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O Modelo de Organização do Trabalho Fordista-taylorista

2. A NOÇÃO DE COMPETÊNCIA NA ESFERA DO TRABALHO

2.1. O Modelo de Organização do Trabalho Fordista-taylorista

A introdução de inovações tecnológicas que caracterizaram a revolução industrial trouxe aumentos significativos na produtividade. Houve a substituição da habilidade humana pela máquina, da energia humana ou animal pela inanimada,

principalmente com a introdução da máquina a vapor. Mas, de acordo com Barbosa (1999, p. 108), “no que concerne à quantidade de bens que o homem poderia produzir pouco havia alterado”.

Este quadro se modificou radicalmente com a aplicação dos Princípios da Administração Científica, desenvolvidos por Frederick Winslow Taylor7, que toma o trabalho como objeto do estudo científico. A aplicação da “análise do trabalho e o estudo dos tempos e movimentos”, o método científico proposto por Taylor, provoca uma cisão entre o pensar e o fazer. O primeiro é atribuído à gerência e, o segundo, uma responsabilidade dos ocupantes dos níveis mais baixos da hierarquia organizacional. O objetivo era eliminar o acaso, a adivinhação e o estilo individual no modo de execução das atividades. Taylor buscava a única e melhor maneira de se realizar uma determinada tarefa, isto é, encontrar procedimentos universalizantes que se aplicassem a todos. Essa nova maneira passa a ser conhecida como ORT – Organização Racional do Trabalho (BARBOSA, 1999).

Os estudos de Taylor foram complementados pela linha de produção implantada nas fábricas da Ford Motors Co, em 1913, cujas características principais são o mecanicismo e a fragmentação do trabalho, que passa a ser composto por uma única tarefa, ou pequenos conjuntos de tarefas, denominados de “cargos”. Os ocupantes destes “cargos” ou “postos de trabalhos” executam atividades altamente repetitivas. Este modo de organização de trabalho foi capaz de revolucionar por completo o chão-de-fábrica.

Com a linha de montagem concretiza-se a ideia de produção em massa, apontada como umas das marcas centrais da moderna sociedade industrial. Para Barbosa (1999, p. 109), “Taylor e Ford tiveram um sucesso admirável em virtude dos 7 Frederick Winslow Taylor (1841-1925) publicou, em 1903, um estudo denominado Shop

fantásticos ganhos de produtividade. Pela primeira vez havia a possibilidade de gerir recursos humanos e materiais de forma científica”. Chiavenato (2000) exemplifica essa afirmação ao apresentar a redução do tempo utilizado na montagem de um chassi de automóvel, que passa de 12 horas e 8 minutos para 1 hora e 33 minutos.

Gradativamente, a ORT - Organização Racional do Trabalho - estabelecida pela dupla Taylor-Ford irradia-se dos Estados Unidos para os demais países desenvolvidos. Isso ocorre com pequenos ajustes às peculiaridades de cada estado- nação. Esta ideia de modernidade, centrada em uma organização racional do trabalho supera, inclusive, as barreiras de natureza ideológica, pois é implantada na Rússia, pós-revolução de 1917, sob o nome de stakanovismo8. O modelo se instala, também, fortemente na Europa e no Japão, como parte do esforço de guerra e se consolida no período de reconstrução da Europa e do Japão. (HARVEY, 2000; BARBOSA, 1999).

No entanto, de acordo com Harvey, (2000, p. 121),

o que havia de especial em Ford (e que em última análise distingue o fordismo do taylorismo) era a sua visão, seu reconhecimento explícito de que a produção em massa, [representaria] um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova política de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova paisagem, em suma, [criaria] um novo tipo de sociedade, democrática, racionalizada e modernista.

Do ponto de vista educacional, esse modelo de organização de trabalho, exige poucos anos de escolaridade dos ocupantes dos postos do chão-de-fábrica. Aliás, para a implantação desse modelo, é fundamental a participação dos supervisores no treinamento dos trabalhadores que devem ser preparados para executar as tarefas dentro da sequência de movimento planejada com base no método científico. Além disso, a proposta da Administração Científica foi sistematizada a partir da experiência pessoal do seu formulador que dirigia 8 Sobre este assunto ver LAZAGNA, A. Lênin, as forças produtivas e o taylorismo, Campinas, UNICAMP, Dissertação de Mestrado, 2002. Ver também MORAES NETO, B. R. (1991). Marx, Taylor

empresas nas quais o maior contingente de trabalhadores era composto por migrantes analfabetos ou com pequeno nível de escolaridade (TAYLOR, 1995).

