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O Papel da Reflexão na prática Pedagógica Profissional

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 40-45)

3. ENQUADRAMENTO DA PRÁTICA PROFISSIONAL

3.2 O Papel da Reflexão na prática Pedagógica Profissional

Durante a formação inicial somos intensamente envolvidos na prática reflexiva acreditando que a mesma é capaz de dotar o professor de um de ensino competente. Nóvoa (1993) afirma que a alteração das práticas educativas que conduz à melhoria do ensino é fortemente influenciada pela formação reflexiva dos docentes.

Conduzir a formação para a reflexão deverá ser um dever primário de qualquer formador. Deste modo, o ensino reflexivo reporta uma preocupação constante com objectivos e consequências, combinando a capacidade de questionar e revalidar as situações decorrentes da prática. Se por um lado problematizarmos a prática esta desencadeará, em nós, uma acção profunda e reflexiva de procura de soluções para os problemas surgidos. (Albuquerque, Graça, & Januário, 2005)

Para um melhor entendimento deste conceito, bem como uma percepção da sua pertinência no processo de formação de professores torna- se fundamental conhecer o significado da palavra reflexão. Segundo os nossos ensinamentos, o termo surge associado ao pensamento, meditação e introspecção, ou seja, algo que nos move mentalmente e que é consequente das nossas acções.

Na verdade, ser reflexivo, acarreta uma capacidade da compreensão humana, isto é, da actuação enquanto seres pertencentes a uma sociedade regrada por normas e valores específicos.

Porém, quando referimos este conceito associado à educação não podemos considerar as suas características espontâneas e incoerentes, pretendemos sim que esta forma de “pensar ou premeditar” seja lógica e específica. – “ A acção reflexiva é uma acção que implica uma consideração

activa, persistente e cuidadosa daquilo em que se acredita ou que se pratica, à luz dos motivos que o justificam e das sequências a que conduz… não é, portanto, nenhum conjunto de técnicas que possamos empacotar e ensinar aos professores (Zeichener,1993 cit por Albuquerque, Graça, & Januário, 2005, p. 18)

Ser professor não se resume apenas ao acto de ensinar ou expor uma matéria. Nóvoa (1989) aponta dois tipos de abordagens relativas à formação de professores:

Professor decisor - "Técnico-profissional” - valoriza os aspectos instrumentais, as referências didácticas e metodológicas, as experiências práticas de simulação de actividades de ensino-aprendizagem e o treino das competências futuras dos professores” (Nóvoa, 1989, p. 68)

Professor reflexivo - "Crítico-reflexiva”- que estimula uma reflexão pessoal, o exame crítico e o desenvolvimento da responsabilidade e da criatividade pessoal dos futuros professores”.(Nóvoa, 1989, p. 68)

Esta temática de reflexão associada à formação de professores tornou- se popular nos Estados Unidos na década de oitenta (Zeichner & Liston, 1987) e é ainda hoje implementada nos programas de formação de docentes.

Hatton e Smith (2006), referem que o desenvolvimento da prática reflexiva (“reflective practice”) surgiu com Dewey, filósofo americano conhecido pelo seu saber sobre as diferentes formas de pensar e os seus reflexos na educação. A sua obra, “How we Think” (1910), constitui um marco referencial na construção do pensamento reflexivo e na sua aplicação na formação de professores. (cit por Alarcão, 1996, pp. 43-45)

Segundo Dewey (1933), o pensamento reflexivo consiste em examinar mentalmente um assunto e dar-lhe consideração séria e consecutiva.

Todos nós somos possuidores da capacidade de pensar, no entanto, para reflectirmos temos muitas vezes de nos apoiar não só no nosso pensamento automático e cognitivo mas também nas nossas vivências e crenças pessoais. Neste sentido, Dewey (1933) aponta o pensamento de dois pontos de vista diferentes: Produto (forma lógica ou raciocínio formal) e Processo (pensamento psicológico). Para o primeiro, o autor afirma que a matéria é impessoal sendo as suas formas independentes de quaisquer atitudes crenças intenções ou desejos, neste caso da pessoa que pensa, este pensamento acaba por não dar importância ao contexto. No entanto, contrariamente ao pensamento anterior, à educação interessa o pensamento real que é dinâmico e imparável enquanto pensamos. No Processo, durante o pensamento, não há lugar para o esquecimento da matéria, ela constitui os próprios obstáculos que nos propõem problemas e soluções para os resolver.

Neste sentido, interessa-nos então “o pensar real, interessa criar

atitudes que desenvolvam nos seres humanos um pensamento efectivo, uma postura mental de questionar, problematizar, sugerir e construir a partir daí um conhecimento alicerçado em bases sólidas”. (Alarcão, 1996, p. 55).

