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O PAPEL ECONÔMICO DAS ASSOCIAÇÕES DE CONSUMIDORES

3.1.8.1 A Mudança na Estrutura Produtiva.

5 AS ASSOCIACÕES DE CONSUMIDORES E O SUBSISTEMA DO DIREITO

6.6 O PAPEL ECONÔMICO DAS ASSOCIAÇÕES DE CONSUMIDORES

A importância econômica das associações de consumidores é bem assinalada por Écio Perin Júnior:

[...] se os mercados fossem perfeitos como ocorre nos modelos da economia neoclássica; se a concorrência funcionasse adequadamente como reguladora; se todos os “atores” dispusessem das informações relevantes, não haveria espaço econômico para as políticas de proteção aos consumidores e para as suas associações.125

123 COMPARATO, Fábio Konder. A Proteção do Consumidor: Importante Capítulo do Direito do Econômico In Revista de Direito Mercantil, nr 15/16, ano XIII, 1974.

124 O segundo fator adverso a um efetivo reconhecimento dos direitos do consumidor, e que representa a

paradoxal conseqüência desse individualismo exacerbado, a que acabo de me referir, é a tradição de uma organização estatal autoritária, procurando organizar a sociedade a golpes de decreto. O Estado, entre nós, não costuma se voltar ao povo para auscultar as suas aspirações, mas para exigir obediência. Esse autoritarismo político tradicional manifesta, hoje, sob a forma tenocrática, buscando a arregimentação popular para uma industrialização acelerada.

Sob esse aspecto, aliás, o nosso autoritarismo político se aproxima do marxismo, que é o terceiro fator – este de índole nitidamente ideológica – a contrariar o movimento de proteção ao consumidor. Com efeito, a Weltanschauung marxista é a filosofia do produtor, do trabalho produtivo enquanto fonte de todos os valores. A consciência de classe é fruto de uma reflexão sobre a situação dos homens no ciclo da produção econômica, não no estágio do consumo de bens e serviços. Nessa concepção, a preocupação com a tutela do consumidor revela-se propriamente alienante.

No entanto, na economia real, marcada pelo valor simbólico dos objetos, pela distribuição desigual das informações, pela ação dos mass media e dos produtores tendentes a influenciar nos preços de diversos modos, as coisas funcionam de modo bem diferente.

As associações de consumidores são criadas quando o mercado não consegue funcionar de maneira adequada, razão econômica que aliada a razões sociológicas, impulsionam o indivíduo a inscrever-se essas entidades e sentir-se parte deste e de outros movimentos como ativista.

Engana-se quem vê nas associações de consumidores entidades de filantropia ou ajuda comunitária.

Tais entidades ocupam uma fatia do mercado, produzindo serviços e oferecendo aos potenciais clientes, geralmente por um preço atraente, constituído pela quota anual da instituição. Na realidade, estes grupos de consumidores competem entre si pelos potenciais consumidores e, todos juntos, concorrem com outras instituições econômicas que podem oferecer os mesmos serviços.126

Os output das associações de consumidores são classificáveis em três áreas: a) fornecimento de informações; b) assistência legal e c) representação e influência institucional.

Partindo da premissa de que as assimetrias informativas constituem uma das responsabilidades mais típicas de falência do mercado, tem-se a idéia que as associações de consumidores produzindo informações contribuem para que os consumidores enfrentem diretamente esta falência melhorando as possibilidades de escolha e, conseqüentemente, o próprio mercado.

Geralmente essas informações são distribuídas através de revistas e boletins, correspondendo a diversos gêneros de mensagens, destacando-se aquelas referentes a procedimentos para a aquisição de bens e serviços, principalmente quando os mercados de 125 PERIN JÚNIOR, 2001, op. cit p. 38

monopólios impõem aos clientes restrições e protocolos rígidos para não serem discriminados negativamente. Também são comuns as abordagens acerca das obrigações que, em muitos casos, os produtores têm, mas, se esquecem de publicar e respeitar. Ressalte-se que essas publicações raramente se destinam ao consumidor comum. 127

Uma segunda área de intervenção informativa consiste em fornecer informações gerais que exprimam o ponto de vista dos consumidores. Isto porque os mass media se interessam por esses pontos de vista dos consumidores e as suas associações podem tornar-se fontes privilegiadas, catalisando e organizando as informações que dispõem.

