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CAPÍTULO I O LUGAR DO CORPO

VIANA BRAGA PORTO AVEIRO LEIRIA MADEIRA

2. O microcosmos psicossocial da imagem corporal

Prosseguindo nesta Fase II do MCR, mantendo a utilização da técnica de introspecção focalizada (TIF), apresentamos de seguida o que designamos constituir o microcosmos psicossocial da imagem corporal de SI.

A partir do repertório das características físicas da aparência, que os jovens enunciaram - UR -, conhecemos os sentimentos particulares que experimentam quando vêem a sua imagem e os sentimentos que pensam que esta desperta no OUTRO - professores(as) (ANEXO I - PARTE I-A. 1.1 e A. 1.3.6.).

Este procedimento elucida-nos sobre os referentes que guiam as representações, dado que, ao serem relidas as suas UR, os sujeitos revelam-nos a sua orientação em termos de significação que essa imagem tem para si enquanto "pessoa", como explicitação que é feita da realidade pessoal, e enquanto "personagem social" como designa TAP (1979: 8).

Significado dos atributos egomórficos

A fim de clarificar o significado dos atributos egomórficos que descrevem a imagem corporal de SI e a que pensam ser a que o OUTRO reflecte sobre SI - os(as) professores(as) - apresentamos o sentimento a elas ligado colocando em evidência a tonalidade positiva, negativa ou ambivalente dessa confrontação de sentimentos. A imagem e sentimentos que emergem representa o microcosmos psicossocial da

imagem corporal (ANEXO II). Este microcosmos elucida-nos o sentido ao nível da

identidade psicossocial corporal.

Identidade Psicossocial corporal'-para SI: Percepção e meta-percepção

Assim, as categorias que emergem dos enunciados relativas aos sentimentos que

a imagem corporal de SI suscita ao sujeito e aos sentimentos que pensa que desperta no OUTRO, neste caso nos(as) professores(as) induzidas da análise mediante

agrupamento sucessivo de enunciados com sentido semelhante surgiram categorias e subcategorias. O sentido encontrado fez emergir três categorias de sentimentos:

- sentimentos positivos - sentimentos negativos

- sentimentos ambivalentes

Os resultados apontam um sentimento positivo de aceitação e de reconhecimento da imagem corporal de SI e que o sujeito pensa despertar no OUTRO - professores(as) - que seguidamente passamos a elucidar.

A forma como alguns sujeitos vêem a sua realidade corporal revela sentimentos

positivos, sobretudo de satisfação, felicidade, agrado e contentamento para consigo

próprio(a) pela imagem que possuem. Esta tonalidade positiva da auto-imagem é reforçada e correspondida pela imagem que o sujeito pensa que o OUTRO tem igualmente de SI, imbuída de sentimentos de aceitação e reconhecimento, como ilustram os seguintes enunciados:

SI - "Sinto que me conheço. Que sou feliz. Poderia até mudar um ou outro aspecto, mas... gosto de mim assim... " (Fl);

OUTRO sobre SI — "Penso que acima de tudo carinho. É interessante que ao mesmo tempo que escrevo, vislumbro na minha mente expressões faciais de professoras que me marcam/marcaram...Acima de tudo, carinho e disponibilidade, amizade,... " (Fl).

Apesar da tonalidade positiva valorizada por alguns sujeitos, encontramos também aqueles que revelam um determinado conformismo e aceitação da imagem que tem de SI desenvolvida e apreendida ao longo da sua existência, confirmada pela reacção do OUTRO como nos elucida o seguinte respondente:

SI - "Já há bastante tempo que aprendi a conviver e aceitar a minha imagem, de modo que actualmente, quando me olho ao espelho, sinto-me satisfeita e contente de ser como sou, apesar das borbulhas me desagradarem um pouco, porque anteriormente não as tinha" (F29);

OUTRO sobre SI - "Preocupação, admiração" (F29).

Outros há que, apesar de serem poucos, revelam também a existência de conflitos internos que a imagem de SI lhes provoca. Para alguns a tonalidade negativa é de recusa dessa imagem, revelando sentimentos de vergonha, inferioridade, medo e

Identidade (Psicossocial corporal"para SI: 'Percepção e meta-percepção

tristeza, com apelos à necessidade de mudar determinadas características de SI causadoras de sofrimento. O sentimento que pensam que o OUTRO possui de si vem de encontro às suas próprias representações. O enunciado seguinte coloca em evidência uma identidade corporal não aceite:

SI - "Normalmente não me costumo ver muito ao espelho, porque não gosto de ser como sou... na verdade quando vejo a minha imagem, sinto-me inferior de vido ao meu corpo, sinto vergonha até de ser assim "(F30);

OUTRO sobre SI - "caridade" (F30).

Outros sujeitos revelam sentimentos de ambivalência, reveladora de bem-

estar/mal-estar, divididos que estão entre o conflito de imagens de SI, cujo sentimento

é de agrado como de satisfação e gosto, e outros sentimentos de mal-estar como de desgosto, tristeza e revolta. E vão vivendo de uma forma ora mais equilibrada, revelando uma certa conformidade em relação à imagem física que possuem, ora mais sofrida e recusada. Esta constante tensão é também confirmada pelos sentimentos que pensam que OUTRO - professores(as) - têm sobre SI. Podemos confirmar esta tonalidade com o enunciado seguinte:

SI - "Alturas há em que me sinto melhor com a imagem. Existem outras em que tal já não se verifica. Posso por isso, experimentar sentimentos de bem estar ou, de alguma forma de desconforto " (F15);

OUTRO sobre SI - "curiosidade (.../'(F15).

Podemos encontrar ainda, dentro dos sentimentos ambivalentes, aqueles que apesar de sentirem relativo bem-estar sentem que deveriam mudar algum aspecto em particular. Desta necessidade de mudança destaca-se com maior frequência a dimensão pessoal estética da imagem de SI relacionada com o peso corporal, que pensa despertar a atenção do OUTRO como descreve o seguinte sujeito:

SI - "Em termos gerais sinto-me bem em relação à minha imagem. O que mais me preocupa normalmente é a questão do peso, das variações sazonais, normalmente o acréscimo de 2-3 kg no Inverno, o que me trás alguns sentimentos negativos, mal-estar" (F45);

OUTRO sobre SI — Talvez espanto em alguns casos, ou quem sabe de admiração noutros(F4).

Verificamos a existência de diferenças entre a tonalidade dos sentimentos que a imagem provoca em SI e a dos sentimentos que pensa que provoca no OUTRO sobre SI. Esta diferença apresentando-se positiva para uns, negativa ou ambivalente para outros, não encontra a mesma correspondência em termos de sentimentos que os sujeitos pensam despertar no OUTRO - professores(as) - a imagem de SI. Alguns

Identidade Psicossocial corporal"para SI: Percepção e meta-percepçâo

descrevem a existência de um sentimento positivo da imagem de SI mas referem despertar nos(as) professores(as) sentimentos como inveja, como o elucida este enunciado:

SI - "sinto-me bem com o meu corpo, gosto da minha auto-imagem... " (F2); OUTRO sobre SI - "talvez inveja"(F2).

Podemos encontrar, no entanto, um significativo número de sujeitos que não enunciaram, desconhecem ou consideram que a sua imagem não desperta quaisquer tipos de sentimentos nos(as) professores(as).