercado de trabalho aconteceram, como: a precarização do emprego, queda dos salários, aumento dos empregos informais, elevação da taxa de desemprego, aumentando assim, os índices de pobreza e de vulnerabilidade, que se agravaram nos anos 90. E será nesse quadro de extrema precarização do mercado de trabalho que as mulheres vão se inserir, todavia, de forma desigual em relação aos homens e mulheres. Segundo Melo:

“Houve uma crescente inserção das mulheres no mercado de trabalho que, entretanto, vem se tornando mais diferenciada. O mercado de trabalho mostra-se cada vez mais competitivo entre homens e mulheres, embora diferenciais salariais importantes permaneçam entre os dois sexos. Mantém-

se um certo padrão de divisão sexual e social do trabalho, que segmenta atividades produtivas e reprodutivas na base do sexo” (1999, p.25).