• Nenhum resultado encontrado

O vocábulo município é definido por Silva (1986, p. 796) como “[...] uma subdivisão político-administrativa de um país para fins de desempenhar funções próprias de governo local”.

Desde o início da República, existe a garantia institucional, representada pela autonomia do município, mediante a qual a Constituição Estadual poderia vir a privar o município de poderes normativos, inerentes ao exercício de sua autonomia. As Câmaras Municipais colaboraram para estabelecer, com autonomia, certas prerrogativas, como a de fixar a remuneração do prefeito e ou os subsídios dos vereadores.

A Constituição Federal de 1891 referia-se ao município nos seguintes termos: “Os Estados organizar-se-ão de forma que fique assegurada a autonomia dos municípios, em tudo quanto respeite ao seu peculiar interesse” (CONSTITUIÇÕES DO BRASIL de 1891 in CAMPANHOLE; CAMPANHOLE, 1987, p. 609).

Em 1870, o Partido Republicano, em um Manifesto Programa, prometia fazer da província e do município as bases da organização do poder político. O poder legislativo articularia duas instâncias de representação: a da Federação de Municípios - legislando em Assembleias provinciais sobre todos os atos concernentes à segurança, economia e instrução provincial; e a da Federação de Províncias - legislando em Assembleia Nacional e sancionando, sob o ponto de vista do interesse geral, as determinações das Assembleias provinciais, e ainda velando pela autonomia e integridade da Nação. Esta fórmula, onde os reflexos do federalismo estão bem patentes, levava às últimas consequências o conceito liberal de estado territorial, ao projetar uma poder legislativo de base regional.

De acordo com a Constituição de 1891, ficavam os municípios sujeitos às limitações da Constituição Federal, enquanto a organização política administrativa, a República dos Estados Unidos do Brasil, acabou por estabelecer poderes de base regional, além das

províncias. Foi fiadora do equilíbrio e da harmonia dos entes autônomos, única a poder fazê- los, não os fez, deixando de todo livre à discrição e competência das municipalidades aquilo que é parte integrativa da essência de seus poderes autônomos, na faculdade de caráter financeiro cuja subtração aos corpos titulares legítimos destrói, por inteiro, a autonomia do município.

Ainda segundo a Constituição Federal de 1891, cabe a cada município elaborar sua Lei Orgânica, com base na Lei Maior, respeitando os limites que a amparam. E, conforme o Código Civil brasileiro, no Art. 14, inciso III, (1987, p. 697): “[...] o município é uma pessoa jurídica de direito público interno”. Pela tradição federalista brasileira, o município é organizado pelo Estado-membro, desde 1891. As Constituições do Brasil fazem-lhe referência, com vistas a garantir-lhe especialmente a autonomia, sobretudo, ante o estado- membro.

De acordo com o Dicionário de Ciências Sociais:

Por organização do município entende-se basicamente sua organização territorial, [...] o modo de sua criação e o de sua subdivisão em distritos: a definição de sua competência; a definição das atribuições de seus órgãos de governo e o estabelecimento de normas de fiscalização de sua administração financeira. Os estados organizam os perspectivos municípios mediante uma Lei Orgânica dos Municípios (SILVA, 1986, p. 797).

O papel dos municípios, em relação à instrução pública, no Período Republicano, era o financiamento básico para o funcionamento das escolas instaladas na zona urbana e rural, das escolas isoladas, singulares na sua estruturação funcional e manutenção.

Alguns municípios do Maranhão, de Minas Gerais e Mato Grosso, de maior população, foram contemplados por grupos escolares, pelo governo do estado. Esses grupos representaram um marco diferenciado, e muitos deles tornaram-se modelo de ensino e de construção, pela sua aparência de palácios.

Conforme Faria Filho (2000, p. 60):

A adoção do grupo escolar como representação da nova forma escolar que construía e se impunha e a conseqüente crítica às escolas isoladas implicam a construção de novos “espaços” escolares, de novos monumentos que materializassem e dessem visibilidade aos novos signos políticos, culturais e aos novos tempos que se pretendia instaurar. Se a relação da educação escolar com a cidade, com seus espaços, prédios e população implicou a construção de monumentos que se impusessem aos demais, a construção dos grupos escolares significou também a estruturação de um espaço específico, adaptado a uma função específica.

Ao município contemplado com o grupo escolar, este impunha uma nova visão e trazia, em seu entorno, uma pedagogia inovadora e histórica. Era um novo cenário que

apresentava uma nova estrutura, em que a linguagem e as práticas escolares eram diferentes daquelas usadas no cotidiano. Outra inovação foi a construção de um muro, em volta do grupo escolar, no perímetro urbano, que configurava, simbolicamente, a delimitação de espaço próprio, apartado da rua, do trânsito como se a rua produzisse um mal para as crianças que frequentavam o grupo escolar.

