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5 O NEABI/UFOP E O CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO UNIAFRO: POLÍTICA DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL NA ESCOLA

5.1 O NEABI/UFOP e as contribuições para a formação de professores

As contribuições de Braun e Monteiro (2013, p. 15) apresentam a educação como um significativo meio de disseminação de valores, que pode contribuir para a manutenção da estrutura social vigente ou para transformá-la, sendo assim, a escola tem papel importante na busca da conscientização e da mudança das estruturas sociais. Mas esse cenário remete à presença de um professor capaz de operar mudanças de mentalidade e perspectivas de cultura. Entretanto, essa capacidade está ligada a uma formação inicial adequada e em consonância com as mudanças sociais, e uma formação contínua que garanta um desenvolvimento profissional que dê conta das transformações sociais.

O tratamento de temas como a educação das relações étnico-raciais é uma tarefa complexa para o professor, pois, muitas vezes, em seu processo formativo não foi contemplada tal temática e, por isso mesmo, não possibilitou uma reflexão e um posicionamento crítico sobre o assunto. Considerando o aspecto da formação do professor como sendo fundamental para as mudanças de perspectivas, por meio do espaço escolar, o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI), da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), vem implementando ações que contribuem com a formação inicial e continuada de professores, no tocante à educação das relações étnico-raciais e abrindo espaço para a discussão da questão racial com a comunidade universitária e da região. Esse Núcleo foi criado no ano de 2008 e oficializado no ano de 2012, inicialmente penas como NEAB, por meio de uma Portaria da Reitoria da UFOP (SANTOS; MUNIZ, 2014, p.148).

No entendimento de Santos, Santos e Peixoto (2016, p. 145) o NEABI/UFOP, no tocante à alteração da LDBEN pela Lei Nº 10.639/2003, percebe esta legislação bem mais do

71 Cabe ressaltar que a sigla utilizada em todos os documentos do Curso Uniafro é NEAB, uma vez que a

introdução da letra “i”, representando a questão indígena, foi incorporada ao nome após o início do Curso, tornando-se NEABI.

que apenas a inclusão de novos conteúdos nos currículos. O tratamento dessa temática requer profissionais da educação capazes de repensarem as relações étnico-raciais, de promoverem condições objetivas de aprendizagem, de mudarem concepções e práticas educativas conservadoras. Do ponto de vista destes autores, o NEABI, por meio dos profissionais que ali atuam, pode contribuir com a formação inicial e continuada de professores para a educação das relações étnico-raciais.

O NEABI possui uma considerável atuação na UFOP, mantém ações nas áreas do ensino, da pesquisa e da extensão e, ainda, organiza publicações elaboradas por pesquisadores da própria UFOP e externos. Na área da extensão desenvolve o Programa Gerais – Gênero, relações raciais e linguagens, de onde originou dois projetos: (i) a “Assistência Social e Relações Raciais na Cidade de Mariana: História, Identidade e Empoderamento”, visa promover atividades que possibilitem a reflexão acerca da questão racial no Brasil e sua íntima relação com a questão social; (ii) o Rádio NEABI: História e Cultura Afro-Brasileira, Africana e Indígena72, veiculado por meio da Rádio UFOP Educativa, 106,3 MHz, sendo este um programa de entrevistas sobre as temáticas tratadas pelo Núcleo (SANTOS; MUNIZ, 2014, p.153 e 154).

Estes projetos possuem uma articulação com a rede de Educação Básica, da mesma maneira são ofertados os cursos de extensão, como: (i) Diversidade Religiosa e Laicidade do Estado no Campo da Educação Básica e (ii) Relações Étnico-Raciais e de Gênero na Educação Básica, que contemplaram mais de 200 pessoas inscritas em ambos os cursos (SANTOS; MUNIZ, 2014, p.153).

No âmbito da pesquisa, NEABI/UFOP possui dois grupos cadastrados no CNPq: (i) o GELCI - Grupo de Pesquisas sobre Linguagens, Culturas e Identidades, vinculado ao Departamento de Letras da UFOP, e (ii) o Grupo de Formação de Professores(as)e Relações Étnico-Raciais, ligado ao Departamento de Educação. Esses grupos desenvolvem pesquisas e projetos em nível de graduação e pós-graduação (SANTOS; MUNIZ, 2014, p.148).

