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Considerando que os estudantes no currículo tradicional de estatística são capazes de "plantar uma árvore", os alunos no currículo informatizado são capazes de "plantar uma floresta e planejar para a reflorestação" (RUBIN; ROSEBERRY; BRUCE, 1988 apud BEN-ZVI; FRIEDLANDER, 1997,

p.46, tradução nossa)

Segundo Moore et al. (1995, p.3), “a natureza da pesquisa estatística e da prática estatística mudaram drasticamente sob o impacto da tecnologia”. Um dos efeitos desse impacto

8 Expressão cunhada por Rosa (2008) inspirada a partir do constructo teórico “Seres-humanos-com-mídias” (BORBA; VILLARREAL, 2005), no qual a produção do conhecimento é concebida através de um coletivo composto por seres humanos e mídias e não somente entre seres humanos.

está relacionado ao campo do ensino dessa disciplina onde professores e pesquisadores têm reavaliado alguns aspectos relativos ao que e como ensinar Estatística com tecnologias.

De modo geral, há um certo consenso entre os pesquisadores em considerar que o uso das tecnologias nas práticas de ensino e aprendizagem permite a criação de um ambiente de aprendizagem novo e propício para o desenvolvimento e a compreensão de conceitos. Para Burril (2018), por exemplo, a tecnologia faz diferença na Educação Estatística, pois fornece novas informações sobre o trabalho com dados abrindo as portas para a estatística e o raciocínio estatístico para todos os alunos. Para Chance et al. (2007) a tecnologia ampliou as técnicas gráficas e de visualização oferecendo aos estudantes novas maneiras de explorar e analisar os dados bem como de pensar em ideias estatísticas direcionando a atenção do aluno na interpretação dos resultados e na compreensão de conceitos ao invés do cálculo de fórmulas e nos procedimentos computacionais. Rossman (1996) destaca três aspectos para o uso da tecnologia em Estatística e que consideramos ser fundamentais: primeiro, a tecnologia facilita realização de cálculos e representações visuais permitindo que o estudante concentre a atenção na compreensão de conceitos e interpretação de resultados. Ou seja, é possível trabalhar com uma grande quantidade de dados e realizar muitos cálculos rapidamente de modo preciso e com poucos erros. Além disso, amplia a diversidade de representações gráficas que podem ser reproduzidas de maneira rápida e compartilhada simultaneamente permitindo comparações entre diferentes representações e melhores explorações do conjunto de dados. Segundo, a tecnologia permite a realização de simulações facilitando a visualização e exploração do comportamento dos dados a longo prazo. Ou seja, o estudante pode investigar o comportamento de processos aleatórios através de um grande número de repetições. Terceiro, com o uso da tecnologia é possível explorar fenômenos estatísticos permitindo que os alunos façam previsões sobre uma propriedade estatística. Ou seja, é possível investigar o efeito causado através do ajuste dos dados e compreender algumas ideias estatísticas abstratas que não são possíveis de verificar apenas com o uso do lápis e do papel.

Esses três principais aspectos criam condições para a realização de atividades envolvendo dados reais e que tenham mais significado para os estudantes tornando as ideias estatísticas representativas para que o aluno possa realizar conclusões e fazer previsões sobre o conjunto de dados investigado.

Atualmente existem diversos tipos de tecnologias digitais que podem ser utilizadas no processo de ensino e aprendizagem em Estatística. Chance et al. (2007) analisam e categorizam esses tipos da seguinte maneira: pacotes de software estatístico, software educativo, planilhas, applets/aplicativos independentes, calculadoras gráficas, materiais multimídia e repositórios de

dados. O quadro 9 ilustra as categorias elaboradas por Chance et al. (2007) acompanhadas por alguns exemplos apresentados pelos autores e completados por nós.

Quadro 9 - Tipos de tecnologias digitais utilizados no processo de ensino e aprendizagem em Estatística.