Sobre este assunto, acrescenta Faria Filho (2000, p. 63):

A busca em separar a escola da rua implicou também, e fundamentalmente, na criação do pátio escolar, um espaço de transição, inexistente nas escolas isoladas, que permitia fazer com os alunos saíssem da rua, dando-lhes maior segurança e afastando-os de sua influencia maléfica, mas também permitia evitar que eles adentrassem à sala de aula no mesmo ritmo que vinham da rua. Nesse sentido, o Pátio escolar, presente nas “plantas tipo” de todos os grupos escolares, significava a “passagem” de uma ordem a outra, de uma cultura a outra, onde a fila cumpria o importante papel de imposição de uma postura espacial-corporal necessária à ordem escolar.

De acordo com o autor, a construção do muro escolar mostra o isolamento não só da rua, mas também de todas as coisas existentes ao redor da escola. O pátio do grupo escolar tornava-se um lugar onde os alunos se relacionavam, separados por sexo, em quase todas as escolas. Essas práticas de erguer muros em volta de escolas continuam até os dias atuais, porém, mais altos com proteções contra furtos e impedimentos de invasões indesejáveis.

Em síntese este capítulo seguiu uma comparação linear de análise observando aspectos relevantes representados nas Mensagens dos Presidentes dos três estados. A contextualização dirige-se diretamente à escola primária, no período de 1889 a 1930, situa a inserção do professor nas modalidades de escolas e abrange a organização política administrativa do estado sobre a criação das escolas isoladas, modelo, reunidas e grupos escolares, nos três estados. Pelo estudo comparado observa-se que as escolas isoladas estavam presentes no Maranhão, Minas Gerais e Mato Grosso, tanto na cidade e no campo em maior quantidade. As escolas modelo destacavam-se pela organização e dedicação dos professores e pelo seu currículo. A escola modelo era representada em Cuiabá e São Luiz, anexadas aos grupos escolares. Em relação aos grupos escolares foram construídos em épocas diferentes, como em Maranhão em 1903, em Minas Gerais em 1906 e em Mato Grosso somente em 1910. As construções em cada estado seguia uma engenharia diferente, e não existem grupos escolares iguais, cada um possuía as próprias caraterísticas, conforme as imagens representadas nas páginas anteriores. Os grupos escolares eram uma superioridade arquitetônica e se destacavam entre as representações edificadas, em relação as outras escolas e ao lugar ocupado por eles no processo de expansão do ensino primário, enquanto as escolas isoladas

continuavam sendo construídas na zona rural e, em maior número, mas não deixaram de existir no perímetro urbano.

A modalidade de escola primária, no processo de disseminação, implantação, expansão quantitativa e interiorização, passava por tratamento de reconhecimento arquitetônico, em níveis de transformação didático, pedagógico e metodológico, desde o início da República. Em relação às escolas reunidas, nos três estados em algumas cidades, aconteceram agrupamentos de algumas escolas isoladas, formando grupos de escolas, para onde era designado um diretor para dirigir as escolas. As escolas passaram a funcionar em seus prédios, somente o diretor se locomovia para atender às escolas reunidas e centralizava a parte administrativa em uma destas escolas, geralmente aquela que possuía maior número de alunos. Em comparação a escola reunida nos três estados seguia a mesma filosofia de agrupamento das escolas isoladas e em estágio mais avançado se efetivar grupo escolar.

Ainda considerando a importância da escola primária para o brasileiro/cidadão a ser formado pela e para a República, por sua vez, deveria ser educado ou apenas instruído, como defendiam alguns legisladores, desde a infância, pois, a criança precisava ter o seu crescimento acompanhado pela escola e pelos professores. Desde o momento em que a criança deixa a sua casa e vai à escola para receber a instrução pública, sabe-se que todo o aprendizado estaria voltado para que ela fosse encaminhada ao trabalho, seja de forma mais elaborada ou não, de modo a ajudar a família. Nessa perspectiva, o trabalho era, assim, considerado como sustento do cidadão, contribuindo para o desenvolvimento da nação.

A ideologia e o interesse que orientou as medidas, voltadas para a formação do trabalhador, foram aqueles demandados pelo estado que tinha na lavoura a sua principal fonte de riqueza e era preciso ensinar ao menino da roça não somente a ler, a escrever e a contar, mas todas as lidas que aconteciam no contexto, para que ele viesse a ser um operário rural eficiente. Nesse sentido, formar o trabalhador do amanhã tornou-se um dos princípios fundamentais à formulação da política educacional dos três estados.

CAPÍTULO IV

O IDEÁRIO POLÍTICO SOCIAL ADMINISTRATIVO DA ESCOLA PRIMÁRIA E AS MENSAGENS DOS PRESIDENTES DE ESTADO, NO PERÍODO DE 1890 A 1930

4.1 O Ideário da Escola Primária contido nas Mensagens dos Presidentes dos Estados do