Mesmo a expansão da produção em massa para os países subdesenvolvidos ocorre com este mesmo entendimento. O processo de industrialização brasileiro é exemplar. Uma pesquisa realizada entre 1959/1960, por Bertram Hutchinson, citada por Pereira (1976, p.64), sobre o local de nascimento dos habitantes residentes em algumas cidades do centro-sul do país, demonstra que a grande maioria nasceu em pequenas cidades, fazendas ou vilas. Em Volta Redonda – RJ, cidade que recebe a Companhia Siderúrgica Nacional, nos anos seguintes ao pós-guerra, contava, no final dos anos de 1960, com cerca de 80% dos moradores dessa origem. O mesmo acontecia com a cidade de São Paulo, que na época era a mais industrializada do país, mas que, também, possuía 40% dos moradores com a mesma origem.

Estes dados sugerem que o processo de industrialização baseado na produção em massa é capaz de se instalar e preparar a mão-de-obra necessária para o seu funcionamento, sem depender das políticas oficiais de ensino, pois as organizações industriais são planejadas para operar com uma concepção de trabalho fragmentado e repetitivo, o que requer um tipo de trabalhador que pode ser facilmente preparado, pois independe do nível de escolaridade. É possível habilitá-lo para produzir bens, dos quais ele desconhece o projeto e, portando, dispensando-o de ter uma perícia técnica maior.

O caso brasileiro ilustra, também, este entendimento, pois a classe empresarial toma a iniciativa de assumir o financiamento da formação da mão-de- obra requerida pelo processo de modernização da economia brasileira. Para isso, fundam, em 1931, o IDORT9 – Instituto de Difusão da Organização Racional do

9 Organização fundada por um grupo de 92 empresários. Teve como primeiro dirigente Armando Salles de Oliveira, que na ocasião era o presidente do Jornal O Estado de São Paulo.

Trabalho, cuja missão é definida como “Melhorar o padrão de vida dos que trabalham em São Paulo e no Brasil, por meio da introdução e da difusão de processos de organização científica do trabalho” (IDORT, 2008). Criam também, em 1942, o SENAI – Serviço de Nacional de Aprendizagem Industrial e, em 1946, o SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial. Essas duas organizações, também, são mantidas e administradas por dirigentes empresariais e têm a finalidade de preparar mão-de-obra para a indústria e para os setores de comércio e serviços, respectivamente.

O exemplo de industrialização brasileiro deve ser entendido em um contexto que se caracteriza por um longo período de desenvolvimento econômico do pós- guerra e de expansão das organizações para outros países em busca de novos mercados.

Simultaneamente, nos países mais desenvolvidos economicamente ocorre o crescimento, de acordo com Harvey (2000, p. 131), de “outras atividades – bancos, seguros, hotéis, aeroportos e, por fim, o turismo e [tudo isso] apoiou-se fortemente nas capacidades [tecnologias] recém-descobertas de reunir, avaliar e distribuir informações”. Aliado a este fato constata-se o aumento do número de empregados em serviços que, em média, nos países desenvolvidos empregavam cerca de 43%, em 1960, da mão-de-obra e passam, em 1981, a responder por 56% dos empregos. No mesmo período há uma redução no número de empregados nas atividades industriais (HARVEY, 2000).

É exatamente a observação do aumento do número de trabalhadores em atividades de serviços e com o desenvolvimento das novas tecnologias de informática e de comunicações que permitiram a Peter Drucker (1996) cunhar a expressão “trabalhador do conhecimento”, utilizada pela primeira vez no livro

Landmarks of tomorrow: a report on the new “post-modern” world, publicado originalmente em 1957. Esta expressão se tornará fundamental na concepção da Sociedade do Conhecimento, que os seus formuladores caracterizam como uma evolução da Sociedade Industrial.