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2.2 A LÓGICA DO MERCADO !

2.2.1 Princípios da lógica !

capitalistas e discutir formas de atuação nessa realidade. Importante é assumir as complexidades inerentes do papel do Estado contemporâneo e discutir a produção das cidades a partir deste marco.

2.2 A LÓGICA DO MERCADO !

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2.2.1 Princípios da lógica !

O mercado que está em discussão é o imobiliário, ou a indústria imobiliária, que está relacionado ao mercado de terras e uso do solo urbano. Para Gomes (2008), o mercado LPRELOLiULRpPXLWR³FRPSOH[RHVHJPHQWDGR´VHQGRTXHRVDWRUHVHQYROYLGRVQHVVDOyJLFD pertencem a diferentes nichos de mercados e com enfoques em diversos tipos de imóveis: residências, terrenos e submercados para imóveis de luxo, para a classe média, para a classe popular e regionalizado. Para o autor, compõem este mercado diferentes atores, com fins, objetivos, informações e poder de articulação diferenciados: Poder Público, empreendedores e incorporadores, órgãos financiadores privados, agentes intermediários e moradores que vendem ou adquirem seus imóveis.

A lógica da indústria imobiliária é fortemente, ou substancialmente, caracterizada pelos preceitos da economia capitalista. Torna-se importante compreender, em linhas gerais, o conceito de valorização da terra na visão da economia capitalista. Segundo Singer (1982), a cidade é composta por uma imensa concentração de pessoas que exercem atividades diversificadas e disputam o solo urbano para ocupar com diferentes usos. Por isso, a disputa do solo urbano torna-VHWmRDFLUUDGD³Hsta disputa se pauta pelas regras do jogo capitalista, que se fundamenta na propriedade privada do solo, a qual ± por isso e só por isso ± proporciona renda e, em consequência, é assemelhada ao capital´ 6,1*(5S 

Para iniciar a discussão, é importante entender o conceito de capital. Afinal, o que é capital? Moraes e Costa (1993) explicam que o capital, na visão de Karl Marx, deve ser entendido FRPRXPDFDWHJRULDVRFLDOHQmRSRGHVHUFDUDFWHUL]DGRFRPRXPD³FRLVD´FRQWXGRGHYHVHU LQWHUSUHWDGR FRPR UHODo}HV VRFLDLV WUDGX]LGDV HP ³FRLVDV´ 1HVVH VHQWLGR QmR SRGH VHU

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confundido com dinheiro, sendo este apenas uma das representações daquele. Ensinam os autores:

A relação entre valor e capital deve ser explicada pelo circuito das mercadorias e do dinheiro, um circuito social de trocas. O dinheiro se transforma em capital pela forma específica de seu movimento em tal circuito. À forma antiga (mercadoria ± dinheiro - mercadoria) contrapõe-se a nova (dinheiro ± mercadoria - dinheiro). Isto é, investe-se em dinheiro na produção de mercadorias para obter-se mais dinheiro. No capitalismo, o dLQKHLURpHQWmR³RSRQWRGHSDUWLGDHDPHWDILQDOGRPRYLPHQWR´RTXH seria para ele (Marx), a vida GRFLUFXLWRHFRQ{PLFR´ 025$(6COSTA, 1993, p. 112, 113).

Sobre o entendimento da lógica do capital, um autor importante e polêmico é Hernando de Soto.2 A sua contribuição é importante, uma vez que revela uma das formas de se pensar e agir própria do modelo econômico vigente. As conclusões de Soto (2001) revelam o discurso da lógica do capital e afirma a grande dependência existente no modelo econômico e os mecanismos gerados a partir da propriedade privada do solo. A preocupação de Soto (2001) é mostrar que existe grande quantidade de capital inativo nos espaços em que a propriedade privada do solo não é legitimada oficialmente, ou seja, áreas sobre as quais as pessoas não possuem o direito de propriedade individual, sendo, muitas vezes, invadidas e pertencentes ao Poder Público. O autor defende que se essas pessoas que ocupam espaços ilegais das cidades obtivessem o direito de propriedade elas poderiam usufruir dos mecanismos legais da economia capitalista, e isso geraria incremento de capital e desenvolvimento econômico em SDtVHVFRQVLGHUDGRV³HPGHVHQYROYLPHQWR´

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2 Sobre as teorias de Soto, Regueira (2007) afirma:

Coube a Hernando de Soto, um economista peruano sem vínculos estreitos com o meio acadêmico, elaborar um estudo onde foram investigados os motivos para o elevado grau de informalidade e a persistência das baixas taxas de crescimento dos países pobres. Os direitos de propriedade, a desburocratização e, sobretudo, a concessão de crédito para os empresários informais, são, na opinião de De Soto, o melhor caminho para que os países em desenvolvimento possam crescer de forma mais rápida e eqüitativa. A transformação de capital morto (ativos não regularizados) em capital vivo (ativos legalizados) é a base da teoria de De Soto, exposta em seus dois livros, que tornaram-se best sellers nos países em que foram lançados, fato raro para um economista oriundo de uma nação latino-americana e que nunca exerceu funções acadêmicas em universidades renomadas (REGUEIRA, 2007, p. 13)

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Em todos os países estudados, a engenhosidade empresarial dos pobres criou riqueza em larga escala - uma riqueza que, de longe, também constitui a maior fonte de capital em potencial para o desenvolvimento. Esses ativos não apenas excedem em muito os do governo, das bolsas de valores locais e dos investimentos estrangeiros diretos, são muitas vezes maiores que toda a ajuda das nações desenvolvidas e todos os empréstimos concedidos pelo Banco Mundial (SOTO, 2001, p. 47).

