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2.2 A LÓGICA DO MERCADO !

2.3.3 O morador e a ilegalidade urbana !

planos ou projetos das leis urbanísticas, no Brasil, mostra quão ridículo pode ser o rol de boas LQWHQo}HV TXH DV DFRPSDQKDP 5LGtFXOR VLP SRUpP QmR LQRFHQWH´. A legislação quando é cumprida, atua em apenas parte da cidade, fazendo com que, despretensiosamente, grande parte da população se insira no mercado ilegal. Sobre essa questão, Smolka (2003, p. 258) afirma que o preço do solo urbanizado no mercado formal pode ser consequência da ³UHJXODomRH[FHVVLYDH[FOXGHQWHHOLWLVWDDQDFU{QLFDVDWXUDGDGHSUHRFXSDo}HVHVWpWLFDVHWF que impõe condições não razoáveis - impossíveis de cumprir pelos pobres - de ocupação do VRORXUEDQR´

Segundo Smolka (2003), a informalidade da cidade ilegal é causa e efeito da pobreza que está relacionada com a ocupação dessas áreas. Em outras palavras, para obter a certeza da constante presença da força de reprodução capitalista, a população que reside em áreas informais inicia sua ocupação por fatores relacionados com a pobreza e não consegue alterar a sua situação da informalidade também por fatores relacionados com a pobUH]D $VVLP ³D população que reside em áreas informais é capturada por muitos círculos viciosos que UHLWHUDP VXD FRQGLomR´ SMOLKA, 2003, p. 266). Tem-se que a informalidade não trata apenas da questão do uso do solo urbano, mas avança em questões cotidianas e resulta em processos informais de outra ordem, como a informalidade nas relações de trabalho.

2.3.3 O morador e a ilegalidade urbana !

Aprofundando a discussão acerca dos espaços legais produzidos pela aprovação dos parcelamentos e edificações no Poder Público e no foco da pesquisa na Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Este estudo procura evidenciar os reais motivos que levam o morador a enquadrar sua edificação ou lote nas normas da legislação urbanística. A busca pela legalidade pode estar na crença da qualidade espacial e ambiental garantida ao atender aos parâmetros urbanísticos das leis. No entanto, muitos moradores subvertem a legislação ao modificarem o projeto aprovado na Prefeitura. Assim, a própria crença na qualidade ambiental garantida pelos parâmetros urbanísticos está em xeque para aqueles que usufruem dos espaços legais da cidade. Acredita-se que com a aprovação dos projetos urbanos nos órgãos competentes, na verdade, o que se procura é estar legitimado pelo mercado formal da indústria imobiliária, pois é sabido que vários processos formais e legais só funcionam com certificados de propriedades formalmente legalizados e com o licenciamento urbano

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aprovado, por exemplo: cartórios, financiamentos por bancos e créditos. Assim, o lucro da venda de um imóvel formalmente legalizado pode ser maior do que a venda de um imóvel com pendências legais, o que justifica a valorização destes imóveis pela indústria imobiliária.

Um importante ponto a se esclarecer é que o espaço ilegal não é de exclusividade dos pobres, sendo que grande parte do território das cidades é constituída de espaços não aprovados pela Prefeitura de Belo Horizonte. O processo convencional de aprovação de projetos e parcelamentos do solo na PBH, de forma geral, é burocrático, demorado e demanda a contratação de um profissional da área da arquitetura e urbanismo ou da engenharia como responsável técnico para a formalização do processo administrativo de aprovação. Com isso, tem-se que o procedimento de aprovação torna-se caro e distante da realidade de diversos moradores da cidade. É sabido que a PBH por meio de concessão de incentivos fiscais e da flexibilização de parâmetros urbanísticos, incentiva o morador a regularizar sua edificação e parcelamento do solo. Contudo, essa política de regularização ainda é tímida, uma vez que abrange poucos moradores da cidade. Embora a análise dos procedimentos de aprovação sejam aprofundados em outro capítulo, neste momento é importante discutir a distância da lógica do morador diante da excessiva regulamentação e burocracia dos processos de aprovação.

A legalidade deve ser buscada pelo próprio morador. Ou seja, o morador é que deve recorrer à PBH e solicitar a abertura de seu processo administrativo de licenciamento. Tal fato também pode explicar a razão de, muitas vezes, esse processo não acontecer, sendo que a desinformação pode levar o morador a não enquadrar sua construção às regras do modelo urbanístico legal. Do ponto de vista do morador, pelo menos para a grande parte deles, a incorporação dos parâmetros urbanísticos em sua propriedade não é obrigatória para sua construção. Os projetos são construídos, muitas vezes, sem a contratação de um profissional da área da arquitetura e urbanismo. Tal fato demonstra a distância da lógica do morador com o papel do Estado, pelo menos no que diz respeito ao controle do solo urbano.

A lógica do morador, em sua maioria, funciona à margem das outras duas lógicas estudadas: a do Estado e a do mercado. Assim, a lógica da indústria imobiliária, entrelaçada pela lógica do Estado, influencia diretamente a lógica do morador, sem que com isso este tenha as condições adequadas para se inserir plenamente na complexidade destes campos de atuação e sem que

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seja um agente com poder de tomada de decisão. Com isso, a lógica do morador fica subordinada às outras lógicas tentando se posicionar de forma digna no complexo urbano.

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3 A I LEGALI DADE URBANA !

Neste capítulo, o termo ilegalidade assume sua conotação conforme os objetivos da pesquisa e, nesse sentido, possui significado diferente dos conceitos empregados aos termos

irregulares e informais, como detalhado no capítulo 1. A ilegalidade discutida diz respeito a

não aprovação das edificações e parcelamentos do solo na PBH.

Costa (2006, p. 146) enfatiza que a ilegalidade não é um atributo de classe social, não sendo restrita às ocupações dos pobres na cidade. No entanto, os atinge de forma mais perversa, uma vez que as cidades funcionam segundo a lógica capitalista, enquanto cidade-mercadoria, e são FDUDFWHUL]DGDVSHODDVVLPHWULDHGHVLJXDOGDGHVGDVIRUPDVGHUHSURGXomRVRFLDO&RPLVVR³a legalidade transforma-se de direito em mercadoria, de valor de uso em valor de troca, de norma geral em privilégio, tornando-se necessariamente elitizante e excludente´ $ DXWRUD chama a atenção para aquelas ocupações ilegais advindas da necessidade de moradia, em resposta ao modelo urbanístico vigente, que se apresenta deslocado da realidade socioeconômica da maioria dos moradores da cidade. Nesse sentido, os processos de ocupação do espaço urbano podem ser caracterizados em dois tipos, esclarece a autora.

Assim, a uma distinção importante refere-se! , ilegalidade proveniente da necessidade da impossibilidade de cumprir com as imposições da cidade- mercadoria, que deve ser entendida como uma situação de natureza diferente daquela ilegalidade fruto da intenção explícita de burlar a lei, com fins de apropriação de vantagens individuais ou de grupos (COSTA, 2006, p. 146).

Percebe-se a complexidade das relações de reprodução social e das relações das regras a serem cumpridas, como também a complexidade de fatores que levam como consequência à produção ilegal do espaço urbano. As amarrações conceituais são, obviamente, fundamentais para o entendimento desta pesquisa, como também importantes para um diagnóstico urbano com relação a essas questões. A investigação do problema da ilegalidade, com abordagem na cidade formal, ainda é incipiente no meio acadêmico. Tal fato pode se dever a pouca informação das próprias Prefeituras e à falta de sistematização de dados a respeito da ilegalidade urbana na cidade formal.