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2 PANORAMA DO SETOR AÉREO

6.3 O modelo da competência

6.3.1 O modelo de competência desde o ponto de vista institucional

Nesta subseção contrastam-se as dimensões teóricas constitutivas de um modelo de competência (técnica e atitudinais) com o perfil exigido do profissional piloto, encontrado na Faculdade de Ciências Aeronáuticas (FACA) da Pontifícia Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Adotou-se esse perfil como um aspecto central do estudo em virtude desse curso ter sido o primeiro da América Latina, nessa área do conhecimento, sendo criado em 1993, por solicitação da VARIG, Viação Aérea Rio Grandense, à PUC-RS. Em 1993 a VARIG buscou adequar os conhecimentos de formação de seus profissionais a seu modelo de empresa, por meio de curso superior. A fim de elaborar essa formação, a PUC-RS especificou quais características seriam necessárias para o ―novo‖ profissional ou perfil do piloto. Só depois criou o curso de Ciências Aeronáuticas. Ao se consolidar o piloto da VARIG como parâmetro de excelência, o curso da PUC-RS também se consolidou como parâmetro de formação. No seguinte trecho, retirado do site da FACA, informam-se as competências que visam serem formadas.

Perfil do Profissional. As empresas do transporte aéreo, nos próximos anos, estarão a exigir profissionais que apresentem, além da competência técnica, outros atributos como maior autonomia, capacidade decisória e adaptação a situações novas. Assim o piloto a ser formado deve ser um gestor, capaz de prever, reconhecer e agir, rápida e adequadamente, diante de mudanças constantes em todos os segmentos: assimilar e usar novas tecnologias; identificar implicações sociais, econômicas, políticas e diplomáticas; decidir sobre aspectos técnicos e administrativos; ser responsável pelo bom clima de trabalho e relacionamento interpessoal, e conduzir a aeronave com segurança e eficácia, otimizando os recursos existentes (PUC-RS, 2012).

O perfil visado pelas empresas aéreas exige profissionais com competências que vão para além da aeronave, da competência técnica, como explicitada nos itens: ―identificar implicações sociais, econômicas e administrativas; decidir sobre aspectos técnicos e administrativos; e ser responsável pelo bom clima de trabalho e relacionamento interpessoal‖. Aproximam-se, assim, as dimensões de conhecimento global, de autonomia, iniciativa e responsabilidade para a identificação e tomadas de decisão, e a dimensão comunicacional. As cinco dimensões de competência tendem a ser

mobilizadas para atender as exigências de que o profissional piloto ―deve ser um gestor, capaz de prever, reconhecer e agir, rápida e adequadamente, diante de mudanças constantes em todos os segmentos: assimilar e usar novas tecnologias‖.

Conforme depoimento de Hildebrando Hoffmann21 o perfil foi definido usando o conhecimento na formação de pilotos e a identificação de necessidades da VARIG.

O nosso curso ele partiu do perfil definido aqui. Agora, para definir este perfil, sim nós usamos o know-how e a identificação de necessidades da Varig. Identificação de conhecimentos necessários a partir da própria Escola da Varig, a partir da antiga, o antigo DAC Departamento de Aviação Civil, de outros colaboradores, de entidades de classe, digamos: os sindicatos dos aeronautas, o sindicato das empresas aéreas. No início, nós tivemos a primeira reunião, a primeira reunião nós tivemos 45 pessoas representando diferentes elementos do segmento, entre eles o DAC (Entrevista com Hoffmann, 2013).

Foi elaborado o perfil do profissional ―do futuro‖ para depois criar o curso em si e seu conteúdo programático. Hoffmann enfatiza que o perfil foi elaborado com a ajuda de uma comissão de 45 representantes de diferentes segmentos do setor aéreo e que o perfil do profissional partiu do conhecimento acerca da formação de pilotos e das necessidades da VARIG como empresa aérea, mas que foi além disso, incluindo o conhecimento de escola de aviação da VARIG e de atores do setor.

Então nós alí buscamos o know-how de operar da Varig que era principal, o know-how da Varig de fazer a construção do seu piloto e trouxemos o know-how de outras escolas de aviação, trouxemos o know-

how da autoridade aeronáutica, trouxemos os dados dos órgãos de

classe. Os dois principais, que é o sindicato dos aeronautas e o sindicato das empresas aéreas e, reunindo com pessoas de aqui de dentro saiu este produto [o perfil]. E depois, no passo seguinte, para desenvolvermos os conteúdos programáticos, aí foram envolvidas 90 pessoas (Entrevista com Hoffmann, 2013).

Partindo do perfil previamente elaborado, foi desenvolvido o programa de ensino com a colaboração de 90 pessoas, tanto do setor aéreo quanto da PUC- RS, de modo que permitisse formar os profissionais sob quatro pilares, conforme se explicita no seguinte depoimento.

21

Hildebrando Hoffmann é coordenador do Curso de Ciências Aeronáuticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Nossa formação não é só de pilotar, atender as necessidades do cara lá na cabine de comando. Não o nosso perfil é abrangente. Ele tem fundamentalmente quatro pilares digamos. Ele tem um pilar da prática do ato de voar, tem o pilar da segurança de voo, tem o pilar da gestão e o pilar (...)dos fatores humanos (Entrevista com Hildebrando Hoffmann, 2013).

Os dois primeiros pilares elencados apontam para a dimensão de competência técnica (voo e segurança) e os segundos para as competências atitudinais (gestão e relações sociais). De acordo com o que se revelou nesta subseção e tendo como fio condutor a noção da competência, entende-se que desde 1993 a Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS buscou formar profissionais adotando um modelo profissional nela alicerçado. Pois, o objetivo tem sido preparar profissionais capazes de desenvolver competência técnicas e atitudinais que lhes permitam levar adiante sua atividade

De acordo com o perfil do piloto elaborado na FACA, é requisito para a profissão piloto: competência técnica, atitudes (disciplina, liderança, respostas emocionais estáveis, iniciativa, responsabilidade, abertura para mudanças, entre outras), habilidade (coordenação motora; precisão e exatidão, concentração, raciocínio abstrato e de percepção, comunicar-se eficazmente, capacidade analítica, entre outras) e conhecimentos técnicos e gerenciais (PUC-RS, 2012). Tais requisitos explicitados no perfil acima apontam para as dimensões do modelo de competência.

Ao observar as exigências para o profissional piloto, de acordo com a FACA, se identifica a necessidade, desse profissional, em mobilizar saberes técnicos (voo, segurança) e nos campos da autonomia (as habilidades gerencias requeridas para a tomada de decisões), iniciativa, responsabilidade e conhecimento global. Assim, nota-se a existência de um modelo de competência, o qual é difundido pela PUC-RS.