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2. Sociedade em rede

2.1 O paradigma da sociedade da informação

O termo sociedade em rede deriva de um paradigma ainda mais abrangente, que é o da sociedade da informação. Pode-se considerar que o paradigma da informação nasce com Norbert Wiener, mas só se estabelece como tal a partir da transformação ocorrida no uso dos computadores que culmina na criação da internet.

Em meados dos anos de 1940, Wiener começa a estudar física probabilística, preocupado em compreender a imprevisibilidade da atividade de algumas partículas, chegando à conclusão de que a causalidade linear, utilizada pela física como método científico, não pode ser aplicada em todas as circunstâncias. Intrigado por essa questão, Wiener passa a estudar a autonomia dos sistemas que se auto-regulam e assim nasce a concepção de retroalimentação ou feedback. O circuito de saída se transforma em circuito de entrada, e assim sucessivamente. Ou seja, quem recebe se torna emissor e vice-versa. A possibilidade de feedback aliada à convergência entre informática e aos meios de comunicação inaugura uma nova forma de interação via computador, a internet.

Antes de Goffman pensar a importância dos fluxos informativos da interação social face-a-face, Wiener, ao conceber a corrente cibernética, extrapolou a condição

Página | 74 humana à condição de qualquer outro sistema, como as máquinas ou os animais, enfraquecendo a autonomia do homem perante as máquinas ou a natureza. Para ele, um fenômeno é processo e o estuda a partir da informação que o compõe e de sua transmissão. Para Wiener a informação é tão importante quanto a matéria ou a energia. Dessa forma, o paradigma informacional que abarca as características da sociedade em rede apóia-se na auto-regulação dos sistemas e na extinção da diferença entre emissor e receptor. O fluxo comunicativo passa a ser constante e acontece em múltiplos sentidos.

A convergência entre microeletrônica e telecomunicação culmina na criação de um inédito sistema de interação entre máquinas e fontes de dados, chamado, posteriormente, de internet. A forma de compartilhamento da informação entre máquinas – no qual a tecnologia digital age sobre a manipulação de informação a partir da própria informação como código, (como um metadado, dado que fala sobre outro dado), possibilitou novo tipo de interação entre as pessoas e entre pessoas e máquinas. Nesse modelo de interação, a rede de relacionamentos é marcada pelo próprio movimento de processamento concentrado em múltiplos fluxos.

A sociedade em rede é marcada pelo acesso e pela circulação da informação. Dando à rede a possibilidade de distribuição, disseminação, manipulação, compartilhamento e construção colaborativa do social, do conhecimento e da afetividade.

A percepção vinda da física, apropriada pela cibernética, de que a complexidade pode acontecer a partir de sistemas simples e de processos não lineares, marcou o entendimento da internet como uma rede que ultrapassa a função de transmissão ou de repositório social. Sendo assim, os meios de comunicação digital proporcionam a apropriação e a manipulação dos espaços e tempos da comunicação. Na sociedade em rede a ecologia humana passa a acontecer por simbiose com o sistema de informação das máquinas.

2.2 A internet

Desde os anos de 1960 já se predizia o surgimento dos serviços públicos de informação, mas a convergência entre as diferentes técnicas não era satisfatória. O desenvolvimento da fibra ótica, do videofone de Biarritz, da rede Transpac de comunicação por pacotes e, sobretudo dos serviços Teletel, com o advento do célebre Minitel, não foi o bastante para garantir a exportação de informação para outros sistemas. Problemas com a qualidade do terminal de recepção e com o excesso de tempo para

Página | 75 execução das transações ainda persistiam. O esforço em desenvolver uma tecnologia capaz de integrar máquinas e sistemas expôs o interesse coletivo de compartilhar informações e de prestar serviços interativos de informação, tanto para as empresas internamente quanto para o público em geral.

A idéia da rede de computadores surge em 1964 de um pesquisador. Paul Baran, da Rand Corporation, que criou um sistema baseado em blocos de informações que circulariam entre redes, num tipo de roteamento dinâmico para evitar congestionamento. A evolução desse processo se deu a partir de 1966 quando Bob Taylor, diretor da DARPA (Departamento de pesquisas avançadas da agência de defesa americana), pensava em criar um sistema de comunicação invulnerável a ataque nuclear. Colocando seus computadores em rede, criou um microprocessador de mensagens que gerenciava a comunicação entre as máquinas, fazendo surgir a famosa ARPANET (rede da Advanced Research Projects Agency). Mais tarde, esse sistema foi aberto principalmente às universidades e centros de pesquisa, para o compartilhamento de informações, tanto científicas quanto pessoais.

Nos anos de 1970, a necessidade de compartilhar informação levou a diversos grupos trabalharem no aprimoramento desse sistema e também na sua ampliação. Foi quando surgiu a comunicação entre computadores através de linha telefônica. Toda vez que uma mídia se mistura a outra, surgem possibilidades inusitadas de comunicação e essas misturas trazem à cultura diversidade e hibridismo. O idioma dos computadores foi criado em 1983, quando pesquisadores de Berkeley adaptaram o sistema Unix dos laboratórios Bell, criado em 1969, para o protocolo TCP/IP, possibilitando que a rede doméstica pudesse ser estendida a ambientes maiores.

A difusão da comunicação mediada por computador, que começou nas universidades no início dos anos de 1990, amplia-se em alta escala entre pós- graduandos e docentes. O amplo uso da internet deu-se a partir de 1993, com o primeiro browser, possibilitando a navegação da rede.

Atualmente navegamos pela rede através de um sistema básico de interface visual, o sistema WIMP (windows, icons, mouse, pointer, interface). Tanto esta interface, quanto os dispositivos informacionais próprios para a transferência de arquivos, propiciaram o tipo de navegação hipertextual. O ambiente da internet permite que múltiplos espaços, textos, imagens sejam manipulados ao mesmo tempo, através da simples atividade de abrir e fechar as janelas e menus.

Página | 76 Ao definir a internet, Negroponte (apud SANTAELLA, p. 156 - 57) a compara ao formato dos patos voando. “Mesmo na inexistência de um comando, suas peças se ajustam de modo admirável”.

Muitos autores criticam a internet dizendo que ela é o resultado de uma experiência militar e dos interesses comerciais. Mas percebe-se que a partir do momento em que o novo sistema de comunicação passou a fazer parte da esfera universitária, a rede tomou a forma colaborativa e aberta, imprevista pelos militares.

A explosão da rede se explica porque ela nunca serviu apenas a fins militares. Ao contrário, ela sempre serviu a redes científicas, institucionais e pessoais que cruzavam não só o Departamento de Defesa, mas também a Fundação Nacional de Ciência, as principais universidades ligadas à pesquisa e núcleos de geração de idéias especializados em tecnologia, nos Estados Unidos. (SANTAELLA, 2004, p. 87).