Os testes comparativos de produtos e serviços constituem a terceira vertente do output do fornecimento de informações. Os testes são levados a cabo mediante critérios objetivos(estudos, pesquisas, testes laboratoriais) e também subjetivos, como por exemplo no teste cego de alimentos. Tais atividades das associações de consumidores angariam grande simpatia perante os associados que superam, ainda que parcialmente, as assimetrias informativas do mercado, pela assimilação de grande quantidade de informações sem maiores esforços e causam preocupação aos fornecedores.

O momento propício para que a associação de consumidores ofereça seus serviços de assistência legal é aquele em que surge o conflito de interesses entre o consumidor e o fornecedor, pois normalmente o consumidor procura a associação para orientações.

Esse serviço se articula em várias fases: a consulta preliminar com o consumidor para verificar rapidamente se há a possibilidade de ação judicial e extrajudicial; a tentativa de conciliação com a parte contrária, com uma ou mais cartas enviadas pela associação; ou a gestão do caso enquanto exista nesse setor um sistema formalizado de arbitragem; a assistência legal à promoção da causa. As associações normalmente não conduzem esta última

127 Ibid., p. 26.

fase, exceto em causas de maior relevo ou que possam produzir sentenças paradigmáticas, cujas despesas naturalmente ficam a cargo da associação.

Um terceiro output das associações de consumidores é constituído pela representação dos interesses dos consumidores no contexto institucional, essencialmente uma atividade de

lobbying, idêntica àquela levada a efeito por outros grupos de interesses.

As ações de lobbying consistem em promoção das leis que favorecem aos consumidores, levando em conta o ponto de vista deles, de maneira que assegurem um

stardard mínimo de qualidade ou procedimentos de ressarcimento em caso de alguma

controvérsia.

Objetiva-se com tais ações a concretização de acordos que façam as associações economizarem custos por evitarem uma possível demanda judicial, bem como estender a todos os consumidores associados condições que talvez pudessem ser obtidas apenas por alguns através de uma postura agressiva.

Ressalta Écio Perin Júnior128 que tal atividade institucional pode ser útil às partes contrárias e outras forças sociais e econômicas, as quais podem encontrar interlocutores. Cita o autor, como exemplo, uma empresa que, visando implantar uma política de qualidade, pode vincular-se a uma associação de consumidores, como forma de transmitir maior confiabilidade ao seu intento, seja nas relações com os clientes, seja como seus próprios empregados.

Certamente essas atividades necessitaram de custeio por parte dos associados, os quais estarão dispostos a pagar desde que vislumbrem resultados tangíveis e ao menos qualitativamente mensuráveis para o “consumidor médio”.

Alerta Écio Perin Júnior, porém, que a legitimidade da associação e o seu poder contratual, ao desenvolver a atividade de representação institucional, decorre essencialmente

do sucesso com que opera nas áreas de fornecimento de informações e na assistência às controvérsias.

O sucesso na atividade de lobbying está ligado ao número de inscritos, a capacidade de mobilização, bem como na habilidade de manejar os remédios jurídicos no campo do judiciário para fazer valer o direito dos próprios associados.

Outro aspecto relevante da questão, qual seja a capacidade de acesso aos mass media, utilizado como ponto forte de várias associações, não diz respeito a sua legitimidade como ente intermediário nem revela sua força contratual sob o prisma institucional, mas tão somente uma especial habilidade de lobbying.

Ora, se as associações de consumidores assim procedem, são também fornecedoras de serviços, nos precisos termos do art. 3o do CDC; logo, teriam que respeitar essas mesmas normas quando da prestação do serviço, e responder pelos danos quando prestá-los de maneira deficiente ou utilizarem-se de publicidade enganosa.

Porém, o fato de estarem na posição de defensoras dos consumidores, impede que estes tenham essa consciência e também que os especialistas na matéria atentem, nos seus comentários apologéticos, para essa vertente legal, a desafiar uma fiscalização efetiva dessas entidades.