Categorias Exemplos

pacotes de software estatístico

SPSS - http://www.spss.com; S-plus - http://www.insightful.com; R - http: //www.r- project.org; SAS - http://www.sas.com; Minitab - http://www.minitab.com

software educativo

Fathom -http://www.keypress.com/x5656.xml; TinkerPlots - https://www.tinkerplots.com;

InspireData - http://www.inspiration.com/productinfo/inspiredata

planilhas Excel http://office.microsoft.com

Calc https://pt-br.libreoffice.org/descubra/calc

applets / aplicativos independentes

Sampling SIM

http://www.tc.umn.edu/~delma001/stat_tools/software.htm

calculadoras gráficas Statistics Course Assistant (app)

materiais multimídia ActivStats http://www.activstats.com

AtivEstat da USP-SP https://www.ime.usp.br/ativestat

repositórios de dados

Biblioteca de dados e histórias – DASL http://lib.stat.cmu.edu/DASL

Conjunto de conjuntos de dados e histórias do Journal of Statistics JSE http://www.amstat.org/publications/jse/jse_data_archive.html IBGE Educa - https://educa.ibge.gov.br/

Fonte – Inspirado em Chance et al. (2007) e adaptado pela autora.

Para Ben-Zvi (2000) e Biehler (1997) apud Chance et al. (2007), há vários recursos e ferramentas presentes em cada categoria que se repetem e que contemplam o mesmo objetivo, porém nenhum deles parece atender plenamente todos os aspectos para o uso educacional dessas tecnologias.

Estevam e Kalinke (2013), ao investigarem o cenário das pesquisas brasileiras sobre os recursos tecnológicos utilizados no ensino de Estatística na Educação Básica, apresentam um panorama das pesquisas publicadas no Banco de Dissertações e Teses da CAPES no período

compreendido entre 2004 a 2011, identificando 15 trabalhos relacionados ao tema. Segundo esse estudo, os autores identificaram a utilização e exploração tanto de softwares específicos para o ensino de Estatística – Fathom, Tabletop, TinkerPlots – como de softwares que não foram criados para esse fim, mas que apresentam possibilidades para a realização de tarefas para o ensino de Estatística como Excel, GeoGebra, R e Superlogo.

Os autores destacam que, apesar de oferecer um pacote de possibilidades para o ensino e aprendizagem em Estatística, muitos dos softwares são comerciais como Microsoft Excel, TinkerPlots, Fathom e Tabletop, SPSS, InspireData, e, portanto, representam um fator complicador no que se refere ao acesso a esses recursos nos ambientes escolares por alunos e professores, especialmente na escola pública que carece de recursos financeiros para a aquisição desses softwares, assim como de computadores em plenas condições de uso e funcionamento.

No entanto, mais importante do que a escolha da tecnologia adequada é o modo como essa tecnologia é utilizada em sala de aula de maneira que o foco da atividade esteja na ideia estatística e não na tecnologia. Para nós, é necessário pensar em atividades estatísticas inseridas no ambiente tecnológico que propicie a investigação e a exploração de problemas estatísticos que “incentivem os alunos a discutir e resumir os grandes conceitos da lição antes de serem resumidos pelo instrutor” (Chance et al., 2007, p. 15). Desse modo, é importante evitar ambientes que comportam excesso de recursos sofisticados e que muitas vezes concentram a aprendizagem do estudante mais na ferramenta do que nas ideias estatísticas. Chance et al. argumentam que a escolha de uma ferramenta tecnologia deve envolver:

[...] facilidade de uso, interatividade, vínculos dinâmicos entre dados / gráficos / análises e portabilidade ... É necessário um ambiente de aprendizagem que seja rico em recursos, que auxilie na exploração, crie uma atmosfera na qual as ideias possam ser expressas livremente, estimule os alunos a compreender e permita que os alunos (e professores) tenhamliberdade para cometer erros (2007, p. 20, tradução nossa).

A partir das características apresentadas, compreendemos que o software GeoGebra pode constituir um ambiente rico para aprendizagem de Estatística. Mesmo não sendo um software destinando para esse fim, apresenta um amplo pacote de recursos que podem ajudar os estudantes na compreensão de ideias e conceitos estatísticos. Na próxima seção, será apresentado o software GeoGebra e seus principais recursos.