Poderemos resumir todas as afirmações anteriormente descritas, afirmando que a reflexão, entendida como um acto de pensar, é fundamental na consecução das nossas acções, na resolução de problemas, na formulação de hipóteses e na concretização de novas soluções, aspectos fundamentais no decorrer da prática docente.

O agir profissional, ao qual me tento remeter neste ponto, pressupõe inúmeros factores. Segundo Schön (1983) inerente a toda à prática dos bons profissionais está uma competência artística, à qual designa de “artistry”. Esta competência denominada de conhecimento tácito, está implícita na actuação mas nem sempre é passível de descrição. Este conhecimento complementa a actuação do professor no que respeita à técnica e à ciência.

Ciclo Reflexivo

(Fonte: Schön in Alarcão, I. 1996) Figura 1.Modelo Reflexivo de Desenvolvimento e Ciclo Reflexivo na Formação

Profissional

Ao interpretar as figuras anteriores, percebemos que a competência profissional, passa por vários processos aliados à prática (saber experimental) e ao próprio saber técnico (saber documental). No entanto, perante estes dois saberes deverá permanecer um ciclo de constante reflexão resultante da prática.

Nas suas obras Schön (1983) aponta diferentes tipos de reflexão fazendo a distinção entre eles. A Reflexão na acção (reflection-in- action), quando reflectimos no decorrer da própria acção, sem a interrompermos e reformulamos o que estamos a fazer e a Reflexão sobre a acção (reflection-

on-action), quando realizamos uma construção mental da acção para tentar

analisá-la retrospectivamente. “...quando, por qualquer motivo, a percepcionamos a uma luz diferente do habitual, tal como acontece quando, ao

-Reflexão na acção -Reflexão sobre a acção -Reflexão sobre a reflexão na acção Ciclo Reflexivo ( Adaptado de Wallace, 1991) Prática -Saber documental -Saber experimental Competência Profissional Reflexão

passarmos por aquela rua onde todos os dias passamos, reparamos, um dia, numa janela bonita que nunca tinha atraído a nossa atenção.”. (Alarcão, 1996)

Os momentos reflexivos anteriores têm uma forte ligação sendo pouco

distintos entre si, no entanto, deverão ser aliados a um terceiro momento, para que todo o processo se torne verdadeiramente significativo. A Reflexão sobre a reflexão na acção (Reflection on reflection-in-action) é aquela que nos leva a progredir no desenvolvimento, ajudando a determinar as nossas acções futuras e a solucionar e compreender os problemas.

Para complementar todo este processo, Dewey (1933) acrescenta ainda três atitudes necessárias para a acção reflexiva, seja ela na acção, sobre a acção ou sobre a reflexão na acção, a abertura de espírito, a responsabilidade e o empenhamento.

A prática reflexiva parece estar associada às investigações sobre as práticas. Uma boa reflexão pretende dotar o professor de oportunidades para o seu desenvolvimento. Esta surge pela insatisfação sentida por alguns professores com a preparação profissional pois não contempla vários aspectos da prática. Porém, mesmo sendo a reflexão uma prática levada a cabo por vários professores em diferentes contextos, e potenciadora da transformação que desejamos, ela é também, para alguns, uma prática muito constrangedora ou difícil de realizar (Oliveira & Serrazina, 2002)

Em jeito conclusivo, poderemos afirmar que a reflexão é um ponto de partida importante no desenvolvimento do professor enquanto profissional (Alarcão, 1996). Segundo o autor, ser professor pressupõe um conjunto de conhecimentos aliados à capacidade de superar problemas face ao trabalho e à relação com os alunos e muito embora o solucionamento de um problema não seja transferível directamente para novas situações este é capaz de desenvolver nos mesmos um saber profissional mais espontâneo, fruto das sucessivas reflexões/acções. (Alarcão, 1996, pp. 156-157)

proporcionando um modelo de ensino fundamentado, o que contrapõe assim as perspectivas tecnicistas da prática profissional.

Nenhum professor deverá eximir a sua capacidade de pensar para solucionar todos os problemas decorrentes da prática. É dever de todos nós, enquanto pedagogos, manter uma actualização constante dos conhecimentos, tentando contribuir para o alcance da competência docente. Esta deverá ser iniciada desde os momentos definidos anteriormente como práticas reflexivas do professor. “Ao envolver-se em projectos de investigação-acção sobre a

prática numa abordagem reflexiva, o professor está a reflectir sobre a sua prática, aumentando o seu conhecimento profissional, à medida que consegue explicitar diferentes aspectos do seu conhecimento tácito” Oliveira e Serrazina

(2002)

No documento Relatório Final de Estágio Profissional (páginas 40-45)