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O paradigm a i dealista

No documento A sanção jurídica da sociedade (páginas 73-76)

CAPÍTULO 2: NOÇÃO COMUM DE SANÇÃO

II.2. A ção: ordem e raci onali dade

II.2.3 O paradigm a i dealista

A outra linha de pensamento da teoria da ação social seria a tradição idealista. Essa pode ser explicada em oposição à tradição positivista, especialmente por meio de duas oposições: organicismo/individualismo e relação de causalidade/relação de significado. A tradição idealista, como a positivista, sofreu dilemas metodológicos. PARS O NS afirma que a saída

102 T . PAR S O N S. E str utura...op.cit. p 542 103 T . PAR S O N S. Estru tura ... op.cit. p 892

sociológica para os dilemas de ambos os paradigmas foi a teori a voluntarista da ação104.

PARSO NS contenta-se em limitar a origem do paradigma idealista a

KA N T. Embora reconheça ser possível traçar um histórico muito mais

complexo, o pensamento de KAN T é suficiente para entender a divisão entre

os paradigmas teóricos. PAR SO NS apoia-se na interpretação

predominantemente anglo-saxã que atribui a Kant o mérito de solucionar o dilema da epistemologia de HU ME. Se HU ME havia posto em dúvida a

validade do conhecimento científico – aqui entendido como conhecimento sobre o mundo físico – KAN T haveria devolvido essa validade por meio da

noção de fenômeno. Contudo, a distinção entre o mundo fenomênico (das ciências naturais) e o ideal (ciências humanas) foi radicalmente forçada pelos herdeiros intelectuais da tradição kantiana. O id ealismo evoluiu, então, para uma forma que rejeita a compreensão do homem por meio de teorias e de métodos generalizantes ou analíticos. Restaria apenas estudar ações concretas ou filosofar sobre essas ações. Surgem, então, duas linhas: a da história concreta e da filosofia da história, ambas consideradas opostas ao positivismo105.

A tradição idealista teria, assim, pontos diametralmente opostos ao positivismo. Em primeiro lugar, um enfoque orgânico, oposto ao atomismo ou individualismo da tradição positivis ta. A unidade estaria subordinada ao todo, seria relativa a ele. Segundo, a rejeição a teorias generalizantes. Isso implicou hostilidade ao empirismo positivista, ainda que o próprio idealismo tenha sua linha empírica106. O empirismo positivista tomou a forma de um sistema analítico geral capaz de explicar um determinado conjunto de fatos. Essa relação entre sistema analítico e conjunto de fato se opera por meio da reificação. Isso implica dizer que os fenômenos

104 T .PAR S O N S. E strutu ra.. .op.cit. pp 625 -641 105 T . PAR S O N S. E str utura...op.cit. pp 624 -628

106 É impor tante destacar que PAR S O N S não se refere, ao falar em “empírico” a

técnicas d e co letas de dados, mas a um méto do, a b ases gerais par a atrib uição de valid ade filo só fica o u científica a u ma afir mação. O empir ismo é um método q ue atr ib ui valid ade à cor respo ndência imed iata entr e as pr oposições científicas e a realidad e. Ver. T . PAR S O N S. E str utura...op. cit. p 56

concretos só poderiam ser entendidos em termos de categorias e à medida que as condições experimentais estivessem presentes. PARS O NS explica que

um sistema empírico transforma um sistema logicamente fechado em um sistema empiricamente fechado107 e, ao fazê-lo, também transforma o determinismo lógico em d eterminismo empírico e esse é justamente o ponto de conflito com o idealismo. O empirismo idealista repudia as teorias positivistas e afirma a singularidade concreta e individualidade do homem e de seus atos. Daí derivarem as duas linhas idealistas. A prim eira, historicista, buscando a fiel descrição dos fatos. A segunda, a vertente hegeliana, dando ênfase ao Espírito ( Geist) e à ação como expressão do

Geist. Dessa linha derivaram as interpretações históricas relativistas e a

dialética hegeliana108.

Há mais um ponto de conflito entre as tradições positivista e idealista: a causalidade. Cada teoria deve contemplar as relações de causalidade entre os fenômenos relevantes, mas o fazem de modos opostos. As teorias são sistemas de significados, complexos de element os conectados de um modo significativo. As teorias positivistas reduzem os sistemas de significado a uma base causal, enquanto as idealistas observam as relações causais como sistemas de significado. PA RSO NS afirma que não

é possível realizar essa identifi cação, uma vez que os sistemas de significado não são temporais, são normativos109.

107 PAR S O N S chega a se d eter por alguns par ágrafo s para exp licar o q ue seria um

sistema lo gicamente fechado e um empir ica mente fechado. Resumid amente, o sistema pode ser cha mado logicamente fechado “quando cada uma das implicações lógicas que podem ser ded uzidas de qualq uer uma das proposições do sistema enco ntra sua afirmação em outra proposição no mesmo sistema” (T. PAR S O N S. Estrutura...op.cit. p

40-41). Seria u m co njunto de eq u ações si mples, co mo d uas eq uações para descobr ir duas variáveis (X e Y). O sistema está fechado quando tem d uas eq uações, suficientes para enco ntrar X e Y. Um sistema empir ica mente fechado é aquele em q ue as mesmas proposições ou categorias “são adequadas para explicar todos os fatos cientificamente importantes sobre o corpo de fenômenos concretos ao qual é aplicado” ( Estrutura...op. cit. 108). Usando o mesmo esq uema de eq uações, ser ia, co mo no s exemplos dos livros primár ios, descobrir quantas maçãs e quant as laranjas tenho na cesta. Se o sistema X e Y funcio nar p ara maçãs, mas não para as laranjas, não está emp iricamente fechado.

108 T . PAR S O N S. Estru tura ...op.cit pp 629 -634 109 T . PAR S O N S. Estru tura ... op.cit.. pp

No estudo de PARS O NS, o desenvolvimento da Teoria Voluntarista da

Ação termina em WEBER. Embora orientado por uma linha idealista, WEBER

propôs a validade de conceitos gerai s para a sociologia. O problema que limitou WEB ER foi o fato de considerar esse sistema geral fictício, o que

PARSO NS explica afirmando que WEBER ainda estava preso a uma separação

lógica entre ciências naturais e sociais. Do mesmo modo que DUR KH EIM,

WEBER atribuiu não ao poder coercitivo o papel de orientação primordial da

ação, mas à racionalidade e à norma de eficiência. Distinguiu a ação em tipos, conforme a orientação (fins, valores, emocional, tradicional) e enfatizou a diferença entre a ação econômic a e outros modos de ação. Além disso, apresentou instituições como estruturas e estudou a questão da legitimação. Em WEBER, a sociedade (e a ação) são muito mais complexas.

E é a partir dele que PAR SO NS identifica como formada a Teoria

Voluntarista da Ação110.

No documento A sanção jurídica da sociedade (páginas 73-76)