O NEABI também contribui com a apresentação de pesquisas relacionadas à temática negra e indígena, por meio do Ciclo de Conferências, que ocorre desde 2011. Conforme Santos e Muniz (2014, p. 149), essas conferências contribuem para a formação de alunos da graduação que participam desses momentos e para a comunidade externa, motivando-os a refletir sobre a temática e subsidiando futuras pesquisas.

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No tocante ao ensino, o NEABI vem contribuindo com a formação dos alunos de graduação da UFOP, na oferta das Disciplinas “História da África”, “Educação e relações étnico-raciais” e a “Escola e a cultura afro-brasileira”. O principal programa neste sentido é o PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência) História, Literatura e Cultura Africana e Afro-Brasileira, com ênfase no que dispõe a Lei Nº 10.6399/2003. De acordo com Santos e Muniz (2014, p.151) este projeto vem alcançando um reconhecimento dentro da UFOP e poderá propiciar uma abertura ao NEABI para a discussão curricular das licenciaturas.

Como um produto do Projeto PIBID foi realizado em 2013 sua primeira Feira Cultural nas escolas e o I Festival de Cinema e Africanidades, em parceria com o GELCI e o Cine Vila Rica73. Segundo Santos e Muniz (2014), o PIBID Afro vem produzindo bons frutos no tocante à inserção da temática na Universidade e nas escolas da região. Além do PIBID, diversos alunos(as) da graduação vêm se vinculando a projetos de monitoria, de pesquisa e de extensão, coordenados por professores(as) do NEABI.

No que se refere à formação continuada de professores, o NEABI/UFOP possui duas experiências importantes. Atendendo a dois diferentes editais do MEC, o NEABI apresentou duas propostas de cursos, que foram aprovadas. Os recursos foram recebidos pelo NEABI para a oferta, no ano de 2014, do Curso Uniafro: Promoção da Igualdade Racial na Escola, em nível de especialização, e do Curso Culturas e História dos Povos Indígenas74, no ano de 2015, em nível de aperfeiçoamento, ambos na modalidade a distância. Cabe salientar, que os recursos recebidos para a oferta dos cursos contribuiu, também, para garantir uma infraestrutura mínima de funcionamento do NEABI, uma vez que este Núcleo não recebe recursos da UFOP (SANTOS; SANTOS; PEIXOTO, 2016, p. 148).

Os referidos cursos de pós-graduação visavam capacitar professores da Educação Básica, mas receberam, também, inscrições da demanda social. O curso Uniafro foi ofertado para 272 alunos vinculados a cinco Polos de Apoio Presenciais. O Curso Indígena foi ofertado para 200 alunos vinculados aos Polos das cidades de Araçuaí (MG), Ouro Preto (MG), Rio Branco (AC) e Timóteo (MG).

Esses cursos se inserem nas ações do MEC, conforme explicitado anteriormente, e alocados na Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) que, em parceria com as Instituições de Ensino Superior (IES), vem apoiando a

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Cinema da cidade de Ouro Preto/MG, gerido pela UFOP.

74 Foi com a experiência da oferta deste curso que o Núcleo introduziu no seu nome a palavra indígena, passando

formação continuada para professores da Educação Básica na oferta de cursos em nível de aperfeiçoamento e especialização, na modalidade a distância e na modalidade presencial e semipresencial pela Rede Nacional de Formação Continuada de Professores(as) na Educação Básica (RENAFOR).

Para a oferta dos cursos de formação continuada de professores o NEABI apoiou-se na experiência do Centro de Educação Aberta e a Distância (CEAD) da UFOP com relação à oferta de cursos na modalidade a distância. O NEABI/UFOP utilizou-se, principalmente, do suporte técnico, dos recursos tecnológicos e do ambiente virtual de aprendizagem - a plataforma Moodle. Para fins deste trabalho serão apresentados aspectos relacionadas à implantação e oferta do Curso de Especialização Uniafro: Promoção da Igualdade Racial na