Na interpretação do autor, os donos de propriedade não são reconhecida não podem assumir contratos lucrativos nem pedir créditos e seguros. Eles se firmam na dinâmica informal da economia capitalista, uma vez que não possuem a propriedade como instrumento de troca. Ou VHMD QmR WrP D SURSULHGDGH SDUD ³SHUGHU´ $VVLP HVVDV SHVVRDV ³sem algo a perder se encontram aprisionadas nos porões encardidos do mundo pré-capitalista´ 6272  S 70).

Com sua entrada na redoma de vidro bloqueada, os pobres nunca conseguem chegar perto do mecanismo legal de propriedade necessário para gerar capital. Os desastrosos efeitos econômicos desse apartheid legal são mais marcadamente visíveis na fala de direitos formais de propriedade sobre imóveis. Em todo país pesquisado descobrimos que cerca de 80 por cento dos lotes de terra não eram protegidos por registros atualizados ou mantidos por donos legalmente responsáveis. Qualquer troca de tais propriedades extralegais se restringia portanto a círculos fechados de parceiros de troca, mantendo os ativos de proprietários extralegais fora do mercado expandido (SOTO, 2001, p. 102).

O discurso de Soto (2001) é citado neste estudo para enfatizar a grande importância da propriedade privada para a economia capitalista e está plenamente inserido na lógica da indústria imobiliária. O autor revela questionamentos que estão em discussão atualmente, gerando grande polêmica e exemplifica alguns dos mecanismos capitalistas que interferem na produção do espaço. Sua posição é muito controversa, e existem autores radicalmente contra seus argumentos, os quais enfatizam o quanto perversa pode ser a legalização da propriedade para os pobres.3 Para o entendimento da lógica do mercado, Soto (2001) é uma importante !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

3 Um dos autores que discute a posição de Soto acerca de legalizar o ilegal na questão da propriedade privada é Edésio Fernandes. Ele discute a questão da propriedade privada individual como forma de inserir as pessoas no mercado capitalista. Para Fernandes (2006):

Trata-se de uma grande falácia, na medida em que não há um questionamento dos processos - inclusive jurídicos - que têm causado a ilegalidade urbana, bem como porque já se demonstrou que a mera legalização dos assentamentos informais, especialmente através da atribuição de título individual de propriedade, com freqüência não é

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referência, uma vez que seu interesse está no incremento das formas de atuação capitalistas nas cidades. Com isso, está completamente enquadrado na lógica do mercado.

É fácil constatar que a propriedade privada é a mola propulsora da economia capitalista. Por isso, a lógica do mercado está intrinsecamente relacionada ao seu processo de valorização. Assim, torna-se importante a discussão das formas possíveis da valorização da terra.

2.2.2 A valorização da terra urbana !

O capital proporcionado pela propriedade privada da terra está de forma sucinta, relacionado a sua capacidade de produção. A terra é uma das condicionantes principais para que a produção aconteça. Segundo Singer (1982), o mercado é o responsável por aferir o preço do uso do solo na economia capitalista. Com isso, forma-se uma mercadoria sui-generis, que é o acesso à utilização do espaço, pode ser garantido de duas diferentes formas: direito de propriedade ou aluguel.

Os proprietários de terras possuem a principal condição para que a produção se efetive, tornando-se grandes detentores de capital. Moraes e Costa (1993) afirmam que a valorização capitalista do espaço é, antes de tudo, uma relação capital-espaço.

Definem os autores:

A apropriação privada dos meios de produção, outra determinação geral do capitalismo, implicou a privatização do espaço, visto ser igualmente capital. Desta forma, a história do capitalismo nada mais é, nesse sentido, que um processo histórico de privatização crescente de porções da superfície terrestre e de tudo o que ela contém. Sendo o consumo produtivo (e privado) do espaço o fundamento de sua valorização, a espoliação será uma tônica desse processo (MORAES; COSTA, 1993, p. 160).

A lógica do mercado está relacionada, portanto à valorização da terra urbana e a sua relação com a indústria imobiliária. Nesse contexto, Singer (1982) afirma que o capital imobiliário é um falso capital e que o capital imobiliário é um valor que se valoriza, sem, contudo, ser uma !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! compatível com o objetivo sociopolítico maior de promover a integração socioespacial das comunidades e áreas informais. A contribuição da História e da Economia Urbana no desmascaramento desse discurso é de fundamental importância (FERNANDES, 2006, p. 137 e 138).